Estação Ferroviária de Moura
Moura
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Linha(s): | Ramal de Moura (PK 212,707) |
Coordenadas: | 38° 08′ 11,38″ N, 7° 26′ 46,45″ O |
Município: | Moura |
Inauguração: | 27 de Dezembro de 1902 |
Encerramento: | 2 de Janeiro de 1990 |
A Estação Ferroviária de Moura é uma interface encerrada do Ramal de Moura, que servia a localidade de Moura, na região do Alentejo, em Portugal. Entrou ao serviço em 27 de Dezembro de 1902,[1] e foi encerrada em 1990.[2]
História
[editar | editar código-fonte]Planeamento, inauguração e primeiros anos
[editar | editar código-fonte]Originalmente, o ramal que saía de Beja não incluía a passagem por Moura, tendo sido planeado como uma linha internacional até Huelva, passando por Pias e Paymogo.[3] Porém, em 1902 foi publicado o Plano Geral da Rede Ferroviária, que modificou o traçado deste ramal, então conhecido como Linha do Sueste, de forma a girar para Norte em Pias e terminar em Moura.[3] Em Moura terminaria igualmente a Linha do Guadiana, que sairia de Évora e passaria por Reguengos de Monsaraz e Mourão, criando desta forma uma rede circular entre as duas capitais alentejanas.[3]
Em 3 de Maio de 1902, a Direcção do Sul e Sueste dos Caminhos de Ferro do Estado marcou para o dia 31 desse mês o concurso para a construção da estação de Moura, com a correspondente retrete e fossa.[4] Entretanto, em 30 de Maio foi marcado para o mês seguinte o concurso para construir um prédio para habitação do pessoal na estação de Moura.[5] Em 16 de Dezembro desse ano, a Gazeta dos Caminhos de Ferro noticiou que iria ser em breve inspeccionado o lanço entre Pias e Moura, prevendo-se que iria entrar ao serviço em 27 de Dezembro desse ano.[6] O projecto para este troço, datado de 11 de Novembro de 1899 e aprovado por uma portaria de 23 de Abril de 1900, foi elaborado pelo condutor Effigenio Antonio, tendo a sua construção sido autorizada por uma portaria de 15 de Junho do mesmo ano.[6] Incluiu desde logo a gare de Moura, de segunda classe, com um cais coberto e outro descoberto, um edifício para cocheira para carruagens, armazenamento de madeiras e habitação do pessoal, e uma ponte de inversão para locomotivas.[6] Para a construção da estação, a câmara de Moura doou as expropriações, e ofereceu a quantia de 1:000.000$000 Réis, para a qual contraiu um empréstimo.[6] O engenheiro Magalhães Braga, que estava a dirigir as obras, alterou o traçado original do ramal, de forma a aproximar a estação da vila, e alongou o alinhamento da via no local em que seria instalada.[6] Nessa altura, as obras da estação de Moura ainda não estavam concluídas, mas considerou-se que devido à proximidade da vila, o ramal podia entrar ao serviço na data prevista.[6]
Como previsto, o lanço entre Pias e Moura entrou ao serviço em 27 de Dezembro de 1902.[7]
Em 1913, a estação de Moura era servida por carreiras de diligências até Safara, Amareleja e Sobral da Adiça.[8]
Encerramento e reconversão
[editar | editar código-fonte]Nos finais da década de 1980, a operadora Caminhos de Ferro Portugueses ponderou o encerramento do ramal, medida que foi justificada pela necessidade de reduzir as despesas.[9] Porém, esta decisão não foi bem aceite pela população, e em 1 de Agosto de 1988 a União dos Sindicatos de Beja organizou uma manifestação em frente à estação de Moura, que reuniu algumas centenas de pessoas.[9] Foi aprovada uma moção, assinada igualmente por vários autarcas no distrito de Beja, onde se exigiu ao conselho de administração da empresa para não encerrar o tráfego ferroviário até Moura.[9] Esta moção foi depois apresentada à delegação local da operadora e ao Governador Civil de Beja, Branco Malveiro.[9] Nessa altura, a linha férrea assumia uma grande importância como escoamento das sementes de trigo e cevada produzidas da margem oriental do Rio Guadiana, que eram armazenadas em Moura e depois transportadas por caminho de ferro até Beja.[9] Porém, o Ramal de Moura foi encerrado em 2 de Janeiro de 1990, no âmbito de um programa de reestruturação da empresa Caminhos de Ferro Portugueses.[10][2]
Após o encerramento, a estação ficou devoluta até aos princípios da década de 2020, quando se iniciou um plano para o reaproveitamento das antigas instalações, orçado em 600 mil Euros, e que contou com o apoio de fundos comunitários, ao abrigo do Programa Operacional Regional Alentejo 2020.[11] Assim, em 10 de Dezembro de 2021 foi inaugurada a Estação Intermodal de Moura, ocupando o antigo edifício da gare ferroviária. tendo o piso térreo sido transformado num espaço de apoio a uma paragem de autocarros, com bilheteiras, uma sala de espera, sanitários e uma cafetaria, enquanto que o primeiro andar foi ocupado por instalações do rádio Planície e do jornal A Planície.[11] O contrato incluiu a cedência à autarquia de vários partes do património histórico e cultural, que foram restaurados e reutilizados como elementos decorativos.[11] Nesse dia foi igualmente entregue à autarquia de Moura o contrato de subconcessão celebrado com a divisão de património da empresa Infraestruturas de Portugal, para usufruto privativo do lanço entre os PK 203 975 e o PK 212 582 do Ramal de Moura, no sentido de permitir a sua reconversão numa ecopista.[11]
Referências literárias
[editar | editar código-fonte]Na obra Alentejo Desencantado, Mário Ventura descreveu o final de uma viagem do Barreiro até Moura:
“ | Estas horas de impaciente espera em Moura despertam-me a frustração que se sente quando nos escapa a reportagem posível. Aliás, apercebi-me de que isso viria a suceder assim que desci da automotora que traz o viajante ao extremo do ramal de Moura, após cinco horas de marcha, para um percurso de cerca de duzentos quilómetros a partir de Lisboa. [...] A partida da camioneta da carreira fora anunciada para as dezoito horas, quatro horas após a chegada da automotora de Beja, de ligação ao comboio de Lisboa. | ” |
— Mário Ventura, Alentejo Desencantado, p. 93-94 |
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Caminhos de Ferro Portugueses
- Infraestruturas de Portugal
- Transporte ferroviário em Portugal
- História do transporte ferroviário em Portugal
Referências
- ↑ MARTINS et al, 1996:251
- ↑ a b CORREIA, Teixeira (4 de Abril de 2010). «Ciclistas pedem ecopista para antigo ramal». Jornal de Notícias. Consultado em 31 de Março de 2021
- ↑ a b c SOUSA, José Fernando de (16 de Setembro de 1927). «As nossas linhas ferroviárias internacionais e as linhas de Salamanca à fronteira portuguesa» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 40 (954). Lisboa. p. 266-270. Consultado em 17 de Junho de 2018 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Arrematações» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (346). Lisboa. 16 de Maio de 1902. p. 155-156. Consultado em 17 de Junho de 2018 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Arrematações» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (348). Lisboa. 16 de Junho de 1902. p. 188-189. Consultado em 17 de Junho de 2018 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b c d e f «Parte Official» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (360). Lisboa. 16 de Dezembro de 1902. p. 381-384. Consultado em 16 de Maio de 2017 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ TORRES, Carlos Manitto (1 de Fevereiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 70 (1683). Lisboa. p. 75-78. Consultado em 27 de Janeiro de 2014 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Serviço de Diligencias». Guia official dos caminhos de ferro de Portugal. Via 39 (168). Lisboa. Outubro de 1913. p. 152-155. Consultado em 15 de Fevereiro de 2018 – via Biblioteca Digital de Portugal
- ↑ a b c d e «Protestos contra encerramento do ramal de Moura». Diário de Lisboa. Ano 68 (22729). Lisboa: Renascença Gráfica. 2 de Agosto de 1988. p. 28. Consultado em 17 de Fevereiro de 2022 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares
- ↑ «CP encerra nove troços ferroviários». Diário de Lisboa. Ano 69 (23150). Lisboa: Renascença Gráfica. 3 de Janeiro de 1990. p. 17. Consultado em 5 de Abril de 2021 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares
- ↑ a b c d «Inauguração da Estação Intermodal de Moura». Infraestruturas de Portugal. 14 de Dezembro de 2021. Consultado em 6 de Novembro de 2023
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado: O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
- VENTURA, Mário (Dezembro de 1974). Alentejo Desencantado. Lisboa: Círculo de Leitores / Livraria Bertrand. 222 páginas