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Jorge Maravilha

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"Jorge Maravilha"
Canção de Chico Buarque
do álbum O Banquete dos Mendigos
Lançamento 1974
Gravação 10 de dezembro de 1973
Gênero(s) MPB
Duração 2:00
Gravadora(s) RCA
Composição Julinho da Adelaide (Chico Buarque)
Produção Jards Macalé / Xico Chaves
Faixas de O Banquete dos Mendigos
"Pot-pourri (Pesadelo - Quando O Carnaval Chegar - Bom Conselho)"
(22)
"Abundantemente Morte"
(24)

Jorge Maravilha é uma canção escrita e interpretada por Chico Buarque, de 1973.

A partir da gravação de Apesar de Você, interpretada pelas autoridades da ditatura militar como uma ofensa a Armando Falcão, Ministro da Justiça do Brasil durante o governo Ernesto Geisel (1974-1979), os censores do Serviço de Censura de Diversões Públicas tornaram-se bastante rígidos com o compositor. Todas as letras assinadas por Buarque recebiam o carimbo interditada.[1] Para escapar das limitações, especialmente após as proibições impostas a peça Calabar, Chico Buarque criou o heterônimo Julinho da Adelaide. A estratégia funcionou, e músicas como Acorda amor, Milagre brasileiro e Jorge Maravilha escaparam da censura.[1][2]

A fim de não despertar suspeitas, Chico Buarque inseriu a letra de Jorge Maravilha entre duas estrofes de um texto maior, como se fosse uma suposta canção de amor romântico. A letra que interessava ficou entre os versos E o meu amor por ela / É uma cidadela / Construída com paz e compreensão.[3] Dessa forma, a canção foi encaminhada à Polícia Federal, sob o pseudônimo de Julinho da Adelaide, e acabou sendo aprovada pelos censores. Como não tinha a obrigação de gravar todo o texto aprovado, as estrofes iniciais e final foram completamente descartadas, restando apenas o trecho que interessava.[3][2]

Jorge Maravilha foi cantada por Chico Buarque pela primeira vez no O Banquete dos Mendigos, projeto idealizado e dirigido por Jards Macalé, e gravado no dia 10 de dezembro de 1973, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O concerto era uma homenagem aos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.[4] A faixa também seria lançada na coletânea Palco, Corpo e Alma, com diversos intérpretes.[5]

Em 1975, uma reportagem sobre censura publicada no Jornal do Brasil revelaria que Julinho da Adelaide e Chico Buarque eram a mesma pessoa. Por causa dessa revelação, o serviço de censura da ditadura militar passou a exigir cópias do RG e do CPF dos compositores.[3][2]

A partir daí, passou-se a suspeitar que a letra de Jorge Maravilha tinha sido feita para o general e então presidente Ernesto Geisel, cuja filha Amália Lucy havia declarado ser grande da obra de Buarque.[6] A suspeita é motivada especialmente pelo verso Você não gosta de mim, mas sua filha gosta.

Todavia, de acordo com o próprio Chico Buarque, o verso irônico e a música referiam-se a uma situação vivida por ele durante o regime militar no país. Em uma declaração para a Folha de S.Paulo, em 1977, o cantor deu o seguinte veredicto: Aconteceu de eu ser detido por agentes de segurança (do Dops), e no elevador o cara pedir autógrafo para a filha dele. Claro que não era o delegado, mas aquele contínuo de delegado.[7] Chico confirmaria essa versão em entrevista para o Correio Braziliense, em 1999,[8] e a revista Almanaque, em 2007. Nunca fiz música pensando na filha do Geisel, mas essas histórias colam, há invencionices que nem adianta mais negar. Durante a ditadura, de um lado ou de outro, as pessoas gostavam de atribuir aos artistas intenções que nunca lhe passaram pela cabeça.[9]

Ficha técnica

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Referências

  1. a b Kushnir, Stella (2004). Cães de guarda - jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988. [S.l.]: Boitempo. pp. 182, 183. ISBN 85-7559-044-8 
  2. a b c «Chico Buarque: como foi 1ª entrevista da 'identidade secreta' do músico para driblar censura». BBC News Brasil. 6 de setembro de 2024. Consultado em 6 de setembro de 2024 
  3. a b c Homem, Wagner (2009). Chico Buarque: Histórias de Canções. [S.l.]: Leya Brasil. pp. 126–128. ISBN 978-8562936029 
  4. O Banquete dos Mendigos - Discos do Brasil
  5. Palco - Corpo e Alma - Discos do Brasil
  6. Moura, Roberto Murcia (2001). Sobre cultura e mídia. [S.l.]: Irmãos Vitale. 69 páginas. ISBN 85-7407-155-2 
  7. Notas sobre Jorge maravilha - Entrevista a Tarso de Castro no "Folhetim" - Folha de S.Paulo, 11 de setembro de 1977
  8. Aos 55 anos, o autor de grandes clássicos da MPB diz que está mais interessado no prazer do que no sucesso - Correio Braziliense, 2 de setembro de 1999
  9. Entrevista com Chico Buarque - Revista Almanaque de Cultura Popular, 2007

Ligação externa

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