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Eleições estaduais em Mato Grosso em 1982

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
1978 Brasil 1986
Eleições estaduais em  Mato Grosso em 1982
15 de novembro de 1982
(Turno único)
Candidato Júlio Campos Raimundo Pombo
Partido PDS PMDB
Natural de Várzea Grande, MT Corumbá, MS
Vice Vilmar Peres de Faria Louremberg Nunes Rocha
Votos 203.605 188.878
Porcentagem 51,64% 47,91%
Candidato mais votado por município (57):

     Júlio Campos (36)

     Raimundo Pombo (21)


As eleições estaduais em Mato Grosso em 1982 ocorreram em 15 de novembro como parte das eleições gerais em 23 estados brasileiros e nos territórios federais do Amapá e Roraima. Num pleito marcado pela adoção do voto vinculado, da sublegenda e da proibição de coligações, o PDS elegeu o governador Júlio Campos, o vice-governador Vilmar Peres de Faria e o senador Roberto Campos, além da maioria dos oito deputados federais e vinte e quatro estaduais eleitos. Foi também a última vez onde mato-grossenses domiciliados no Distrito Federal tiveram seus votos remetidos ao Mato Grosso através de urnas especiais e a primeira eleição direta para o Palácio Paiaguás desde 1965, quando aconteceu o triunfo de Pedro Pedrossian.[1][nota 1]

Diplomado em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista em 1969, o governador Júlio Campos foi Secretário Municipal de Viação e Obras Públicas em Várzea Grande, professor na Universidade Federal de Mato Grosso e é empresário.[2] Sua primeira filiação partidária foi ao PSD, contudo sua primeira vitória eleitoral aconteceu na ARENA ao conquistar a prefeitura de Várzea Grande em 1972 e pela mesma legenda foi eleito deputado federal em 1978 e encerrado o bipartidarismo ingressou no PDS. Diferente do ocorrido na era dos governadores biônicos, a vitória do partido governista foi conquistada por estreita margem graças ao crescimento do PMDB que uniu oposicionistas de origem e dissidentes do poder enquanto os aspirantes de esquerda sequer chegaram a meio por cento dos votos.[nota 2]

Nascido em Cuiabá e formado em Filosofia e Teologia na época que morava em Minas Gerais, Roberto Campos ingressou no Itamaraty por concurso público em 1939, sendo transferido para os Estados Unidos onde se diplomou em Economia pela Universidade George Washington com pós-graduação na Universidade de Columbia. Presente à Conferência de Bretton Woods que criou o Fundo Monetário Internacional, foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), embaixador em Washington no Governo João Goulart, Ministro do Planejamento no governo Castelo Branco e embaixador em Londres no Governo Ernesto Geisel.[3][4]

Resultado da eleição para governador

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Segundo o Tribunal Superior Eleitoral houve 394.269 votos nominais (91,62%), 21.432 votos em branco (4,98%) e 14.609 votos nulos (3,40%), totalizando o comparecimento de 430.310 eleitores.

Candidatos a governador do estado
Candidatos a vice-governador Número Coligação Votação Percentual
Júlio Campos
PDS
Wilmar Peres de Faria
PDS
1
PDS (sem coligação)
203.605
51,64%
Raimundo Pombo
PMDB
Louremberg Nunes Rocha
PMDB
5
PMDB (sem coligação)
188.878
47,91%
Anacleto Ciocari
PDT
Olímpio Arruda
PDT
2
PDT (sem coligação)
899
0,23%
João Antônio Cabral de Monlevade
PT
Dafne Ferreira da Silva
PT
3
PT (sem coligação)
887
0,22%
Fontes:[5][6]
  Eleito

Resultado da eleição para senador

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Segundo o Tribunal Superior Eleitoral houve 378.892 votos nominais (88,05%), 32.887 votos em branco (7,64%) e 18.531 votos nulos (4,31%), totalizando o comparecimento de 430.310 eleitores.

Candidatos a senador da República
Candidatos a suplente de senador Número Coligação Votação Percentual
Roberto Campos
PDS
[nota 3]
-
[nota 4]
-
10
PDS (em sublegenda)
147.203
38,85%
José Garcia Neto
PMDB
Aecim Tocantins
PMDB
[nota 5]
[7][8][9]
50
PMDB (em sublegenda)
106.734
28,17%
Vicente Bezerra Neto
PMDB
Deuslírio Ferreira
PMDB
[nota 5]
[7][8][9]
52
PMDB (em sublegenda)
71.850
18,96%
Gabriel Novis Neves
PDS
[nota 3]
-
[nota 4]
-
11
PDS (em sublegenda)
51.163
13,50%
Astério Lacerda de Melo Franco
PT
Manoel Pombal do Espírito Santo
PT
Josefa Maria Gonçalves
PT
30
PT (sem coligação)
847
0,23%
Edvaldo Valeriano de Campos Filho
PDT
Orlando Frizzo
PDT
[nota 6]
-
20
PDT (sem coligação)
830
0,22%
Vicente Vuolo
PDS
[nota 3]
[10]
[nota 4]
[11]
-
PDS (em sublegenda)
265
0,07%
Fontes:[5][6]
  Eleito

Deputados federais eleitos

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São relacionados os candidatos eleitos com informações complementares da Câmara dos Deputados.

Representação eleita

  PDS: 4
  PMDB: 4

Deputados federais eleitos Partido Votação Percentual Cidade onde nasceu Unidade federativa
Bento Porto PDS 57.958 Poxoréu  Mato Grosso
Gilson de Barros PMDB 41.931 Cuiabá  Mato Grosso
Jonas Pinheiro PDS 35.069 Santo Antônio de Leverger  Mato Grosso
Maçao Tadano PDS 24.595 Cornélio Procópio  Paraná
Cristino Cortes PDS 24.074 Barra do Garças  Mato Grosso
Dante de Oliveira[nota 7] PMDB 22.474 Cuiabá  Mato Grosso
Márcio Lacerda PMDB 20.883 Corumbá  Mato Grosso do Sul
Milton Figueiredo PMDB 17.663 Barão de Melgaço  Mato Grosso
Fontes:[5][12][13]

Deputados estaduais eleitos

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Das 24 cadeiras da Assembleia Legislativa de Mato Grosso o PDS superou o PMDB pela contagem de 13 a 11.

Representação eleita

  PDS: 13
  PMDB: 11

Fonteː[5]

Deputados estaduais eleitos Partido Votação Percentual Cidade onde nasceu Unidade federativa
Ary Leite de Campos PDS 16.045 Várzea Grande  Mato Grosso
Osvaldo Sobrinho PMDB 15.411 Pirapozinho  São Paulo
Benedito Alves Ferraz PDS 14.951 Cuiabá  Mato Grosso
Oscar Ribeiro PDS 14.002 Santo Antônio de Leverger  Mato Grosso
Rodrigues Palma PMDB 13.547 Cuiabá  Mato Grosso
Zanete Cardinal PDS 12.748 Bossoroca  Rio Grande do Sul
Ricardo Corrêa PDS 10.716 Uberlândia  Minas Gerais
Joaquim Sucena PMDB 9.487 São José do Rio Preto  São Paulo
Benedito Santiago PDS 9.157 Cuiabá  Mato Grosso
Ernani Martins PMDB 8.303 Cáceres  Mato Grosso
Ubiratan Spinelli PDS 8.283 Poxoréu  Mato Grosso
Djalma Carneiro da Rocha PDS 8.173 Formoso  Minas Gerais
Pedro Rodrigues de Lima PDS 7.348 Cuiabá  Mato Grosso
Roberto França PMDB 6.999 Cuiabá  Mato Grosso
Evaristo Roberto Vieira Cruz PDS 6.860 Sereno de Cataguases  Minas Gerais
Antônio Ferreira Neto PMDB 6.693 Recife  Pernambuco
João Bosco da Silva PMDB 6.668 Nossa Senhora do Livramento  Mato Grosso
Antônio Alberto Schommer PDS 6.354 Tupanciretã  Rio Grande do Sul
Walter Fernandes Fidelis PMDB 6.252 Cáceres  Mato Grosso
Kazuhu Kazu Sano PMDB 6.240 Bauru  São Paulo
Kikuo Ninomiya Miguel PDS 6.053 Lins  São Paulo
Antônio Francisco Monteiro da Silva PDS 5.911 Nossa Senhora do Livramento  Mato Grosso
Samuel Greve PMDB 5.604 Mirassol d'Oeste  Mato Grosso
Luiz Antônio Vitório Soares PMDB 5.342 Alto Garças  Mato Grosso
Fontes:[5]

Eleições municipais

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Não houve eleições para prefeito em Cuiabá por força do Ato Institucional Número Três e em Aripuanã, Cáceres, Mirassol d'Oeste e Vila Bela da Santíssima Trindade os prefeitos também eram nomeados. Nas demais cidades o pleito municipal ocorreu em todos os níveis.

Relatos de fraude

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Em 2020, documentos até então sigilosos do Serviço Nacional de Informações detalharam as acusações de fraude no pleito, em 26 de novembro, Celso Mendes Quintela, rival do irmão de Júlio na disputa pela prefeitura de Várzea Grande, Jayme Campos e que estava desempenhando um papel fundamental na busca por provas da alegada fraude, foi assassinado em um crime aparentemente político. No dia seguinte o PMDB realizou uma representação na 1ª Zona Eleitoral de Cuiabá, solicitando a anulação do pleito, “alegando ter sido, este, viciado, fraudulento e corrupto". As acusações de fraude ganharam força a partir do relato de órgãos da imprensa de urnas encontradas boiando no Rio Cuiabá.[14]

A morte de Quintela fez com que pairasse um ar de medo e silêncio no estado, um militante do PMDB na época relatou: “Eu me lembro muito bem que, logo depois da morte do Quintela, fomos procurar o padre Raimundo Pombo para protestarmos e ele, religioso que era, pediu que desistíssemos, me falou ‘esqueça esta história, meu filho’, acho que ele estava com medo” Em janeiro de 1983 houve um ato no Centro de Cuiabá convocado por lideranças do PMDB solicitando novas eleições. Segundo o partido, existiam provas incontestáveis de "menores votando, titulos falsificados, individuos votando duas, três, oito ou mais vezes (...) Só na 1ª Zona Eleitoral a incidência do crime ultrapassa a mais de trinta e um mil votos falsos.".[15]

Porém, com o tempo, tal movimento foi perdendo força, as investigações não avançaram e só em 1986, Márcio Roberto Tenuta França e Laury San Martin da Paixão, acusados de comporem um “Esquadrão da Morte” que, segundo os próprios acusados, era liderado pelo governador Júlio Campos, declararam que tal crime havia sido encomendado pela família Campos pois Quintela estava ativamente buscando provas da alegada fraude eleitoral, porém, recusaram matar Quintela e então coube a outra pessoa realizar a tarefa.

Apenas em 2001, Daniel Germano Gonçalves, que supostamente teria aceito a tarefa, foi absolvido por júri popular, porém, em 2003, ele foi condenado a cumprir pena em regime semiaberto após a Justiça determinar novo julgamento.[15]

Notas

  1. Por força de um casuísmo político a eleição direta em Rondônia excluiu o cargo de governador enquanto os territórios federais do Amapá e de Roraima elegeram apenas quatro deputados federais cada e em Fernando de Noronha não havia eleições.
  2. Ressalte-se que inexiste qualquer parentesco entre Júlio Campos e Frederico Campos, antecessor do primeiro na chefia do executivo estadual.
  3. a b c Se a convenção partidária indicar três candidatos por sublegenda e um deles for eleito, os demais serão realocados como suplentes por ordem de votação.
  4. a b c Embora o TRE/MT não tenha reconhecido tal gesto, Vicente Vuolo renunciou antes do pleito por divergências partidárias, mesmo assim a eleição de Roberto Campos foi garantida pelas sublegendas do PDS, que obteve 198.631 votos (52,42%) e o PMDB 178.584 votos (47,13%).
  5. a b Se a convenção partidária lançar dois nomes para senador, cada sublegenda indicará um suplente por candidato.
  6. O Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso registrou apenas um suplente em sua chapa.
  7. Eleito prefeito de Cuiabá em 1985, sendo efetivado Paulo Nogueira.

Referências

  1. BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 6.091 de 15/08/1974». Consultado em 24 de junho de 2014 
  2. BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Júlio Campos». Consultado em 24 de junho de 2014 
  3. BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Roberto Campos». Consultado em 24 de junho de 2014 
  4. BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Roberto Campos». Consultado em 3 de março de 2023 
  5. a b c d e BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1982». Consultado em 2 de janeiro de 2024 
  6. a b BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Dados estatísticos: eleições federais, estaduais e municipais realizadas em 1982. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 1988. v.14 t.1.
  7. a b BRASIL. Senado Federal. «Decreto-Lei n.º 1.541 de 14/04/1977». Consultado em 3 de março de 2023 
  8. a b BRASIL. Presidência da República. «Decreto-Lei n.º 1.543 de 14/04/1977». Consultado em 3 de março de 2023 
  9. a b BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 6.534 de 23/05/1978». Consultado em 3 de março de 2023 
  10. Redação (21 de setembro de 1982). «Vuolo desiste do Senado. Primeiro Caderno, Política – p. 03». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 18 de abril de 2024 
  11. Redação (13 de novembro de 1982). «Candidato renuncia. E o tribunal não aceita. Eleições – Estados, p. 10». acervoestadao.com.br. O Estado de S. Paulo. Consultado em 24 de junho de 2014 
  12. BRASIL. Câmara dos Deputados. «Página oficial». Consultado em 18 de abril de 2024 
  13. BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 9.504 de 30/09/1997». Consultado em 30 de novembro de 2017 
  14. «RDNEWS - Portal de notícias de MT». RDNEWS - Portal de notícias de MT. Consultado em 7 de novembro de 2024 
  15. a b Foco, Congresso em (26 de abril de 2020). «Documentos sigilosos do SNI apontam crimes do senador Jayme Campos e família». Congresso em Foco. Consultado em 7 de novembro de 2024