Samo I
Samo I (em grego: Σάμος; romaniz.: Sámos; em latim: Samus; em armênio: Սամ; romaniz.: Sam) foi um príncipe da dinastia orôntida que assumiu o controle dos Reinos da Armênia e Sofena desde algum ponto depois de 260 a.C.
Samo I | |
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Tetradracma de Samo I | |
Rei da Armênia e Sofena | |
Reinado | Ca. 260 a.C. |
Antecessor(a) | Nenhum |
Sucessor(a) | Arsames I |
Descendência | Arsames I |
Dinastia | orôntida |
Nome
editarSamo (Samus; Σάμος, Sámos) é a forma latina e grega do armênio Same (Սամ Sam), que por sua vez se originou no nome iraniano antigo Sama (Sāma), "preto".[1] No Avestá, Sama era pai do herói avéstico Garxaspe, o que indicaria algum tipo de costume religioso iraniano ou tradição épica entre os orôntidas.[2] Em sua forma grega, o nome designa uma ilha do mar Egeu, que segundo Estrabão, supostamente deriva seu nome de um herói. Apesar dessa interpretação, não há correlação entre o antropônimo e o topônimo, pois o último deriva de sámos (σάμος), que foi utilizado para designar uma proeminência, colina ou montanha.[3]
Antecedentes
editarO Reino de Sofena foi governado pela dinastia orôntida de origem iraniana, que era descendente de Orontes I, um nobre bactriano que era genro do xainxá aquemênida Artaxerxes II (r. 404–358 a.C.).[4] De acordo com o escritor grego Estrabão (falecido em 24 d.C.) em sua Geografia, Sofena surgiu pela primeira vez como um reino distinto sob Zariadres (fl. 190 a.C.), que foi instalado como seu governante pelo rei selêucida Antíoco III (r. 222–187 a.C.). Ele acrescenta ainda que após a derrota de Antíoco III contra os romanos, Zariadres declarou independência.[5] No entanto, este relato é fortemente contradito por evidências epigráficas e numismáticas.[4][6] Sofena provavelmente surgiu como reino distinto no século III a.C., durante o declínio gradual da influência selêucida no Oriente Próximo e a divisão da dinastia orôntida em vários ramos. Três governantes pertencentes a um ramo orôntida diferente (Samo I, Arsames I e Xerxes) governaram a parte ocidental da Grande Armênia, talvez de Comagena a Arzanena.[7]
Vida
editarSamo provavelmente era filho do rei Orontes III (r. 321–260 a.C.). Com base na evidência existente na inscrição no Monte Ninrode, provavelmente foi pai de Arsames I, cujo reinado em Sofena é datado depois do seu.[8][9] Cyril Toumanoff propôs que foi à corte de Samo que Zielas da Bitínia fugiu após ter seu direito de sucessão negado no Reino da Bitínia, mas essa hipótese é especulativa,[10] haja vista a evidência textual mencionar um rei armênio anônimo. [11] Algum tempo antes de 245 a.C., Samo refundou a cidade de Samósata no antigo sítio neo-hitita de Cumu (Kummuh).[2] Ele pode ter refundado a cidade para afirmar sua reivindicação sobre a área, uma prática comum entre as dinastias iranianas e helenísticas, como Capadócia, Ponto, Pártia e Armênia.[12] A cidade foi construída numa forma arquitetônica persa "subaquemênida", semelhante ao resto dos edifícios orôntidas na Grande Armênia.[13][14] Nomear cidades como Samósata (persa médio Samaxade (*Sāmašād); persa antigo Samaxiati (*Sāmašiyāti-)) como "alegria de" ou "felicidade de" era uma prática orôntida (e mais tarde artaxíada) que lembrava o discurso real aquemênida.[15] Samósata serviu como uma das residências reais mais importantes dos reis orôntidas de Sofena.[14]
Cunhagem
editarSemelhante aos primeiros arsácidas da Pártia e aos frataracas de Pérsis, os orôntidas de Sofena experimentaram imagens do poder real iraniano. No anverso de suas moedas, a cabeça de Samo aparece barbeada e virada à direita e atrás dele há um ramo de louro e uma borda de pontos. Em sua imagem, aparece vestido com um capacete alto e cônico com um diadema terminando num laço nas costas com longos fios caindo pelo pescoço.[16] Esse capacete chama-se cirbásia,[17] um tipo de capacete originalmente usado pelos sátrapas do Império Aquemênida.[18] A ponta da sua cirbásia é mais proeminente, semelhante à do capacete usado pelos primeiros ariarátidas da Capadócia.[17] Por conseguinte, no reverso das moedas, há a imagem do tirso de Dioniso entre duas cornucópias entrelaçadas.[16]
Referências
- ↑ Ačaṙyan 1942–1962, p. 379.
- ↑ a b Canepa 2018, p. 109.
- ↑ Marciak 2017, p. 80.
- ↑ a b Facella 2021.
- ↑ Marciak 2017, p. 113, 117.
- ↑ Marciak 2017, p. 123.
- ↑ Marciak 2017, p. 123, 157.
- ↑ Lendering 2019.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 280-281.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 280.
- ↑ Marciak 2017, p. 122, nota 71.
- ↑ Michels 2021, p. 478–479.
- ↑ Canepa 2021, p. 84.
- ↑ a b Canepa 2018, p. 110.
- ↑ Canepa 2021, p. 82.
- ↑ a b Marciak 2017, p. 70.
- ↑ a b Canepa 2017, p. 207.
- ↑ Canepa 2018, p. 252.
Bibliografia
editar- Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Սամ». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians]. Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã
- Canepa, Matthew P. (2017). «Rival Images of Iranian Kingship and Persian Identity in Post-Achaemenid Western Asia». In: Strootman, Rolf; Versluys, Miguel John. Persianism in Antiquity. Estugarda: Franz Steiner Verlag. pp. 201–223. ISBN 978-3-515-11382-3
- Canepa, Matthew (2018). The Iranian Expanse: Transforming Royal Identity Through Architecture, Landscape, and the Built Environment, 550 BCE–642 CE. Oakland: Imprensa da Universidade da Califórnia. ISBN 9780520379206
- Canepa, Matthew P. (2021). «Commagene Before and Beyond Antiochos I». Common Dwelling Place of all the Gods: Commagene in its Local, Regional, and Global Context. Estugarda: Franz Steiner Verlag. pp. 71–103. ISBN 978-3-515-12925-1
- Facella, Margherita (2021). «Orontids». In: Yarshater, Ehsan. Encyclopædia Iranica. Nova Iorque: Encyclopædia Iranica Foundation
- Lendering, Jona (2019). «Orontes III of Armenia». Livius
- Marciak, Michał (2017). Sophene, Gordyene, and Adiabene: Three Regna Minora of Northern Mesopotamia Between East and West. Leida: BRILL. ISBN 9789004350724
- Michels, Christoph (2021). «'Achaemenid' and 'Hellenistic' Strands of Representation in the Minor Kingdoms of Asia Minor». Common Dwelling Place of all the Gods: Commagene in its Local, Regional, and Global Context. Estugarda: Franz Steiner. pp. 475–496. ISBN 978-3515129251
- Toumanoff, Cyril (1963). Studies in Christian Caucasian History. Washington: Georgetown University Press