Jason Sendwe
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Jason Sendwe (Mwanya, 1917 – Albertville, 19 de junho de 1964) foi um político congolês e líder do partido Association Générale des Baluba du Katanga (BALUBAKAT). Ocupou o cargo de vice-primeiro-ministro da República Democrática do Congo (então República do Congo) de agosto de 1961 até janeiro de 1963, e foi presidente da Província de Catanga do Norte de setembro de 1963 até sua morte, com uma breve interrupção.
Jason Sendwe | |
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Sendwe em 1960 | |
Vice-primeiro-ministro da República do Congo | |
Período | 2 de agosto de 1961 a 21 de janeiro de 1963 |
Presidente | Joseph Kasa-Vubu |
Primeiro-ministro | Cyrille Adoula |
Presidente da Província da Catanga do Norte | |
Período | 21 de setembro de 1963 a 15 de março de 1964 |
Período | 28 de abril de 1964 a 19 de junho de 1964 |
Comissário de Estado da Província de Catanga | |
Período | 22 de julho de 1960 a 28 de novembro de 1961 |
Comissário-Geral Extraordinário da Província de Catanga | |
Período | 28 de novembro de 1961 a 18 de maio de 1963 |
Dados pessoais | |
Nascimento | 1917 Mwanya, Território Cabongo, Congo Belga |
Morte | 19 de junho de 1964 (47 anos) Albertville, República do Congo |
Filhos(as) | 8 |
Partido | BALUBAKAT |
Nascido no Congo Belga em uma família de etnia Luba, estudou em escolas metodistas e instituições de enfermagem e iniciou sua carreira como ministro religioso, professor e enfermeiro. Envolveu-se em várias organizações culturais e em 1957 fundou o partido BALUBAKAT para lutar pelos interesses dos Lubas. Como nacionalista, acreditava que o Congo deveria permanecer um país unido após o domínio belga. Em maio de 1960, pouco antes da independência do país, foi eleito para a recém-constituída Câmara dos Deputados. Sendwe procurou obter o controle sobre o governo da província de Catanga, mas perdeu uma luta pelo poder contra seu rival, Moïse Tshombe, e a Confédération des associations tribales du Katanga (CONAKAT). Ainda assim, o primeiro-ministro Patrice Lumumba o nomeou para o cargo de Comissário de Estado de Catanga.
No início de julho de 1960, Tshombe anunciou a separação de um estado independente de Catanga. Sendwe se opôs ao estado separatista e rejeitou as súplicas de Tshombe para que se juntasse ao governo rebelde. Investido com as responsabilidades do Comissário de Estado pelo Senado, Sendwe tentou, sem sucesso, restaurar o controle do governo central sobre Catanga. Após um período de turbulência, foi nomeado vice-primeiro-ministro em agosto de 1961 para angariar apoio ao governo central em Catanga. Quatro meses depois, foi escolhido Comissário-Geral Extraordinário da província, nominalmente dando-lhe total autoridade sobre a área.
As perspectivas políticas de Sendwe foram severamente prejudicadas em dezembro de 1962, quando o Senado o censurou e forçou sua posterior renúncia do cargo de vice-primeiro-ministro. No ano seguinte, quando Katanga acedeu à autoridade central e Tshombe fugiu para o exílio, o território foi dividido em novas unidades políticas contra a vontade de Sendwe. Apesar de sua insatisfação, assumiu o cargo de presidente de Catanga do Norte em setembro. A corrupção e pobreza na província perturbaram outras autoridades do governo e em janeiro de 1964 ele perdeu o cargo de presidente da BALUBAKAT. Em junho, os rebeldes Simba derrubaram seu governo e o mataram, embora não esteja claro quem foi o responsável final por sua morte. A morte de Sendwe desmoralizou muito os Lubas, e sua reputação caiu na obscuridade.
Primeiros anos
editarJason Sendwe nasceu em 1917 em Mwanya, Território Cabongo, no Congo Belga, em uma família Luba.[1][2] Os Lubas eram um grande grupo étnico indígena das regiões de Catanga e Kasaï, no Congo.[3] Sendwe era um amigo de infância de Moïse Tshombe.[4] Ele recebeu seis anos de estudos na escola primária dos metodistas, em Cabongo, e quatro anos de educação secundária na Missão Metodista Canene em Camina.[1] Por cinco anos, fez cursos de enfermagem em Stanleyville e na École officielle pour Infirmiers na antiga Élisabethville.[5] Completou seus estudos na École des Assistants Indigènes, de Léopoldville, graduando-se como enfermeiro.[1]
Suas vontades de se tornar médico foram desapontadas pela ausência de escolas de medicina no Congo.[6] Sendwe trabalhou como ministro e professor na Missão Metodista de Canene e, em 1942, ingressou para o serviço da administração colonial como escriturário. Posteriormente, tornou-se enfermeiro e depois assistente médico, trabalhando em Élisabethville, Mutshatsha, Congolo e Cabongo.[2] Foi membro fundador e tesoureiro da organização cultural Amitiés Belgo-Congolaises, tesoureiro da Académie des Beaux-Arts, conselheiro da Association Saint-Luc, conselheiro do Foyer social Léopold III e membro do conselho da Igreja de Cristo no Congo.[2][7] Casou-se e teve oito filhos.[8]
Carreira política
editarEm 1957, Sendwe fundou e tornou-se presidente da Association Générale des Baluba du Katanga (BALUBAKAT), com o objetivo declarado de encorajar a unidade entre os Lubas da Província de Catanga.[9] Segundo o jornalista Évariste Kimba, ele conseguiu reunir grande parte do apoio por meio de seu "dinamismo" e interações frequentes com a população.[10] Três princípios sublinharam sua filosofia política: proteção dos Lubas, conquista da independência congolesa e a primazia da conciliação na resolução de disputas.[11]
"Sendwe (...) um ativista protestante e bom homem de família, liderou o partido BALUBAKAT nos velhos caminhos paternalistas dos chefes tradicionais."
A reflexão de Thomas Kanza sobre os objetivos políticos de Sendwe.[12]
Em 1958, Sendwe participou da Expo de Bruxelas, trabalhando como assistente médico no Centro de Recepção de Pessoal Africano.[2] Posteriormente, juntou-se ao efêmero Mouvement pour le Progres National Congolais, partido formado pelos participantes da exposição.[13] Em 5 de fevereiro de 1959, Sendwe trouxe a BALUBAKAT para o partido da Confédération des Associations Tribais du Katanga (CONAKAT) de Tshombe, com a condição de manter uma autonomia significativa.[14] Inicialmente, compartilhou as posições xenofóbicas do CONAKAT, mas logo ficou preocupado que sua hostilidade em relação aos imigrantes se estendesse aos Lubas recém-chegadas. Sendwe também estava preocupado com as estreitas conexões de Tshombe com os belgas[15] e sentia repulsa pela ascensão de vários de seus rivais políticos nas fileiras do partido.[14] A BALUBAKAT começou a formar duas tendências, uma simpatizante da CONAKAT e outra de apoio ao Mouvement National Congolais (MNC). Este último foi liderado por Sendwe. Em outubro, enviou uma carta a Balduíno, rei dos belgas, pedindo que se opusesse aos esforços de "desmantelar o imenso país" criado por seus antecessores.[10]
Em novembro de 1959, Sendwe retirou a BALUBAKAT da CONAKAT.[16] Posteriormente, negociou a formação de um "Cartel Katangais" entre a BALUBAKAT e duas outras organizações[17][18] para competir contra a CONAKAT nas eleições municipais de dezembro de 1959.[16] Sendwe se encontrou com Balduíno em 25 de dezembro.[10] Em janeiro de 1960, Sendwe decidiu que buscaria um Congo independente organizado num estado federal, com um governo central robusto, em contraste com a visão da CONAKAT de uma confederação. Naquele mês, foi a Bruxelas para participar da Mesa Redonda Belgo-Congolesa,[16] uma reunião para discutir o futuro político do Congo Belga.[19] A conferência terminou com a adesão do governo belga às exigências congolesas para a independência da colônia em 30 de junho de 1960.[20]
Protagonismo em cargos públicos
editarNas eleições nacionais antes da independência da República do Congo em 30 de junho de 1960, Sendwe foi eleito para a Câmara dos Deputados com 20 282 votos do eleitorado de Élisabethville.[1] A CONAKAT obteve uma ligeira maioria dos assentos na Assembleia Provincial de Catanga, podendo assim determinar a composição do governo provincial. Sendwe pediu que os deputados da BALUBAKAT se abstivessem; quando a assembleia se reuniu em 5 de junho, não havia quórum para votar nas pastas provinciais.[21] A CONAKAT ofereceu a Sendwe o cargo de vice-presidente de Catanga e a responsabilidade de vários ministérios, contudo se recusou a negociar.[2] Em 15 de junho, o Parlamento belga modificou a constituição provisória do Congo para reduzir o número de deputados necessários para um quórum para votar em um governo. Os representantes do Cartel Catangais declararam posteriormente que esperariam pela decisão do governo central congolês após a independência.[22] Naquele mesmo dia, Sendwe assinou um acordo com o líder do MNC Patrice Lumumba, criando uma coalizão no Parlamento para apoiar um governo sob Lumumba. Em troca, a BALUBAKAT receberia algumas pastas ministeriais e Sendwe seria escolhido comissário de Estado de Catanga.[a] Em 19 de junho, uma delegação do partido BALUBAKAT, liderada por Prosper Mwamba Ilunga, viajou secretamente para Léopoldville para se encontrar com Lumumba. Eles o encorajaram a demitir Sendwe se não seguisse suas ordens, e expressaram sua desaprovação na decisão de Sendwe de instruir os deputados da BALUBAKAT a boicotar a Assembleia Provincial de Catanga.[24]
Em 23 de junho, o Cartel Katangais declarou seu governo preferido para Catanga, que colocou Sendwe como Presidente Provincial.[25] Enquanto isso, o CONAKAT votou em seu próprio governo. Apesar disso, Lumumba, como primeiro-ministro, nomeou Sendwe para ser o comissário de Estado de Catanga.[15] O Presidente da Assembleia Provincial de Catanga, Charles Mutaka, ameaçou secessão se a escolha fosse confirmada.[26] No início de julho, Tshombe avançou com a secessão da província com apoio belga, mas buscou ativamente o apoio de Sendwe, na esperança de construir uma coalizão que o traria como vice-presidente de um Catanga independente. Sendwe rejeitou a ideia, rompendo as relações entre eles.[15] O Senado, inicialmente, rejeitou todos os indicados de Lumumba para comissário estadual. No entanto, em 22 de julho, o órgão, por meio de uma ação destinada a transmitir seu desejo de que a autoridade do governo central fosse restabelecida em Catanga, votou para confirmar a nomeação de Sendwe, 42 votos a 4, e sete abstenções.[27] Depois de assumir o papel de comissário de Estado de Catanga, Sendwe tentou em vão restaurar o controle do governo central sobre a província.[28] Suas tentativas de fazê-lo, bem como seu objetivo de intermediar um entendimento entre as legendas BALUBAKAT e CONAKAT a nível nacional, foram frustrados pelo governo belga, que via Sendwe como um instrumento do governo de Lumumba, com quem mantinham relações tensas.[29]
Sendwe foi escolhido para liderar parte do exército ao norte de Catanga para restabelecer a autoridade do governo central, mas este plano foi dissolvido após a demissão de Lumumba pelo presidente Joseph Kasa-Vubu em setembro.[15] A morte de Lumumba causou turbulência política, e Sendwe foi nomeado pela Câmara como relator de uma comissão de reconciliação encarregada de intermediar um acordo político entre Kasa-Vubu e Lumumba.[30] Enquanto isso, o norte de Catanga rejeitou a liderança de Tshombe e a secessão em favor de Sendwe, que os habitantes viam como um proponente do nacionalismo e um protetor da etnia Baluba. Sendwe também desfrutou de uma grande popularidade em Élisabethville, representando uma ameaça política significativa para Tshombe. No entanto, muitos no governo central o viam como muito próximo do primeiro-ministro deposto.[15]
Em 19 de outubro, três dias depois que Tshombe concluiu um acordo com o coronel Joseph-Désiré Mobutu para — nas palavras de Mobutu — "neutralizar" Lumumba, Sendwe foi preso por funcionários do governo central. A Organização das Nações Unidas (ONU) garantiu sua libertação com base na imunidade parlamentar. Com seu apoio, Sendwe viajou pelo norte de Catanga para promover a paz e recebeu uma recepção extática dos Lubas.[31] Isto encorajou os Lubas a manterem a ordem pública e a depositar sua confiança na ONU. Na maior parte, sua viagem melhorou a segurança na região,[32] mas sua presença em Manono, nos dias 2 a 3 de novembro, aumentou as tensões na área.[33] Tshombe denunciou-o como um "perigo público".[31] Enquanto o governo central negociava a transferência de Lumumba para Catanga (onde seria executado na chegada), Tshombe pediu repetidamente para receber Sendwe. Embora ainda concordassem com o plano, os funcionários do governo central, posteriormente, desistiram de seu compromisso de entregá-lo.[34]
Em dezembro, Sendwe participou de uma conferência francófona-africana em Brazavile, onde diplomatas estrangeiros tentaram fazer a mediação entre as facções congolesas.[35] No início de 1961, apelou à ONU para fazer outra viagem de pacificação do norte de Catanga, recebendo sua aprovação em 8 de janeiro. No entanto, no dia seguinte, forças da rival República Livre do Congo invadiram a área e a BALUBAKAT declarou sua própria administração da região como a "Província de Lualaba".[36] Sendwe tentou intermediar um acordo político e garantir a aceitação política e comercial belga da nova província. Além disso, comemorou sua criação em um tour pela região em fevereiro.[37] Enquanto isso, viajou para a Bélgica em fevereiro e, em maio, participou da Conferência de Coquilhatville,[1] convencendo com sucesso os outros delegados congoleses a reconhecer Lualaba.[38] Diante disso, organizou outra viagem de pacificação, no norte de Catanga, em julho.[39]
Em 2 de agosto, um novo governo central congolês foi formado sob Cyrille Adoula. Sendwe foi nomeado segundo vice-primeiro-ministro,[40][b] por ser visto como a única figura com influência política suficiente em Catanga para desafiar Tshombe.[41] Embora outros nacionalistas no Parlamento queriam que ele assumisse o cargo de primeiro-ministro, ele preferiu concentrar suas energias políticas em Catanga em vez da política nacional, onde tinha menos apoio.[42] Um état d'exception (estado de emergência) foi proclamado em 28 de novembro pelo governo central em Catanga. Sendwe foi escolhido Comissário-Geral Extraordinário da província, nominalmente dando-lhe autoridade absoluta sobre a área.[41] Houve muita dedicação de seu tempo para atender às necessidades dos Lubas em campos de refugiados em Élisabethville e Albertville.[43] Entre março e julho de 1962, tentou negociar um acordo entre o governo central e os separatistas catangeses, geralmente assumindo uma postura moderada e até sugerindo uma reconciliação entre as legendas BALUBAKAT e CONAKAT.[44] Em julho, também entrou em conflito no cumprimento de suas responsabilidades com outro membro da BALUBAKAT, Antoine Omari, que havia sido encarregado pelo governo de restabelecer a administração local, pois Omari tentou conceder poder aos membros locais da BALUBAKAT que queriam dividir a Província de Catanga.[45][46]
Com o tempo, o governo central endureceu sua atitude contra Catanga, e a Bélgica gradualmente retirou seu apoio a Sendwe. Com o enfraquecimento das perspectivas de secessão, Sendwe esperava obter o controle da província. Embora tivesse o apoio da maioria dos deputados Lubas de Catanga e da BALUBAKAT no Parlamento, o governo Adoula procurou dividir Catanga para enfraquecê-lo. Ao mesmo tempo, os funcionários da BALUBAKAT no norte de Catanga queriam uma entidade política exclusiva na região sob o domínio de seu próprio partido. O governo de Adoula também queria usar a popularidade de Sendwe na região como um contrapeso para Tshombe, sem concedê-lo o controle da totalidade de Catanga.[47]
Declínio político
editarNo final de 1962, Sendwe encontrava-se no auge das suas aspirações políticas, podendo exercer grande poder e influência sobre a nova província do Catanga do Norte (antiga Lualaba).[48][c] No entanto, às 22 horas do dia 23 de dezembro,[50] seu filho se envolveu em uma briga de rua de uma gangue de jovens. Sendwe chegou ao local e pediu a intervenção de alguns soldados acompanhantes. No processo, eles agrediram o senador Pierre Medie, que veio para apoiar seu próprio filho.[51] Em 28 de dezembro,[5] no Senado, Sendwe tentou defender suas ações durante a briga de rua, sendo frequentemente interrompido por gritos de raiva da maioria dos senadores.[52] Antes mesmo de realizar completamente a sua defesa, eles aprovaram um projeto de censura contra ele, tendo 45 votos a favor, quatro contra e quatro abstenções.[50][d] Isso o obrigou formalmente a renunciar ao cargo de vice-primeiro-ministro em 21 de janeiro de 1963,[46] fazendo com que se retirasse da política nacional para a política local.[48] Seu declínio político marcou o fim dos últimos lumumbistas do governo.[54]
No início de 1963, Catanga foi reintegrada ao Congo como várias províncias e Tshombe concordou em cooperar com funcionários do governo. Sendwe disputou o controle da região, levando a confrontos étnicos em Jadotville em abril, nos quais aproximadamente 74 pessoas foram mortas.[55] No entanto, foi negociado um acordo com o ministro do Interior de Tshombe, Godefroid Munongo, para permitir o retorno dos Lubas no campo de refugiados de Élisabethville para suas casas.[43] Depois que Tshombe fugiu do país, Sendwe procurou estender seu eleitorado além dos Lubas para estabelecer o controle sobre toda Catanga.[56] Ele questionou a legalidade da existência de Catanga do Norte como uma entidade política separada e continuou a pressionar pela reunificação da província de Catanga. No entanto, sua saída do governo central e a rejeição de sua proposta de unidade pela Assembleia Provincial de Catanga do Norte o forçaram a diminuir seus objetivos.[53][e] Em 18 de maio, o état d'exception foi revogado em Catanga e, posteriormente, Sendwe foi dispensado de seu cargo de Comissário-Geral Extraordinário.[45]
Em julho, Sendwe mudou-se para Albertville para reconstruir sua base política.[57] Ele bloqueou a repatriação dos refugiados Lubas no acampamento local; a ONU temia que estivesse usando os refugiados para aumentar seu apoio.[58] O governo de Adoula ficou satisfeito com a mudança de Sendwe, querendo se livrar dele em Léopoldville. Posteriormente, surgiram rumores de que o presidente da província de Catanga do Norte, Mwamba Ilunga, o havia prendido. Isso gerou agitação quando os Lubas e outros líderes tradicionais começaram a protestar, provocando a renúncia de Ilunga.[59][f] Os deputados da BALUBAKAT no Parlamento fizeram lobby para que Sendwe o substituísse, e em um congresso do partido da BALUBAKAT em agosto — com aprovação de Mwamba Ilunga — decidiram que Sendwe deveria receber a presidência provincial. Em 21 de setembro, a assembleia provincial elegeu Sendwe como Presidente da Província de Catanga do Norte e investiu-o na pasta da saúde pública.[62] A situação em Catanga do Norte, sob controle de Sendwe, rapidamente se tornou desastrosa, impulsionada por seu alcoolismo, má gestão de fundos públicos, nepotismo, ausência de um programa de governo e inúmeras tentativas de usar sua posição para depreciar seus rivais. Os problemas foram exacerbados pela retirada das forças de paz da ONU e inundações destrutivas. No final do ano, a corrupção era desenfreada, os funcionários públicos recebiam salários irregulares e grande parte da população estava empobrecida. Além disso, a BALUBAKAT tornou-se uma organização cada vez mais étnica, exclusivamente dos Lubas.[63]
A gestão de Sendwe em Catanga do Norte perturbou outros funcionários do governo[63] e Adoula começou a procurar uma maneira de removê-lo do cargo. Fortunat Kabange Numbi, aliado de Adoula e deputado de BALUBAKAT no Parlamento, considerou uma solução com empresários de Albertville que envolvia conceder a Sendwe um cargo executivo em uma empresa em troca de sua renúncia. A proposta foi rejeitada por Mwamba Ilunga e outros, que optaram por rever a organização da BALUBAKAT. Eles mudaram o nome do partido para Parti Progressiste Congolais (PPCo) para distanciá-lo de sua conotação étnica e convocaram um congresso em janeiro de 1964 para votar na nova liderança. Sendwe compareceu à primeira reunião, mas depois denunciou o evento e proibiu-o, o que foi revertido por ordem do vice-primeiro-ministro.[64] Sendwe perdeu seu posto como presidente do partido em uma votação de 28 votos a 3. Ele não conseguiu nenhum cargo significativo do partido,[65] e ainda foi rebaixado para o cargo de conselheiro do PPCo.[66] Em 15 de março, a assembleia provincial, em uma sessão especial patrocinada pelo presidente Kasa-Vubu, demitiu Sendwe de seu cargo de presidente provincial e o substituiu por Kabange.[g][66][68]
Sendwe argumentou por, recursos legais, que sua exoneração era ilegal,[69] denunciou o PPPCo e declarou que apenas seu governo tinha apoio popular. Em 27 de abril, a assembleia provincial chegou a um acordo, reelegendo Sendwe como presidente de Catanga do Norte, mas revisando seu governo, revogando sua atuação na pasta de saúde pública e tornando Kabange o vice-presidente provincial.[66] Deu-se a posse no dia seguinte e Sendwe prometeu fortalecer as instituições e a integridade territorial do Catanga do Norte, protegendo os partidos políticos que buscavam promover os "interesses superiores" do Congo e encorajar relações amistosas entre os partidos BALUBAKAT e CONAKAT. Além disso, também anunciou sua intenção de aumentar a cooperação econômica com outras províncias e criar cooperativas para comerciantes e consumidores.[67] Enquanto isso, um ativista esquerdista radical da BALUBAKAT, Laurent-Désiré Kabila, planejou uma rebelião no norte de Catanga para derrubar Sendwe e Kabange.[70]
Morte
editar"Jason havia lutado tanto tempo pela sua ideia dos Lubas (...) saboreou a vitória, agiu como um lobo em pele de cordeiro, carregado nos ombros de seu povo (...) tornou-se um ministro, e como o poder e o dinheiro falam mais alto, perdeu sua aura e morreu."
Ian Goodhope Colvin, jornalista britânico.[71]
Em 27 de maio de 1964, um golpe em Albertville pela rebelião Simba, sob a liderança de Kabila, derrubou o governo de Sendwe.[72][73] Ele foi acusado de desviar fundos públicos e detido.[74] Enquanto os líderes da rebelião debatiam o que fazer com o prisioneiro, incluindo executá-lo, ele escapou[73] e passou os próximos dias tentando restabelecer sua autoridade enquanto o controle dos simbas desmoronava.[75] Em 30 de maio, uma pequena força do governo sob o comando do coronel Louis Bobozo recapturou a cidade e recuperou Sendwe, que alegou ter sido quase enterrado vivo pelos simbas.[76] Sendwe tinha a falsa impressão de que Mwamba Ilunga havia alimentado a rebelião e o prendera.[77][h] A agitação persistiu em Albertville.[76] Sendwe não conseguiu acalmar a situação e fez declarações atacando seus rivais e as etnias não Lubas.[78] Em 19 de junho, a população se revoltou e o governo foi evacuado. Sendwe tentou fugir, mas foi impedido pelas tropas do governo e morto pela rebelião.[76] Questões sobre sua morte foram levantadas em vários jornais, e o governo central divulgou um relatório oficial sobre isso duas semanas depois.[79]
Existem várias teorias sobre como e por que Sendwe foi morto. De acordo com o jornalista Ian Goodhope Colvin, Sendwe estava dirigindo em direção a Fizi com um missionário americano quando seu carro foi parado pelos simbas. Neste relato, sua escolta policial fugiu e ele e sua companheira foram assassinados.[71] De acordo com o cientista político Jean Omasombo Tshonda, Sendwe foi preso por soldados do exército, em Muswaki, enquanto tentava escapar de trem e então forçado a retornar a Albertville. Dirigindo com vários parentes, foi até a cidade para tentar acalmar os simbas, assegurando-lhes suas credenciais lumumbistas gritando (de maneira supostamente embriagada): "Lumumba é meu irmão! Mulele é meu irmão! Todos vocês, vocês são meus irmãos!"[80] Os rebeldes então fuzilaram ele e alguns de seus companheiros na colina de Kangomba.[80]
O cientista político Erik Kennes examinou vários testemunhos sobre a morte de Sendwe. Uma testemunha responsabilizou Saidi Saleh Mukidadi, um político local, pela morte. O cientista político Kabuya Lumuna Sando concluiu que desertores do exército atiraram em Sendwe. Kennes questionou a validade da última afirmação, observando que a maioria dos elementos do exército havia se retirado da área e que nenhuma outra testemunha relatou soldados dissidentes fazendo parte das fileiras dos simbas. O líder simba, Gaston Soumialot, acusou Mobutu de organizar o assassinato. Outros observadores acreditam que as ações dos soldados do exército indicam envolvimento do governo central. Kabuya, observando as roupas novas usadas pelos soldados que, supostamente, impediram a vida de Sendwe, concluiu que os homens do exército eram agentes clandestinos do governo. Além disso, argumentou que Mobutu, chefe do exército na época, queria Sendwe morto para facilitar a reaproximação com Tshombe.[80] Há um boato de que a execução foi realizada por vários Bayombe sob as ordens de Kabila.[81] Kennes alegou que isso era improvável porque Kabila não matou Sendwe na primeira vez que Albertville foi ocupada,[i] e não estava presente quando a cidade caiu em 19 de junho.[82]
Legado
editarAo longo de sua carreira, Sendwe foi o líder nacional indiscutível do Lubas cantangenses, e o principal oponente de Tshombe durante a secessão do Catangese.[2] Ademais, apressou o fim da secessão por meio de seu sucesso nas negociações com figuras nacionais e internacionais.[83] De acordo com o jornalista britânico Ian Goodhope Colvin, a morte de Sendwe privou Adoula de uma figura que poderia lhe garantir o apoio catanguês, forçando-o a receber Tshombe de volta ao país.[84] Seu assassinato também desiludiu muitos Lubas no norte de Catanga com a causa dos Simbas e, como resultado, muitos se abstiveram de se juntar à rebelião.[82][85] O partido BALUBAKAT desmoronou em seu rastro.[86] Em novembro de 1966, Mobutu, tendo se tornado presidente, condecorou postumamente Sendwe por morrer "em defesa da honra do país".[87] Uma avenida e um hospital em Lubumbashi receberam seu nome.[81][88]
Após sua morte, Sendwe caiu na obscuridade e, no século XXI, havia pouca memória dele no norte de Catanga.[89] A Union des fédéralistes et des républicains indépendants (UFERI) relembrou seu legado em sua retórica. Devido à reputação militante do partido, o público associou a UFERI às ações violentas do BALUBAKAT, limitando assim sua capacidade de proliferar uma imagem positiva de Sendwe.[90] Em 2011, um congresso do "Povo Luba" declarou que Sendwe estava entre "nossos valentes mártires".[91] Há pouco estudo sobre sua biografia na historiografia congolesa.[92]
Notas
editar- ↑ Um comissário de Estado era nomeado pelo chefe de Estado, com o consentimento do Senado, para representar o governo central em cada província. Seus principais deveres eram, de acordo com a constituição, "administrar os serviços estatais" e "assegurar a coordenação das instituições provinciais e centrais."[23]
- ↑ Ele esteve ao lado de Antoine Gizenga, que foi o primeiro vice-ministro e primeiro-ministro no governo.[40]
- ↑ A administração pública na região nunca se materializou verdadeiramente em Lualaba; só em setembro de 1962 uma gestão foi formalmente instalada com a criação de Catanga do Norte.[49]
- ↑ Verhaegen determinou a data de censura em 26 de dezembro.[53] Kennes caracterizou a briga de rua como um "episódio miscelâneo grotesco", usado como um "pretexto" para censurar Sendwe.[46]
- ↑ Sendwe nunca acreditou que Catanga deveria permanecer subdividido, mas ele estava disposto a abrir mão de seu desejo por um tempo, a fim de garantir rapidamente o poder regional.[41]
- ↑ Willame afirmou que Sendwe tinha obrigado a renúncia de Mwamba Ilunga.[48] Mwamba Ilunga e Sendwe tiveram uma complexa rivalidade partidária que surgiu em 1960. Enquanto Sendwe era o líder do partido BALUBAKAT, Mwamba Ilunga liderou a rebelião anti-Tshombe, no norte de Catanga, entre os anos de 1960 a 1962.[60] Mwamba Ilunga percebeu que Sendwe não havia feito o suficiente para ajudar a rebelião, e desaprovou suas tentativas de dissolver Catanga do Norte.[54] Ele também era um progressista radical, enquanto Sendwe era mais moderado.[61]
- ↑ Prosper Mwamba Ilunga, então presidente da Assembleia Provincial de Catanga do Norte, sustentou que o projeto de censura não era um "golpe", mas apenas um exercício das prerrogativas da assembleia de fiscalizar o Poder Executivo.[67]
- ↑ Mwamba Ilunga tinha sido detido pelos simbas, mas negou ter qualquer envolvimento com a rebelião.[77]
- ↑ De acordo com uma testemunha, Kabila realmente declarou sua oposição à morte de Sendwe durante a queda de Albertville.[73]
Referências
- ↑ a b c d e CRISP 1961, parágrafo 83.
- ↑ a b c d e f Omasombo Tshonda 2018, p. 241.
- ↑ Hoskyns 1965, p. 7.
- ↑ Gerard & Kuklick 2015, p. 131.
- ↑ a b Gérard-Libois 1966, p. 301.
- ↑ Legum 1961, p. 101.
- ↑ Chomé 1966, p. 75.
- ↑ Merriam 1961, p. 138.
- ↑ O'Ballance 1999, p. 7.
- ↑ a b c Omasombo Tshonda 2018, p. 240.
- ↑ Sendwe, le Heros Indesirable 1989, p. 50.
- ↑ Kanza 1994, p. 35.
- ↑ Lemarchand 1964, p. 281.
- ↑ a b Lemarchand 1964, p. 241.
- ↑ a b c d e Gerard & Kuklick 2015, p. 132.
- ↑ a b c Hoskyns 1965, p. 26.
- ↑ Lemarchand 1964, p. 299.
- ↑ Kanza 1994, p. 134.
- ↑ Hoskyns 1965, pp. 37–39.
- ↑ Hoskyns 1965, p. 40.
- ↑ Omasombo Tshonda 2018, p. 325.
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- ↑ Lemarchand 1964, p. 216.
- ↑ Kennes 2009, p. 177.
- ↑ Omasombo Tshonda 2018, pp. 326–327.
- ↑ Gérard-Libois 1966, p. 85.
- ↑ Bonyeka 1992, p. 135.
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