Palácio Quintela
Palácio Quintela | |
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A fachada principal do Palácio Quintela, voltada para Largo do Barão de Quintela, em Setembro de 2017 | |
Informações gerais | |
Nomes alternativos | Palácio Carvalho Monteiro |
Estilo dominante | Neoclássico, Neobarroco |
Função inicial | Residencial |
Proprietário atual | Casa Pombal |
Função atual | Restauração e entretenimento |
Património de Portugal | |
Classificação | Imóvel de Interesse Público |
Ano | 1938 |
DGPC | 74409 |
SIPA | 5195 |
Geografia | |
País | Portugal |
Cidade | Lisboa |
Localização | Largo do Barão de Quintela, Misericórdia |
Coordenadas | 38° 42′ 32,42″ N, 9° 08′ 33,66″ O |
Geolocalização no mapa: Lisboa |
O Palácio Quintela, também designado Palácio do Barão de Quintela e Conde de Farrobo, é um palácio que se localiza na freguesia da Misericórdia, em Lisboa[1] (antiga freguesia da Encarnação), construído por iniciativa da família dos Barões de Quintela para sua residência, no final do século XVIII.
Encontra-se limitado pela Rua do Alecrim a Ocidente, e pela Rua António Maria Cardoso (na altura designada por Rua do Tesouro Velho) a Oriente; a Norte, o edifício é confinante com o prédio envolvente da fachada sul da Igreja de Nossa Senhora da Encarnação e, a Sul, com os restantes prédios da Rua do Alecrim.
Trata-se de um palácio aristocrático setecentista, arquitecturalmente ecléctico de cunho neoclássico e neobarroco. Os interiores profusamente trabalhados datam de uma profunda campanha decorativa levada a cabo na década de 1820, onde participaram Giuseppe Cinatti e António Manuel da Fonseca, entre outros.
O Palácio Quintela está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1938.[2]
História
[editar | editar código-fonte]Já antes da sua construção, os terrenos onde mais tarde se viria a implantar o Palácio Quintela haviam sido ocupados por casas nobres pertencentes aos Condes de Vimioso: são arrematados em hasta pública, em 1648, por D. Afonso de Portugal, Marquês de Aguiar e Conde de Vimioso mas só em 1679 o Conde D. Miguel de Portugal converte a pequena moradia lá existente num palácio digno do seu estatuto nobiliárquico. A 25 de Novembro de 1726, o Palácio dos Condes de Vimioso é reduzido a escombros por um violento incêndio; as ruínas são compradas pelo licenciado André Rodrigues da Costa Barros, que nunca chegou a promover a reconstrução do palácio e, finalmente, a 1 de Novembro de 1755, o que restava do edifício é destruído no Terramoto de 1755.[3] Nesse local, econtravam-se também cavalariças reais, e ainda um troço da Cerca Fernandina, que passaria sensivelmente pelo meio do actual palácio,[4] nas imediações do qual se encontraria a Porta do Duque de Bragança.
A 2 de Junho de 1777, Luís Rebelo de Quintela, Juiz dos Feitos da Coroa e Fazenda da Casa da Suplicação e Desembargador dos Agravos do mesmo tribunal, adquire os terrenos à Irmandade do Sacramento. Com a sua morte, em 1782, o seu sobrinho Joaquim Pedro Quintela, importante comerciante e capitalista lisboeta, herda os terrenos e empreende a construção dum palácio em meados da década de 1780. William Beckford deixou descrita, nas suas memórias, a sua visita ao palácio a 3 de Novembro de 1787, acompanhado pelo Marquês de Marialva: o texto sugere que o palácio já estaria construído nos moldes actuais, mas que não estaria ainda habitado.[4] O terreno fronteiro ao edifício, ocupado por uns casebres, é adquirido por Quintela em 1788, que acorda com os proprietários confinantes conservá-lo como largo, livre de construções: corresponde ao actual Largo do Barão de Quintela. A construção deste largo, que confere à fachada do palácio uma maior dignidade, acaba por marcar a dinâmica da malha urbana da zona. Em 1791, anexa à propriedade dois terrenos que permitiram a Quintela aumentar a àrea de jardim junto à fachada posterior do palácio — a compra destes dois terrenos obriga as Obras Públicas a suprimir a Travessa de São José, que ligava a Rua do Alecrim e a actual Rua António Maria Cardoso.[4] Joaquim Pedro Quintela passa a habitar o palácio na década de 1790, certamente antes de 1793, porquanto há notícia de que Quintela terá mandado colocar iluminações na fachada do palácio como forma de celebrar o nascimento de D. Maria Teresa, Princesa da Beira.[4]
D. Maria I concede a Joaquim Pedro Quintela o título de Barão de Quintela em 1805. O futuro 2.º Barão de Quintela (posteriormente elevado ao título de Conde de Farrobo em 1833 por D. Maria II), Joaquim Pedro Quintela filho, nasce já no Palácio Quintela, a 11 de Dezembro de 1801.[3]
Em 1807, durante a primeira invasão francesa de Portugal, o General Jean-Andoche Junot ocupou o Palácio Quintela como Quartel-General bem como sua residência oficial enquanto Governador de Portugal em nome de Napoleão Bonaparte. Este facto atesta a importância, qualidade, e singularidade da casa do Barão de Quintela no panorama da arquitectura em Lisboa.[4] Junot e sua esposa terão organizado festas e bailes no Palácio, dentre os quais se destaca um aparatoso evento no Dia de Reis.[3]
Após a morte do 1.º Barão de Quintela em 1817, o tempo de Joaquim Pedro Quintela filho (2.º Barão de Quintela e 1.º Conde de Farrobo) é marcado pelas muito noticiadas festas oferecidas em sua casa, que eram verdadeiros sucessos sociais. Destaca-se um baile oferecido em homenagem a D. Pedro IV e seus oficiais do exército em 1833, na sequência da Guerra Civil.[4] Outra importante contribuição do Conde de Farrobo foi a profunda campanha decorativa que promoveu, em 1822, dirigida pelo arquitecto Joannes Baptista Hilbrath, e onde colaboraram o estucador Félix Salla, o decorador Giuseppe Cinatti, e os pintores António Manuel da Fonseca e Cirilo Volkmar Machado. Testemunho destes artífices, no fresco representando o Rapto das Sabinas na Sala Romana, encontram-se os retratos de Hilbrath e Fonseca, trajando à romana.[3]
Com o avançar da segunda metade do século XIX, o fausto da família Quintela-Farrobo aproximava-se do fim; quando o Conde de Farrobo morre em 1869 (na Sala Chinesa do Palácio Quintela), o palácio é rapidamente posto à venda, sendo adquirido em 1874 por Augusto Mendes Monteiro — que manda construir o portão que dá para a Rua do Tesouro Velho (actual Rua António Maria Cardoso), e abrir o óculo no frontão da fachada principal.[4] De Augusto Mendes Monteiro, a casa passa para o seu filho, António Augusto de Carvalho Monteiro (o "Monteiro dos Milhões"), hoje talvez mais conhecido por ter mandado construir a Quinta da Regaleira, em Sintra. A casa mantém-se na família até 1927, ano em que D. Maria José Monteiro de Almeida se casa com D. Sebastião José de Carvalho Daun e Lorena, 8.º Marquês de Pombal, família a quem ainda hoje o palácio pertence.[4]
No final do século XX, o palácio é arrendado ao Instituto de Arte e Decoração, onde fica sediado até à transferência das suas instalações para a Avenida D. Carlos I em 1997.[3]
Em 2016, após um período de inactividade em que se encontrou fechado, o palácio recebeu obras de reabilitação e reabriu como um espaço gastronómico e de entretenimento, sob o nome "Palácio Chiado".[5][6]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Ficha na base de dados SIPA
- ↑ Ficha na base de dados da DGPC
- ↑ a b c d e Gandra, Manuel J. (2014). Palácio Quintela: Iconologia do Programa Pictórico 1.ª ed. Mafra: edição de autor
- ↑ a b c d e f g h Gonçalves, Inês Pais (2012). O Palácio Barão de Quintela: contributo para um estudo monográfico (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
- ↑ Pais, Tiago (19 de janeiro de 2016). «Sushi, petiscos e tectos trabalhados. Vem aí o Palácio Chiado». Observador. Consultado em 26 de setembro de 2017
- ↑ Ferreira, Tânia; Castillo, Dani; Manzano; Luís (22 de março de 2016). «Palácio Quintela no Chiado: nos bastidores da reabilitação do novo espaço-sensação de Lisboa». Idealista. Consultado em 26 de setembro de 2017