Ponte Maputo–Katembe
Ponte Maputo–Katembe | |
---|---|
Ponte Maputo–Katembe vista do norte, 2018. | |
Nome oficial | Ponte Maputo–Katembe |
Arquitetura e construção | |
Design | Ponte suspensa |
Início da construção | Junho de 2014 |
Término da construção | 2018 |
Data de abertura | 10 de novembro de 2018 |
Dimensões e tráfego | |
Comprimento total | 3 041 m |
Altura máxima | 40 m |
Tráfego | 3 500 viaturas |
Portagem | Ligeiros: 160 MZN
Pesados: 40 MZN |
Geografia | |
Cruza | Baía de Maputo |
Localização | Maputo, Moçambique |
25° 58′ 19,94″ S, 32° 33′ 26,89″ L |
A Ponte Maputo–Katembe liga os distritos de Nlhamankulu (margem norte) e Katembe (margem sul), em Maputo. As obras começaram em 2014, tendo sido realizadas pela China Road and Bridge Corporation e financiada através de um crédito do China Exim-Bank. A ponte foi inaugurada no dia 25 de junho de 2018[1][2] e aberta em 10 de novembro do mesmo ano, dia em que a cidade celebrou 131 anos da sua fundação. [3] Com a sua conclusão, substituiu a Ponte Matadi como a mais longa ponte suspensa do continente africano.[4]
História
[editar | editar código-fonte]A ideia de uma ponte sobre a Baía de Maputo — análoga à Ponte 25 de Abril sobre o Tejo em Lisboa — já existia há muitos anos. A construção de uma ponte já estava prevista no plano de urbanização de Maputo financiado pelo Banco Mundial em 1989.[5]
Foi apenas graças ao fim da guerra civil, aos numerosos investimentos no decurso do boom do gás e do petróleo e à forte recuperação económica de Moçambique que o governo moçambicano foi capaz de enfrentar o projeto. Em novembro de 2008 foi lançado pelo governo um convite internacional para a manifestação de intenções.[6]
Na sequência de uma visita do primeiro-ministro português José Sócrates em 2010, o financiamento pelo estado português foi inicialmente planeado.[7][8] No entanto, devido à enorme crise financeira e orçamental do país, o compromisso não pôde ser cumprido. Na sequência de uma visita do presidente moçambicano Armando Guebuza à China em agosto de 2011, os dois países chegaram a um acordo para o financiamento chinês do projeto.[9]
A empresa estatal Maputo Sul, E.P., que acompanhava a construção da Estrada Circular, foi contratada para supervisionar as obras, realizadas pela China Road and Bridge Corporation.[10] De acordo com o China Daily, o processo resultou na criação de 2000 postos de trabalho.[11] A empresa de engenharia alemã GAUFF Engineering atuou como consultora para a supervisão da construção.[12]
As primeiras medidas de preparação para a construção começaram em junho de 2014.[13] Após alguns atrasos — principalmente no realojamento dos residentes do bairro da Malanga — a abertura estava prevista para o dia 25 de junho de 2018, data em que se comemoravam os 43 anos da independência nacional. Finalmente, a ponte foi oficialmente inaugurada pelo presidente Filipe Nyusi a 10 de novembro de 2018, no 131.º aniversário da fundação de Maputo.[2][3] No seu discurso, Nyusi disse que a ponte iria impulsionar massivamente o turismo em Moçambique e assim trazer mais prosperidade para a região.[14]
No âmbito da abertura, foi revelado que os custos de manutenção da ponte seriam superiores a um milhão de dólares americanos por ano.[15] O valor das portagens também foi revelado: Variam entre 160 e 1200 meticais, consoante o tipo de veículo.[16]
Descrição
[editar | editar código-fonte]A ponte suspensa de quatro faixas tem 680 metros de comprimento e atravessa a Baía de Maputo a uma altura de 60 metros. O viaduto norte tem 1097 metros de comprimento, e está ligado à rotunda da Praça 16 de Junho (com acesso às estradas nacionais EN2 e EN4) no bairro da Malanga, em Maputo. O viaduto sul tem 1234 metros de comprimento e é composto por elementos pré-fabricados até 45 m de comprimento. Liga diretamente à estrada para a Ponta do Ouro.
Originalmente, estavam também planeados pilares para uma ponte estaiada na própria baía, mas o projeto foi alterado de modo a não obstruir desnecessariamente os corredores de voo do aeroporto e também o tráfego marítimo. O vão entre os dois pilares é de 680 metros, o maior da África.[17][12] Os principais cabos de suporte estão ligados através de cabos de aço no norte e no sul, cada uma com um bloco de ancoragem maciço. As cargas extremamente elevadas da estrutura requerem fundações de estacas com diâmetros de 1,50 m a 2,20 m, que atingem 110 m de profundidade na lama. Os dois pilares têm 141 m de altura e a uma altura de cerca de 40 m existe uma viga transversal para a faixa de rodagem. As peças individuais pré-fabricadas de aço para a faixa de rodagem têm cada uma 25,60 m de largura e 12 m de comprimento. Estas foram produzidos na China e instaladas a partir do navio atracado no cais.[4]
O projeto de construção da ponte incluiu o alargamento e asfaltamento da estrada de Katembe até à fronteira na Ponta do Ouro (129 quilómetros[18]) e entre Boane e Bela Vista (63 quilómetros[18]), incluindo pontes sobre os rios Maputo, Futi e Umbeluzi. Desde a conclusão das obras, a estrada nacional EN1 atravessa a ponte e liga a capital ao posto fronteiriço de Kosi Bay.[19]
Custo
[editar | editar código-fonte]O custo foi de cerca de 726 milhões de dólares, dos quais 85% (681,6 milhões de dólares) terão sido financiados por uma linha de crédito especial do China Exim-Bank. Estes têm um prazo de 20 anos a uma taxa de juros de 4%.[20] Outros 10% (72,5 milhões de USD[10]) foram financiados noutros termos através do Exim-Bank, enquanto 5% foram suportados directamente pelo governo moçambicano.[21] No entanto, estimativas mais recentes indicam custos de construção de mais de 785 milhões de dólares americanos.[22][23]
O jornal @Verdade, crítico ao governo moçambicano, noticiou que o custo total ascenderia a 1,3 mil milhões de euros. Os empréstimos de 20 anos, que têm uma taxa de juro de 4%, levariam a custos de juros puros de 30 milhões de euros por ano até 2039.[14]
Impacto
[editar | editar código-fonte]Embora Katembe faça parte da área urbana de Maputo, existe um grande contraste no seu nível de urbanização. Maputo, especialmente o centro da cidade, está altamente urbanizada com dois milhões de pessoas a viver na zona urbana da margem norte; até à data a maioria dos edifícios no lado sul são de um único andar, as estradas não são pavimentadas e há muitos terrenos não urbanizados. Estima-se que cerca de 15.000–20.000 pessoas viviam em Katembe em 2018. Até à abertura da ponte, o transporte entre as duas margens era feito ou de carro ou ferry de passageiros, ou por um desvio via Boane (estradas nacionais EN2/EN200).
Com a conclusão da ponte e a requalificação da estrada para a Ponta do Ouro, prevê-se que Katembe venha a registar um enorme crescimento populacional de até 400.000 habitantes, pelo que toda a margem sul deverá ser urbanizada. De acordo com o plano estratégico da empresa de engenharia Betar, cerca de 9.510.000 m² de terreno (e portanto 58,9% da área total) devem ser mantidos livres para edifícios residenciais. 3.270.000 m²(20,3% da área total) são destinados ao setor dos serviços, e 1.880.000 m² (11,7%) à indústria.[18]
A ponte e a remodelação da estrada para a Ponta do Ouro e KwaZulu-Natal, na África do Sul reduziram o tempo de viagem de mais de cinco horas para menos de duas.[24][18] Uma campanha turística conjunta com a província de KwaZulu-Natal e Essuatíni pretende trazer mais visitantes ao sul de Moçambique.[18]
Prémios
[editar | editar código-fonte]A ponte tem recebido atenção e reconhecimento a nível global no setor da engenharia. Para além dos Prémios FULTON 2017 e 2019[25] — a mais alta distinção para estruturas de betão na África Austral — a estrutura também recebeu o Engineering News-Record (ENR) "Award of Merit" em Nova Iorque em junho de 2019 como vencedor na categoria "Global Best Projects".[26]
Crítica
[editar | editar código-fonte]Os elevados custos de construção da ponte e da estrada ligada a Boane e Ponta do Ouro são massivamente criticados pelo publicista moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco. Afirma que a ponte teria custado um sétimo do dinheiro se fosse construída na China. Outros moçambicanos bem conhecidos, como o presidente do Conselho Municipal de Maputo Eneas Comiche, e o analista Roberto Tibana, também criticaram os elevados custos, que terão aumentado o enorme peso da dívida do estado moçambicano.[23] O cientista Américo Matavele contrapõe que Castel-Branco não teve em conta nos seus cálculos os custos para as estradas requalificadas.[27] De acordo com um relatório de análise da Economist Intelligence Unit, as taxas de juro para empréstimos do Exim-Bank são também relativamente altas. O governo moçambicano terá preferido estas, embora tivesse tido à sua disposição opções de financiamento muito mais favoráveis. A construção da ponte é dada como exemplo.[28]
No início de novembro de 2014, trabalhadores moçambicanos entraram em greve durante vários dias. Queixaram-se de más condições de trabalho, irregularidades nos contratos e atrasos no pagamento de salários.[29]
Além disso, muitas famílias tiveram de ser realojadas. A empresa Maputo-Sul estima em 920 o número de famílias reassentadas, para as quais foram construídos novos edifícios de quatro andares com apartamentos de dois a quatro quartos.[30] O realojamento começou em 2015.[31]
No final de 2018, os preços das portagens da ponte também se tornaram conhecidos. São considerados bastante elevados, especialmente em comparação com os preços dos bilhetes para o ferry. Os críticos veem uma enorme desvantagem para as camadas mais pobres da população, que "dificilmente beneficiarão da ponte".[23]
Referências
- ↑ Maputo-Catembe Bridge inaugurated on 25 June, date of Mozambique’s independence. Mozambique (em inglês). [S.l.: s.n.] 2 de maio de 2018. Consultado em 4 de maio de 2018
- ↑ a b João, José (12 de junho de 2018). «Ponte Maputo-katembe sem data de entrega». O País. Consultado em 22 de junho de 2018
- ↑ a b «Moçambique: Ponte Maputo-Katembe já é uma realidade». DW. 10 de novembro de 2018. Consultado em 21 de julho de 2021
- ↑ a b Tavares Bollow, Stefan; Seitz, Jörn; Raftis, Andreas (janeiro de 2017). Deutsches Know-how für Afrikas längste Hängebrücke (PDF). Beratende Ingenieure Das Fachmagazin für Planen und Bauen. Col: 47 (em alemão). 1-2/2017. Verband Beratender Ingenieure. Berlim: Köllen Druck Verlag. 42
- ↑ Prof. Paul Jenkins (2012). «Home Space: Context Report» (PDF) (em inglês). 80 páginas. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ «Catembe: o mito faz parte do passado». A Verdade. 15 de abril de 2009. Consultado em 9 de novembro de 2014.
O Governo de Moçambique lançou em Novembro de 2008 um convite internacional para a manifestação de intenções para efeitos de concepção e concessão da empreitada da futura ponte de Maputo para a Catembe.
- ↑ «Portugal poderá financiar ponte Maputo/Catembe». A Verdade. 7 de março de 2010. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ «Ponte para Katembe começará na Toyota». O País. 15 de fevereiro de 2011. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ «China financia ponte Maputo-Catembe». A Verdade. 25 de outubro de 2011. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ a b «Construção da ponte Maputo/Catembe, em Moçambique, com início no segundo semestre». Macau Hub. 24 de abril de 2013. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ Xinhua (21 de setembro de 2012). «Mozambique-China cooperation project to create 2,000 jobs». China Daily (em inglês). Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ a b «Lückenschluss von Mosambik nach Südafrika». Gauff Engineering. 25 de agosto de 2014. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ «Catembe: Arranca construção das estacas da ponte». Jornal Notícias. 30 de junho de 2014. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ a b Adérito Caldeira (11 de novembro de 2018). «Megalómana ponte Maputo - Ka Tembe custará 1,3 bilião de dólares aos moçambicanos». @Verdade. Consultado em 13 de novembro de 2018
- ↑ «Maputo-Katembe bridge: Maintenance to cost US$1.2M / year, not covered by tolls – report». Club of Mozambique (em inglês). 9 de novembro de 2018. Consultado em 10 de novembro de 2018
- ↑ «Mozambique: Tolls Announced for Bridge Over Bay of Maputo». AllAfrica.com (em inglês). 4 de novembro de 2018. Consultado em 10 de novembro de 2018
- ↑ «"Maputo-Catembe" sofre alterações». Jornal Notícias. 14 de fevereiro de 2014. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ a b c d e «A Nova Katembe -- Uma cidade para o futuro» (PDF) (em português e inglês). Betar. 2014. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ Adérito Caldeira (8 de agosto de 2018). «Estrada Nacional nº 1 passa ligar Pemba à Ponta de Ouro». @Verdade. Consultado em 17 de agosto de 2018
- ↑ «Construction of the Maputo/Catembe in Mozambique due to begin in second half» (em inglês). Macau Hub. 24 de abril de 2013. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ «Ponte Maputo-Catembe já tem financiamento». Informação & Desporto. RDP África. 19 de julho de 2012. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ AFP (10 de novembro de 2018). «Mozambique opens $785 million Chinese bridge». Rappler.com (em inglês). Consultado em 10 de novembro de 2018
- ↑ a b c «Maputo inaugura maior ponte suspensa de África». VOAportugues.com. Voice of America. 9 de outubro de 2018. Consultado em 10 de outubro de 2018
- ↑ «Já é possível chegar à Ponta do Ouro em menos de duas horas». O País. 9 de novembro de 2018. Consultado em 21 de julho de 2021
- ↑ Fulton Awards concretesociety.org.za (inglês), consultado em 16 de outubro de 2019
- ↑ ENR announces 2019 global best projects winners. enr.com (inglês), consultado em 16 de outubro de 2019
- ↑ Américo Matavele (18 de fevereiro de 2014). «A econometria equivocada do Professor-Doutor Carlos Nuno Castel-Branco». Jornal Notícias. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ «Moçambique prefere empréstimos da China apesar de serem mais caros – Economist». A Verdade. 6 de outubro de 2014. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ «Greve dos trabalhadores da Ponte Maputo–Catembe» (vídeo). Televisão Independente de Moçambique (TIM). 8 de novembro de 2014. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ «OBRAS DA PONTE MAPUTO/CATEMBE: Mil apartamentos para reassentamento». Jornal Notícias. 26 de setembro de 2014. Consultado em 9 de novembro de 2014
- ↑ «Ponte Maputo-Catembe: Afectados transferidos a partir de Abril de 2015». Jornal Notícias. 30 de setembro de 2014. Consultado em 9 de novembro de 2014