As moedas bizantinas, o dinheiro utilizado no Império Romano do Oriente depois da queda do Ocidente, consistiam basicamente de dois tipos de moedas: o soldo de ouro e uma variedade de moedas em bronze cujo valor aparecia indicado na própria moeda em numerais gregos. No final do império, as moedas bizantinas passaram a ser cunhadas apenas em estavratos de prata e moedas menores em cobre.[1]

Iconografia

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Primeiras moedas bizantinas
Soldo em ouro de Basílio I. No reverso, Eudócia Ingerina e Constantino, o filho falecido do imperador.

As primeiras moedas bizantinas continuaram as tradições do final do Império Romano: no anverso, a efígie do imperador, não mais de perfil, mas de frente. No reverso, geralmente um símbolo cristão - como a cruz - ou a Vitória ou um anjo (estes dois últimos passaram a se confundir um com o outro). As moedas de ouro de Justiniano II fugiram destas convenções já estáveis ao colocarem uma efígie de Jesus no anverso[a] e um retrato, de meio corpo ou corpo inteiro, do imperador no reverso. Estas inovações acabaram, inadvertidamente, provocando o califa omíada Abedal Maleque ibne Maruane, que já vinha copiando o estilo bizantino em suas moedas apenas trocando os símbolos cristãos por outros islâmicos, a desenvolver um estilo puramente islâmico, com apenas palavras de ambos os lados. Este estilo prevalece até os dias de hoje nas moedas muçulmanas.

Este estilo de Justiniano II voltou a ser utilizado depois da controvérsia iconoclasta e, com variações, permaneceu sendo a norma até o fim do império.

No século X, os chamados "fólis anônimos" foram cunhados no lugar das moedas anteriores que traziam a imagem do imperador. Estes foles traziam apenas o busto de Jesus no obverso e uma inscrição: "XRISTUS/bASILEU/bASILE" ("Cristo, imperador dos imperadores").

As moedas bizantinas seguiram a tendência - e a levaram ao extremo - de "afinar" e de aumentar de tamanho as moedas cunhadas com metais preciosos conforme o tempo passa. As moedas do fim do império eram como finas bolachas que podiam ser entortadas com as mãos.

Apesar disso, as moedas bizantinos mantiveram seu prestígio até o final. Os governantes europeus, assim que começaram a cunhar suas próprias moedas, tendiam a seguir uma versão simplificada dos padrões bizantinos, incluindo o governante olhando para frente no anverso.

Valores

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Novas moedas
Histameno (soldo inteiro). No reverso, Constantino VIII.
Tetartero (soldo "três-quartos"). No reverso, Miguel VI, o Estratiótico .

O início da numismática bizantina foi a reforma monetária do imperador Anastácio I Dicoro em 498, que modificou o sistema monetário do final do império romano, que consistia de soldos (em latim: solidus) em ouro e numos em bronze. O numo era uma moeda muito pequena (aprox. 8–10 mm)[2] e muito inconveniente, pois eram necessárias muitas moedas até mesmo para pequenas transações.

Novas moedas em bronze, com valores múltiplos dos numos foram introduzidas, como a de 40 numos (conhecida como fólis), 20 numos, 10 numos e 5 numos (ocasionalmente outros valores também eram produzidos). O anverso geralmente trazia um retrato fortemente estilizado do imperador enquanto que o reverso mostrava o valor em numerais gregos (M=40, K=20, I=10, E=5).

A única moeda em prata emitida com regularidade era a hexagrama, emitida pela primeira vez por Heráclio em 615 e que perdurou até o final do século VII,[3][4] cunhada com espessuras variadas e pesando entre 7,5 e 8,5 gramas. Ela foi sucedida pelo miliarésio, uma moeda que inicialmente era para ser puramente cerimonial, criada por Leão III, o Isauro por volta de 720 e que se tornou uma emissão padrão de c. 830 até o final do século XI, quando foi descontinuada depois de já estar muito desvalorizada. Pequenas transações eram realizadas com moedas de bronze durante todo esse período.

O soldo em ouro (em latim: solidus), também chamada de nomisma, era o padrão para o comércio internacional até o século XI, quando ela também começou a se desvalorizar por ordens de sucessivos imperadores, começando em 1030 sob Romano III Argiro (r. 1028–1034). Até esta época, a espessura da moeda permaneceu constante.

O sistema monetário bizantino mudou novamente no século VII quando as moedas de 40 numos (fólis), já bem menores, se tornaram as únicas em bronze utilizadas e cunhadas regularmente. Embora Justiniano II (r. 68-695; 705-711) tenha tentado restaurar o fólis para o tamanha da época de Justiniano I, o decréscimo no tamanho da moeda continuou.

No final do século IX, um soldo com três-quartos do peso foi emitido juntamente com o soldo normal, ambos preservando o padrão de espessura, sob a égide de um plano fracassado para forçar o mercado a aceitar as moedas com peso menor pelo mesmo valor das moedas normais. A moeda com 1112 do peso foi chamada de tetartero (um adjetivo comparativo grego que significa literalmente "três-quartas") enquanto que o soldo de peso normal passou a se chamar histameno. O tetartero era bastante impopular e só foi relançado esporadicamente durante o século X. O soldo normal pesava aproximadamente 4,48 gramas (eram necessários 72 para formar uma libra romana). Havia ainda alguns soldos com o peso reduzido de uma síliqua emitidos exclusivamente para o comércio com o oriente. Estes soldos reduzidos, com uma estrela no anverso e no reverso, pesavam por volta de 4,25 gramas.

Os soldos bizantinos eram muito valorizados na Europa Ocidental, onde eles ficaram conhecidos como besantes, uma corruptela de "Bizâncio" (em latim: Byzantium).

Reforma de Aleixo I

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Na época do imperador Romano IV Diógenes (r. 1067–1071), o soldo já havia sido muito desvalorizado e só continha aproximadamente 15% de ouro. Sob Aleixo I Comneno (r. 1081–1118), este soldo desvalorizado foi descontinuado e uma nova cunhagem, com maior conteúdo de ouro (entre 90 e 95%), foi criada, geralmente chamada de hipérpiro, pesando 4,45 gramas.

Os hipérpiros eram ligeiramente menores que os soldos antigos. Elas foram lançadas juntamente com as traqueias áspros em eletro (25% ouro e 75% prata) e que valiam um terço do hipérpiro, como traqueia áspro em bilhão (7% de prata), chamadas de histameno,[4] que valiam 1/48 do hipérpiro, e as tetartero e numo de cobre, cujo valor era de 1/18 e 1/36 para cada histameno.[5]

Reformas de Andrônico II

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Durante o reinado de Andrônico II Paleólogo, ele instituiu novas moedas baseadas nos hipérpiros. Elas eram as miliarésio ou basílico, que valiam 1/12 do hipérpiro, as políticos em bilhão, que valia 1/96 do hipérpiro.[5] Além disso, ele lançou moedas em cobre chamadas de assários, torneses e follara.[6]

O basílico era uma cópia dos ducado veneziano e circulou a partir de 1304 por cinquenta anos.[4] O hipérpiro continuou sendo emitido regularmente e em circulação até a década de 1350, quando passou a figurar apenas como moeda contábil. Depois de 1400, a cunhagem de moedas bizantina se tornou insignificante e as moedas italianas predominavam como moeda corrente.

Reforma de 1367

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Nesta fase final da cunhagem de moedas bizantinas, emissões em ouro foram descontinuadas e substituídas por outras em prata chamadas de estavratos, emitidas em proporções de 1/1, 1/2, 1/8.[1][7] Também foram emitidas moedas em cobre chamadas de follaro e tornês.[4]

Valores relativos

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Esta tabela mostra os valores relativos das moedas durante o reinado do imperador Anastácio I Dicoro (r. 491–518).[8]

Anastácio I (depois de 495)
Soldos Fólis Meio fólis Decanúmios Pentanúmios Numos
Soldo 1 420 840 1680 3360 16,800
Fólis 1⁄420 1 2 4 8 40
Meio fólis 1⁄840 ½ 1 2 4 20
Decanúmio 1⁄1680 ¼ ½ 1 2 10
Pentanúmio 1⁄3360 ¼ ½ 1 5
Numo 1⁄16,800 1⁄40 1⁄20 1⁄10 1
[a] ^ A primeira representação de Jesus a aparecer numa moeda pode ter sido o soldo de ouro de Marciano, um senador que se tornou imperador no oriente entre 450 e 457. A moeda parece representar Cristo abençoando o imperador romano do Oriente e sua imperatriz Élia Pulquéria. Mas estas imagens de Cristo em moedas só se tornaram populares muito mais tarde.[9]

Referências

  1. a b «The Story of Constantine XI; The Last Byzantine Emperor (1448-1453 AD)» (em inglês). Consultado em 23 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 24 de dezembro de 2013 
  2. «The Story of Justinian» (em inglês). Consultado em 23 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 9 de maio de 2008 
  3. «Greek and Roman Coins» (em inglês). Consultado em 23 de dezembro de 2013 
  4. a b c d «Denominations» (em inglês). Consultado em 23 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 24 de dezembro de 2013 
  5. a b Dr. Kenneth W. Harl. «Moedas comnenas» (em inglês). Consultado em 23 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 5 de outubro de 2013 
  6. «Moedas bizantinas» (em inglês). The Barber Institute of Fine Arts. Consultado em 23 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 17 de julho de 2012 
  7. «Manuel II» (em inglês). Consultado em 23 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 11 de fevereiro de 2012 
  8. Dr. Kenneth W. Harl. «Moedas justinianas» (em inglês). Consultado em 23 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 9 de maio de 2008 
  9. Banning 1987, p. 20.

Bibliografia

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  • Banning, Edward (18 de abril de 1987). «Byzantine Coins Led Way In Using Christ's Image». The Globe and Mail 
  • Grierson, Philip (1982). Byzantine Coins. Londres, Reino Unido: Methuen. ISBN 978-0-416-71360-2 
  • Grierson, Philip (1999). Byzantine Coinage. Washington, Distrito de Colúmbia: Dumbarton Oaks. ISBN 978-0-88402-274-9 
  • Hendy, Michael F. (1985). Studies in the Byzantine Monetary Economy c. 300–1450. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press. ISBN 0-521-24715-2 
  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8