Laguemã
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Província | ||||
A vegetação contrasta fortemente com o deserto circundante em Laguemã | ||||
Localização | ||||
Coordenadas | ||||
Administração | ||||
Capital | Metarlão | |||
Características geográficas | ||||
Área total | 3 978 km² | |||
• População estimada | 493 488 |
Laguemã[1] (em persa: لغمان; romaniz.: Laghmān), historicamente também referida como Langã[2] (e suas variações Langhan,[3] ou Lamgan[4]) e Langanate[1] (Lamghanat[5] ou Langhanat[6]), é uma província do Afeganistão, localizada na porção oriental do país. Possui uma população multiétnica e rural estimada em 493 488 indivíduos segundo censo de 2020. Sua capital é a cidade de Metarlão. Possui 3 978 quilômetros quadrados de área.[7]
História
[editar | editar código-fonte]A história de Laguemã remonta desde ao menos a Antiguidade. Localizadas atualmente no Museu de Cabul, há inscrições em aramaico encontradas na província que indicam uma antiga rota comercial ligando o subcontinente indiano à Palmira, na Síria.[8] O aramaico era uma língua escrita burocrática do Império Aquemênida (séculos VI-IV a.C.), cuja influência estendeu-se para além de Laguemã.[9] No século IV a.C., durante as invasões de Alexandre, o Grande, a área era conhecida como Lampaca (Lampaka).[10]
Inscrições em aramaico datando do Império Máuria (séculos IV-II a.C.) foram encontradas em Laguemã; nelas está contida informação sobre a conversão do imperador Asoca, o Grande (r. 273–232 a.C.) ao budismo.[11] No século VII d.C., o peregrino chinês Xuanzang visitou Laguemã, que chamou Lampó e considerou parte da Índia. Ele indicou a presenta de budistas maaiana e numerosos hindus:
“ | Por vários séculos a dinastia nativa tinha deixado de existir, grandes famílias lutaram pela proeminência, e o Estado recentemente tornou-se uma dependência de Capis[a]. O país produzia arroz de terras altas e cana de açúcar, e tinha muita madeira, mas pouca fruta; o clima era ameno com pouca geada e neve alguma. [...] Havia aproximadamente 10 santuários budistas e alguns irmãos, muitos dos quais eram maaianistas. Os não-budistas tem um núcleo ou dois de templos e eles eram muito numerosos.[12] | ” |
Pelo século X, Laguemã ainda esteve conectada ao mundo indiano. A obra Os Limites do Mundo (Hudud al-'alam), concluída em 982, menciona a presença de alguns templos de culto a ídolos na área.[13][14] Segundo o historiador muçulmanos Alutebi, a região foi convertida ao islamismo pelo fim do século X sob o Império Gasnévida, sob liderança de Sabuqueteguim de Gásni (r. 977–997):
“ | O emir marchou em direção a Laguemã, que é uma cidade celebrada por sua grande força e abundância em riqueza. Ele conquistou-a e ateou fogo aos locais nas suas proximidades que eram habitados por infiéis, e demoliu os templos dos ídolos, ele estabeleceu o islã neles, ele marchou e capturou outras cidades e matou os desgraçados poluídos, destruindo os idólatras e louvando os muçulmanos. Após ferir e matar além de qualquer medida, suas mãos e aquelas de seus amigos tornaram-se frias na contagem do valor da propriedade saqueada. Sob a conclusão de sua conquista, ele retornou e promulgou relatos das vitórias obtidas ao islã, e todos, grandes e pequenos, concordaram em regozijo sobre este resultado e agradeceram Deus. [15] | ” |
Sabuqueteguim então teria vencido uma de suas maiores batalhas na região de Laguemã contra os xaías de Cabul cujo governante, Jaiapala , agrupara um exército combatente de 100 000 soldados.[16] Apesar destas vitórias, sabe-se que as comunidades incrédulas na concepção islâmica (cafires), de modo a fugir à pressão muçulmana, partiriam para leste em direção as terras altas dos vales de Laguemã, Cunar, Bajaur, etc. Mais adiante, Mamude de Gásni (r. 997/998–1030), o terceiro sultão gasnévida, tentaria subjugar estas concentrações cafires, sendo portanto o primeiro monarca muçulmano a pressioná-lo à conversão, porém não obteria sucesso: Mahmud invadiu 17 vezes a Índia, sem conseguir, contudo, a subjugação dos cafires.[17]
Mais adiante, a região seria dominada pelo Sultanato Gúrida (séculos IX-XIII)[18] e então pela dinastia Chalji do Sultanato de Déli (séculos XIII-XIV) e o Império Timúrida (séculos XIV-XVI). No século XV, sob o imperador timúrida Tamerlão (r. 1370–1405) e os monarcas muçulmanos do Turquestão, novas tentativas mal-sucedidas de subjugação dos cafires foram realizadas.[17] Durante os primeiros anos do século XVI, o grão-mogol Babur (r. 1526–1530) ocupou boa parte de seu tempo em Laguemã, e no Baburnama (Memórias de Babur) ele discorreu sobre a beleza das colinas florestadas e a fertilidade do fundo dos vales da região.[13] No tempo que ali esteve, Babur teve um breve encontro com os cafires co vale de Cunar.[17]
Laguemã foi reconhecida como um distrito dependente do Cabulistão no Império Mogol, e segundo o Baburnama, a "Grande Laguemã" incluía a porção muçulmana do Cafiristão, inclusive o rio Cunar. Ela foi a base para expedições contra os infiéis e foi frequentemente mencionados em relatos de jiades lideradas pelo jovem irmão do grão-mogol Aquebar (r. 1556–1605), Maomé Haquim, que era governador de Cabul.[13] Sob Aquebar e seu sucessor Jahangir (r. 1605–1627), os cafires de Tagao, Nijrao, Peche, Conar e Laguemã foram convertidos ao islamismo.[19] Em 1747, Amad Xá Durrani (r. 1743–1773) derrotou os mogóis e fez esse território parte do Império Durrani.[20]
Nos anos 1880 são registradas revoltas em várias porções de Laguemã: em 1882 na cidade de Farajegã, em 1883 no vale de Alixangue e 1885 nas cidades de Vaigal, Culmã e Sao.[21] Em 1895-1896, o Cafiristão é invadido e conquistado pelos emir afegão Abderramão Cã (r. 1880–1901), que forçou os cafires remanescentes dos nuristani a aceitarem os islã.[22] Em 20 de fevereiro de 1919, o emir Habibulá Cã (r. 1901–1919) seria assassinado em Laguemã durante uma viagem de caça.[23] Durante a Guerra Afegã de 1979-1989 e as batalhas que se seguiram entre os chefes militares rivais, muitas residências e negócios estabelecidos na província foram destruídos. Além disso, diz-se que os soviéticos teriam empregado uma estratégia de mirar e destruir a infraestrutura agricultural de Laguemã para, assim, fragilizar a economia local.[24]
Geografia
[editar | editar código-fonte]A província de Laguemã cobre uma área de 3 408 km². Aproximadamente 55% de seu relevo é dominado por uma paisagem montanhosa ou semi-montanhosa, enquanto os demais 45% são representados por terras planas. A província é dividida em 5 distritos (Alingar, Alixingue, Daulate Xá, Metarlão e Cargai) e faz divida com outras seis províncias afegãs: Nangarar ao sul, Cunar a leste, Nuristão a nordeste, Panjshir a noroeste, Capisa a oeste e Cabul a sudoeste.[22]
Referências
- ↑ a b Kurumu 1944, p. 370.
- ↑ Sen 1999, p. 342.
- ↑ Kumar 2008, p. 126.
- ↑ Chandra 2008, p. 119.
- ↑ Dale 2004, p. 189.
- ↑ Mubārak 1977, p. 670.
- ↑ «Laghman». City Population
- ↑ Rahel 1975, p. 14.
- ↑ Casparis 1987, p. 779-785.
- ↑ Henning 1949, p. 80-88.
- ↑ Behrendt 2004, p. 39.
- ↑ Watters 1904, p. 180-181.
- ↑ a b c Schimmel 1982, p. 649.
- ↑ Bosworth 1986, p. 649.
- ↑ Elliot 1869, p. 22.
- ↑ Elphinstone 1866, p. 321.
- ↑ a b c Kakar 2006, p. 149.
- ↑ Flood 2009, p. 13.
- ↑ Kakar 2006, p. 149-150.
- ↑ Friedrich Engels. «Ashoka» (em inglês). Consultado em 20 de agosto de 2015. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2010
- ↑ Kakar 2006, p. 63.
- ↑ a b Wade 2015, p. 48.
- ↑ Olesen 1995, p. 101.
- ↑ Arreguín-Toft 2005, p. 186.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Arreguín-Toft, Ivan (2005). How The Weak Win Wars: A Theory Of Asymmetric Conflict. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 0521839769
- Behrendt, Kurt A. (2004). Handbuch der Orientalistik. Leida e Nova Iorque: BRILL. ISBN 9004135952
- Bosworth, C. E. (1986). «Lamghanat». In: Bosworth, C. E.; Donzel, E. van; Lewis, B.; Pellet, Ch. The Encyclopaedia of Islam. V. Leida: Brill. ISBN 90-04-07819-3
- Casparis, J. G. de; Fussman, G.; Skjærvø, P. O. (1987). [hhttp://www.iranicaonline.org/articles/asoka-mauryan-emperor «Aśoka»]. Enciclopédia Irânica Vol. II, Fasc. 7-8. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia. pp. 779–785
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