Comunhão Tradicional Carlista (1986)
A Comunhão Tradicionalista Carlista (CTC) é um partido político espanhol, constituido em 1986 no chamado Congresso da Unidade Carlista, que aconteceu em San Lorenzo de El Escorial (Madrid),[1] no qual se unificaram diversos grupos carlistas de cunho tradicionalista, em desacordo com a evolução esquerdista do Partido Carlista de Carlos Hugo de Bourbon-Parma..[2]
Toma o nome do partido político do carlismo Comunhão Tradicionalista,[3][4][5][6][7] com o acréssimo de 'carlista' (tradicionalista-carlista), que se deu durante a década de 1930 por iniciativa de Dom Alfonso Carlos.[8][9]
No Congresso de Unidade Carlista participaram três partidos políticos diferentes: a Comunhão Católico-Monárquica, vinculada ao «Centro de Estudos Geral Zumalacárregui» de Francisco Elías de Tejada, localizada em Madri; União Carlista, integrada pelos últimos partidários do Carloctavismo e da Regência de Estella, com implantação em Vizcaya e Catalunha; a Comunhão Tradicionalista, constituída por antigos seguidores de Javier de Borbón-Parma, com presença em Valencia, Sevilla, Madri e Astúrias; e antigos membros do Partido Carlista.[10]
Alguns setores, simpatizantes da figura de Marcel Lefebvre, foram expulsos em 1996. Posteriormente, no ano 2000, fizeram sua organização política própria, sob a liderança de Sixto Enrique de Bourbón, readotando o mesmo nome de Comunhão Tradicionalista.
Ideologia
[editar | editar código-fonte]A CTC afirma que sua posição política se concentra no lema histórico do carlismo, "Deus, Pátria, Rei". Mantém também a simbologia histórica carlista, incluídas a Cruz de San Andrés, a Marcha de Oriamendi e a clássica boina vermelha ou branca.
Pretende um modelo de organização social qualificado de "natural" e inspirado na tradição política de Espanha, formado pelos reinos e divisões territoriais que se formaram durante a Reconquista. Quer, assim, substituir os Estatutos de Autonomia por um novo sistema. Ademais, pretendem eliminar os partidos políticos e implantar um sistema político orgânico de representação direta, e não através de partidos políticos.
Quanto à questão religiosa, a CTC é declaradamente católica, afirmando defender como base de sua ação política a Doutrina Social da Igreja. Parte do princípio "Nada sem Deus", que defende em seu programa político: assume o Direito Público Cristão, aplicando uma visão católica a todos os aspectos da vida social. Nesta, linha a CTC é radicalmente contrária ao divórcio, o aborto, a eutanásia, os casais entre pessoas do mesmo sexo, o laicismo institucional na educação pública e qualquer outro conceito contrário à visão católica da família ou a vida.
Questão dinástica
[editar | editar código-fonte]A CTC, desde sua criação, define-se como monárquica e legitimista ainda que atualmente não reconhece a nenhum pretendente como Rei. O último Rei reconhecido pelo partido como legítimo é Alfonso Carlos I, que morreu em 1936.
Em 4 de novembro de 2016, sua Junta de Governo fez uma Declaração política propondo uma posição equidistante entre Carlos Javier de Borbón Parma e seu tio Sixto Enrique.[11]
Política econômica
[editar | editar código-fonte]A CTC apresenta um programa baseado na Doutrina Social da Igreja, ainda que não há uma padronização em matéria econômica. Há uma certa divisão com relação ao capitalismo e a economia de mercado, com certas tensões de carácter considerável (um grupo apresenta visões falangistas sobre a ecomonia).
Acusou-se àqueles que são mais favoráveis às teses de livre mercado da Escola de Chicago e a Escola Austriaca de terem se infiltrado no partido (esses acusados migraram ao VOX).
Estrutura e atividades
[editar | editar código-fonte]A CTC tem uma estrutura de trabalho baseada numa Junta de Governo, cujo presidente é Telmo Aldaz, e seu secretário geral é Javier Mª Pérez Roldán. Essa Junta de Governo conforma-se a partir do Congresso Nacional. Existem círculos e grupos carlistas em diversas populações espanholas como Madrid, Barcelona, Bilbao, Valência, Pamplona, Sevilla, Liria (Valencia), etc., mantendo vínculos com grupos católicos tradicionalistas de outros países. O partido possúi uma associação juvenil, chamada Cruz de Borgoña, que organiza acampamentos juvenis anuais, bem como a revista bimensual Agora Informação. Faz parte, somada de outros grupos, da Liga Tradicionalista.[12]
A CTC tem participado de diversas manifestações contra políticas tomadas pelo governo de José Luís Rodríguez Zapatero: contra o casal entre pessoas do mesmo sexo (2005), contra a Lei Orgânica de Educação (2006), contra a negociação de seu governo com ETA em Pamplona (2007), contra a ampliação da Lei do Aborto (17 de outubro de 2009), entre outras.
Em 28 de dezembro de 2012, a CTC foi uma das entidades convocantes de manifestações em vários lugares de Espanha, como Madrid, Barcelona, Pamplona, Valencia, Valladolid, Santander, Zaragoza, Sevilla, Granada e Jaén.As outras entidades convocantes foram os partidos e organizações Alternativa Espanhola (AES), Direita Navarra e Espanhola (DNE), a associação Cruz de San Andrés e o Foro Arbil. O manifesto registou a adesão de outras 48 associações.[13]
Participação eleitoral
[editar | editar código-fonte]CTC concorreu às eleições ao Parlamento Europeu de 1994, obtendo em toda Espanha 5.226 votos (0,03%), dos quais 473 foram de Navarra (0,21%). Também concorreu às eleições gerais de 2004, com candidaturas ao Senado em muitas das províncias eleitorais, e obtendo um número próximo 25.000 votos.[carece de fontes] Nas eleições gerais de 2008, apresentou-se ao Senado, desta vez em todas as províncias, obtendo resultados de aproximadamente 45.000 votos para a câmara alta.[14]
Eleições européias de 2014
[editar | editar código-fonte]Os partidos políticos Comunhão Tradicionalista Carlista, Alternativa Espanhola e Partido Família e Vida atingiram um acordo para ir juntos às eleições ao Parlamento Europeu de maio de 2014. Segundo seu manifesto, as bases deste acordo giram em torno da defesa do direito à vida e da instituição familiar.[15] A coalizão formada em torno destes três partidos denominou-se Impulso Social.[16] Os resultados eleitorais de Impulso Social nestas eleições foram de 17.774 votos. Depois destes resultados a coalizão separou-se.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Carlismo
- Guerras Carlistas
- Conservadorismo
- Comunhão Católico Monárquica (1977)
- Igreja Católica Apostólica Romana
- História da Espanha
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ García Riol, 2016, p. 366
- ↑ (García Riol 2016, p. 366)
- ↑ Revista de España (em espanhol). [S.l.: s.n.] 1871. p. 152
- ↑ La masonería por dentro: colección de artículos que sobre esta materia publicó El Siglo futuro. El Siglo Futuro (em espanhol). [S.l.]: F. Maroto. 1882. p. 153
- ↑ Blanco García, Francisco (1894). La literatura española en el siglo XIX (em espanhol). [S.l.]: Sáenz de Jubera. p. 14
- ↑ Ruiz Rodrigo, Cándido (1991). Escuela y religión: el pensamiento conservador y la educación (Valencia 1874-1902) (em espanhol). [S.l.]: NAU llibres. p. 83
- ↑ Mata Induráin, Carlos (1995). Francisco Navarro Villoslada (1818-1895): y sus novelas históricas (em espanhol). [S.l.]: Gobierno de Navarra. p. 105
- ↑ Véase también menciones en la prensa de la época en http://hemerotecadigital.bne.es/results.vm?o=&w="comunion tradicionalista"&f=text&t=+creation&l=600&l=700&s=0&lang=es y http://prensahistorica.mcu.es/es/catalogo_imagenes/grupo.cmd?interno=S&posicion=1&path=6004732&presentacion=pagina
- ↑ García Escudero, José María (1975). Historia política de las dos Españas, Volumen 3 (em espanhol). [S.l.]: Editora Nacional. p. 1387
- ↑ (García Riol 2016, p. 393)
- ↑ «En el "Día de la Dinastía Carlista"». Ahora Información. 4 de novembro de 2016
- ↑ Página web de Liga Tradicionalista.
- ↑ InfoCatólica (ed.). «CTC, AES, DNE, Foro Arbil y Cruz de San Andrés convocan concentraciones en España contra el aborto para el 28 de diciembre». www.infocatolica.com/ (em espanhol). Consultado em 23 de janeiro de 2020
- ↑ «Consulta de Resultados Electorales - Congreso - Marzo 2008»
- ↑ «Familia y Vida, AES y CTC tendrán candidatura conjunta al Europarlamento», en la web de Religión en libertad.
- ↑ Impulso Social, nace una nueva coalición de partidos de cara a las elecciones europeas en defensa de la vida, Diario Liberal, 28 de febrero de 2014.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- García Riol, Daniel Jesus (2016). La resistencia tradicionalista a la renovación ideológica del Carlismo (1965-1973). Tesis doctoral inédita. [S.l.]: Universidad Nacional de Educación a Distancia. 564 páginas Tesis