O rapé (do francês raper, "raspar") é o tabaco em pó que serve para cheirar. É o pó extraído das folhas de tabaco que, moído e torrado e é assoprado[1] no nariz por alguém ou sozinho.

Rapé
Rapé produzido na Inglaterra

O hábito de consumir rapé era bastante difundido no Brasil até o início do século XX. Era visto de maneiras contraditórias: às vezes como hábito elegante, às vezes como vício. Há menções ao hábito em obras de Machado de Assis em O Bote de Rapé, de Helena Morley em Minha Vida de Menina, e de Eça de Queirós em Os Maias.

Vendia-se em caixinhas dos mais diversos materiais, nobres ou não, tais como prata, madeira, papel machê à semelhança das caixas de fósforo conhecidas como tabaqueira. Algumas eram verdadeiras joias, finamente decoradas.

Podia-se comprá-lo já ralado e pronto para consumo, ou ainda um pedaço de fumo inteiro. Nesse caso, com um minúsculo ralador ralava-se o fumo na hora para se obter um cheiro de qualidade superior, da mesma forma como, para se obter um bom café, o grão é moído na hora.

Hoje o rapé é visto principalmente por suas propriedades espirituais em trabalhos xamânicos dentro da cultura indígena.

História

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Várias populações indígenas do Brasil usavam o tabaco moído como rapé.[2][3] As folhas de tabaco eram moídas usando um pilão feito de caviúna, onde também adquiria o delicado aroma da madeira.[2] O tabaco resultante era então hermeticamente armazenado em frascos ou tubos de ossos ornamentados para preservar o seu sabor para o consumo posterior.[2]

O uso de rapé pelos povos taíno e caraíba das Antilhas foi observada pelo monge franciscano Frei Ramón Pane na segunda viagem de Colombo ao Novo Mundo, em 1493.[2][4] O retorno do Frei a Espanha com rapé, sinalizaria a sua chegada à Europa, que duraria durante séculos.[2]

No início do século XVI, a Casa de Contratação espanhola estabeleceu e manteve o monopólio do comércio de tabaco nas primeiras indústrias de fabricação de rapé, na cidade de Sevilha, que se tornaria a primeira produção e centro de desenvolvimento do rapé, juntamente com o tabaco e seus derivados, na Europa.[2] No início, essas fábricas eram usinas produtoras independentes e dispersas dentro da cidade, porém o posterior controle estatal sobre a atividade concentrou a produção em uma localização em frente à Igreja de São Pedro.[carece de fontes?] Por meados do século XVIII, decidiu-se construir um grande e imponente edifício industrial do lado de fora das muralhas da cidade e, assim, a Real Fábrica de Tabacos foi construída, tornando-se a primeira fábrica de tabaco industrial da Europa, tornando-se a primeira na produção e venda de tabaco, e o segundo maior edifício da Espanha na época.[2]

Em 1561, Jean Nicot, embaixador da França em Lisboa, que descreveu as propriedades medicinais do tabaco como uma panaceia em seus escritos, é creditado por ter introduzido o rapé na corte de Catarina de Médici para tratar suas fortes e persistentes dores de cabeça.[2][5] Catarina de Médici ficaria tão impressionada com suas propriedades curativas, que prontamente declarou que o tabaco passaria a ser denominado Herba Regina, (em latim, Erva Real), e seu selo real de aprovação ajudaria a popularizar o rapé entre a nobreza francesa.[2][6]

No início dos anos 1600, o rapé se tornou uma mercadoria cara de luxo.[2] Em 1611, o rapé fabricado comercialmente chegou a América do Norte por meio de John Rolfe, o marido de Pocahontas, que introduziu uma variedade espanhola mais doce de tabaco para a América do Norte.[carece de fontes?] Embora a maioria dos colonos norte-americanos nunca aceitaram por completo o estilo inglês de uso do rapé, os aristocratas americanos o usavam.[2] O uso do rapé na Inglaterra aumentou em popularidade após a Grande Praga de Londres (1665-1666), já que as pessoas acreditavam que o rapé tinha uma valiosa propriedade antisséptica, o que acrescentou um poderoso impulso ao seu consumo.[carece de fontes?]

 
Pintura de um homem que inala o rapé utilizando o método de uso com o polegar e o dedo indicador.

Até o século XVII alguns opositores proeminentes do rapé surgiriam. O Papa Urbano VIII proibiu o uso do rapé em igrejas e ameaçou excomungar aqueles que o comprassem.[2] Na Rússia, em 1643, o czar Miguel, que proibiu a venda do tabaco, instituiu a pena de remoção do nariz daqueles que usassem rapé, e de morte para os usuários persistentes.[2] Apesar disso, o uso persistiu em outro lugar; o rei Luís XIII da França era um devoto do uso do rapé, enquanto mais tarde, Luís XV da França proibiu o uso de tabaco na Corte Real da França durante o seu reinado.[2]

Modo de uso

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Um procedimento, considerado elegante, para se cheirar rapé consistia em, primeiro, fechar-se uma das mãos, na vertical. Depois esticava-se o dedão firmemente para cima. Ao fazer isso aparece, na junção da mão com o braço, um oco, produzido pelo tendão esticado do dedo. Nesse oco se coloca o pó. Aproxima-se então o pó de uma das narinas, tendo a outra tampada com o dedo indicador da outra mão. Aspira-se com força fazendo com que o pó entre pela narina e em seguida, o espirro vem.[7]

Ainda é possível encontrá-lo em tabacarias, fabricados em pequenas indústrias. No Nordeste e Norte do Brasil, entretanto, os comerciantes de tabaco costumam preparar rapé artesanal e estocá-lo para venda. Nesse rapé artesanal adiciona-se outras plantas, como sementes de cumaru-de-cheiro e imburana, cravo-da-índia, erva-doce, canela, entre outros.

Espirros

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Animação em um cinetoscópio de Fred Ott inalando rapé e espirrando. Criada no laboratório de Thomas Edison, em 1894.

Quando inalado, o rapé muitas vezes faz causar um espirro, e este é geralmente visto por apreciadores de rapé experientes como sinal de um iniciante.[carece de fontes?] A tendência para espirrar varia de acordo com a pessoa e o rapé em particular. Geralmente, os rapés mais secos são mais propensos a fazer isso. Por este motivo, os vendedores de rapé costumam vender lenços. No gênero de comédia pastelão e em desenhos animados, se fez uso, muitas vezes, das propriedades indutoras de espirro do rapé.[carece de fontes?]

Dependência

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Os efeitos iniciais do rapé são mais rápidos e intensos que injeções de outras drogas. A duração dos efeitos do rapé é relativamente curta, em média trinta minutos, enquanto a cocaína, depois de injetada ou usada por via intranasal, provoca efeitos com duração em torno de 20 a 45 minutos.

Efeitos quando inalados:

  • Euforia
  • Agitação
  • Taquicardia
  • Tremores
  • Aumento da percepção
  • Tonificação maior das cores

Efeitos quando soprado nas narinas:

  • Concentração
  • Aumento da percepção
  • Diminuição da pressão arterial
  • Relaxamento muscular
  • Sensação de limpeza corporal após assoar as narinas.

Uso tradicional nas sociedades indígenas

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Algumas tribos indígenas produzem tradicionalmente seu rapé. É considerado terapêutico, e algumas etnias também o preparam com enteógenos como as sementes de paricá. Cada tribo possui suas próprias receitas. Os kaxinawá (hunikui) do Acre o preparam com meia porção de tabaco e meia porção de cinzas de madeiras selecionadas. Consomem o rapé com grandes canudos em forma de reta chamado de tipi e em forma de V chamados kuripe que permitem a autoaplicação, pois nesse caso não aspiram, e sim são "soprados" por um parceiro, e em nenhum momento é inalado o rapé, apenas respirando pela boca e depois descartando tudo através do assoar de nariz.[3]

A forma tradicional de preparar rapé é utilizando fumo de rolo. Esse fumo é vendido enrolado em palhas de palmeira. O fumo é fracionado com uma faca (migado) e depois torrado cuidadosamente em uma panela seca, sem deixar que se incendeie.[carece de fontes?] Os temperos também costumam ser torrados, pois depois disso é necessário colocar o conteúdo em um pano fino, como o utilizado para fraldas de algodão, enrolado, e golpeado com um bastão para ir soltando o pó fino. Esse pó fino, sem resíduos, é o rapé pronto para ser usado.

Utilização de pó de rapé para enfermidades respiratórias

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Muito se fala da utilização do pó de rapé para enfermidades respiratórias, alegando que no passado era muito utilizado para aliviar sintomas como, por exemplo, utilizar rapé conta sinusite,[8] bronquite, asma, entre outros. Nos tempos atuais, para qualquer enfermidade ou patologia respiratória requer consulta adequada com um médico especialista, sendo que não existe nenhum artigo científico ou qualquer informação que o pó de rapé pode curar ou minimizar sintomas de patologias respiratórias. A utilização de métodos como a utilização de rapé pode em alguns casos gerar piora nos sintomas ou em outros uma frágil melhora. Ou seja, tratamento médico adequado aliado ao pó de rapé pode-se alcançar o alívio dos sintomas, mas não a cura da doença. Além disso, a utilização de rapé, por si só, não garante a cura para nenhuma patologia respiratória. Recomenda-se fortemente em casos de doenças respiratórias a consulta a um médico especialista. Além disso, como se trata de um pó de ervas, folhas, raízes e material vegetal, o pó de rapé pode causar dependência por si próprio, porém é importante lembrar que existem vários tipos de pó de rapé e em alguns casos a contraindicação é uma realidade. Por exemplo, alguns rapés possuem raspas de cravo da índia ou canela, isso pode ser um problema para pessoas alérgicas a este material orgânico ou alguns outros.

Referências

  1. «Kuripe Jiboia (auto-aplicador de rapé)». www.naturezadivina.com.br. Consultado em 24 de setembro de 2022 
  2. a b c d e f g h i j k l m n World Health Organization (WHO) International Agency for Research on Cancer (IARC), Title: IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans, Volume 89, Smokeless Tobacco and Some Tobacco-specific N-Nitrosamines, Lyon, France, 2007, Historical Overview 1.1.2 Snuff taking, pp. 43–47, ISBN 9789283212898 [1]
  3. a b «O rapé e sua utilização xamânica - Psicodelizando». psicodelizando.com.br. Consultado em 10 de junho de 2018 
  4. Bourne, G. E.: Columbus, Ramon Pane, and the Beginnings of American Anthropology (1906), Kessinger Publishing, 2003, p. 5.
  5. McKenna, T.: Food of the Gods – The Search for the Original Tree of Knowledge – A Radical History of Plants, Drugs, and Human Evolution, Bantam Books, 1993, p. 199.
  6. Porter, R., Teich, M.: Drugs and Narcotics in History, Cambridge University Press, 1997, p. 39.
  7. «Techniques - Modern Snuff». www.modernsnuff.com. Consultado em 10 de junho de 2018 
  8. «Pé de Rapé Tabacaria Online». Pé de Rapé Tabacaria Online. Consultado em 22 de julho de 2022 
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