A da Gorda
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A da Gorda é uma povoação da freguesia de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa, município de Óbidos, distrito de Leiria, Portugal.[1]
A povoação situa-se a pequena distância a sul da vila de Óbidos, na confluência das estradas que de Óbidos, seguem para Peniche (EN114) e Bombarral (EN8). É servida por um apeadeiro da Linha do Oeste, denominado Apeadeiro de Dagorda-Peniche.
História
[editar | editar código-fonte]Localizada num vale fértil e rodeada, em tempos idos, por extensas matas onde predominavam o pinheiro, o sobreiro, o medronheiro e o carvalho e onde as espécies cinegéticas eram abundantes, desde muito cedo a zona foi habitada.[2]
A tradição oral atribui o topónimo a uma personagem local, de nome Vicência, proprietária de uma taberna e de um estanco (venda) de tabacos, nos inícios do século XIX. Conhecida devido ao peso, pela designação de Vicência a Gorda, a sua taberna, ponto de paragem dos visitantes, teria começado por ser identificada como a taberna da Gorda ou A da Gorda, passando o topónimo a identificar não só a taberna como a própria localidade.[2]
Caso se aceite tal justificação há, no entanto, que recuar no tempo, alguns séculos. Efetivamente a localidade da Degorda, Dagorda, da Gorda ou A da Gorda, aparece já referenciada, pelo menos desde o século XIII, em documentos oficiais (tombos de propriedade, actas de vereação, inventários de partilhas).[2]
Um manuscrito, cuja data e origem está ainda por identificar, vai mais longe e situa os primeiros povoadores da aldeia, no reinado de D. Dinis que doara aí uma casa ao seu Monteiro-Mor, encarregue da gestão das matas da então extensa montaria de Óbidos.
Os dados de que dispomos, fruto da investigação da historiadora Manuela Santos Silva permitem-nos, no entanto, apontar para o mosteiro de Alcobaça como responsável pela criação do primeiro núcleo populacional, através da criação de uma granja (propriedade agrícola) a partir da qual se dominava a produção vinícola e cerealífera das zonas mais baixas e a pastorícia , nos montes da proximidade. Toda esta atividade, a par do produto das vindimas e o seu armazenamento e possível venda para Óbidos e Atouguia ( porto de mar por onde muito do então afamado vinho da região era escoado para Lisboa), terá gerado emprego e, como tal, atraído povoadores.[2]
Através da consulta de um documento do Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia, datado do início do século XVI, encontramos referenciadas várias propriedades junto da estrada para a Dagorda e, mesmo, na própria localidade: As Eiras Velas, as Amoreiras; a Pedreira, a Granja, o Outeiro, o Salgueiral. São ainda referenciados alguns moradores do lugar: os herdeiros de André Rodrigues e maria Vicente; três monteiros do rei (Martim Annes, Pedro Lopes e Aparício Fernandes); os lavradores João Ayres, Diogo Gonçalves, Luis Annes, entre outros, sendo possível concluir que os habitantes estão ligados quer à vigilância das matas, quer à atividade agrícola.
As terras férteis da zona são também muito apetecidas pela aristocracia obidense que, segundo o mesmo documento, aí possui várias propriedades: Álvaro Pires, Diego Afonso e João de Óbidos, escudeiros e Pedro Fernandes do Almoxarifado real.
Pelos finais do século XVI , a aldeia contaria já com vinte e cinco vizinhos/famílias, residindo quer na localidade quer em casais e quintas em seu redor (Casal da Eira , Quinta da Penha, Quinta do Jardim Quinta/ou Casal da Granja) e foi crescendo paulatinamente atingindo as quarenta e duas famílias em 1657 e as cinquenta e quatro em 1765, segundo os livros de registo de décimas desses anos.[2] Continuam a predominar as profissões ligadas à agricultura (lavradores e seareiro) mas é possível encontrar outras profissões: Militares (o Capitão Paulo da Gama e o seu filho Manuel Ferreira, irmão e sobrinho do beneficiado Faustino das Neves), três carpinteiros, uma padeira, um moleiro, um sapateiro, um cardador, um alfaiate, dois cirurgiões (em 1755) e um mestre das Valas (funcionário da Casa das Rainhas, responsável pela supervisão das obras de conservação da Várzea da Rainha).
No principio do século vinte a descoberta, em 1930, de jazidas de Diatomito, levou à abertura de uma Mina e de uma oficina de tratamento do referido minério, em 1938, junto à Quinta do Jardim, pela Sociedade Anglo-Portuguesa de Diatomite, o que terá contribuído para um novo crescimento populacional e para a respectiva expansão urbanística. É também por esta altura, em 1939, que Paulino Ferreira Matias obtém licença para abrir, junto à estrada para Peniche, uma fábrica de refrigerantes.
Até à expansão populacional do última século a aldeia cresceu em torno da sua Praça, uma das maiores e mais bem concebidas do concelho e para a qual convergem as ruas mais antigas, de traçado quase medieval e ao longo das quais encontramos casas representativas da arquitetura tradicional da região, tanto em termos de estrutura como em termos de materiais utilizados.[2]
Património
[editar | editar código-fonte]Na Praça denominada de Santo António, em honra do padroeiro, concentram-se, de modo harmonioso, alguns equipamentos urbanos: o poço, o jogo da bola, o coreto e a capela de Santo António.
Situada num dos lados do largo e remontando pelo menos ao início do século XVI, fica a capela de Santo António, de pequenas dimensões mas de grande riqueza decorativa. De planta longitudinal e de uma só nave, o seu interior é totalmente revestido de azulejos de excelente qualidade, datáveis do século XVII e os altares estão revestidos de boa talha dourada.
A nível da estatuária, destacamos a imagem de São Brás, de finais do século XV e as de Santo António: uma em pedra, dos finais do século XV ( designada pela população de Santo António Velho e, atualmente, na sacristia) e outra de madeira policromada, dos finais do século XVII.[3]
A nível da pintura, sobressaem os três painéis pintados por Josefa de Óbidos e que ornamentam o arco da capela-mor: São Francisco de Assis (à esquerda), a Virgem e o Menino(ao centro) e Santo António. A Baltazar Gomes Figueira, pai de Josefa e grande pintor nacional é devida a tela, datada de 1643, Repouso na Fuga para o Egipto.[3]
No exterior da igreja, um alpendre quadrangular, inscrito na fachada principal, permite, em dias de festa, albergar maior quantidade de fiéis enquanto o coreto permitia a atuação da banda em dias de festa (a do Senhor Jesus dos Aflitos, a seis de Janeiro[4] e a de Santo António, a treze de Junho[5]).[3]
Destas festas a mais importante é, sem dúvida a de Santo António, padroeiro da aldeia. Tradicionalmente organizada pelos solteiros da aldeia (três rapazes e três raparigas), depois da missa e da procissão, a festa de carácter mais pagã, anima o largo com o tradicional arraial que não falta o saltar da fogueira e a queima da boneca de trapo, sobre o olhar benevolente do Santo António Velho, que, no exterior da igreja acompanha as festividade.[5]
Perfeitamente delimitado por muros de pedra o “jogo da Bola” e, mais tarde o chinquilho, tão apreciado na região, permitia a ocupação dos tempos livres. Algumas árvores, colocadas do lado de fora dão a sombra necessária para as tardes de Verão e os muros serviam quer de proteção/delimitação do jogo quer de assento para os que assistem os simplesmente descanso. Em tempos idos, talvez fosse esse o sítio onde os “jornaleiros” se concentravam diariamente , esperando que um qualquer patrão os viesse contratar para esse dia.[6]
Ainda na Praça, o poço público, já documentado em séculos anteriores era, até há pouco tempo, elemento essencial, permitindo o abastecimento de água à localidade.
Referências
- ↑ Localização no GoogleMaps
- ↑ a b c d e f «Localidades». Freguesia de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa. Consultado em 23 de Agosto de 2024
- ↑ a b c «Igreja de Santo Anónio». Freguesia de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa. Consultado em 23 de Agosto de 2024
- ↑ «Festas e Romarias». Freguesia de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa. Consultado em 23 de Agosto de 2024
- ↑ a b «Festas e Romarias». Freguesia de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa. Consultado em 23 de Agosto de 2024
- ↑ «Jogo da Bola - A da Gorda». Freguesia de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa. Consultado em 23 de Agosto de 2024