Ogum
Ogum | |
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Ogum incorporado em terreiro de candomblé de Salvador | |
Nome nativo | Ògún |
Pais | |
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Santo equivalente |
Parte da série sobre |
Candomblé |
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Cidades sagradas |
Ogum (em iorubá: Ògún; em castelhano: Oggún;[1] em francês: Ogoun; em fon,Gu)[2] é um vodum[3] loá[4] e orixá do ferro, guerra, agricultura, caminhos, caça, tecnologia e protetor de artesãos e ferreiros.[5][6]
Nomes
[editar | editar código-fonte]Ogum (em iorubá: Ògún) possui vários nomes iorubás no candomblé, a citar: Ogulê,[7] Ogundelê, Ogundilê (Ògundélé), Ogundilei, Ogum-de-lei, Ogundemenê (Ògúndemonlé).[8] Entre os fons, é chamado Gu.[2]
No vodu haitiano, foi desmembrado numa família de loás[4] que tem Ogum como prenome: Ferreiro (em francês: Ferraille; lit. "ferragem"), Balinjô (Balindjo), Badagris, Panamá, Olixá (em iorubá: Olis̩a), Ossanguê (em francês: Ossangoué; em iorubá: Ossangwé)[9] Axadê (em iorubá: Aṣade),[10] Trovão (em francês: Tonnerre),[11] Xangô (em iorubá: S̩ango),[12] Batalá (Bhathalah), Guerriê, Chatarrá, Chal. Na umbanda, como uma série de entidades, aparece como Beira-Mar/Marinho (quiçá de mariuô), Malê, Dilê (Oggun Nile da santeria), Nagô, Iara (em iorubá: yára; lit. "rápido", "ativo"), Matinada, Metá, Naruê, Oiá, Rompe-Mato, Xoroquê, Mejê ou Mejejê (Ògún méjeje).[8] No batuque, como o orixá Avagã.[13]
Pungo Dibudi na regla kimbisa do Santo Cristo da Boa Viagem, Sarabanda, Vento Mal (Viento Malo) e Cabo em Guerra (Cabo en Guerra) no palo, Acutorio Orgulê (Acutorio Orgullé ararás, Noi (Noy), Nou e Ajuagum (Ajuaggún) no cabildo gangá, Iboru e Bocú nos ritos ijexás. Abo Ichokún, Alagwede, Soude, Corona Apanada e Oguedai (Cuba); Aganju (Linguessou ou Linguesú) (Haiti e República Dominicana), Jiyán Petró e Pier Basicó (Rep. Dominicana), Onsú, Neguê e Belié Belcánascido. Em Trindade e Tobago, os Oguns são Olobá (Ologba), Olopelofonte (Olopelophon), Oromelai (Oromelay), Olomené e Oloremai (Oloremay).[13]
Vodu haitiano
[editar | editar código-fonte]Badagris era originalmente uma divindade iorubá, adotada pelos aradás, cujos atributos são o ferro, a guerra e o relâmpago. Segundo Louis Maximilien, Ferreiro é filho de Badagris e amante de sua madrasta Erzulie e foi sincretizado com São Jorge;[14] Balinjô também é associado a Jorge.[13] Panama é o protetor das palmeiras e é descrito usando chapéu de abas largas com tecido de folhas de palmeira. Olixa é tido como cruel e mal-humorado, enquanto Ossangué faz curas milagrosas.[9] Guerriê porta gorro vermelho e uma espada.
Santiago Maior no vodu haitiano e santeria de Porto Rico[15] No Brasil, é associado a Santo Antônio[10]
João Batista com Ogum Trovão do vodu haitiano[11] e Ogum da santeria de Cuba.[15] Na santeria, Ogum ainda é associado a São Pedro.[16]
Religião iorubá
[editar | editar código-fonte]Na religião iorubá, é citado como o primeiro orixá a descer ao reino de Ilê-Aiê ("Terra"), com o objetivo de encontrar uma habitação adequada para a futura vida humana e,[17] consequentemente, recebe o nome de Oriki ou Osin Imole, que significa o "primeiro orixá a vir para a Terra."[17] Foi provavelmente a primeira divindade cultuada pelos iorubás.[18]
Considerado senhor do ferro, da guerra, da agricultura e da tecnologia, Ogum era o filho mais velho de Odudua. Este último era o rei fundador da cidade de Ifé,[18] e Ogum assume o título de rei regente da cidade quando seu pai perde momentaneamente a visão.[19]
Arquétipo
[editar | editar código-fonte]De acordo com Pierre Verger, o arquétipo de Ogum é o das pessoas fortes, aguerridas e impulsivas, incapazes de perdoar as ofensas de que foram vítimas. Das pessoas que perseguem energicamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente. Daquelas que, nos momentos difíceis, triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a esperança. Das que possuem humor mutável, passando de furiosos acessos de raiva ao mais tranqüilo dos comportamentos. Finalmente, é o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, daquelas que se arriscam a melindrar os outros por uma certa falta de discrição quando lhe prestam serviços, mas que, devido à sinceridade e franqueza de suas intenções, tornam-se difíceis de serem odiadas.[20]
Representatividade
[editar | editar código-fonte]Por causa deste contexto, compreende-se a popularidade de Ogum. Especula-se que ele tenha sido a primeira divindade cultuada pelos iorubás na África Ocidental; além disso, era um dos deuses em que os escravos africanos recorriam.[18] Os seguidores de Ogum podem jurar a verdade em tribunais "beijando" um pedaço de ferro ou metal,[21] enquanto que os motoristas carregam um amuleto de Ogum para evitar acidentes de trânsito.[22][23]
Em outras mitologias
[editar | editar código-fonte]Ogum é conhecido no candomblé como o orixá ferreiro. Ele é irmão de Exu, com quem é considerado dono de todos os caminhos e encruzilhadas,[17] e identificado no jogo do merindilogum pelos odus etaogundá, odi e obeogundá, representado materialmente e imaterial através do assentamento sagrado denominado Ibá de Ogum.[18] Já na santeria, ele é um dos quatro orixás guerreiros, representando o solitário hostil que vaga pelos caminhos. Além disso, Ogum é o dono dos montes junto com Oxóssi e dos caminhos, este último junto com Eleguá.[17]
Cultura popular
[editar | editar código-fonte]Ogum é homenageado na música de sucesso "Ogum", gravada originalmente por Zeca Pagodinho, em 2008, homenageando também São Jorge, com quem é sincretizado.[24]
Em 2022 o rapper brasileiro Criolo lançou a canção "Ogum Ogum" em parceria com a cantora cabo-verdiana Mayra Andrade, com quem performou no Rock in Rio naquele ano.[25][26][27]
Referências
- ↑ Queiroz 1961, p. 79; 229.
- ↑ a b Saint-Lot 2003, p. 144.
- ↑ Bastos 1979, p. 188.
- ↑ a b Acquaviva 1977, p. 20.
- ↑ Castro 2001, p. 303-304.
- ↑ Barros 2007, p. 225.
- ↑ Ferreira 1986, p. 1217.
- ↑ a b Castro 2001, p. 304.
- ↑ a b Cadaxa 1985, p. 185.
- ↑ a b Verger 1999, p. 188.
- ↑ a b Simpson 1980, p. 270.
- ↑ Saint-Lot 2003, p. 145.
- ↑ a b c Lopes 2004.
- ↑ Machado 2008, p. 182.
- ↑ a b Arroyo 2013, p. 17.
- ↑ González-Wippler 1987, p. 41.
- ↑ a b c d D'Obaluayê 2017, p. 23.
- ↑ a b c d Plöger; Jagum 2017.
- ↑ Verger 1985, p. 14.
- ↑ Verger 2002, p. 95.
- ↑ Earhart 1993.
- ↑ Adeoye 1989.
- ↑ Barnes 1997.
- ↑ «Ogum está na boca do povo: um dos compositores da música cantada por Zeca Pagodinho agradece o sucesso até hoje». Extra Online. Consultado em 21 de fevereiro de 2023
- ↑ «Criolo vai revisitar hits da carreira em show com participação de Mayra Andrade no Rock in Rio». G1. 1 de setembro de 2022. Consultado em 8 de dezembro de 2023
- ↑ Agências (27 de abril de 2022). «Milton Nascimento e Liniker participam de novo álbum de Criolo | O TEMPO». www.otempo.com.br. Consultado em 8 de dezembro de 2023
- ↑ «Mayra Andrade: quem é a cantora cabo-verdiana que vai cantar com Criolo no Rock in Rio». G1. 3 de setembro de 2022. Consultado em 8 de dezembro de 2023
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Acquaviva, Marcus Cláudio (1977). Vodu: religião e magia negra no Haiti e no Brasil. São Paulo: Aquarius
- Arroyo, Jossiana (2013). Writing Secrecy in Caribbean Freemasonry. Nova Iorque: Palgrave Macmillan
- Barros, Elisabete Umbelino de (2007). Línguas e Linguagens nos Candomblés de Nação Angola. São Paulo: Universidade de São Paulo
- Bastos, Abguar (1979). Os cultos mágico-religiosos no Brasil. São Paulo: Editora Hucitec
- Cadaxa, A. B. M. (1985). Teu corpo é ouro só: ritos de iniciação vodu. Rio de Janeiro: Nova Fronteira
- Castro, Yeda Pessoa de (2001). Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras
- Ferreira, A. B. H. (1986). Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira
- González-Wippler, Migene (1987). Santería: the religion : a legacy of faith, rites, and magic. Nova Iorque: Harmony Books
- Lopes, Nei (2004). «Ogum Beira-Mar; Ogum de Malê; Ogum de Nagô; Ogum Dilê; Ogum Iara; Ogum Marinho; Ogum Matinada; Ogum Metá; Ogum Naruê; Ogum Oiá; Ogum Rompe-Mato; Ogum Xoroquê; Ogum Avagã; Vodu». Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro Edições
- Machado, Maria Augusta. São Jorge: arquétipo, santo e orixá. Rio de Janeiro: Ibis Libris
- Queiroz, Maria Isaura Pereira de (1961). O Candomblé da Bahia (Rito Nagô). São Paulo: Companhia Editora Nacional
- Saint-Lot, Marie-Jose Alcide (2003). Vodou, a Sacred Theatre: The African Heritage in Haiti. Coconut Creek, Flórida: Educa Vision Inc.
- Simpson, George Eaton (1980). Religious Cults of the Caribbean: Trinidad, Jamaica and Haiti. Porto Rico: Instituto de Estudos Caribenhos, Universidade de Porto Rico
- Verger, Pierre (1999). Notas sobre o culto aos orixás e voduns. São Paulo: Edusp
- Barnes, Sandra (1997). Africa's Ogun: Old World and New. Bloomington: Jornal da Universidade de Indiana. ISBN 0253-332516
- Adeoye, C. L. (1989). Ìgbàgbọ́ àti ẹ̀sìn Yorùba (em iorubá). Ibadan: Evans Bros. Nigeria Publishers. ISBN 9781675098
- Verger, Pierre (2002). Corrupio, ed. Orixás, deuses iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador: [s.n.]
- Verger, Pierre (1985). Corrupio, ed. Lendas Africanas dos Orixás 4 ed. [S.l.: s.n.] 95 páginas
- Plöger, Tilo; Jagum, Marcos de (2017). OS ORÁCULOS DE IFÁ. [S.l.]: Tredition. 504 páginas. ISBN 9783743927124
- D'Obaluayê, Batista (2017). Os Orixás e suas Qualidades. [S.l.]: Império da Cultura. 146 páginas. ISBN 9788586896545
- Earhart, H (1993). Religious Traditions of the World: a Journey through Africa, Mesoamerica, North America, Judaism, Christianity, Islam, Hinduism, Buddhism, China, and Japan. São Francisco: HarperSanFrancisco. ISBN 9780060621155