Saltar para o conteúdo

Guaianás

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Não confundir com Goianá (município em Minas Gerais), nem com Goiana (município em Pernambuco).
Guaianás
População total

extinto

Regiões com população significativa
Do  Rio de Janeiro ao Uruguai
Línguas
Religiões
Animismo

Os índios guaianás, também conhecidos como guaianases (do tupi antigo gûaîanã),[1] foram um agrupamento indígena sul-americano que povoou regiões entre São Paulo de Piratininga e o Uruguai[2] até o final do século XVI.

Durante o período colonial, esta comunidade recebeu vários nomes, como guaianases e guaianã, relativos ao povo originário guayaná, goyaná, goyanã, goainaze, wayanaze. O nome guayaná continuou sendo utilizado até 1843. A denominação Kaingang só foi introduzida no final do século XIX por Telêmaco Borba.

A utilização do nome como povo/nação ou como designação de grupos/indivíduos, tem sido um debate reatualizado. Embora o Estado indique, no manual de estilo de comunicação, sua utilização como adjetivada em minúsculas e plural, as nações indígenas vem reivindicando sua referência substantiva, como nome próprio, no singular, pois a noção de coletivo diferencia-se na sua cultura.[3][4][5]

As discussões da etimologia linguística tornam-se importantes, pois delineiam a noção de pertencimento para os povos originários do Brasil, mais do que os limites geográficos e de registro cartorial escrito da cultura do colonizador europeu.[4][6][5]

Os antigos guaianás são descritos como agricultores sedentários, embora a caça e a coleta também fosse parte de seus hábitos. As constantes modificações advindas dos contatos com os brancos e com outros grupos, por deslocamentos forçados, tornaram os dois últimos mais importantes para a sobrevivência, aparecendo também a pesca como atividade de subsistência.[7]

Territorialização

[editar | editar código-fonte]

Era um grupo considerado coletor, ocupando a região da Serra do Mar, em um território que ia desde a Serra de Paranapiacaba até a foz do Rio Paraíba do Sul, no atual estado do Rio de Janeiro.[8]

Gabriel Soares de Sousa descreveu toda a costa brasileira em seu Notícia do Brasil, publicado em 1587. Na obra, o cronista luso afirma que os guaianás eram vizinhos dos tamoios na região onde seria São Paulo, sendo que a tribo que habitou os planaltos paulistas foi o povo que se autodenominava tupi, conhecidos por seus vizinhos como Tupiniquim. Grandes chefes indígenas como Tibiriçá, Piquerobi e Kaiobi são confundidos com os guaianás, porém são de origem Tupi.

Pesquisas das origens, polêmicas, controvérsias e avanços

[editar | editar código-fonte]

O antropólogo Benedito Antonio Genofre Prezia, em seu artigo Os indígenas do planalto paulista, afirma que "...identificamos dois grupos guaianás que viveram em São Paulo: um no século XVI, próximo culturalmente aos Puri, e um outro, no século XVII, vindo do Paraná, e que era, seguramente, ancestral dos caingangue..."[8] O relevo da obra de Benedito reside, além da extensa pesquisa bibliográfica, especialmente no seu trabalho direto com a população e o convívio com seus descendentes.[9]

A autor apresenta ainda, em Os Guaianá de São Paulo: uma contribuição ao debate, a "... hipótese de que em São Paulo, o etnônimo guaianá designou dois grupos distintos, ambos do tronco lingüístico macro-jê: um, ligado a um grupo coletor, vivendo na serra do Mar e que faria parte de um complexo cultural, cujos remanescentes seriam os Puri e Coroado do vale do Paraíba e sudeste de Minas; um outro ligado a um grupo horticultor do Sul, ancestral dos atuais Kaingang".[10][11]

Benedito, ao longo de sua a dissertação de mestrado Os indígenas do planalto paulista - Etnônimos e grupos indígenas nos relatos dos viajantes, cronistas e missionários dos séculos XVI e XVII, nos apresenta vários trabalhos de pesquisa, de diferentes autores, com diferentes pontos de vista, incluindo a discussão de Capistrano de Abreu em Os guaianases de Piratininga e de outros que citam três grupos originários: “os Guaianá propriamente dito, vivendo no planalto; os Guaianá-Tupiniquim, vivendo no litoral sul, até Cananéia e os Guaianá-Muiramomi, que ocupariam o vale do Paraíba até o litoral de Ubatuba".[12][13]

Alfred Métraux afirma que, possivelmente, os guaianás que habitavam a região da cidade de São Paulo sabiam falar também a língua tupi antiga, porém que a maioria dos guaianás pertencia a outro tronco linguístico: o macro-jê,[2] com o quê concorda o linguista Aryon Dall’Igna Rodrigues.[14]

Referências

  1. NAVARRO, E. A. Dicionário de Tupi Antigo: a Língua Indígena Clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 130.
  2. a b FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 871.
  3. «Indígena/etnia — Manual de Comunicação». www12.senado.leg.br. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  4. a b «Línguas - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  5. a b «Quem são? - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  6. Prezia, Benedito Antônio Genofre; Dick, Maria Vicentina de Paula do Amaral (1997). «Os indígenas do Planalto Paulista: etnônimos e grupos indígenas nos relatos dos viajantes, cronistas e missionários dos séculos XVI e XVII». Consultado em 14 de agosto de 2022 
  7. «Portal Educacional Dia-a-Dia Educação - Educação Especial». www.diaadiaeducacao.pr.gov.br. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  8. a b PREZIA, Benedito A. Genofre, “Os indígenas do planalto paulista”. In: BUENO, Eduardo (org.) Os nascimentos de São Paulo, Rio de Janeiro, Ediouro, 2004.
  9. PREZIA, B. A. G. (Org.) . Caminhando na Luta e na Esperança. 1. Ed. São Paulo: Loyola, 2003. V. 1500. 364p .
  10. Prezia, Benedito Antonio Genofre (2 de dezembro de 1998). «The Guaianá of São Paulo: a contribution to the debate». Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia (em inglês) (8): 155–177. ISSN 2448-1750. doi:10.11606/issn.2448-1750.revmae.1998.109537. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  11. «Os Guaianá de São Paulo: uma contribuição ao debate (Prezia 1998) - Biblioteca Digital Curt Nimuendajú». www.etnolinguistica.org. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  12. Prezia, Benedito Antônio Genofre, Os Tupi de Piratininga: acolhida, resistência e colaboração. Tese de Doutorado. Pontifício Universidade Católica, São Paulo, 2008.
  13. PREZIA, Benedito Antônio Genofre. Os indígenas do Planalto Paulista: etnônimos e grupos indígenas nos relatos dos viajantes, cronistas e missionários dos séculos XVI e XVII. 1997. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. Acesso em: 14 ago. 2022.
  14. «Kaingang - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 14 de agosto de 2022