Bájulo
Bájulo (em latim: bajulus; em grego medieval: βαΐουλος; romaniz.: baioulos) foi um termo usado no Império Bizantino para se referir ao preceptor ou tutor dos príncipes imperiais. Apenas uns poucos titulares são conhecidos, mas devido a íntima proximidade do ofício com a família imperial, e os laços que criou com os futuros imperadores, vários bájulos estiveram entre os mais importantes oficiais de seu tempo.
História
[editar | editar código-fonte]O termo deriva do latim baiulus ("portador"), que no século IV significava "freira" ou "preceptor". Assim, no século XII o teólogo Teodoro Bálsamo alegou que veio de baïon (βαΐον, folha de palmeira), pois o preceptor era encarregado de supervisionar o crescimento das mentes jovens.[1] O termo foi raramente usado e não há nenhuma atestação posterior ao período bizantino.[2] O estudioso do século XIII Manuel Moscópulo oferece os termos gregos equivalentes de pedagogo (παιδαγωγός; paidagogós) e pedotribes (παιδοτρίβης, paidotribes).[3]
O termo foi aplicado aos tutores e preceptores dos príncipes imperiais, que gozavam duma autoridade bastante extensa. Como escreve Vitalien Laurent, não era apenas "encarregado de instrução e educação, mas tudo o que era necessário para ajudar a criança a se tornar, física e intelectualmente, um homem".[3] O ofício manteve seus detentores em estreito contato com a família imperial, e o vínculo criado entre um bájulo e seu aluno poderia levar a uma influência política significativa. Não é por acaso que dois dos poucos titulares conhecidos, Antíoco no século V e Basílio Lecapeno no X, passaram a ser ministros-chefe todo-poderosos sob suas respectivas alas, enquanto até os outros parecem ter desempenhado um papel político importante.[4] Basil Lecapeno, em particular, recebeu o título ainda mais elevado de mega bájulo (μέγας βαΐουλος, "grande preceptor"),[5] que pode ter existido posteriormente ao lado de vários bájulos juniores.[6]
Apesar de sua importância, o ofício está totalmente ausente dos manuais de ofícios e cerimônias imperiais, até o século XIV. Pseudo-Codino, escrevendo depois de meados do XIV, não sabia onde o mega bájulo seria classificado na hierarquia bizantina, mas outras listas contemporâneas de ofício, como o apêndice ao Hexabiblo e a lista de versos de Mateus Blastares, que refletia o uso sob Andrônico II (r. 1282–1328) ou durante o reinado de Andrônico III Paleólogo (r. 1328–1341), colocam-o no 18º lugar, depois do paracemomeno do dormitório imperial e antes do curopalata.[7][8] Ernst Stein propôs que o bájulo foi substituído pelo tatas da corte, mas essa conjectura foi rejeitada por Laurent.[9]
Lista de titulares conhecidos
[editar | editar código-fonte]Name | Tenure | Notes | Refs |
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Antíoco | Início dos anos 400 | Enviado pelo xá do Império Sassânida como tutor do futuro Teodósio II (r. 408–450), tornou-se um poderoso ministro chefe sob Teodósio. O título é quiçá anacrônico, dado pelos historiadores do século IX. | [10] |
Estêvão | Anos 580/590 | Tutor de Teodósio, filho de Maurício (r. 582–602). O título ocorreu numa tradução grega dum texto siríaco, e pode ser anacrônico também. | [11] |
João Picrídio | c. 789–790 | Protoespatário e bájulo de Constantino VI (r. 780–797). Foi torturado, tonsurado e exilado à Sicília sob o regime da imperatriz regente Irene de Atenas em 789, mas quando Constantino VI assumiu o poder em 790, foi reconvocado. Provavelmente pode ser o fundador do Mosteiro de Picrídio em Constantinopla. | [12][13] |
Gregório | c. 873/75–885 | Intitulado primicério e protoespatário imperial, era estratego no sul da Itália e lutou contra os sarracenos: em 876, capturou Bari e em 877–879 foi destinatário de quatro cartas do papa João VIII, pedindo sua ajuda contra os sarracenos. Sua última atestação ocorre em 885, quando esteve ativo em Monte Cassino | [12][14] |
Manuel, o Armênio | c. 842/43 | Um distinto comandante militar sob Teófilo (r. 829–842), foi um dos oficiais mais relevantes sob os primeiros anos do reinado de Miguel III, o Ébrio (r. 842–867) até se arruinar numa luta pelo poder com Teoctisto. Um selo do período registra-o como "patrício, protoespatário imperial, magistro e bájulo do imperador". | [12][14] |
Sérgio | Final do século IX / começo do X | Conhecido apenas através de um selo que dá seus títulos como "primicério, protoespatário imperial e bájulo". | [15] |
Basílio Lecapeno | c. 944/47 | Filho bastardo de Romano I Lecapeno (r. 920–944), tornou-se mega bájulo e depois paracemomeno e dominou o governo imperial de facto como ministro chefe por boa parte do período 947–985, sob os imperadores Constantino VII (r. 913–963) (seu cunhado), Nicéforo II (r. 963–969) João I (r. 969–976) e Basílio II (r. 976–1025) (seu sobrinho). | [16][17][18] |
Leão de Maralda | c. 1019 | Conhecido apenas através de Lupo Protoespatário como um dos emissários enviados por Troia a Basílio Bioanes em 1019. É incerto que o título de bájulo é autêntico ou se uma interpolação posterior ou mesmo má tradução, ou se se refere à posição áulica bizantina de qualquer modo. "Maralda" é provavelmente o nome de seu pai. | [19][20] |
Anônimo | ca. anos 1230 | Tutor anônimo de Teodoro II (r. 1254–1258). | [4] |
Referências
- ↑ Laurent 1953, p. 198–200.
- ↑ Laurent 1953, p. 198.
- ↑ a b Laurent 1953, p. 200.
- ↑ a b Laurent 1953, p. 202.
- ↑ Laurent 1953, p. 204.
- ↑ Laurent 1953, p. 204–205.
- ↑ Verpeaux 1966, p. 140, 300, 307, 321, 335.
- ↑ Laurent 1953, p. 202–203.
- ↑ Laurent 1953, p. 203.
- ↑ Laurent 1953, pp. 200, 204.
- ↑ Laurent 1953, pp. 201, 204.
- ↑ a b c Laurent 1953, p. 201.
- ↑ Lilie 2013, Ioannes (#3110/corr.).
- ↑ a b Lilie 2013, Gregorios (#22357).
- ↑ Lilie 2013, Sergios (#27016).
- ↑ Laurent 1953, pp. 194–197, 204.
- ↑ Cutler 1991, p. 270.
- ↑ Lilie 2013, Basileios Lakapenos (#20925).
- ↑ Laurent 1953, pp. 201–202.
- ↑ Lilie 2013, Leon (#24659).
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Cutler, A.; Kazhdan, A. (1991). «Basil the Nothos». In: Kazhdan, Alexander. The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 0-19-504652-8
- Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8
- Laurent, V. (1953). «Ὁ μέγας βαΐουλος. À l'occasion du parakimomène Basile Lékapène». Επετηρίς Εταιρείας Βυζαντινών Σπουδών (em francês). XXIII: 193–205
- Lilie, Ralph-Johannes; Ludwig, Claudia; Zielke, Beate et al. (2013). Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit Online. Berlim-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften: Nach Vorarbeiten F. Winkelmanns erstellt
- Verpeaux, Jean (1966). Pseudo-Kodinos, Traité des Offices. Paris: Éditions du Centre National de la Recherche Scientifique