Arco de Tito
Arco de Tito | |
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Arco de Tito | |
Arco de Tito | |
Informações gerais | |
Tipo | Arco honorífico |
Construção | c. 82 |
Promotor | Domiciano |
Website | https://parcocolosseo.it/mirabilia/arco-di-tito/ |
Geografia | |
País | Itália |
Cidade | Roma |
Localização | X Região - Palácio |
Coordenadas | 41° 53′ 26,5812″ N, 12° 29′ 18,906″ L |
Arco de Tito |
Arco de Tito é um arco honorífico[a] do século I localizado na Via Sacra, a sudeste do Fórum Romano. Ele foi construído por volta de 82 pelo imperador Domiciano logo depois da morte de seu irmão mais velho, o também imperador Tito, para comemorar as vitórias militares dele, especialmente a captura de Jerusalém depois da Primeira guerra romano-judaica (70).[1] Este arco, que sobreviveu praticamente intacto, serviu de modelo para diversos arcos triunfais construídos depois do século XVI, incluindo o Arco do Triunfo de Paris.[2]
História
[editar | editar código-fonte]Com base no estilo de algumas das esculturas, alguns estudiosos acreditam que o arquiteto favorito de Domiciano, Rabírio, a quem às vezes é atribuído o Coliseu, pode ter sido o responsável pelo Arco de Tito. Contudo, não há documentação antiga que suporte esta atribuição.
O guia medieval latino Mirabilia Urbis Romae descreveu o arco da seguinte forma: "o arco de sete velas de Tito e Vespasiano, no qual Moisés, perto da arca com seu candelabro está aos pés da Torre Cartulária" (em latim: Arcus septem lucernarum Titi et Vespasiani, ubi est candelabrum Moysi cum arca habens septem brachia in piede turris cartulariae).[3][4]
Segundo o professor e pesquisador Jeffrey Becker, a tradição dos arcos triunfais liga os flavianos às tradições da República Romana.[5] Nesse contexto, a inspiração para tais estruturas provém de monumentos como o Arco de Fábio, construído pelo cônsul Quinto Fábio Máximo Alobrógico em 121 a.C.[5] Considerando que a dinastia flávia era relativamente recém-chegada à estrutura de poder romana, seus membros acreditavam que participar de tradições consagradas era uma maneira adequada de receber a legitimação que buscavam.[5]
A família Frangipani transformou o arco numa torre fortificada na Idade Média.[6] Apesar disto, o Arco de Tito foi um dos primeiros edifícios do Fórum Romano a sofrer uma restauração moderna, com Raffaele Stern em 1817 e Valadier, por ordem do papa Pio VII, em 1821; o arco recebeu novos capitéis e teve o seu revestimento de travertino recuperado, o que é facilmente perceptível. Esta restauração serviu de modelo para todas as demais realizadas na região da Porta Pia.[6][7]
Descrição
[editar | editar código-fonte]O Arco de Tito é de grandes proporções e conta tanto com colunas caneladas quanto não caneladas, estas últimas acrescentadas por uma restauração no século XIX.[8] As enjuntas nos cantos superiores direito e esquerdo da passagem do arco são decoradas com personificações da Vitória como uma mulher alada. Entre elas está a pedra angular, sobre a qual está uma mulher na face leste e um homem na oeste.[8]
O revestimento interior do arco axial é composto por profundos caixotões e por um relevo da apoteose de Tito no centro. Dois painéis em relevo decoram também o interior da passagem, ambos comemorando o triunfo conjunto celebrado por Tito e seu pai, Vespasiano, no verão de 71.
O painel sul mostra soldados romanos carregando os espólios capturados no Templo de Jerusalém, incluindo o candelabro dourado (menorá), que é o foco da imagem.[9] Além dele, estão representados também as trombetas douradas, os vasilhames sagrados do altar e uma mesa.[8] Estes espólios eram originalmente dourados e se destacavam num fundo azul.[8] O painel norte representa Tito como triumphator, rodeado por vários gênio e lictores, estes carregando suas fasces. Uma amazona com um elmo, representado a bravura, pilota uma quadriga que leva Tito. Uma Vitória alada está colocando uma coroa de louros sobre sua cabeça.[8] A justaposição é importante, pois trata-se de um dos primeiros exemplos de deuses e homens numa primeira cena, um claro contraste com as esculturas do Altar da Paz, de Augusto, nas quais homens e deuses aparecem separados.[8]
As esculturas nas faces externas dos dois grandes pilares se perderam quando o arco foi transformado em torre durante a Idade Média. O ático do arco era originalmente decorado por mais estátuas, possivelmente uma carruagem dourada.[8] A principal inscrição provavelmente era composta por letras de prata, ouro ou outro metal nobre.
O Arco de Tito tem 15,4 metros de altura, 13,5 metros de largura e 4,75 metros de espessura. O arco axial tem 8,3 metros de altura e 5,36 metros de largura.[10]
Inscrição
[editar | editar código-fonte]Na inscrição, em letras maiúsculas quadradas romanas, se lê[11]:
“ | SENATVS POPVLVSQVE·ROMANVS DIVO·TITO·DIVI·VESPASIANI·F(ILIO) VESPASIANO·AVGVSTO |
” |
que significa "O Senado e o Povo Romano [dedicam este arco] ao Divino Tito Vespasiano Augusto, filho do Divino Vespasiano".
O lado oposto recebeu uma nova inscrição depois de ter sido restaurado por Valadier, por ordem do papa Pio VII, em 1821. Nela se lê:
“ | INSIGNE · RELIGIONIS · ATQVE · ARTIS · MONVMENTVM VETVSTATE · FATISCENS |
” |
que significa "[Este] monumento, notável em termos religiosos e artísticos, se enfraqueceu com a idade: Pio, o Sétimo, sumo pontífice, com novas obras no estilo antigo, ordenou que ele fosse reforçado e preservado. No 24º ano de seu principado".
Importância e influência
[editar | editar código-fonte]As esculturas do Arco de Tito fornecem uma das poucas representações contemporâneas dos objetos sagrados do Templo de Jerusalém.[12][13]
O candelabro de sete braços (menorá) e as trombetas são claramente visíveis e a escultura tornou-se um símbolo da Diáspora judaica. Já na Idade Média, o papa Paulo IV ordenou que o arco fosse o local do juramento anual dos judeus de Roma. Segundo Morton Satin, até a fundação do moderno Estado de Israel (1948), os judeus se recusavam a passar por baixo do Arco de Tito por conta de uma proibição das autoridades judaicas de Roma. Esta proibição, segundo ele, só foi retirada em 1997.[14] Uma outra curiosidade é que o Arco de Tito não é mencionado nenhuma vez nas fontes rabínicas.[15]
Finalmente, o candelabro do Arco de Tito serviu como base para o que foi utilizado no Brasão de Israel.[16] Entre outras obras baseadas pelo Arco de Tito ou inspiradas nele estão:
- A fachada da Basilica di Sant'Andrea di Mantova (1462) de Leon Battista Alberti.
- O Arco do Triunfo de Paris, França (1806).
- O Arco de Washington em Nova Iorque, Estados Unidos (1892).[5]
- O Portão da Índia, em Nova Délhi, Índia (1931).
Notas
[editar | editar código-fonte]- ↑ Não é um arco triunfal propriamente dito. O arco utilizado por Tito em seu triunfo ficava no Circo Máximo.
Referências
- ↑ «The Arch of Titus». exhibitions.kelsey.lsa.umich.edu. Consultado em 6 de julho de 2017
- ↑ Diana Rowell (23 de agosto de 2012). Paris: The 'New Rome' of Napoleon I. [S.l.]: Bloomsbury Publishing. pp. 43–. ISBN 978-1-4411-2883-6
- ↑ «Mirabilia Urbis Romae» (em inglês). p. 4
- ↑ Élisabeth Chevallier, Raymond Chevallier, Iter Italicum: les voyageurs français à la découverte de l'Italie ancienne, Les Belles Lettres, 1984, ISBN 9782251333106, p. 274-91
- ↑ a b c d «The Arch of Titus (article) | Early empire». Khan Academy (em inglês). Consultado em 12 de outubro de 2023
- ↑ a b A Let's Go City Guide: Rome, p. 76, Vedran Lekić, 2004; ISBN 1-4050-3329-0.
- ↑ The Buildings of Europe: Rome, page 33, Christopher Woodward, 1995; ISBN 0-7190-4032-9.
- ↑ a b c d e f g Artus, Paul (2006). Art and Architecture of the Roman Empire (em inglês). [S.l.]: Bellona Books. pp. 45–48. ISBN 978-0-9582693-1-5
- ↑ Ermengem, Kristiaan Van. «Arch of Titus, Rome». A View On Cities (em inglês)
- ↑ «Arch of Titus» (em inglês). A View On Cities
- ↑ CIL VI, 945
- ↑ Shragai, Nadav (19 de outubro de 2006). «First Temple artifacts found in dirt removed from Temple Mount» (em inglês). Haaretz.com
- ↑ Bromiley, Geoffrey W, "The international standard Bible encyclopedia", volume 4, pg. 98
- ↑ Satin, Morton (1 de dezembro de 2013). «One Man's Campaign Against the Arch of Titus — and How It Changed Italy's Jews» (em inglês). forward.com
- ↑ Steven D Fraade, The Temple as a Marker of Jewish Identity Before and After 70 CE The Role of the Holy Vessels in Rabbinic Memory and Imagination, p.246
- ↑ Mishory, Alec. «Israel National Symbols: The State Emblem». Jewish Virtual Library. Consultado em 30 de julho de 2014
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- R. Ross Holloway. “Some Remarks on the Arch of Titus,” L’antiquité classique 56 (1987) pp. 183–191.
- M. Pfanner. Der Titusbogen. Mainz: P. von Zabern, 1983.
- L. Roman. "Martial and the City of Rome." The Journal of Roman Studies 100 (2010) pp. 1–30.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Platner, Samuel Ball. A Topographical Dictionary of Ancient Rome. Arch of Titus (em inglês). [S.l.: s.n.]
- «The Arch of Titus Digital Restoration Project» (em inglês). YU-CIS
- «One Man's Campaign Against the Arch of Titus — and How It Changed Italy's Jews» (em inglês). Morton Satin
- «Arch of Titus» (em inglês). Smarthistory
- «Arch of Titus» (em inglês). Art Atlas
- «Arco de Tito» (em italiano)