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Festival de Música Popular Brasileira 1967

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Festival MPB 1967
Festival
Cidade São Paulo, SP
Local Teatro Record Centro
Canal TV Record
Apresentadores Blota Júnior e Sônia Ribeiro
Participantes 36 (Eliminatórias)
12 (Final)
Datas
Eliminatórias 1.ª 30 de setembro de 1967
2.ª 6 de outubro de 1967
3.ª 14 de outubro de 1967
Final 21 de outubro de 1967
Votação
Canção vencedora Edu Lobo e Marília Medalha - "Ponteio"
(Edu Lobo e Capinam)
Histórico
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O Festival de Música Popular Brasileira de 1967 foi a terceira edição do Festival de MPB organizado pela TV Record. Aconteceu entre 30 de setembro e 21 de outubro de 1967, com todos os eventos sendo realizados no Teatro Record Centro, em São Paulo, com apresentação de Sônia Ribeiro e Blota Júnior.[1]

Foi considerada a edição mais marcante do festival, pela alta qualidade das canções, por revelar nomes importantes da MPB bem como por popularizar a guitarra elétrica na música nacional.[1][2] Ficou marcada também pelas vaias do público a diversas apresentações, a ponto de um de seus participantes, Jair Rodrigues, apelidar a edição de "festivaia".[3]

A canção vencedora do festival foi "Ponteio", de Edu Lobo e Capinam, interpretado pelo primeiro e por Marília Medalha. No entanto, outras canções notáveis foram apresentadas originalmente para o festival, como "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso; "Roda Viva", de Chico Buarque e "Domingo no Parque", de Gilberto Gil, esta última sendo considerada marco inicial da Tropicália.[1]

Com a ascensão da televisão e em meio ao contexto político da ditadura militar, o Brasil vivia a era dos festivais: programas de televisão (mas que também eram transmitidos por rádio) em que canções originais eram apresentadas e julgadas, premiando-se a melhor canção ao final. Devido ao regime militar, todas as canções eram avaliadas pela censura antes de serem apresentadas, sendo que os censores poderiam pedir alterações ou mesmo vetar a apresentação das mesmas no festival.[1] Os festivais anteriores despontavam crescente sucesso, alavancando a popularidade dos intérpretes das melhores canções, que normalmente eram artistas contratados da TV Record.[1]

Em 17 de julho daquele ano, diversos artistas importantes da música brasileira saíram em marcha contra a inclusão da guitarra elétrica em composições nacionais, por considerar uma invasão da música internacional no país.[2]

Mais de 4000 canções foram inscritas no festival cujo prazo de inscrição se encerrou em 26 de julho de 1967. Todas as canções foram avaliadas por um júri de seleção (composto por Amilton Godoy, César Mariano, Ferreira Gullar, Júlio Medaglia, Raul Duarte, Roberto Corte Real e Sandino Hohagen) para que se pudesse escolher 36 canções para o festival. 30 das escolhidas foram anunciadas em 6 de setembro de 1967 e as demais 6 no dia seguinte, uma vez que 6 canções entre as escolhidas haviam sido proibidas pela censura da ditadura militar.[4] Por fim, os intérpretes foram anunciados posteriormente, sendo que em 10 casos, o próprio autor escolheu por defender a canção,[1][5] por entenderem que os compositores deveriam ser melhor reconhecidos pelas canções, ao invés de intérpretes alheios.[6]

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As 36 canções selecionadas foram dividas em três eliminatórias (30 de setembro, 6 e 14 de outubro) num sorteio realizado em 24 de setembro. Em cada eliminatória, um júri composto por 15 membros iria pontuar as canções e, as quatro com maior pontuação avançaram à final. Na finalíssima, as 12 canções eram avaliadas novamente, da mesma forma, pelo mesmo júri.

Após os resultados finais, a premiação aconteceria da seguinte forma[7]:

Posição Prêmio
1.º Lugar NCr$ 37 mil
2.º Lugar NCr$ 16 mil
3.º Lugar NCr$ 10 mil
4.º Lugar NCr$ 5 mil
5.º Lugar NCr$ 3 mil
6.º Lugar[8] NCr$ 2 mil
Letra NCr$ 3 mil
Arranjo NCr$ 1,5 mil

O corpo de jurados foi composto por 15 membros que representassem um equilíbrio entre as facções políticas e musicais a concurso. O júri acabou sendo composto da seguinte forma[1][7]:

Carlos Manga
cineasta
Carlos Vergueiro
crítico musical
Chico Anysio
comediante
Ferreira Gullar
escritor
Franco Paulino
crítico musical
Júlio Medaglia
maestro
Luís Guedes
jornalista
Raul Duarte
jornalista
Roberto Corte Real
jornalista
Roberto Freire
escritor e jornalista
Salomão Schvartzman
jornalista
Sandino Hohagen
maestro
Sebastião Bastos
representante ABPD
Sérgio Cabral
crítico musical
Tereza Aragão
esposa de F. Gullar

Eliminatórias

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1.ª Eliminatória

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A primeira eliminatória aconteceu em 30 de setembro de 1967, no Teatro Record Centro, em São Paulo. Nesta eliminatória, Nana Caymmi foi muito vaiada pelo público após ser anunciada como última finalista. Isso porque o público preferia a canção "O Combatente", interpretada por Jair Rodrigues.[1][9][10]

Ordem Interpretes Canção Autores Resultado
1 Jair Rodrigues "O Combatente" Walter Santos e Tereza Souza
2 Silvio Cesar e Gal Costa "Dadá Maria" Renato Teixeira
3 Sônia Rosa "E Fim" Sônia Rosa
4 Chico Buarque e MPB4 "Roda Viva" Chico Buarque Finalista
5 Djalma Dias "A Moreninha" Tom Zé
6 Edu Lobo e Marília Medalha "Ponteio" Edu Lobo e Capinam Finalista
7 Márcia "Eu e a brisa" Johnny Alf
8 Demétrius "Minha Gente" Demétrius
9 Claudete Soares "Ela Felicidade" Vera Brasil
10 Wilson Simonal "O Milagre" Nonato Buzar
11 Roberto Carlos "Maria, Carnaval e Cinzas" Luis Carlos Paraná Finalista
12 Nana Caymmi "Bom dia" Gilberto Gil e Nana Caymmi Finalista

2.ª Eliminatória

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A segunda eliminatória aconteceu em 6 de outubro de 1967, no Teatro Record Centro, em São Paulo. Após o acontecido na eliminatória anterior, ao ser anunciado Jair Rodrigues, a plateia começou a gritar "O Combatente" repetitivamente, em alusão à suposta injustiça acontecida na eliminatória anterior. No entanto, "Samba de Maria", interpretado pelo mesmo, não agradou o público e foi vaiado ao ser anunciado como finalista.[1][11]

Ordem Interpretes Canção Autores Resultado
1 O Quarteto "Rua Antiga" Roberto Menescal e Rubens Richter
2 Claudete Soares "Brinquedo" Alfredo Neto e Walter de Carvalho
3 Wilson Simonal "Belinha" Toquinho e Victor Martins
4 Silvio Cesar "Por Causa de Maria" Marcos César e Paulo Scarpa
5 Gilberto Gil e Os Mutantes "Domingo no Parque" Gilberto Gil Finalista
6 Ronnie Von "Uma dúzia de rosas" Carlos Imperial
7 Adilson Godoy e Golden Boys "Manhã de Primavera" Adilson Godoy
8 Denisse de Kalafe "Cantiga de Jesuíno" Capiba e Ariano Suassuna
9 Marília Medalha "Diana Pastora" Fernando Lobo e João Mello
10 Elis Regina "O Cantador" Dori Caymmi e Nelson Mota Finalista
11 Sidney Miller e Nara Leão "A Estrada e O Violeiro" Sidney Miller Finalista
12 Jair Rodrigues "Samba de Maria" Vinicius de Moraes e France Hime Finalista

3.ª Eliminatória

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A terceira eliminatória aconteceu em 14 de outubro de 1967, no Teatro Record Centro, em São Paulo. Durante as apresentações, Hebe Camargo e Erasmo Carlos foram intensamente vaiados.[12] Quando anunciado finalista, Sérgio Ricardo foi intensamente vaiado, o que deu início aos acontecimentos que culminaram na sua desclassificação na finalíssima. Por causa da resistência às guitarras elétricas na música brasileira, Caetano foi vaiado no princípio da sua apresentação. No entanto, ao final da canção, seria a mais aplaudida da noite.[1]

Ordem Interpretes Canção Autores Resultado
1 Geraldo Vandré "Ventania" Geraldo Vandré e Hilton Acioli Finalista
2 Wilson Simonal "Balada do Vietnã" David Nasser e Elizete Sanches
3 Agnaldo Rayol "Anda que te anda" Mário Lago e Ary Toledo
4 MPB4 "Gabriela" Maranhão Finalista
5 Elza Soares "Isso Não Se Faz" Hermínio de Carvalho e Pixinguinha
6 Jamelão "Menina Moça" Martinho da Vila
7 Sérgio Ricardo "Beto bom de bola" Sérgio Ricardo Finalista
8 Maria Odette "Canção do Cangaceiro" Carlos Castilho e Chico de Assis
9 Erasmo Carlos "Capoeirada" Erasmo Carlos
10 Maria Creuza "Festa no Terreiro de Alaketu" Antônio Carlos
11 Hebe Camargo "Volta Amanhã" Fernando César e Mariah Brito
12 Caetano Veloso e Beat Boys "Alegria, Alegria" Caetano Veloso Finalista
Nana Caymmi e Gilberto Gil na final do festival.

A finalíssima aconteceu em 21 de outubro de 1967, no Teatro Record Centro, em São Paulo, com a apresentação de Blota Júnior e Sônia Ribeiro. A canção vencedora foi "Ponteio", de Edu Lobo, enquanto o hino da tropicália "Domingo no Parque", de Gilberto Gil ficou em segundo lugar; o vencedor da edição anterior, Chico Buarque, ficou em terceira posição com "Roda Viva". Além da premiação principal do festival, foi concedido o prêmio de melhor intérprete a Elis Regina, melhor letra para "A Estrada e o Violeiro" e melhor arranjo para "Domingo no Parque".[1][13][8]

Motivado pelas vaias recebidas na reapresentação da canção na eliminatória, Sérgio Ricardo decidiu alterar o arranjo da sua canção. Quando sua canção foi anunciada, o público não poupou vaias (o que não era exatamente raro nos festivais brasileiros), que se fortaleceram após o cantor afirmar que após o festival ateraria o nome da canção para "Beto bom de vaia", ironizando o público. Ele até tentou interpretar sua canção, mas sob fortes vaias não conseguia sequer ouvir a orquestra e, irritado, abandonou a performance, quebrou seu violão e o arremessou ao público. Minutos depois, a desclassificação da canção era anunciada[1][13]

Ordem Interpretes Canção Autores Resultado
1 Nana Caymmi "Bom dia" Gilberto Gil e Nana Caymmi -
2 Sidney Miller e Nara Leão "A Estrada e O Violeiro" Sidney Miller -
3 Caetano Veloso e Beat Boys "Alegria, Alegria" Caetano Veloso 4.º
4 Gilberto Gil e Os Mutantes "Domingo no Parque" Gilberto Gil 2.º
5 MPB4 "Gabriela" Maranhão 6.º
6 Elis Regina "O Cantador" Dori Caymmi e Nelson Mota -
7 Sérgio Ricardo "Beto bom de bola" Sérgio Ricardo Desc
8 Edu Lobo e Marília Medalha "Ponteio" Edu Lobo e Capinam 1.º
9 Geraldo Vandré "Ventania" Geraldo Vandré e Hilton Acioli -
10 Roberto Carlos "Maria, Carnaval e Cinzas" Luis Carlos Paraná 5.º
11 Chico Buarque e MPB4 "Roda Viva" Chico Buarque 3.º
12 Jair Rodrigues "Samba de Maria" Vinicius de Moraes e France Hime -

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l MELLO, Zuza Homem de. A ERA DOS FESTIVAIS: UMA PARÁBOLA. Editora 34. 2003
  2. a b «Veja a importância do Festival de MPB de 1967». NovaBrasil FM. 27 de fevereiro de 2022. Consultado em 27 de julho de 2022 
  3. Terra, Renato; Calil, Ricardo (2013). «Jair Rodrigues». Uma Noite em 67: entrevistas completas com os artistas que marcaram a era dos festivais. São Paulo: Planeta. p. 75. 296 páginas. ISBN 978-85-422-0082-9 
  4. «Quatro Cantos». Correio da Manhã: 9. 8 de setembro de 1967. Consultado em 27 de julho de 2022 
  5. «Festival da Record: aqui os intérpretes». Biblioteca Nacional do Brasil. A Tribuna. 18 de setembro de 1967. Consultado em 26 de julho de 2022 
  6. Perrone, Marcelo (20 de outubro de 2017). «Festival de Record com Gil, Chico Buarque, Caetano e Roberto Carlos: há 50 anos nascia a moderna MPB». GZH. Consultado em 27 de julho de 2022 
  7. a b «É a grande noite da música popular brasileira». Biblioteca Nacional do Brasil. A Tribuna: 7. 21 de outubro de 1967 
  8. a b «Ponteio vence e artistas desagravam Sérgio». Biblioteca Nacional do Brasil. Correio da Manhã: 5. 24 de outubro de 1967. Consultado em 27 de julho de 2022 
  9. Antônio, Luiz (2 de outubro de 1967). «Música Popular». Biblioteca Nacional do Brasil. A Tribuna: 8. Consultado em 26 de julho de 2022 
  10. «Nana Caimi é vaiada no festival paulista». Biblioteca Nacional do Brasil. Correio da Manhã: 2. 3 de outubro de 1967. Consultado em 27 de julho de 2022 
  11. Carvalho, Cley Gama de (9 de outubro de 1967). «Festival de Vaias e Equívocos». A Tribuna: 5. Consultado em 26 de julho de 2022 
  12. L. B. (16 de outubro de 1967). «Agora é esperar a final». Biblioteca Nacional do Brasil. A Tribuna: 7. Consultado em 26 de julho de 2022 
  13. a b «Neste festival, um homem gentil perdeu a calma». Biblioteca Nacional do Brasil. A Tribuna. 23 de outubro de 1967. Consultado em 26 de julho de 2022