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As Pedras e o Tempo

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As Pedras e o Tempo
The Stones and the Time – Évora
As Pedras e o Tempo – Évora (prt)
Portugal Portugal
1961 •  p&b •  15 min 
Género documentário
Direção Fernando Lopes
Produção Secretariado Nacional da Informação
Narração Jacinto Ramos
Música Filipe de Sousa
Cinematografia Aquilino Mendes
Edição Pablo del Amo
Lançamento 17 de abril de 1961
Idioma português

As Pedras e o Tempo (também conhecida como As Pedras e o Tempo – Évora) é uma curta-metragem documental portuguesa de 1961, realizada e escrita por Fernando Lopes.[1][2] Esta obra é o seu primeiro trabalho para cinema e considerada percursora do movimento do Novo Cinema português.[3] Narrado por Jacinto Ramos, o filme retrata a cidade de Évora: os seus monumentos, ruas, a sua vida e a da planície que a contorna.[4] As Pedras e o Tempo foi apresentado originalmente a 17 de abril de 1961, em complemento da longa-metragem Raça, de Augusto Fraga.[5]

Évora é banhada pela luz do sul e de um sol rigoroso. Sente-se a passagem do tempo nos espaços tão particulares da cidade alentejana, desde o silêncio das pedras, a quietude dos claustros e telhados, à labuta do trabalho nas imensas paisagens rurais.[6]

Em primeiro lugar, arquitetura é apreciada desde vistas panorâmicas afastadas da cidade, mas também através de planos dos principais edifícios do centro histórico: o Chafariz da Praça do Giraldo, o Colégio Espírito Santo, a Sé Catedral, o Templo romano de Diana, a Igreja da Graça, a Capela dos Ossos ou o Museu Nacional.[7] Ainda assim, logo nos planos iniciais, é mostrada a agricultura. Por um lado, ainda bastante manual, centrada na cortiça. Por outro, já se nota a agricultura industrializada, marcada pela presença de ceifeiras debulhadoras. O narrador fala em "cidades efémeras que surgem na planície", referindo-se aos aglomerados de cereal. Estes universos citadinos e rurais unem-se anualmente na Feira de S. João, demonstrando a riqueza do povo eborense.[8]

Equipa técnica e artística

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  • Realização: Fernando Lopes;
  • Produção: Navarro de Andrade e Horácio Caio;
  • Guião: Fernando Lopes;
  • Assistente de realização: José de Sá Caetano;
  • Diretor de fotografia: Aquilo Mendes;
  • Montagem: Pablo del Amo;
  • Texto: José de Sá Caetano;
  • Narrador: Jacinto Ramos;
  • Som: Enrique Dominguez e Alexandre Gonçalves;[9]
  • Música: Filipe de Sousa.

O projeto documental surgiu enquanto uma encomenda a Fernando Lopes do regime do Estado Novo, nomeadamente do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, que produziu a obra.[10] As Pedras e o Tempo marca a estreia de Lopes como realizador para cinema. Não quis desenvolver um projeto propagandista do Estado, tendo abordado o documentário com o objetivo de, nas suas palavras "fazer sentir a presença do tempo em Évora, (...) salientando os extraordinários valores plásticos da capital alentejana".[7] A curta-metragem a preto e branco, com 15 minutos de duração, foi rodada em 35mm.[11]

Palácio do Cadával visto do Templo de Diana, alguns dos edifícios retratados em As Pedras e o Tempo.

Na filmografia de Fernando Lopes, As Pedras e o Tempo surge como um ensaio da sua linguagem cinematográfica que teria impacto direto em Berlarmino (1964) e Uma Abelha na Chuva (1971),[12] mas também no desenvolvimento de um novo movimento do cinema português na década de 60 (ver Novo Cinema).[13] O próprio autor considerou a curta-metragem "uma obra matricial", acrescentando que "é um filme muito recorrente em mim, porque tem a ver com um olhar sobre o real que vê nele o fantástico".[7]

Fernando Lopes utiliza diversos recursos técnicos, como os travellings pelos claustros do Colégio Espírito Santo. Apresenta uma abordagem experimental ousada, dado os seus detalhes revolucionários a nível de imagem, sonoplastia e montagem. Tal é particularmente notório ao nível da mistura dos sons de cante alentejano com os de instrumentos tecnológicos. Deste modo, Lopes provoca um desfasamento entre a banda sonora e as imagens, o que se tornaria característico do seu cinema.[14]

Jorge Leitão Ramos explica de que modo a estética do documentário já assume uma abordagem radical por comparação com o restante cinema da altura: "O tom com que mostrava igrejas e túmulos, ruas e monumentos, a terra e o céu, cortava cerce com a useira retórica nacionalista, interrogando os vestígios do passado (a memória?) na sua quietude, recusando a imposição de um sentido definido às interpelações várias que a cidade lhe oferecia."[7] Em concordância, Augusto M. Seabra destacou que o filme comprova "importância decisiva [de Fernando Lopes] na história do documentário em Portugal".[8]

Distribuição

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Distribuído pela Imperial Filmes, As Pedras e o Tempo estreou nos cinemas portugueses a 17 de abril de 1961, nos cinemas de São Luiz e Alvalade (Lisboa). A curta-metragem foi exibida em complemento de Raça, de Augusto Fraga.[5] O filme foi selecionado para vários festivais europeus, no âmbito de sessões de retrospetiva da obra de Fernando Lopes, como o CPH:DOX, Copenhagen International Documentary Film Festival (Dinamarca, onde foi exibido a 11 de novembro de 2003) e o DocLisboa (Portugal, que o exibiu a 26 de outubro de 2012).[15]
A 4 de dezembro de 2019, As Pedras e o Tempo, em conjunto com as curtas-metragens As Palavras e os Fios, Vermelho, Amarelo e Verde, Hoje Estreia e O Encoberto, foi exibida no Cinema Ideal, numa comemoração do seu lançamento em DVD.[16] Esta edição da Midas Filmes e Cinemateca Portuguesa, intitulada Fernando Lopes: 13 Filmes curtos 1961-1977, inicia com As Pedras e o Tempo.[17]

  1. Público. «As Pedras e o Tempo - Évora O Voo da Amizade As Palavras e os Fios». Cinecartaz. Consultado em 21 de março de 2021 
  2. «Em Câmara Lenta um filme de Fernando Lopes». www.alfamafilmsportugal.com. Consultado em 21 de março de 2021 
  3. Infopédia. «Fernando Lopes - Infopédia». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 21 de março de 2021 
  4. Lapa, After You, Interactive Solutions and Gráficos à. «doclisboa - Programa». www.doclisboa.org. Consultado em 21 de março de 2021 
  5. a b «Cinema Português». cvc.instituto-camoes.pt. Consultado em 21 de março de 2021 
  6. «Cinemateca - Programação». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 21 de março de 2021 
  7. a b c d «AS PEDRAS E O TEMPO - JackBackPack». www.jackbackpack.org. Consultado em 21 de março de 2021 
  8. a b Santos, Inês Moreira (28 de outubro de 2012). «Hoje vi(vi) um filme: Doclisboa'12: Homenagem a Fernando Lopes». Hoje vi(vi) um filme. Consultado em 21 de março de 2021 
  9. «As Pedras e o Tempo – Besetzung & Mitwirkende auf MUBI». mubi.com. Consultado em 21 de março de 2021 
  10. Cunha, Paulo (2011). «A emissão de cinema português na televisão pública (1957-1974)». Análise Social (198): 139–156. ISSN 0003-2573. Consultado em 21 de março de 2021 
  11. «Fernando Lopes | e-cultura». www.e-cultura.pt. Consultado em 21 de março de 2021 
  12. «Fernando Lopes: o cineasta que se comovia demais». Jornal SOL. Consultado em 21 de março de 2021 
  13. «Morreu o cineasta Fernando Lopes». SIC Notícias. Consultado em 21 de março de 2021 
  14. As Pedras e o Tempo (em alemão), consultado em 21 de março de 2021 
  15. «As Pedras e o Tempo». ICA. Consultado em 21 de março de 2021 
  16. Barros, Eurico de. «Cinema Ideal exibe filmes curtos de Fernando Lopes». Time Out Lisboa. Consultado em 21 de março de 2021 
  17. «Fernando Lopes: 13 Filmes Curtos». Loja das Curtas. Consultado em 21 de março de 2021 

Ligações externas

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