Ofensiva dos Cem Dias
Ofensiva dos Cem Dias dos Aliados em 1918 | |||
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Frente Ocidental da Primeira Guerra Mundial | |||
Data | 8 de agosto – 11 de novembro de 1918 | ||
Local | De Amiens, França, até Mons, Bélgica | ||
Desfecho | Vitória decisiva dos Aliados, colapso da Frente Ocidental, fim da Primeira Guerra Mundial | ||
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A Ofensiva dos Cem Dias foi o período final da Primeira Guerra Mundial, em que os Aliados lançaram uma série de ofensivas contra os Impérios Centrais na Frente Ocidental, de 8 de agosto de 1918 a 11 de novembro de 1918. A ofensiva forçou os exércitos alemães a recuarem para trás da Linha Hindenburg culminando no Armistício de Compiègne. A Ofensiva dos Cem dias não se refere a uma batalha ou estratégia em particular, mas sim a conjunto de acções Aliadas bem-sucedidas que tiveram início com a Batalha de Amiens e até ao fim com a grande ofensiva.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]As Ofensivas Alemãs da Primavera na Frente Ocidental que tiveram início em 21 de março de 1918 com a Operação Michael, terminaram em julho. Os alemães avançaram até ao rio Marne mas ficaram por aí. Quando a Operação Marne-Reims terminou em julho, o comandante supremo Aliado, o francês Ferdinand Foch, deu ordem para uma contra-ofensiva, designada por Segunda Batalha do Marne. Os alemães, reconhecendo a sua difícil e insustentável posição, retiraram-se do Marne para norte; por esta vitória, Foch foi promovido a Marechal de França.
Foch considerava que tinha chegado o tempo dos Aliados voltar ao ataque. Os americanos estavam agora presentes em França em largo número, e a sua presença dava força e motivação aos exércitos Aliados.[1]:472 O seu comandante, General John J. Pershing, fazia questão de usar o seu exército de forma independente. O Exército Britânico também tinha recebido um grande número de reforços que tinham regressado das campanhas na Palestina e em Itália, e muitos substitutos retidos no Reino Unido pelo Primeiro-ministro David Lloyd George.[1]:155
Foram tidas em conta várias propostas e, por fim, Foch concordou com uma do Marechal-de-Campo Douglas Haig, o comandante da Força Expedicionária Britânica (FEB), que pretendia atacar no Somme, a leste de Amiens e a sudoeste do campo de batalha da Batalha do Somme (1916), com o objectivo de forçar os alemães a afastarem-se da vital linha de caminho-de-ferro Amiens-Paris.[1]:472 A zona do Somme foi escolhida por se mostrar um local adequado à ofensiva por várias razões. Tal como em 1916, o sector marcava a fronteira entre a FEB e as forças francesas, separadas pela estrada Amiens-Roye, permitindo que as duas forças cooperassem. Também a zona rural de Picardy tinha terrenos firmes para a movimentação de tanques, o que não acontecia na região da Flanders. Finalmente, as defesas alemãs, em particular o 2.º Exército Alemão liderado pelo General Georg von der Marwitz, eram relativamente fracas, tendo sofrido ataques contínuos pelos australianos num processo designado por penetração pacífica.
Primeiras batalhas
[editar | editar código-fonte]Amiens
[editar | editar código-fonte]A Batalha de Amiens, (em que o ataque francês ao flanco sul ficou conhecido como Batalha de Montdidier), teve início a 8 de Agosto de 1918, com um ataque de mais de 10 Divisões Aliadas — australianas, canadianas, britânicas e francesas — e mais de 500 tanques.[1]:497 Depois de uma cuidada preparação, os Aliados conseguiram efectuar o ataque em total surpresa para os alemães.[2]:20,95[3] O ataque, liderado pelos Corpos Australiano e Canadiano do 4.º Exército Britânico, destruíram as linhas alemãs, com os tanques a atacar a retaguarda das posições alemãs, espalhando o pânico e a confusão. No final do primeiro dia, os Aliados avançaram 24 km pelas linhas do inimigo a sul do Somme.[4] Os Aliados fizeram 17 000 prisioneiros e capturaram 330 armas. As vítimas dos alemães foram estimadas em 30 000 no dia 8 de agosto, enquanto as dos Aliados terão sido de 6 500 homens mortos, feridos e desaparecidos. O colapso da moral dos alemães levou Erich Ludendorff a caracterizar este dia como "o dia mais negro do Exército Alemão ".[2]:20,95
O avanço continuou por mais três dias sem, no entanto, os resultados espectaculares do primeiro dia, pois a rapidez do primeiro dia ultrapassou o apoio da artilharia e diminuiu em muito os mantimentos.[5] Durante aqueles três dias, os Aliados, avançaram 19 km, a grande maioria no primeiro dia, devido aos reforços alemães.[6] A 10 de agosto, os alemães começaram a sair do saliente que tinham ocupado durante a Operação Michael, em março, regressando para a Linha Hindenburg.[7]
Somme
[editar | editar código-fonte]A 15 de Agosto de 1918, Foch pediu que Haig continuasse a ofensiva de Amiens, mesmo com as crescentes dificuldades da falta de provisões e artilharia, e com a movimentação de tropas alemãs para aquele sector. Haig recusou e, preparou-se para iniciar uma nova ofensiva com o 3.º Exército Britânico em Albert (Batalha de Albert), que teve início em 21 de agosto.[1]:713–4
A ofensiva foi um sucesso, forçando o 2.º Exército Alemão a recuar 55 km. Albert foi capturada a 22 de agosto.[8] O ataque foi alargado a sul pelo 10.º Exército Francês dando início à Segunda Batalha de Noyon, a 17 de agosto; a cidade de Noyon foi capturada a 29 de agosto.[8] A 26 de Agosto, a norte do ataque inicial, o 1.º Exército Britânico alargou a frente do ataque mais 11 km durante a Segunda Batalha de Arras. Bapaume caiu a 29 de agosto, na Segunda Batalha de Bapaume.
Avanço até à Linha Hindenburg
[editar | editar código-fonte]Com a queda da linha da frente, ocorreram diversas batalhas à medida que os Aliados forçavam os alemães a recuar para a Linha Hindenburg.
A este de Amiens (depois da batalha que aí teve lugar), com o avanço da artilharia e o reforço das munições, o 4.º Exército Britânico também avançou, com o Corpo Australiano a atravessar o rio Somme na noite de 31 de Agosto, derrubando as linhas alemãs durante a Batalha do Monte Saint-Quentin.[9] A 26 de Agosto, a norte do Somme, o 1.º Exército Britânico abriu a sua frente de ataque numa extensão de 11 km durante a Segunda Batalha de Arras, a qual incluiu a Batalha de Scarpe (1918) (26 de agosto) e a de Drocourt-Queant (2 de setembro).[10]
A sul da FEB, o 1.º Exército Francês aproximou-se da Linha Hindenburg nos arredores de Saint Quentin no decorrer da Batalha de Savy-Dallon (10 de setembro),[11]:128–9 e o 10.º Exército Francês avançou até à Linha Hindenburg junto de Laon, durante a Batalha de Vauxaillon (14 de setembro).[11]:125 O 4.º Exército Britânico aproximou-se da Linha ao longo do Canal de St Quentin na Batalha de Épehy (18 de setembro).
No dia 2 de setembro, os alemães foram obrigados a recuar até à Linha, de onde tinham lançado a sua ofensiva na Primavera.
Batalhas da Linha de Hindenburg
[editar | editar código-fonte]As principais defesas alemãs estavam posicionadas na Linha de Hindenburg, um conjunto de fortificações defensivas desde Cerny, no rio Aisne, até Arras.[12] Antes da principal ofensiva de Foch ter início, os salientes a oeste e a este da Linha foram destruídos em Havrincourt e St. Mihiel, a 12 de setembro; e em Epehy e Canal du Nord em 27 de setembro.[2]:217
O primeiro ataque da "Grande Ofensiva" de Foch foi lançado a 26 de setembro pelos franceses e pela Força Expedicionária Americana na Ofensiva Meuse-Argonne — esta ofensiva inclui as batalhas de Somme-Py (26 de setembro), Saint-Thierry (30 de setembro), Montfaucon (6 de outubro) e Chesne (1 de novembro). A ofensiva foi efectuada em terreno difícil, levando a que a Linha de Hidenburgo só fosse quebrada no dia 17 de outubro.
Dois dias mais tarde, o Grupo do Exército comandado por Alberto I da Bélgica (o Exército Belga, o 2.º Exército britânico, liderado pelo General Herbert Plumer e o 6.º Exército francês, sob o comando do General Degoutte) lançaram um ataque perto de Ypres, na Flanders (a Quinta Batalha de Ypres). Os ataques foram bem-sucedidos, no início, mas começaram a ter problemas devido à questões logísticas.
A 29 de Setembro, o ataque ao centro da Linha Hindenburg começou, com o 4.º Exército britânico, liderado pelo Corpo Australiano, a atacar o Canal de St. Quentin (Batalha do Canal de St. Quentin) e o 1.º Exército francês a atacar as fortificações fora de St. Quentin (Batalha de St. Quentin). A 5 de Outubro, os Aliados entraram nas defesas de Hindenburg numa frente de 31 km.[11]:123 Rawlinson registou, "Se os Boches nãos tivessem mostrado sinais de degradação durante o mês passado, nunca teria pensado em atacar a Linha Hindenburg. Se tivesse sido defendida pelas mesmas tropas alemãs de há dois anos, com certeza que teria sido impossível ultrapassá-las …"
Subsequentemente, a 8 de outubro, o 1.º e o 3.º Exércitos britânicos, comandados pelo Corpo canadiano, penetraram na Linha Hindenburg na Batalha de Cambrai.[13]
Todos estes ataques à Linha forçaram o Alto Comando alemão a aceitar que a guerra tinha que terminar. A queda da moral dos alemães também convenceu os comandantes Aliados, e muitos líderes políticos, de que a guerra podia terminar em 1918; anteriormente, todos os esforços se tinham concentrado no planeamento de um grande ataque para 1919.
Para além da Linha de Hindenburg
[editar | editar código-fonte]Durante o mês de outubro, os exércitos alemães retiraram-se dos territórios conquistados em 1914. Os Aliados pressionaram a retirada dos alemães até à linha paralela ao caminho-de-ferro de Metz a Bruges, que lhes tinha servido para abastecer toda a frente na região Norte da França e da Bélgica durante grande parte da guerra. À medida que os exércitos Aliados se iam aproximando da linha, os alemães eram forçados a abandonar grandes quantidades de equipamento pesado e de provisões, reduzindo ainda mais a sua moral e capacidade de resistência.[14]
As baixas foram elevadas tanto do lado Aliado como do lado do exército alemão em retirada. Atrás da Linha Hidenburg tiveram lugar algumas batalhas como a Batalha de Selle (9 de Outubro), Batalha de Courtrai (14 de Outubro), Batalha de Mont-D’Origny (15 de Outubro), Batalha de Selle (17 de Outubro), Batalha do Lys e Escaut (20 de Outubro), Batalha do Serre (20 de Outubro),'Batalha de Valenciennes (1 de Novembro) e Batalha do Sambre (incluindo a Segunda Batalha de Guise (4 de Novembro) e a Batalha de Thiérache (4 de Novembro), com os combates a continuarem até aos últimos minutos antes da hora marcada no Armistício, 11h00 de 11 de Novembro de 1918. Um dos últimos soldados a morrer foi o soldado canadiano George Lawrence Price, dois minutos antes da hora do final da guerra.[15]
Notas
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Hundred Days Offensive», especificamente desta versão.
Referências
- ↑ a b c d e Bean, .
- ↑ a b c Livesay, John Frederick Bligh (1919). Canada's Hundred Days: with the Canadian Corps from Amiens to Mons, Aug. 8 — Nov. 11, 1918. Toronto: Thomas Allen
- ↑ Christie, Norm M (1999). For King and Empire: The Canadians at Amiens, August 1918. [S.l.]: CEF Books. ISBN 1-896979-20-3
- ↑ Schreiber, Shane B (2004) [1977]. Shock army of the British Empire: the Canadian Corps in the last 100 days of the Great War. St. Catharines, ON: Vanwell. ISBN 1-55125-096-9. OCLC 57063659
- ↑ Orgill, Douglas (1972). Armoured onslaught: 8th August 1918. New York: Ballantine Books. ISBN 0-345-02608-X
- ↑ «Canada's Hundred Days». Canada: Veterans Affairs. 29 de Julho de 2004. Consultado em 7 de agosto de 2008
- ↑ Dancocks, Daniel George (1987). Spearhead to Victory—Canada and the Great War. [S.l.]: Hurtig. p. 294. ISBN 0-88830-310-6. OCLC 16354705
- ↑ a b «History of the Great War – Principal Events Timeline – 1918». Consultado em 11 de Junho de 2010
- ↑ «Mont St Quentin – Peronne 31 August – 2 September 1918». Consultado em 11 de Junho de 2010. Arquivado do original em 25 de julho de 2008
- ↑ «The Second Battles of Arras 1918». 1914–1918. Consultado em 11 de Junho de 2010
- ↑ a b c Hanotaux, .
- ↑ Christie, Norm M (2005) [1997]. The Canadians at Arras and the Drocourt-Queant Line, August–September, 1918. For King and Empire: a social history and battlefield tour: CEF Books. ISBN 1-896979-43-2. OCLC 60369666
- ↑ Christie, Norm M (1997). The Canadians at Cambrai and the Canal du Nord, August–September 1918. For King and Empire: a social history and battlefield tour: CEF Books. ISBN 1-896979-18-1. OCLC 166099767
- ↑ Wasserstein, Bernard (2007). Barbarism and civilization: a history of Europe in our time. [S.l.]: Oxford University Press. pp. 93–96. ISBN 978-0-1987-3074--3
- ↑ Hayes-Fisher, J. (29 October 2008). "The last soldiers to die in World War I". Timewatch, BBC News Magazine. Acesso em 18 de Janeiro de 1918.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Bond, Brian. The Unquiet Western Front, Britain's Role in Literature and History. Cambridge University Press; 1 edition (2007). ISBN 978-0-521-03641-2
- Bean, C.E.W. Official Histories – First World War, Volume VI – The Australian Imperial Force in France during the Allied Offensive. Angus and Robertson Ltd (1942)
- Christie, Norm M. (1999). For King and Empire, The Canadians at Amiens, August 1918. CEF Books. ISBN 1-896979-20-3.
- Christie, Norm M. (2005). The Canadians at Arras and the Drocourt-Queant Line, August–September, 1918. CEF Books. ISBN 1-896979-43-2. OCLC 60369666.
- Christie, Norm M (1997). The Canadians at Cambrai and the Canal du Nord, August–September 1918. CEF Books. ISBN 1-896979-18-1. OCLC
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- Hanotaux, Gabriel. Histoire Illustree de la Guerre de 1914, Tome 17. Gounouilhou (1924)
- Livesay, J.F.B. Canada’s Hundred Days. Thomas Allen (1919)
- Orgill, Douglas (1972). Armoured onslaught: 8 August 1918. New York: Ballantine Books. ISBN 0-345-02608-X.
- Schreiber, Shane B (2004). Shock army of the British Empire: the Canadian Corps in the last 100 days of the Great War. St. Catharines, Ontario: Vanwell. ISBN 1-55125-096-9. OCLC 57063659.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Batalhas da Primeira Guerra Mundial em 1918
- Frente Ocidental (Primeira Guerra Mundial)
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo a França
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo a Bélgica
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo o Reino Unido
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo o Império Alemão
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo os Estados Unidos
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo a Austrália
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo a Índia britânica
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo o Canadá
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo a Nova Zelândia
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo a Terra Nova
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo Portugal
- Batalhas da Primeira Guerra Mundial envolvendo a África do Sul