Fliolmo
Fliolmo | |
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Rei lendário dos Suíones | |
Representação de Fliolmo de 1554 na História de João Magno | |
Reinado | século I |
Antecessor(a) | Ínguino |
Sucessor(a) | Suérquero |
Descendência | Suérquero |
Casa | Casa dos Inglingos |
Pai | Ínguino |
Mãe | Gerda |
Fliolmo (em nórdico antigo: Fiǫlnir ou Fjǫlnir; em islandês: Fjölner ou Fjolner; em latim: Fliolmus),[1] Fiolno (em latim: Fiolni ou Fiolnus) ou Siolmo (em latim: Siolmus)[2] foi rei dos Suíones (Suídia). Pertencia à Casa dos Inglingos e era filho de seu antecessor Ínguino e pai de seu sucessor Suérquero. Segundo a Canção de Grótti, governou no tempo do imperador Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.) e Jesus. Segundo as sagas, era poderoso e seu reinado foi marcado pela paz e boas colheitas. Era amigo de Frodo III da Dinamarca e faleceu em uma visita a seu amigo na Zelândia, quando caiu numa tina de hidromel por estar embriagado e se afogou.
O fim de Fliolmo tem paralelo com o de Hundingo, cuja vida foi contada no Feitos dos Danos de Saxão Gramático, e Veraldur, citado na faroesa Balada de Veraldur na qual era um filho de Odim. Seu nome, por sua vez, aparece em várias obras distintas como um dos nomes de Odim.
Fontes
[editar | editar código-fonte]O rei é citado como Fiǫlnir na Canção de Grótti de data incerta,[3] como Fjǫlni na Lista dos Inglingos do poeta norueguês Tiodolfo de Hvinir do século IX,[4][5] Fiolni na obra História da Noruega do século XII,[6] Fjölnir no Livro dos Islandeses do historiador islandês Ari, o Sábio do século XII[7] e na Saga dos Inglingos do historiador islandês Esnorro Esturleu do século XIII,[8] Fliolmus na obra História de todos os reis gautas e suíones de 1554 do arcebispo sueco João Magno[9] e Fliolmus, Fiolnus e Siolmus na História de João Locênio do Reino dos Suécios do Primeiro Rei da Suécia até o óbito de Carlos Gustavo, Rei da Suécia de João Locênio[2] Embora citado em várias fontes, sua existência é posta em dúvida.[10][11][12][13][14][15]
Vida
[editar | editar código-fonte]Fliolmo era filho de Ínguino e pertencia à Casa dos Inglingos. No Livro dos Islandeses, que cita-o numa genealogia dos Inglingos ao fim da obra ([...] III Freyr. IIII Fjölnir. sá er dó at Friðfróða. V Svegðir [...]), morreu em Friðfróði (lit. Frodo, o Pacífico), nome nórdico do rei dinamarquês Frodo III.[7] A História da Noruega, além de comentar sobre sua genealogia, indica que morreu afogado numa tina de hidromel:[6][16]
“ | [...] Froyr uero genuit Fiolni, qui in dolio medonis dimersus est. Cuius filius Swegthir [...] | ” |
Segundo a Canção de Grótti, que estabelece que Frodo e Fliolmo governaram no tempo do imperador Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.) e Jesus, Frodo visitou Fliolmo na Suídia (terra dos suíones e território original da Suécia). Em seu retorno, levou duas escravas, Fênia e Mênia, que eram grandes e fortes (gigantas):[3]
“ | Sonr Friðleifs hét Fróði. Hann tók konungdóm eptir fǫður sinn í þann tíð er Augustus keisari lagði frið of heim allan; þá var Kristr borinn. [...] Fróði konungr sótti heimboð í Svíðióð til þess konungs, er Fiǫlnir er nefndr. Þá keypti hann ambáttir tvær, er hétu Fenia ok Menia; þær vóru miklar ok sterkar. [...] | ” |
Segundo a Saga dos Inglingos, Fliolmo era filho de Ínguino e Gerda, filha de Gimir.[17] Sucedeu seu pai como rei dos suíones em Upsália, era poderoso e seu reinado foi marcado pela paz e boas colheitas. À época, em Hleidra (atual Leire, na Zelândia), reinava Frodo III, o Pacífico, com quem mantinha amizade e convidavam um ao outro para celebrações. Em certa ocasião, Fliolmo foi visitar Frodo na ilha de Zelândia, onde enorme festividade foi feita e muitas pessoas de terras próximas e distantes foram chamadas. Frodo ordenou a construção de uma enorme tina, de vários ells de altura e reforçada por toras robustas, que foi colocada no piso inferior de um armazém, sobre a qual havia uma sacada com uma abertura no chão para que líquidos pudessem ser despejados e o hidromel misturado.[18]
À noite, Fliolmo e seu séquito foram levados a alojamentos em um sótão próximo. Durante a noite, saiu na varanda para encontrar um lugar para se aliviar, mas estava sonolento e bêbado. Na volta para os alojamentos, atravessou a varanda e entrou na porta errada do sótão, se desequilibrando e caindo no tanque de hidromel, onde se afogou. Ao falecer foi sucedido por seu filho Suérquero. Segundo Tiodolfo de Hvinir:[19]
“ | Destino de morte, |
” |
Interpretações modernas
[editar | editar código-fonte]Para Claus Krag, ao analisar, em conjunto, as mortes dos primeiros quatro reis citados da Saga dos Inglingos depois de Ínguino (Fliolmo, Suérquero, Valandro e Visbur), é possível inferior que os escandinavos tinham conhecimentos da teoria clássica dos quatro elementos (fogo, água, terra e ar) nessa interpretação: segundo Claus, Fliolmo foi morto pela água (metáfora da tina de hidromel), Suérquero foi morto pela terra (metáfora da rocha), Visbur morreu pelo ar (metáfora do mora enviado para sufocá-lo) e Valandro morreu pelo fogo. Para John McKinnell, aplicando esse raciocínio a outras obras nórdicas cujas mortes poderiam induzir à mesma conclusão, é mais provável que representem a visão germânica das três forças destrutivas da natureza – mar, fogo e tempestade – em vez da ideia dos quatro elementos.[20] Svante Norr sugeriu que a teoria dos elementos, cristianizada de Platão por Agostinho de Hipona, chegou no norte da Europa via Beda e outros e deve ter alcançado a Escandinávia, mediante contato com os anglo-saxões, no final do século XI,[21] uma data que Rory McTurk concorda.[22]
Mckinell, por sua vez, concorda com a teoria de que Fliolmo e Suérquero representam opostos de fortuna: a morte de Fliolmo na tina de hidromel pode ser metáfora para morte por excesso, enquanto a morte de Suérquero engolido pela rocha seria metáfora para esterilidade.[23] Já Goeres lembra que estavam embriagados quando morreram[24] e Claus Krag pensou que as estrofes de Tiodolfo sobre a vida deles podem se referir, não a reis propriamente, mas Odim, vencedor do hidromel da poesia, como o deus era comumente referido. Stephan Grundy, assumindo que ele estava certo, sugeriu que talvez essa menção a Odim fosse uma convenção de invocá-lo no início de uma poema escáldico e que podia não ter havido motivos antes do tempo de Esnorro para assumirem Fliolmo e Suérquero como reis históricos.[25] Krag ainda sugeriu que Sucmimir fosse outro nome para Surtur,[26] dando mais ênfase à teoria da ligação dos reis com Odim, pois o gigante aparece na narrativa do hidromel da poesia.[27]
Paralelos e outras menções
[editar | editar código-fonte]No Livro I (8.27) do Feitos dos Danos de Saxão Gramático é relatada a vida de Hundingo, cujo fim tem paralelos com o de Fliolmo.[28] O mesmo se pode dizer da faroesa Balada de Veraldur registrada em 1840 e citada em 1973 por Georges Dumézil na qual Veraldur, filho de Odim, morre afogado num barril de cerveja numa visita a Zelândia.[29][30]
O nome de Fliolmo foi reutilizado em outros contextos como um dos nomes de Odim: em Ditos de Grimnir, quando o deus se revela para o gigante Geirrodo; no Ditos de Regino e numa citação aos Ditos na Saga dos Volsungos, quando está numa montanha de pé se dirigindo a Sigurdo e Regino; na Alucinação de Gilfi de Esnorro Esturleu é um dos 12 nomes dados a Odim e é novamente listado quando Esnorro cita os Ditos de Grimnir; aparece com regularidade na poesia escaldica.[31]
Referências
- ↑ Neves 2019.
- ↑ a b Locênio 1662, I.3.
- ↑ a b Tolley 2008, p. 36.
- ↑ Tiodolfo de Hvinir 1915.
- ↑ Grundy 2014, p. 103.
- ↑ a b Storm 1880, p. 97.
- ↑ a b Ari, o Sábio 2006, p. 14.
- ↑ Esnorro Esturleu 2011, p. 15-16.
- ↑ João Magno 1554, p. 242.
- ↑ Melin 2006, p. 39.
- ↑ Larsson 1999, p. 31.
- ↑ Harrison 2002, p. 18-19.
- ↑ Lindkvist 2006, p. 34-35.
- ↑ Henrikson 1963, p. 38.
- ↑ Miranda 2007, p. 261.
- ↑ Ekrem 2003, p. 75.
- ↑ Esnorro Esturleu 2011, p. 14.
- ↑ Esnorro Esturleu 2011, p. 14-15.
- ↑ Esnorro Esturleu 2011, p. 15.
- ↑ Mckinell 2009, p. 24-25.
- ↑ Norr 1998, p. 102-103.
- ↑ McTurk 1997, p. 25.
- ↑ Mckinell 2009, p. 29.
- ↑ Goeres 2015, p. 35.
- ↑ Grundy 2014, p. 71, nota 132.
- ↑ Grundy 2014, p. 70.
- ↑ Norr 1998, p. 89.
- ↑ Egeler 2013, p. 54.
- ↑ Banaszkiewicz 1985, p. 7.
- ↑ Saxão Gramático 1980, p. 38.
- ↑ Lindow 2001, p. 116.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Ari, o Sábio (2006). Grønlie, Siân, ed. Íslendingabók - The Book of the Icelanders. Londres: Sociedade Viquingue para Pesquisa Setentrional
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- Egeler, Matthias (2013). Celtic Influences in Germanic Religion: A Survey. Munique: Herbert Utz Verlag
- Ekrem, Inger; Mortensen, Lars Boje (2003). Historia Norwegie. Traduzido por Fisher, Peter. Copenhague: Museum Tusculanum Press. ISBN 8772898135
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