Geomicrobiologia
Geomicrobiologia é o campo científico na interseção entre geologia e microbiologia e uma importante subárea da geobiologia. Ela trata do papel dos microrganismos e dos efeitos de minerais e metais no crescimento, atividade e sobrevivência microbiana.[2] Essas interações ocorrem na geosfera (rochas, minerais, solos e sedimentos), na atmosfera e na hidrosfera.[3] A geomicrobiologia estuda microrganismos que impulsionam os ciclos biogeoquímicos da Terra.[4] As aplicações incluem, por exemplo, biorremediação,[5] mineração, mitigação das mudanças climáticas[6] e o fornecimento público de água potável.[7]
Estudo
[editar | editar código-fonte]Um campo comum de estudo dentro da geomicrobiologia é a origem da vida na Terra ou em outros planetas. Diversas interações entre rochas e água, como serpentinização e radiólise da água,[8] são fontes potenciais de energia para sustentar comunidades microbianas na Terra primitiva e em outros corpos planetários, como Marte, Europa e Encélado.[9][10]
As interações entre microrganismos e sedimentos registram algumas das primeiras evidências de vida na Terra. Informações sobre a vida durante a Terra Arqueana estão preservadas em fósseis bacterianos e estromatólitos encontrados em litologias precipitadas, como sílex ou carbonatos.[11][12] Evidências adicionais de vida primitiva, cerca de 3,5 bilhões de anos atrás, podem ser encontradas na Austrália, indicando que parte da vida mais antiga ocorreu em fontes termais.[13] As estruturas sedimentares induzidas microbianamente (MISS) são encontradas em registros geológicos com até 3,2 bilhões de anos de idade. Elas são formadas pela interação de tapetes microbianos e dinâmicas físicas do sedimento.[14]
Extremófilos
[editar | editar código-fonte]Outra área de investigação na geomicrobiologia é o estudo de organismos extremófilos, microrganismos que prosperam em ambientes normalmente considerados hostis à vida. Esses ambientes podem incluir locais extremamente quentes (como fontes termais ou fontes hidrotermais de dorsal meso-oceânica), ambientes extremamente salinos ou até mesmo ambientes espaciais, como o solo marciano ou cometas.[4]
Pesquisas em ambientes de lagoas hipersalinas no Brasil e na Austrália, bem como em lagos levemente salinos no noroeste da China, mostraram que bactérias anaeróbias podem estar diretamente envolvidas na formação de dolomita.[16] Isso sugere que a alteração e substituição de sedimentos de calcário pela dolomitização em rochas antigas pode ter sido auxiliada pelos ancestrais dessas bactérias anaeróbias.[17] Em julho de 2019, um estudo científico da Mina Kidd no Canadá descobriu organismos que respiram enxofre e vivem a 2.400 metros de profundidade. Esses organismos são notáveis também por se alimentarem de rochas, como a pirita.[18][19][20]
Interação
[editar | editar código-fonte]Sabe-se que os microrganismos impactam os aquíferos ao modificar suas taxas de dissolução.[21] No aquífero da crosta oceânica, o maior da Terra,[22] comunidades microbianas podem impactar a produtividade dos oceanos, a química da água do mar, assim como o ciclo geoquímico em toda a geosfera. Os minerais afetam a composição e abundância dessas comunidades microbianas presentes no subsolo oceânico.[23]
Uso ambiental
[editar | editar código-fonte]Microrganismos estão sendo estudados e usados para degradar poluentes orgânicos e até mesmo resíduos nucleares (como Deinococcus radiodurans) e auxiliar na limpeza ambiental. Uma aplicação da geomicrobiologia é a biolixiviação, que utiliza microrganismos para extrair metais de resíduos de minas.
Solo e sedimento
[editar | editar código-fonte]É usado em solos para remover contaminantes e poluentes. Microrganismos desempenham um papel fundamental em muitos ciclos de biogeoquímica e podem afetar diversas propriedades do solo, como a biotransformação de minerais, toxicidade, entre outros. Os microrganismos desempenham um papel na desintoxicação de diversos elementos, como metais, radionuclídeos, enxofre e fósforo. Treze metais são considerados poluentes prioritários (Sb, As, Be, Cd, Cr, Cu, Pb, Ni, Se, Ag, Tl, Zn, Hg).[2]
Muitos metais pesados, como o cromo (Cr), em baixas concentrações, são micronutrientes essenciais no solo, porém podem ser tóxicos em concentrações mais altas. Metais pesados são adicionados ao solo por várias fontes, como a indústria e/ou fertilizantes. Os níveis de toxicidade e biodisponibilidade do cromo dependem dos estados de oxidação do cromo.[24] Duas das espécies de cromo mais comuns são Cr(III) e Cr(VI). O Cr(VI) é altamente biodisponível e mais tóxico para a flora e a fauna, enquanto o Cr(III) é menos tóxico e precipita facilmente em solos com pH >6.[25] Utilizar microrganismos para facilitar a transformação de Cr(VI) em Cr(III) é uma técnica ambientalmente amigável e de baixo custo para ajudar a mitigar a toxicidade no meio ambiente.[26]
Minas
[editar | editar código-fonte]Outra aplicação da geomicrobiologia é a biolixiviação. Esse processo remove metais pesados dos resíduos das minas, que é um dos principais problemas ambientais associados à drenagem ácida de minas (junto com o baixo pH).[27] Técnicas de biorremediação também são utilizadas em água superficial e água subterrânea contaminadas. Estudos mostraram que a produção de bicarbonato por microrganismos, como as bactérias redutoras de sulfato, adiciona alcalinidade para neutralizar a acidez das águas de drenagem das minas.[5] Íons de hidrogênio são consumidos enquanto bicarbonato é produzido, o que leva a um aumento no pH (redução da acidez).[28]
Hidrocarbonetos
[editar | editar código-fonte]Microrganismos podem afetar a qualidade de depósitos de óleo e gás através de seus processos metabólicos. Microrganismos podem influenciar o desenvolvimento de hidrocarbonetos estando presentes no momento da deposição dos sedimentos ou dispersando-se para colonizar reservatórios após a geração dos hidrocarbonetos.[29]
Referências
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Leitura adicional
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- Jain, Sudhir K.; Khan, Abdul Arif; Rai, Mahendra K. (2010). Geomicrobiology. Enfield, NH: Science Publishers. ISBN 978-1439845103
- Kirchman, David L. (2012). Processes in microbial ecology. Oxford: Oxford University Press. ISBN 978-0199586936
- Loy, Alexander; Mandl, Martin; Barton, Larry L., eds. (2010). Geomicrobiology molecular and environmental perspective. Dordrecht: Springer. ISBN 978-9048192045
- Nagina, Parmar; Ajay, Singh, eds. (2014). Geomicrobiology and Biogeochemistry. Berlin, Heidelberg: Springer Berlin Heidelberg. ISBN 978-3642418372