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Melanoides tuberculata

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaCaramujo-trombeta
Melanoides tuberculata
Vista inferior da concha de M. tuberculata, o caramujo-trombeta, com o animal.
Vista inferior da concha de M. tuberculata, o caramujo-trombeta, com o animal.
Variações de cor em conchas de M. tuberculata. Espécimes do Guarujá, São Paulo, Brasil; coletados em habitat de estuário. Indivíduos adultos apresentam, geralmente, a perda da protoconcha, como observado nestes espécimes.[1]
Variações de cor em conchas de M. tuberculata. Espécimes do Guarujá, São Paulo, Brasil; coletados em habitat de estuário. Indivíduos adultos apresentam, geralmente, a perda da protoconcha, como observado nestes espécimes.[1]
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Mollusca
Classe: Gastropoda
Subclasse: Caenogastropoda
Superfamília: Cerithioidea
Família: Thiaridae
Subfamília: Thiarinae
Género: Melanoides
Olivier, 1804[2]
Espécie: M. tuberculata
Nome binomial
Melanoides tuberculata
(O. F. Müller, 1774)[2]
Sinónimos
Nerita tuberculata O. F. Müller, 1774
Melania tuberculata (O. F. Müller, 1774)
Striatella tuberculata (O. F. Müller, 1774)
Melanoides tuberculatus (O. F. Müller, 1774) (sic)
Melanoides fasciolata Olivier, 1804
Turritella tuberculata Link, 1807
Turritella turricula Link, 1807
Melania trunculata Lamarck, 1822
Melania cancellata Say, 1829
Melania mauriciae Lesson, 1831
Melania terebra Lesson, 1831
Melanoides terebra (Lesson, 1831)
Melania virgulata Quoy & Gaimard, 1834
Melania ornata von dem Busch, 1842
Melania flammigera Dunker, 1844
Melania tamsii Dunker, 1845
Melania rivularis Philippi, 1847
Melania suturalis Philippi, 1847
Melania tigrina Hutton, 1850
Melania turriculus I. Lea & H. C. Lea, 1851
Melania rustica Mousson, 1857
Melania commersoni Morelet, 1860
Melania zengana Morelet, 1860
Melania inhambanica E. von Martens, 1860
Melania singularis Tapparone Canefri, 1877
Melania dominula Tapparone Canefri, 1883
Melania flyensis Tapparone Canefri, 1883
Melania pellicens Tapparone Canefri, 1883
Melania lentiginosa var. nymphula Westerlund, 1883
Melania baldwini Ancey, 1899
Thiara baldwini (Ancey, 1899)
(MolluscaBase)[2]

Melanoides tuberculata (nomeada, em inglês, red-rimmed melania[3], red-rim melania ou Malaysian trumpet snail[4]; em português, caramujo-trombeta[5] ou caramujo-trombeta-da-Malásia[6]; no passado também cientificamente denominada Melania tuberculata) é uma espécie de molusco gastrópode tropical e subtropical de água doce e também estuarino de origem africano-asiática, classificada por Otto Friedrich Müller, em 1774, na obra Vermium terrestrium et fluviatilium, seu animalium infusorium, Helminthicorum, et testaceorum, non marinorum, succincta historia. vol 2: I-XXXVI; pertencente à família Thiaridae, na subclasse Caenogastropoda e sendo uma espécie introduzida em diversas regiões do mundo, incluindo a região neotropical e Península Ibérica, na Espanha; possivelmente por causa do comércio de plantas aquáticas ornamentais, procedentes do continente asiático. Por exibir um amplo grau de variação morfológica este caramujo apresenta diversas denominações de espécie, sendo inicialmente denominada Nerita tuberculata (no gênero Nerita) por Müller. No início do século XIX, Heinrich Friedrich Link chegou a colocar esta espécie no gênero Turritella.[2][7][8][9][10]

Descrição da concha, habitat e hábitos

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Melanoides tuberculata possui concha alongada, de espiral alta ou turriforme, pontiaguda ou, muitas vezes, com o seu ápice truncado; sendo cônica e com até 10 a 15 voltas levemente convexas e com escultura de estrias em espiral, cortadas por vincos verticais. Atingem entre os 3 a pouco mais de 3.5 centímetros de comprimento e sua coloração é variável, sendo geralmente acastanhada, cinzenta ou amarelada, com manchas castanho-avermelhadas. Possui lábio externo fino e abertura em forma de gota, cerrada por um opérculo.[4][6][8][11] No Brasil as suas conchas são muito confundidas com as de Aylacostoma brasiliense (S. Moricand, 1839), um molusco da família Hemisinidae.[6][12]

É encontrada predominantemente em nascentes de água doce, riachos, lagos e pântanos, mas ocasionalmente em habitats salobros e marinhos, especialmente manguezais[8]; também sendo capaz de colonizar habitats antrópicos, como lagos de jardim, lagos artificiais e sistemas de irrigação.[3] Ela é capaz de reprodução sexuada e partenogenética, com ovoviviparidade; frequentemente é distribuída de maneira irregular, com populações dispersas e propensas a divergência, tanto por meio de seleção natural, local, quanto por derivação genética[8][10]; podendo atingir densidades muito altas, de até vários milhares de indivíduos por metro quadrado. Ocupa águas rasas e lentas, entre os 0.6 a 1.2 metros de profundidade, sobre um substrato que consiste em lama macia ou lama macia misturada com areia. Também foi relatada em porções relativamente profundas de piscinas de água doce com 3 metros ou até 4 metros de profundidade, e sobre substratos compostos em grande parte por rochas.[3][10] Alimenta-se essencialmente de microalgas, além de bactérias, partículas orgânicas depositadas no sedimento e plantas em decomposição. Em aquários, pode alimentar-se também de restos de ração animal.[6][10]

Distribuição geográfica e histórico de invasões

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No Brasil relata-se a introdução de Melanoides tuberculata como possivelmente anterior ao ano de 1967, quando, pela primeira vez, fora coletada na cidade de Santos, na região sudeste, estado de São Paulo. Sua localidade tipo (onde fora feita a coleta de seu holótipo) é a costa de Coromandel, na Índia; ocorrendo também em toda a África, salvo nas bacias hidrográficas dos grandes rios voltados para o oceano Atlântico; também sendo encontrada na Arábia Saudita, na Ásia, em todos os países do Sudeste Asiático, nas regiões meridionais da China e em parte da Indonésia. Nos Estados Unidos fora relatada pela primeira vez em 1964, em duas localidades do Texas, e em 1966 na Flórida[4][13], sendo atualmente coletada em regiões tão distantes quanto o Havaí, onde fora vista pela primeira vez em 1997[4]; atualmente podendo ser observada em regiões da Alemanha, Argélia, Austrália, Bahrein, Bolívia, Catar, Comores, Cuba, Dominica, Emirados Árabes Unidos, Equador, Eslováquia, Espanha, Fiji, Guadalupe, Guiana, Guiana Francesa, Honduras, Japão, Kuwait, Madagáscar, Malta, Marrocos, Martinica, Maurícia, Mayotte, Montserrat, Nepal, Nova Caledônia, Nova Zelândia, Omã, Países Baixos, Panamá, Papua-Nova Guiné, Paraguai, Polinésia Francesa, Porto Rico, Reunião, Samoa, Santa Lúcia, Seicheles, Suriname, Tonga, Trinidad e Tobago, Tunísia, Uruguai, Venezuela, Wallis e Futuna.[7] Em vista de sua ampla capacidade de adaptação, até mesmo podendo suportar variações de temperatura da água entre 16 a 37 graus Celsius e baixos níveis de oxigênio, ou ambientes poluídos[9][10], ela é considerada uma espécie pouco preocupante pela União Internacional para a Conservação da Natureza.[7]

O animal de Melanoides tuberculata pode ser hospedeiro intermediário de vermes Platyhelminthes Trematoda, incluindo a espécie Clonorchis sinensis, que causa uma doença nas vias biliares do homem[10][13] na China, Coreia, Rússia e Vietnã; sendo doença endêmica do mundo oriental.[14]

Ligações externas

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Referências

  1. Chagas, Rafael Anaisce das; Barros, Mara Rúbia Ferreira; Bezerra, Andrea Magalhães. «Morfometria da concha do gastrópode invasor Melanoides tuberculata (Müller, 1774) (Gastropoda, Thiaridae)». Acta of Fisheries and Aquatic Resources v.6 n.1. (UFS: Portal de Periódicos Científicos). 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  2. a b c d «Melanoides tuberculata (O. F. Müller, 1774)» (em inglês). MolluscaBase. 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  3. a b c «Melanoides tuberculata (red-rimmed melania)» (em inglês). CABI. 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  4. a b c d «NAS - Nonindigenous Aquatic Speciesː Melanoides tuberculata (red-rim melania)» (em inglês). USGS. 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  5. «Caramujo Melanoides». Planeta Invertebrados Brasil. 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  6. a b c d «Caramujo Trombeta da Malásia». Vida no Aquário. 22 de outubro de 2020. 1 páginas. Consultado em 21 de fevereiro de 2019 
  7. a b c «Melanoides tuberculata» (em inglês). IUCN. 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  8. a b c d «California Non-native Estuarine and Marine Organisms (Cal-NEMO)ː Melanoides tuberculata» (em inglês). Marine Invasions Research - Smithsonian Environmental. 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  9. a b Okumura, Denise Tieme (2006). «Estudos ecológicos e ecotoxicológicos de Melanoides tuberculata Müller, 1774 (Gastropoda, Thiaridae), espécie exótica para a região neotropical». Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP. 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  10. a b c d e f Murillo, Eduardo Alberto Pulido (2017). «Estudo morfológico e molecular de trematódeos transmitidos por Melanoides tuberculata (Mollusca: Thiaridae) em coleções aquáticas do Peru» (PDF). UFMG. pp. 17–18. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  11. Krailas, Duangduen; Namchote, Suluck; Koonchornboon, Tunyarut; Boonmekam, Dusit (março de 2014). «Trematodes obtained from the thiarid freshwater snail Melanoides tuberculata (Müller, 1774) as vector of human infections in Thailand» (em inglês). ResearchGate. 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  12. «Aylacostoma brasiliense (S. Moricand, 1839)» (em inglês). MolluscaBase. 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  13. a b Vaz, Jorge Faria; Teles, Horácio Manuel Santana; Correa, Maria Auxiliadora; Leite, Santa Poppe da Silva (agosto de 1986). «Ocorrência no Brasil de Thiara (Melanoides) tuberculata (O.F. Muller, 1774) (Gastropoda, Prosobranchia), primeiro hospedeiro intermediário de Clonorchis sinensis (Cobbold, 1875) (Trematoda, Plathyhelmintes)». Revista de Saúde Pública vol.20 no.4. (SciELO). 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020 
  14. Hong, Sung-Tae; Fang, Yueyi (junho de 2011). «Clonorchis sinensis and clonorchiasis, an update» (em inglês). Parasitology International 61(1). (PubMed - ResearchGate). 1 páginas. Consultado em 22 de outubro de 2020. Clonorchis sinensis is the most common human liver fluke in East Asia. It is still actively transmitted in endemic areas of Korea, China, Russia, and Vietnam.