Império Medo

antigo estado iraniano

A Média (em persa antigo: Māda; em grego: Mēdía; em acádio: Mādāya[1]) foi uma entidade política centrada em Ecbátana que do século VII a.C. até meados do século VI a.C. teria dominado grande parte do planalto iraniano, precedendo o Império Aquemênida.[2] A frequente interferência dos assírios nos Zagros resultou no processo de unificação das tribos medas. Em 612 a.C., os medos eram fortes o suficiente para derrubar o declinante Império Assírio em aliança com os babilônios. No entanto, estudiosos modernos são céticos sobre a existência de um "reino" ou "Estado" medo unificado, pelo menos durante a maior parte do século VII a.C.[3]

Média

Império Medo

678 a.C.[a]550 a.C. 

Mapa hipotético do Império Medo em sua extensão máxima
Região Ásia Ocidental
Capital Ecbátana

Línguas oficiais meda
Religião antiga religião iraniana

Forma de governo Monarquia
Rei
• 700–678 a.C.  Déjoces
• 678–625 a.C.  Fraortes
• 625–585 a.C.  Ciaxares
• 585–550 a.C.  Astíages

Período histórico Idade do Ferro
• 678 a.C.[a]  Ascensão de Fraortes
• 671 a.C.  Revolta meda contra a Assíria
• 625 a.C.  Ascensão de Ciaxares
• 612 a.C.  Medos e babilônios conquistam Nínive
• 585 a.C.  Batalha do Hális
• 553-550 a.C.  Conflito medo-persa
• 550 a.C.  Conquistado por Ciro, o Grande

Segundo a historiografia clássica, a Média emergiu como uma grande potência no antigo Oriente Próximo após o colapso da Assíria. Sob Ciaxares (r. 625–585 a.C.), as fronteiras do país foram estendidas para leste e oeste com a subjugação de povos vizinhos, como os persas e armênios. A expansão territorial da Média resultou na formação do primeiro império iraniano, que no auge de sua extensão territorial teria exercido controle sobre mais de dois milhões de quilômetros quadrados, estendendo-se das margens orientais do rio Hális, na Anatólia, até a Ásia Central. Nesse período, o Império Medo[b] foi uma das grandes potências econômicas, políticas e militares do antigo Oriente Próximo juntamente com a Babilônia, Lídia e Egito. Durante seu reinado, Astíages (r. 585–550 a.C.) empenhou-se para fortalecer e centralizar o Estado medo, contrariando a vontade da nobreza tribal, o que pode ter contribuído para a queda do reino. Em 550 a.C., a capital meda Ecbátana foi conquistada pelo rei persa Ciro II, marcando o início ao Império Aquemênida.[5]

Embora seja geralmente aceito que os medos desempenharam um papel significativo no antigo Oriente Próximo após a queda da Assíria, há um debate entre os historiadores sobre a existência de um império ou até mesmo de um reino medo. Alguns estudiosos aceitam a existência de um poderoso e estruturado império que teria influenciado as estruturas políticas do posterior Império Aquemênida. Outros estudiosos argumentam que os medos constituíram uma frouxa confederação de tribos e não um Estado centralizado.

Fontes históricas

editar

Fontes textuais

editar

Durante o período neoassírio dos séculos IX ao VII a.C., bem como nos subsequentes períodos neobabilônico e persa inicial, as fontes oferecem apenas uma visão externa dos medos. Não há uma única fonte meda representando uma perspectiva meda sobre sua própria história.[6] As fontes textuais disponíveis sobre a Média consiste principalmente em textos contemporâneos assírios e babilônicos,[7] bem como a inscrição persa de Beistum, as Histórias do historiador grego Heródoto, a Pérsica de Ctésias, e alguns textos bíblicos.[8] Antes das descobertas arqueológicas das ruínas e arquivos cuneiformes assírios e babilônicos, em meados do século XIX, a história das civilizações do Oriente Próximo no período anterior ao Império Aquemênida baseava-se apenas em fontes clássicas e bíblicas. As informações sobre os medos, assim como os assírios e os babilônicos, derivavam das obras de autores clássicos como Heródoto e seus sucessores. Eles coletavam informações de círculos eruditos do Império Aquemênida, mas essas informações não eram diretas nem contemporâneas, tampouco baseadas em arquivos sólidos ou materiais históricos. Embora nenhuma fonte textual contemporânea foi descoberta na Média, as informações disponíveis nas fontes assírias e babilônicas são bastante relevantes.[9]

 
Imagem do mundo segundo Heródoto, século V a.C.

Devido à ausência de registros escritos da Média pré-aquemênida e, até recentemente, à falta de evidências arqueológicas, o "Median logos" de Heródoto (1. 95-106) foi por muito tempo a principal e geralmente aceita narrativa histórica dos antigos medos.[2] Em seu relato no primeiro livro de suas Histórias, Heródoto traça o desenvolvimento de um Estado ou império medo unificado, com uma capital em Ecbátana.[10] Embora o que ele descreve tenha acontecido séculos antes e ele provavelmente tenha se baseado em relatos orais não confiáveis, seu relato pode ser correlacionado em algum grau com as fontes assírias e babilônicas.[11] O historiador grego Ctésias trabalhou como médico à serviço do rei aquemênida Artaxerxes II e escreveu sobre a Assíria, a Média e o Império Aquemênida em sua obra Pérsica,[12] que consiste em 23 livros supostamente baseados em arquivos reais persas.[13] Embora tenha criticado muito Heródoto e o acusasse de contar muitas mentiras, Ctésias segue Heródoto e também relata que houve um longo período em que os medos governaram um vasto império.[12] O que sobreviveu de sua obra está repleto de histórias românticas, anedotas exóticas, fofocas da corte e listas de confiabilidade duvidosa.[13] Isso faz de Ctésias um dos poucos autores antigos não muito confiáveis. No entanto, outros o consideraram uma fonte importante.[12][14]

As inscrições reais assírias, datando de Salmaneser a Assaradão (ca. 850-670 a.C.) contêm o maior conjunto de informações históricas sobre os medos. O relato herodoteano ao lidar com o período anterior a Ciaxares foi praticamente descartado em favor dos registros contemporâneos assírios.[9] As fontes assírias que fornecem informações sobre os medos nunca mencionam um Estado medo unificado. Em vez disso, essas fontes mostram uma paisagem política fragmentada, composta por entidades em pequena escala lideradas por vários senhores da cidade. Embora estudiosos tenham sugerido conexões entre certos indivíduos nesse meio e os nomes mencionados em fontes clássicas, as identificações baseadas em semelhança de nomes são questionáveis.[15] As fontes assírias oferecem uma visão clara apenas até aproximadamente 650 a.C. Para o período subsequente, há uma lacuna na quantidade e qualidade das fontes assírias.[16] A evidência histórica de um Estado medo unificado só surge muito mais tarde, quando em 615 a.C. os medos reaparecem em fontes babilônicas liderados por Ciaxares. Após esse evento, os medos mais uma vez retrocedem da história até 550 a.C., quando o rei persa Ciro II derrota o rei medo Astíages para se tornar a figura política dominante no Irã.[10] Assim, a história do período de c. 650 a 550 a.C., durante o qual o poder dos medos teria atingido seu auge, permanece pouco compreendida.[17] Embora fontes gregas clássicas afirmem a existência de um Império Medo durante este período, evidências tangíveis que sustentem a existência de tal império ainda não foram encontradas e fontes contemporâneas desse período raramente fazem referência aos medos.[18]

Fontes arqueológicas

editar

O período medo é um dos períodos menos compreendidos da arqueologia iraniana, e a geografia meda permanece em grande parte obscura.[19] Qualquer esforço para identificar elementos distintivos da cultura material meda da Idade do Ferro III (c. 800-550 a.C.) na região oeste do Irã concentra-se principalmente em sítios próximos à antiga capital da Média, Ecbátana (atual Hamadã).[20] Além disso, a falta de clareza no registro arqueológico torna desafiador determinar se certos materiais arqueológicos devem ser atribuídos à cultura meda ou à aquemênida.[8][21] A atividade arqueológica moderna na área central da antiga Média foi especialmente intensa e frutífera nas décadas de 1960 e 1970, quando foram realizadas as escavações de Godin Tepe, Tepe Nus-i Jã, Baba Jã. Além disso, na região adjacente do antigo reino de Manai, as escavações em Hasanlu e em Ziwiye também tiveram resultados produtivos. A atividade arqueológica nessa região revelou que, durante os séculos VIII e VII a.C., os sítios medos experimentaram um notável crescimento, mas foram despovoados na primeira metade do século VI a.C., período em que se presume que o suposto Império Medo atingiu seu apogeu de desenvolvimento.

A fase Nus-i Jã I, com data aproximada de 750 a.C. a 600 a.C., revelou uma sequência de vários edifícios no local. O "Edifício Central" foi construído no início dessa fase, no século VIII a.C., enquanto o "Forte" e o "Edifício Ocidental", este último com seu notável salão de colunas, foram acrescentados ao sítio ao longo do século VII a.C. Esses edifícios públicos foram posteriormente abandonados, e na primeira metade do século VI a.C. o sítio foi ocupado por populações de caráter menos institucional. Em um de seus relatórios, os escavadores David Stronach e Michael Roaf conjecturaram que o colapso da Assíria e a gradual erosão do poder cita podem ter influenciado a deserção de várias fortalezas, especialmente aquelas localizadas próximas ao núcleo territorial da Média. Em outro relatório, foi sugerido que os vários edifícios foram abandonados de maneiras diferentes durante o período em que o poder medo ainda estava em ascensão. O Nível II de Godin Tepe, escavado por T. Cuyler Young e Louis Levine, contêm estruturas arquitetônicas semelhantes às de Nus-i Jã I e apresenta uma narrativa semelhante: o progressivo crescimento de edifícios públicos durante as fases 1 a 4, seguido por um período de "abandono pacífico" e "ocupação irregular" na fase 5. Uma história semelhante também é contada pelos resultados das escavações em Baba Jã, embora o escavador apoie uma cronologia mais elevada com a florescente fase III nos séculos IX-VIII e a ocupação irregular no século VII - mas principalmente por razões históricas (supostos ataques assírios e citas). De qualquer forma, o sítio parece está completamente abandonado na primeira metade do século VI a.C.

Os desenvolvimentos arqueológicos em Manai parecem ter sido exatamente os mesmos da Média: assentamentos florescentes com edifícios públicos na segunda metade do século VIII a.C. e durante todo o século VII a.C., seguidos por um período de ocupação irregular na primeira metade do século VI a.C. Tal imagem não se encaixa com a reconstrução de um Império Medo com base nos historiadores clássicos.[9] O historiador Mario Liverani argumenta que as evidências arqueológicas desses sítios medos se alinham bem com as evidências das fontes mesopotâmicas.[22] Alguns estudiosos sugerem que o abandono de Tepe Nus-i Jã e outros sítios no noroeste do Irã pode estar relacionado à centralização do poder em Ecbatana. Nesse contexto, a observação de Heródoto sobre Déjoces compelindo os nobres medos a deixarem suas pequenas cidades para viver perto da capital torna-se pertinente.[23] Um cenário possível sugere que Tepe Nus-i Jã passou por um fechamento formal por volta de 550 a.C., com ocupação informal ou irregular persistindo até aproximadamente 500 a.C. A datação revisada sugere que Tepe Nus-i Jã e potencialmente outros sítios do período III da Idade do Ferro mantiveram uma ocupação formal até o início do período aquemênida. Se isso for o caso, então não haveria interrupção na ocupação de sítios medos entre 600 e 550 a.C., como sugerido por alguns estudiosos, implicando uma quebra de autoridade central nesse período.[3] Segundo Stuart Brown, a ascensão do domínio persa pode ter sido um fator contribuinte para o abandono de vários sítios medos, incluindo Godin Tepe.[23]

 
Mapa da Média, de 1839

Vários dos sítios escavados no Irã, incluindo Godin Tepe, Tepe Nus-i Jã, Moush Tepe, Gunespan, Baba Jan e Tepe Ozbaki, apresentam semelhanças significativas na arquitetura, cerâmica e achados pequenos a ponto de serem considerados possivelmente medos. Os assentamentos medos podem ser resumidos como dispersos, com nodos fortificados controlando planícies, vales e passagens principais.[10] Os maiores sítios identificados na Média medem apenas 3-4 hectares, o tamanho de pequenas aldeias. Notavelmente, a arquitetura monumental encontrada em muitos sítios medos não parece estar integrada a assentamentos maiores. É difícil conciliar essa imagem arqueológica com o sistema de "senhores da cidade" mencionado nas fontes assírias.[24] A capital da Média, Ecbátana, é um local de grande interesse para o estudo arqueológico, mas as escavações até o momento revelaram vestígios que pertencem ao período sassânida.[9] A antiga capital em Ecbátana foi simplesmente enterrada ou destruída pela ocupação subsequente substancial do local.[24] A identificação de sítios medos fora do Irã é desafiadora, mas certas características cerâmicas e arquitetônicas podem indicar uma presença ou pelo menos alguma influência meda dispersa em locais como Nor Armavir e Arinberd na Armênia, Altintepe, e Tille Höyük na Turquia, Qizkapan e Tell Gubba no Iraque e Ulug Depe no Turquemenistão.[10] Os achados arqueológicos no sítio urartiano de Erebuni, na Armênia, mostraram que uma sala com colunas inicialmente datada do período aquemênida agora provavelmente foi construída no final do século VII a.C. Este é o período após a queda da Assíria, quando os medos teriam começado sua expansão para o norte, de acordo com Heródoto. Uma sala semelhante com colunas em Altintepe, no leste da Turquia, também pode ser datada deste período. A disseminação da forma da sala com colunas antes da ascensão do Império Aquemênida sugere alguma forma de presença ou influência meda em regiões adjacentes durante o final do século VII e início do século VI a.C.[24] Evidências de escavações e levantamentos recentes sugerem que o assentamento permanente na Média persistiu além do final do século VII a.C. A construção monumental parece ter continuado em vários sítios, e uma forma inicial de moeda aparentemente estava em uso no coração da Média por volta de 600 a.C.[2] No entanto, o Império Medo ainda não é um fato arqueológico concreto e sua história é amplamente baseada nas informações fornecidas por Heródoto e outros textos influenciados direta ou indiretamente por ele.[25]

História

editar

Campanhas assírias na Média

editar
 
Mapa do Império Neoassírio

No final do II milênio a.C., as tribos medas começaram a se estabelecer no território da futura Média no oeste do Irã. A partir do século IX a.C., os assírios regularmente invadiram e saquearam regiões do noroeste do Irã, onde naquela época existiam dezenas de pequenos principados. A primeira menção dos medos em textos assírios refere-se a 834 a.C., quando o rei Salmaneser III (r. 858–824 a.C.) retornava de uma campanha com seu exército passando na planície de Hamadã através do território medo.[1] Os medos se constituíram em numerosas pequenas entidades sob chefes tribais,[26] e mesmo conseguindo subjugar vários chefes medos, os os reis assírios nunca conquistaram toda a Média.[8] Em 815 a.C., Samsiadade V (r. 823–811 a.C.) marchou contra Saguebita, a "cidade real" do chefe medo Hanasiruca, e a conquistou. Segundo a inscrição assíria, 2.300 medos foram mortos e Saguebita, assim como 1.200 assentamentos localizados em suas proximidades, foram destruídos. Essa campanha foi de grande importância, pois a partir de então a Assíria impunha tributo regular às tribos medas em cavalos, gado e produtos artesanais. Agora os assírios transferiram a direção principal de seus ataques para a Média. Essa transferência foi parcialmente causada pelos eventos na zona de Úrmia, já que no final do século IX a.C. os urartianos conquistaram as margens oeste e sul do lago Úrmia e começaram a avançar para Manai. A Assíria falhou em deter o avanço urartiano e gradualmente se tornou um aliado de Manai em sua luta contra Urartu. Os assírios não conseguiram de garantir os resultados das seis campanhas (nos anos 809, 800, 799, 793, 792 e 788 a.C.) travadas contra os medos por Adadenirari III (r. 810–781 a.C.) e, posteriormente, uma longa crise política começou a se desenvolver na Assíria. Mais tarde, durante o reinado de Tiglate-Pileser III (r. 745–728 a.C.), a Assíria começou a organizar províncias em países conquistados, o que garantiu uma fonte regular de renda e também serviu de base para a conquista de territórios vizinhos. A leste de seu país, os assírios criaram mais duas províncias, onde foram instalados governadores e guarnições assírias, fazendo as fronteiras da Assíria aproximaram-se da Média. Em 744 a.C., os assírios receberam tributo dos medos e em 737 a.C., Tiglate-Pileser invadiu a Média, e desta vez os assírios alcançaram as partes mais remotas do país e exigiram tributo dos "governantes da cidade" dos medos até o deserto de sal e o monte Bicni. Em um relato dessa campanha, Tiglate-Pileser menciona "as províncias dos poderosos medos" e também afirma que ele deportou 6.500 pessoas do noroeste do Irã para a Síria e a Fenícia.[1]

Sob Sargão II (r. 722–705 a.C.), a presença assíria na Média atingiu o seu ponto culminante. Sargão tentou estabelecer um controle administrativo direto sobre essas regiões distantes, seguindo o sistema provincial já implementado em áreas mais acessíveis e próximas. Os governadores assírios coexistiram com os senhores de cidades locais: os primeiros, provavelmente, eram responsáveis pelo controle do comércio de longa distância e a arrecadação de tributos, enquanto os últimos permaneciam no poder para lidar com assuntos locais.[9] Apesar de estar ativo na região de Zagros, Senaqueribe (r. 704–681 a.C.) operou em um nível muito discreto em comparação com seus antecessores, Tiglate-Pileser III e Sargão II. Isso pode sugerir que, após os problemas iniciais para controlar as novas províncias Kar-Sarrukin e Kār-Nergal, as coisas progrediram tranquilamente nos territórios assírios orientais após 713 a.C. O sistema dual estabelecido, envolvendo a administração provincial assíria e os senhores locais das cidades, parece ter encontrado um equilíbrio mutuamente benéfico. As fontes disponíveis mostram o controle contínuo assírio sobre as províncias fundadas por Tiglate-Pileser e Sargão, pelo menos até o reinado de Assaradão. Em 702 a.C., Senaqueribe envolveu-se com os medos durante uma campanha contra o reino de Elipi, nas montanhas de Zagros. Isso marcou seu único contato direto registrado com os medos em seu próprio território, recebendo tributo dos medos que residiam fora das regiões controladas pelos assírios.[27]

Os assírios consistentemente se referiam aos medos como habitantes de assentamentos governados por bēl ālāni ("senhores das cidades"). A coalescência de um poder autoritário mais amplo provavelmente teve suas origens nas relações interpessoais entre esses bēl ālāni medos.[17] A aplicação de um modelo de formação de Estado secundário ao caso da Média propõe que, estimulados por décadas de intrusão assíria agressiva, os bēl ālāni medos aprenderam pelo exemplo a se organizar e administrar politicamente e economicamente para alcançar um status semelhante ao de um Estado.[10] Os frequentes ataques assírios forçaram os vários habitantes da Média a cooperar e desenvolver uma liderança mais eficaz. Os assírios também apreciavam produtos do leste, como o lápis-lazúli bactriano, e a rota leste-oeste através da Média se tornava cada vez mais importante. O comércio pode explicar a ascensão de Ecbátana como a cidade central da Média e pode ter sido o gatilho que iniciou o processo de unificação.[8]

Unificação

editar

Segundo Heródoto, Déjoces planejou estrategicamente estabelecer um governo autocrático sobre os medos. Em um período de grande anarquia na Média, Déjoces trabalhou diligentemente para estabelecer a justiça, ganhando uma reputação como juiz imparcial e justo. Eventualmente, ele deixou de administrar a justiça, levando ao caos na Média. Isso levou os medos a se reunirem e decidirem eleger um rei, resultando finalmente em Déjoces tornando-se o governante deles. Em seguida, uma cidade fortaleza chamada Ecbátana foi construída, onde toda a autoridade governante foi centralizada.[28][24] No entanto, isso não é indicado em fontes textuais da época, nem em achados arqueológicos.[29] A julgar pelas fontes assírias, nenhum Estado medo unificado como o que Heródoto descreve para o reinado de Déjoces existia no início do século VII a.C. e seu relato é na melhor das hipóteses uma lenda meda sobre a fundação de seu reino.[30][31][27] Em contraste, Ctésias apresenta uma narrativa diferente centrada em um medo chamado Arbaces. Arbaces serviu como general no exército assírio e como governador dos medos em nome do rei assírio. Ele conheceu seu futuro aliado, o babilônico Belesys, em Nínive, onde ambos comandaram as tropas auxiliares medas e babilônicas da Assíria durante um ano de serviço militar. Encorajados pela fraqueza do rei assírio Sardanápalo, Arbaces e Belesys se rebelaram contra a Assíria, e Arbaces emergiu como o primeiro rei da Média. Embora nomes semelhantes ou idênticos a Déjoces e Arbaces apareçam em fontes assírias, esses nomes parecem ter sido comuns entre as pessoas do planalto iraniano durante o período assírio. Assim, nenhum dos indivíduos com esses nomes pode ser identificado conclusivamente como os protagonistas descritos pelos historiadores gregos. Embora alguns personagens em Heródoto e Ctésias possam ser identificados com figuras conhecidas em fontes assírias e babilônicas, permanece desconhecido em que medida muitos detalhes em suas histórias refletem a realidade histórica.[32]

O rei assírio Assaradão (r. 680–669 a.C.) realizou várias expedições ao território iraniano. Comparado com as conquistas de Sargão, os resultados da campanha de Assaradão foram bastante insignificantes.[1] Provavelmente em 676 a.C., e certamente antes de 672 a.C., os senhores das cidades Uppis de Partakka, Zanasana de Partukka e Ramateia de Urakazabarna trouxeram cavalos e lápis-lazúli como tributo a Nínive. Esses governantes, originários de regiões além das províncias assírias no Zagros, se submeteram a Assaradão e buscaram sua assistência contra senhores das cidades rivais. Este episódio é seguido pela deportação de dois senhores das cidades do país de Patušarri para a Assíria, indicando que as atividades de Assaradão contra os medos "distantes" alcançaram o Mar Cáspio e o Deserto de Sal próximo ao Monte Bicni. No entanto, ao contrário de seus predecessores, Assaradão não parece ter expandido o território assírio no Irã.[27] Ramateia também é mencionado nos chamados “juramentos de lealdade” que foram concluídos por ocasião da nomeação do sucessor do trono assírio em 672 a.C. Nesse ano foram concluídos acordos entre Assaradão e chefes de várias regiões ocidentais da Média, que garantiam sua lealdade ao rei assírio, bem como a segurança de suas posses. Os estudiosos geralmente consideram este acordo como um “tratado vassalo” imposto pela administração assíria aos vassalos recentemente submetidos, mas Mario Liverani argumentou que este acordo foi resultado de lutas internas entre vários grupos medos, bem como da presença de guerreiros armados medos no palácio assírio servindo como guarda-costas do príncipe herdeiro. Os chefes medos tiveram que fazer um juramento de que seus homens na corte assíria seriam leais a Assaradão e seu filho Assurbanípal.[1]

A julgar pelos textos assírios da época de Assaradão, a situação nas fronteiras orientais da Assíria era extremamente tensa.[1] Enquanto entrar nas províncias assírias em Zagros para coletar tributos é rotina para vários governadores após 713 a.C., tais missões eram repletas de perigo na época de Assaradão. Esse aumento no risco decorreu não apenas de adversários tradicionais como os medos e maneanos, mas também dos cimérios e citas ativos no Irã. A principal ameaça no leste provinha das ações de Kaštaritu, o senhor da cidade de Kār-Kaššî, que é mencionado de forma proeminente em consultas de oráculos sobre assuntos medos. Os assírios viam Kaštaritu como um líder político de influência substancial e uma força a ser considerada; Assaradão estava preocupado com Kaštaritu tramando com outros senhores das cidades medas, mobilizando-se contra a Assíria e atacando as fortalezas e cidades assírias. As fontes disponíveis não revelam se uma resolução pacífica ou militar para os problemas com Kaštaritu foi alcançada; esse silêncio pode sugerir um desfecho negativo. Ataques às fortalezas assírias mostram que a Assíria começou a perder o controle do território no leste durante o reinado de Assaradão. Saparda, que foi incorporada à província de Harhar em 716 a.C., não estava mais sob controle assírio, e seu senhor da cidade, Dusanni, é mencionado, ao lado de Kaštaritu, como inimigo da Assíria em várias consultas de oráculos.[27] Durante o reinado de Assurbanípal (r. 668–630 a.C.), referências aos medos tornam-se muito escassas. Em uma inscrição, Assurbanípal relata que três senhores da cidade medos haviam se rebelado contra o domínio assírio, foram derrotados e levados para Nínive durante sua quinta campanha em 656 a.C. Esta é a última menção aos medos nas fontes assírias. O fato de os três governantes medos serem descritos como senhores da cidade pode indicar que a estrutura de poder entre os medos nesse momento era a mesma que no século VIII a.C. Não se sabe se as províncias assírias nos Zagros, Parsua, Bīt-Hamban, Kišessim (Kār-Nergal) e Harhar (Kar-Sarrukin), ainda faziam parte do império durante o reinado de Assurbanípal.[27] Embora o silêncio mantido nas fontes assírias sobre os iranianos nesse período possa indicar que a Assíria estava menos preocupada com eles do que durante o reinado de Assaradão,[33] tudo parece indicar que os assírios estão perdendo o controle sobre as províncias estabelecidas nos Zagros. Isso poderia ter ajudado a deixar espaço para o desenvolvimento de um Estado medo unificado[34] e embora as fontes assírias não façam referência a um Estado territorial medo unificado que seria comparável à própria Assíria ou a outros principados contemporâneos, como Elão, Manai ou Urartu, muitos estudiosos ainda relutam em atribuir nenhuma relevância histórica ao relato de Heródoto.[27]

Os medos reaparecem em fontes contemporâneas cerca de quarenta anos depois, em 615 a.C., sob a liderança de Ciaxares, lançando um ataque ao coração do Império Assírio e aliando-se aos babilônios. Nada nas fontes assírias existentes fornece insights sobre como Ciaxares assumiu a liderança de uma força meda unificada, uma vez que as décadas anteriores são marcadas por uma escassez de fontes sobre as políticas internas e externas da Assíria.[27] O raciocínio atual sustenta que a transição em direção a um Estado unificado pode ter ocorrido no período de 670 a 615 a.C., durante o reinado do rei Assurbanípal ou de seus sucessores. A falta de registros assírios ou outras fontes contemporâneas para esse período deixou o espaço "livre" para a aceitação do relato de Heródoto. Embora as informações do historiador grego sobre os períodos anteriores carecem de confiabilidade, no caso de Ciaxares, sua existência e seu papel na queda de Nínive são corroborados pela Crônica Babilônica. Assim, as demais informações concernentes à cronologia de seu reinado e ao seu status como rei de um Estado unificado têm mais credibilidade.[9] Segundo Heródoto, Déjoces foi sucedido por seu filho Fraortes. Heródoto pode ter adiantado os eventos relacionados aos reis medos por um reinado. Assim, o fundador do reino medo, que uniu todas as tribos medas e construiu a nova capital da Média, poderia ter sido o sucessor de Déjoces.[35] Fraortes é comumente identificado com o Castariti que liderou a revolta meda contra os assírios em 672 a.C., embora alguns estudiosos tendem a rejeitar essa identificação ou considerá-la duvidosa.[1] Outros estudiosos acreditam que os medos só foram unificados sob Ciaxares, que segundo Heródoto era filho de Fraortes e iniciou seu reinado por volta de 625 a.C.[36][26][37] A partir de 627 a.C., os assírios estavam definitivamente com sérios problemas, tanto em casa quanto na Babilônia, e, portanto, é provável que o Reino Medo tenha surgido após 627, ou possivelmente já após 631 a.C.[32]

Interregno cita

editar
 
Arqueiros citas atirando com Arco compósito, Querche (antigo Panticapeu), Ucrânia, século IV a.C.

Nos tempos antigos, as extensas áreas ao norte do Mar Negro e do Cáspio eram habitadas pelos citas.[38] No final do século VIII a.C. e início do século VII a.C., grupos de guerreiros nômades entraram no oeste do Irã. Entre os grupos dominantes estavam os citas, e sua entrada nos assuntos do planalto ocidental durante o século VII a.C. talvez possa marcar um dos pontos de virada mais importantes na história da Idade do Ferro. Heródoto fala com alguns detalhes de um período de domínio cita, o chamado interregno cita na dinastia meda. A datação desse evento permanece incerta, mas tradicionalmente é vista como ocorrendo entre os reinados de Fraortes e Ciaxares.[30] O iranologista russo Edvin Grantovski data esse evento como ocorrendo entre 635 a.C. e 615 a.C., enquanto o historiador George Cameron data entre 653 a.C. e 625 a.C.[1]

Segundo Heródoto, o rei Fraortes liderou um ataque contra a Assíria, mas o rei assírio conseguiu repelir a invasão e o próprio Fraortes, juntamente com grande parte de seu exército, teria morrido na batalha.[39] Heródoto relata que Ciaxares queria vingar a morte de seu pai e marchou com o exército em direção a capital assíria Nínive, com o objetivo de destruir a cidade. Enquanto sitiavam Nínive, os medos foram atacados por um grande exército de citas sob o comando de Mádies, filho de Bartatua. Uma batalha foi travada, na qual os medos foram derrotados e perderam seu poder na Ásia, que foi tomada em sua totalidade pelos citas.[40] O jugo cita teria sido muito insuportável, caracterizado pela brutalidade, injustiça e altos impostos. Segundo Heródoto, Ciaxares convidou os líderes citas para um banquete e os induziu a beber até que estivessem totalmente bêbados, atacou-os e os matou facilmente. Consequentemente teria se sucedido uma guerra que resultou na derrota dos citas.[38] No entanto, é mais provável que, nessa época, os citas se retirassem voluntariamente do oeste do Irã e fossem saquear em outros lugares ou fossem simplesmente absorvidos por uma confederação em rápido desenvolvimento sob a hegemonia meda.[30]

Heródoto acreditava que desde a vitória cita sobre os medos até o assassinato dos líderes citas foi um período de exatamente 28 anos, mas essa cronologia é problemática.[38] É muito improvável que os citas tenham dominado os medos por quase três décadas, os citas eram nômades e, embora fossem guerreiros ferozes, eram incapazes de governar grandes territórios por um longo período.[40] Essas e outras razões levam à conclusão que a dominação cita foi de muito mais curta. Não pode ter se passado muito tempo depois do ataque cita para que os medos começassem a se recuperar e limpar seus territórios dos citas. Se a invasão ocorreu no reinado de Ciaxares, e não no reinado de Fraortes, onde Eusébio a coloca, é provável que oito anos após sua ocorrência os medos estavam fortes para retomar seus antigos projetos e, pela segunda vez, levar um exército para a Assíria.[38] Embora o relato de Heródoto sobre o interregno cita não seja implausível, exceto pela duração da dominação cita,[40] seu relato tem um caráter lendário e não é confiável.[1] Apesar da historicidade do interregno cita ser duvidosa, os citas são mencionados nas fontes assírias no mesmo período do suposto interregno.[41]

Queda do Império Assírio

editar
 
Mapa do Império Neoassírio

Após a morte de Assurbanípal em 631 a.C., o Império Assírio entrou num período de instabilidade política.[42] Em 626 a.C., os babilônios se rebelaram contra a dominação assíria. Nabopolassar, governador das regiões do sul e líder da revolta, foi logo reconhecido como rei da Babilônia.[1] Nabopolassar ganhou controle da cidade de Babilônia, mas não de todo o território babilônico. Ele estava envolvido em combates intensos com os assírios, e provavelmente deve ter procurado possíveis aliados. É interessante notar que Heródoto menciona que o rei medo Fraortes foi morto por volta de 625 a.C. durante uma invasão malsucedida da Assíria. Não há evidências sobre as relações entre os medos e os assírios entre 624 e 617 a.C. Não se sabe se os medos ainda estavam geograficamente separados do coração da Assíria pelas montanhas Zagros e povos circundantes, ou se já estavam se afirmando nas províncias montanhosas assírias, especialmente em Mazamua (atual Suleimaniya). No entanto, para os anos subsequentes de 616 a 595 a.C., grande parte da Crônica Babilônica está preservada e fornece um relato razoavelmente confiável dos eventos. O documento não é um registro completo da história do período,[43] concentrando-se exclusivamente nos eventos na Mesopotâmia.[32] Após assegurar controle total do território babilônico, Nabopolassar (r. 626–605 a.C.) marchou contra a Assíria.[1]

Em 616 a.C., os babilônios derrotaram um exército assírio no meio do Eufrates e capturaram as forças maneanas que estavam ajudando os assírios. Se o reino de Manai ainda existia nessa época permanece incerto. No mesmo ano, os babilônios derrotaram os assírios perto de Arrapa (atual Quircuque). No terceiro mês de 615 a.C., os babilônios marcharam diretamente pelo Tigre e atacaram Assur, mas foram repelidos. No oitavo mês, os medos estavam ativos perto de Arrapa, o que sugere um acordo mútuo entre medos e babilônios.[43] Uma vez que Arrapa estava muito perto dos principais centros da Assíria (Assur, Nínive e Arbela), todas as posições do império no oeste do Irã provavelmente já haviam sido perdidas.[32] Os medos chegaram a Nínive no quinto mês de 614 a.C., devastando o território entre Arrapa e Nínive. Em meados de 614 a.C., os medos capturaram Tarbisu, uma cidade ao norte de Nínive, e depois desceram o Tigre para atacar Assur, que capturaram antes da chegada do exército babilônico que estava vindo em sua ajuda. Este esforço colaborativo indica uma aliança preexistente entre Nabopolassar e o rei medo Ciaxares (r. 625–585 a.C.), que então se encontram pessoalmente e formalizam sua relação.[43] O historiador babilônico Beroso menciona que essa aliança entre a Babilônia e a Média foi selada com o casamento de Amitis, provavelmente filha de Ciaxares, com o filho de Nabopolassar, Nabucodonosor II.[40] Posteriormente, Ciaxares e seu exército retornaram para sua terra. Em 613 a.C., os medos não são mencionados na crônica. No entanto, em 612 a.C., o rei dos ummān-manda aparece em cena; ele é certamente idêntico ao rei dos medos, embora seja estranho que uma única tabuinha cuneiforme descreva um povo por dois termos diferentes. As forças militares combinadas de Ciaxares e Nabopolassar sitiaram Nínive, resultando em sua queda após três meses. Após o saque da capital assíria, apenas os babilônios parecem ter continuado a campanha, e parte do exército babilônio avançou sobre Nasibina e Rasappa, enquanto Ciaxares e seu exército retornaram à Média. Enquanto isso, os assírios estavam se reorganizando sob um novo rei mais a oeste, em Harã. Os medos parecem estar ausentes do relato de 611 a.C., enquanto os babilônios estão militarmente ativos avançando em direção à Síria e ao alto Eufrates.[43] O faraó egípcio Neco II enviou ajuda ao exército assírio que se havia entrincheirado em Harã. Então, Nabopolassar parece ter pedido ajuda aos medos.[44] Os medos reapareceram em cena em 610 a.C., quando se uniram aos babilônios para um ataque a Harã. Diante da formidável aliança, os assírios e seus aliados egípcios abandonaram Harã, que foi capturada. Depois disso, os medos partiram pela última vez,[43] e conhecemos suas atividades principalmente por fontes clássicas.[45] Em 605 a.C., os babilônios marcharam para Carquemis e a conquistaram, derrotando totalmente os assírios e egípcios. Não está claro se os medos também participaram dessa derrota final dos assírios.[1]

O resultado da queda da Assíria para a expansão territorial meda é desconhecido, mas a Crônica Babilônica e outras evidências implicam que a maior parte do antigo território assírio passou para o controle babilônico.[46] Mario Liverani argumenta contra a noção de que os medos e os babilônios compartilharam o território assírio, em vez os medos apenas assumiram o Zagros, que a Assíria já havia perdido anteriormente.[9] Até recentemente, era uma opinião comum que, como resultado da queda da Assíria, os medos tomaram posse das terras assírias a leste do rio Tigre, bem como da região de Harã. Esta visão é parcialmente baseada em um texto do rei babilônico Nabonido, que indica que os medos dominaram Harã por 54 anos até o terceiro ano de seu reinado, e fontes clássicas posteriores. Nesse caso, os medos possuíram Harã de 607 a 553 a.C. No entanto, alguns estudiosos argumentam que o coração assírio e Harã permaneceram sob controle babilônico desde 609 a.C. e até a queda do Império Neobabilônico em 539 a.C. É verdade que, a julgar pela Crônica Babilônica, Harã permaneceu sob domínio babilônico, enquanto os medos voltaram para sua terra. No entanto, é possível que algum tempo depois de 609 a.C., os medos tomaram Harã novamente e permaneceram lá por um longo período de tempo.[1]

Império ?

editar
 
Mapa hipotético da extensão máxima do Império Medo

Ao final do século VII a.C., os medos parecem ter se unido em uma entidade política significativa sob um monarca, como evidenciado pela conquista medo-babilônica da Assíria. Nada se sabe sobre a estrutura sociopolítica meda, e os estudiosos diferem significativamente no que inferem a partir de evidências bastante ambíguas. Alguns postulam a existência de um império altamente desenvolvido, fortemente influenciado pelas práticas imperiais assírias. Em contraste, outros, destacando a falta de evidências concretas, inclinam-se a ver os medos como certamente uma força poderosa, mas sem desenvolver instituições estatais..[46] É no período entre a queda de Nínive em 612 a.C. e a conquista da capital meda Ecbátana pelo rei persa Ciro II em 550 a.C. que se postula a existência de um poderoso Império Medo. No entanto, fontes contemporâneas sobre os medos nesse período são escassas.[9] Em qualquer caso, a evidência disponível nas fontes babilônicas e bíblicas indicam de que os medos desempenharam um papel político importante no antigo Oriente Próximo após a queda da Assíria.[47] Quatro potências dominavam o antigo Oriente Próximo a partir de então: Babilônia, Média, Lídia e, mais ao sul, Egito.[1]

Os medos parecem ter estabelecido uma fronteira comum com a Lídia, na Anatólia central. Segundo Heródoto, hostilidades entre os medos e os lídios começaram cinco anos antes de uma batalha precisamente datada por um eclipse em 585 a.C. Se esse relato for verdadeiro, isso implica que, antes de 590 a.C., os medos já haviam subjugado Manai e Urartu. Julian Reade propôs que a entrada na Crônica Babilônica para 609 a.C. pode se referir a um ataque medo a Urartu em vez de um ataque babilônico. Esse evento, ocorrendo pouco antes dos ataques babilônicos em 608 e possivelmente 607 a.C., pode indicar que os babilônios forneceram apoio para a expansão meda para oeste no planalto anatoliano. Outra hipótese é que, já em 615 a.C., Ciaxares e Nabopolassar tinham forjado um plano para destruir tanto Urartu quanto a Assíria.[43] Sabe-se muito pouco sobre o fim de Urartu pois as fontes escritas termina após 640 a.C. e embora os citas e os medos serem postulados como responsáveis pelo fim de Urartu, o consenso geral é de que Urartu foi destruído pelos medos no final do século VII a.C.[48]

No início do século VII a.C., os cimérios invadiram o Cáucaso e a Anatólia. Enquanto os cimérios se estabeleciam nas planícies da Capadócia, emergia na Anatólia o reino da Lídia, com capital em Sardes. Os governantes lídios repeliram a invasão ciméria e iniciaram uma ofensiva para o leste, aproximando-se gradualmente da Capadócia.[49] O poder cimério — outrora grande e significativo na Capadócia entrou em colapso, quase ao mesmo tempo que Urartu. Havia espaço para os medos, que após conquistar Urartu, entraram na Ásia Menor subjugando a Capadócia. O espaço talvez fosse também familiar, visto que textos assírios do século VII a.C. descrevem a situação na Anatólia a oeste do Eufrates de maneira semelhante à região de Zagros.[48] Heródoto relata que Ciaxares enviou uma embaixada para a Lídia para exigir a extradição de fugitivos citas da Média, mas o monarca lídio Alíates recusou-se, levando a guerra entre os dois reinos. A guerra entre os medos e lídios resultou em uma série de confrontos ao longo de cinco anos, onde ambas as partes tiveram vitórias alternadas. No sexto ano de conflito a ocorrência de um eclipse solar interrompeu uma batalha e levou os dois lados a concluir um tratado de paz mediado por Labineto da Babilônia e Sienésis I da Cilícia. Como resultado, o rio Hális foi estabelecido como a fronteira entre as duas potências. O tratado foi selado pelo casamento entre Arienis, filha de Alíates, e Astíages, filho de Ciaxares,[38] e estabeleceu um novo equilíbrio de poder entre as potências do Oriente Próximo.[30]

Em poucas palavras, Heródoto afirma que Ciaxares subjugou toda a Ásia à leste do rio Hális, o que pelo menos sugere que ele se envolveu numa sequência de batalhas com vários povos da região para subjugá-los. Essa afirmação pode implicar que além da Capadócia e Urartu, os ibenanos, macronos, moscos, marres, mossínecos e tibarenos foram subjugados por Ciaxares.[38] Evidências indiretas posteriores sugerem que os medos teriam conquistado a Hircânia, Pártia,[1] Sagárcia,[50] Drangiana,[51] Ária[52] e Báctria tornando-se um império que se estendia da Anatólia, no oeste, até a Ásia Central, no leste.[1] Qualquer que seja o papel político dos medos no leste, a representação de uma embaixada indiana na corte de Ciaxares (Xenofonte, Ciropédia 2.4.1) parece um resultado plausível de contatos comerciais.[50]

 
Antigo Oriente Próximo nos anos 600 a.C.

Ciaxares morreu pouco tempo após o tratado com os lídios, deixando o trono para seu filho Astíages.[40] Em comparação com Ciaxares, pouco se sabe sobre o reinado de Astíages.[30] Seu casamento com Arienis o tornou cunhado do futuro rei lídio Creso; e o casamento de sua irmã, Amitis, com o rei babilônico Nabucodonosor II, o tornou cunhado deste último também.[40] Nem tudo estava bem com a aliança com a Babilônia, e há algumas evidências que sugerem que a Babilônia pode ter temido o poder dos medos.[30] As relações entre Babilônia e Média parecem ter se deteriorado, visto que, na década de 590 a.C., era esperado que os Medos invadissem o território babilônico, conforme pode ser visto nos discursos de Jeremias.[53] Segundo Heródoto, Astíages casou sua filha, Mandane, com o rei persa Cambises I, com quem ela teria um filho, Ciro II, conectando a dinastia meda a dinastia aquemênida. Esse casamento teria ocorrido antes de 576 a.C., mas há alguma dúvida sobre sua historicidade.[54]

Durante seu reinado, Astíages teria se empenhado para fortalecer e centralizar o Estado medo, contrariando a vontade da nobreza tribal. Isso pode ter contribuído para a queda do reino.[5] Segundo Ctesias, os reis medos também travaram guerras contra os cadúsios e os sacas, embora não haja evidências concretas para apoiar isso. No entanto, a referência a uma guerra contra os sacas pode indicar desafios contínuos de incursões nômades, enquanto a narrativa sobre a guerra contra os cadúsios pode indicar que os medos não tinham controle sobre as margens sul do Mar Cáspio, onde os cadúsios viviam.[18] Aparentemente, o reinado de Astíages foi relativamente imperturbado até pouco antes de seu encerramento. Moisés de Corene declara que ele travou uma longa luta com um rei armênio chamado Tigranes, mas pouco crédito pode ser atribuído a essas declarações.[38]

Conquista pelos persas

editar
 Ver artigos principais: Conflito medo-persa e Média (satrapia)

Tanto Heródoto quanto Ctesias retratam o conflito medo-persa como uma longa rebelião liderada pelo rei persa Ciro II contra seu suserano medo. No entanto, a noção de suserania meda sobre a Pérsia carece de apoio em evidências contemporâneas. Segundo a Crônica de Nabonido, em 550 a.C., o rei medo Astíages marchou com suas tropas contra Ciro da Pérsia "para conquista". No entanto, seus próprios soldados se revoltaram, o capturaram e o entregaram a Ciro. Posteriormente, Ciro capturou a capital meda de Ecbatana. Os detalhes básicos deste relato se alinham com a narrativa detalhada de Heródoto. Que o confronto provavelmente foi mais longo do que a concisa entrada na crônica transmite é indicado por uma inscrição de Sipar onde o rei babilônico Nabonido parece se referir a um conflito entre persas e medos já em 553 a.C.[55]

Na narrativa de Heródoto, Ciro além de ser vassalo da Média era neto de Astíages. As fontes babilônicas não mencionam isso; elas se referem a Ciro apenas como "o rei de Ansã" (ou seja, da Pérsia), enquanto Astíages é chamado de "rei dos medos". Heródoto relata que o general medo Hárpago organizou uma conspiração contra Astíages e durante uma batalha ele desertou com grande parte das tropas para o lado de Ciro. Então o próprio Astíages comandou o exército na batalha, mas os medos foram derrotados e seu rei foi feito prisioneiro.[1] É possível que a causa mais profunda da rebelião do exército medo tenha sido a insatisfação com a política de Astíages. No século VI a.C., as tribos iranianas se tornaram cada vez mais estabelecidas, e seus chefes não eram mais como os primeiros chefes tribais, mas começaram a se comportar como reis. Quando Astíages começou a punir alguns desses chefes tribais, a revolta foi inevitável.[54]

Após a captura de Astíages, Ciro marchou para Ecbátana e levou os objetos de valor da cidade para Ansã.[1] Como a extensão do território controlado pelos medos é disputada, não se sabe exatamente o que Ciro conquistou com sua vitória.[55] Assumir o controle da Média pode ter implicado assumir o controle de estados vassalos como a Armênia, Capadócia, Pártia, Drangiana e Ária. Se Ciro foi neto de Astíages como Heródoto diz, então isso explicaria por que os medos aceitaram o seu reinado. Mas também é possível que a conexão entre Ciro e Astíages tenha sido inventada para justificar o governo persa sobre os medos.[56] Segundo Ctésias, Astíages tinha uma filha chamada Amitis, que era casada com Espitamas, que assim se tornou o sucessor presuntivo de seu sogro. Após matar Espitamas, Ciro teria se casado com Amitis para obter legitimidade. Embora a autenticidade do relato de Ctésias seja questionável, é muito provável que Ciro tenha se casado com uma filha do rei medo.[57]

 
Baixo-relevo aquemênida do século V a.C. que mostra um soldado medo atrás de um soldado persa

Após a derrota de Astíages, o rei lídio Creso cruzou o rio Hális na esperança de expandir suas fronteiras para o leste. Isso resultou numa guerra, que levou a Lídia a ser conquistada pelos persas.[54] Posteriormente, Ciro conquistou a Babilônia, pondo fim a três potências do Oriente Próximo: Média, Lídia e Babilônia, em apenas uma década.[8] No Império Aquemênida, a Média manteve sua posição privilegiada, ocupando o segundo lugar, depois da própria Pérsia. A Média era uma província grande, e sua capital, Ecbátana, se tornou uma das capitais aquemênidas e a residência de verão dos reis persas.[1] O domínio persa na Média foi abalado por uma grande revolta no início do reinado de Dario, o Grande, que tomou o poder após assassinar o usurpador Gaumata. Esse evento foi seguido por uma série de rebeliões nas satrapias aquemênidas. Quando Dario suprimiu essas rebeliões e ficou na Babilônia, um certo Fraortes (ou Castariti) fez sua tentativa de conquistar o poder e restaurar a independência meda. Ele afirmou ser descendente de Ciaxares e assumiu o trono com o nome de Khshathrita; ele conseguiu apreender Ecbátana em dezembro de 522 a.C. Mais ou menos ao mesmo tempo, houve uma nova rebelião em Elão e houve rebeliões em províncias adjacentes, como Armênia, Assíria e Pártia. Na primavera, o líder persa invadiu a Média pelo oeste e, em maio de 521 a.C., derrotou Fraortes. A vitória persa foi completa, e Fraortes fugiu para a Pártia, mas foi capturado em Rages (atual Teerã). Posteriormente, o rei rebelde foi torturado e crucificado em Ecbátana. Após sua vitória, Dario poderia enviar tropas para a Armênia e para a Pártia, onde seus generais conseguiram derrotar os rebeldes restantes.[58] Um sagárcio chamado Tritantecmes, que também afirmava ser descendente de Ciaxares, deu continuidade a rebelião, mas também foi derrotado. Essa é última rebelião meda contra o domínio aquemênida. Após o fim do Império Aquemênida, a Média continuou a ter grande importância sob os posteriores impérios selêucida e parta.[59]

Organização

editar
 Ver artigo principal: Dinastia meda
Governante Período Nota
*Heródoto *George Cameron *Edvin A. Grantovski *I. M. Diakonoff
Déjoces 700−647 a.C. 728−675 a.C. 672−640 a.C. 700−678 a.C. Filho de Fraortes
Fraortes 647−625 a.C. 675−653 a.C. 640−620 a.C. 678−625 a.C. Filho de Déjoces
Mádies X 653−625 a.C. 635−615 a.C. X Governante interino cita
Ciaxares 625−585 a.C. 625−585 a.C. 620−584 a.C. 625−585 a.C. Filho de Fraortes
Astíages 585−550 a.C. 585−550 a.C. 584−550 a.C. 585−550 a.C. Filho de Ciaxares
Todas as estimativas cronológicas são da Enciclopédia Iranica (Média - Dinastia Meda)

Gerenciamento administrativo

editar

Atualmente, não possuímos informações diretas sobre a estrutura política, econômica e social dos medos. No entanto, é provável que em muitos aspectos o sistema administrativo medo se assemelhava ao da Assíria, sob cuja influência os medos estiveram por um longo período. Alguns elementos do sistema administrativo introduzido pelos assírios podem ter persistido nas províncias medas mesmo após a queda da Assíria.[1] Em vez de ser uma monarquia centralizada, o Estado medo era mais como uma confederação com vários governantes. O sistema de governo medo favorecia uma estrutura piramidal de lealdade, onde pequenos governantes prestavam sua lealdade a um rei provincial, que por sua vez, devia lealdade à corte central em Ecbátana. Esse sistema lembrava em certa medida o sistema satrapal e feudal.[60] O exercício de autoridade sobre os vários povos, iranianos e não-iranianos, na forma de uma confederação está implícito no antigo título real iraniano, “rei dos reis”.[30]

Os discursos de Jeremias datados de 593 a.C. mencionam "reis da Média" no plural, junto com sátrapas e governadores. Heródoto dá essa caracterização da estrutura do reino medo (1, 134): "... um povo governava outro, mas os medos governavam sobre todos e especialmente sobre aqueles que habitavam mais perto deles, e esses governavam sobre seus vizinhos, e assim por diante".[53] É assumido por alguns estudiosos que a estrutura administrativa meda mais tarde tenha se tornado uma forma mais desenvolvida no sistema administrativo do Império Aquemênida.[61]

Provavelmente, nunca existiu um império medo strictu sensu.[62] E o termo “império” para se referir à entidade política que os medos construíram pode não ser adequado.[63] Segundo Andreas Fuchs, o reino medo era provavelmente apenas uma frouxa federação de chefes e reis do Irã ocidental cuja unidade era mantida por seus laços pessoais com o rei medo, que era menos um monarca absoluto do que um primeiro entre iguais. Isso se encaixa na descrição de outros governantes "que marcham ao lado" do rei medo mencionados em fontes babilônicas.[32] Maria Brosius visualiza a Média como um território de chefaturas que, entre 614 e 550 a.C., uniram suas forças militares sob um senhor da cidade, tendo Ecbátana como sua base de poder.[64]

Corte real

editar
 
Representação artística de nobres medos

As informações disponíveis sobre a corte meda são muito limitadas e não totalmente confiáveis. Em sua descrição encantadora da juventude de Ciro II, Heródoto sugere que a corte meda incluía guarda-costas, mensageiros, o "olho do rei" (uma espécie de agente secreto) e construtores. Ctésias menciona o copeiro real como um dos cargos da corte meda. Ao fundar o Império Aquemênida, Ciro provavelmente continuou a organização e as práticas da corte meda, incluindo formas de etiqueta, cerimonial e protocolo diplomático que os medos, por sua vez, herdaram da Assíria.[65]

De acordo com Heródoto, assim que assumiu o trono, Déjoces ordenou que uma cidade-fortaleza fosse construída para ser sua capital; toda a autoridade governamental estava centralizada nesta cidade, Ecbátana.[28] Ele estabeleceu uma guarda real e um protocolo de corte muito rigoroso, de tal forma que os líderes das grandes famílias medas "o consideraram um ser de natureza diferente da deles".[21] Em circunstâncias normais, o monarca se mantinha isolado em seu palácio e ninguém poderia vê-lo, a menos que ele formalmente solicitasse uma audiência e fosse apresentado à presença real por um oficial. Ele estava cercado por guarda-costas para sua segurança pessoal e raramente deixava seu palácio, contentando-se com os relatórios do estado de seu reino que eram transmitidos a ele de vez em quando por seus oficiais.[38] Ninguém poderia rir ou cuspir diante da presença real, bem como na presença de qualquer outra pessoa, pois tal ato era considerado indigno e vergonhoso. Consolidada a autoridade real, Déjoces pôs-se a fazer justiça com toda severidade. Os processos lhe eram enviados por escrito; ele os julgava e os devolvia com a sentença.[66] Ele impôs a lei e a ordem introduzindo "observadores e ouvintes" em todo o seu reino, vigiando as ações de seus súditos.[28] Do mesmo modo como outros governantes orientais, o monarca medo tinha várias esposas e concubinas; e a poligamia era comumente praticada entre as classes mais ricas e proeminentes. As principais características da corte meda pode ter sido semelhantes ao da corte assíria.[38]

Os magos, segundo Heródoto, eram uma casta sacerdotal muito influente na corte considerados como pessoas honradas, tanto pelo rei, quanto pelo povo. Eles atuavam como intérpretes de sonhos, feiticeiros e conselheiros sobre diversos assuntos, inclusive os assuntos políticos. O cerimonial religioso estava sob sua responsabilidade, e provavelmente altos cargos de Estado foram concedidos a eles. A principal diversão da corte era a caça, que frequentemente ocorria em uma floresta onde se poderia encontrar leões, leopardos, ursos, javalis, jumentos selvagens, antílopes, gazelas, asnos selvagens e veados. Como de costume, esses animais eram perseguidos a cavalo e miravam-se neles com arco ou dardo.[38]

Exército

editar
 
Relevo aquemênida de um soldado medo, encontrado em Persépolis

Sabe-se pouco sobre o exército medo, mas certamente ele desempenhou um papel importante na história meda.[38] No final do século VII a.C., os medos alcançaram notável progresso militar sob Ciaxares, que, segundo Heródoto, dividiu o exército em unidades especiais; soldados de infantaria, lanceiros, arqueiros e cavaleiros, pois os gêneros mistos anteriores levaram a confusão do exército no campo de batalha. Isso indica que antes de Ciaxares, os medos entraram em guerra em organização tribal - cada chefe trazendo e liderando sua infantaria e tropas montadas - e que o rei treinou as forças em um exército dividido em grupos táticos com armas unificadas. Os medos usavam a carruagem com menos frequência e contavam principalmente com a cavalaria equipada com cavalos niseanos. Seus equipamentos marciais eram a lança, o arco, a espada e a adaga. Seu país montanhoso e natureza guerreira contribuíram para o desenvolvimento de um traje adequado para cavalaria: calças justas geralmente feitas de couro com um cinto extra para colocar uma espada curta; uma túnica longa e justa de couro e um elmo redondo de feltro com abas nas bochechas e protetor de pescoço, que também pode cobrir a boca; e um manto longo variegado jogado sobre os ombros e preso ao peito com mangas vazias suspensas nas laterais. O traje medo rapidamente ganhou popularidade entre outros povos iranianos.[67] A presença de soldados medos nos palácios assírios evidentemente influenciou significativamente a reestruturação das táticas militares medas, adotando técnicas mais avançadas.[9] A cavalaria meda era altamente treinada e bem equipada, e teve um papel importante na batalha contra os assírios.[68]

Ocupando a segunda posição mais importante no Império Aquemênida, os medos pagavam menos tributos, mas forneciam mais soldados ao exército persa do que outros povos. Assim os medos compunham uma porção significativa do exército aquemênida, isso é evidenciado pelos relevos de Persépolis e por Heródoto, bem como pelo fato de que muitos generais medos, como Hárpago, Mazares e Dátis, serviram no exército persa.[67] Segundo Heródoto, durante as guerras greco-persas os soldados medos não diferiram muito dos persas. Ambos lutavam a cavalo e também a pé usando lanças, arcos e adagas, grandes escudos de vime e carregando as aljavas nas costas. As características do exército medo original, conforme indicado nas Escrituras Hebraicas e por Xenofonte, é mais simplista que a descrição de Heródoto. O exército medo aparenta ter sido baseado na arquearia a cavalo. Treinados desde a infância numa diversidade de exercícios equestres e no uso do arco, os medos procederam contra seus inimigos montados a cavalo, semelhante aos citas, e obtiveram suas vitórias sobretudo por sua destreza ao disparar flechas enquanto avançavam ou recuavam. Evidentemente o terror que os medos inspiravam surgiu de sua habilidade excepcional na arquearia.[38]

Economia

editar
 
A criação de cavalos foi um dos principais ramos da economia meda

Os medos viviam um estilo de vida pastoral, com sua principal atividade econômica sendo criação de animais como gado, ovelhas, cabras, jumentos, mulas e cavalos. Este último era um dos principais prêmios cobiçado pelos assírios uma vez que os textos cuneiformes sobre as incursões assírias na Média mostram que os medos criavam uma excelente raça de cavalos. Em relevos assírios, os medos são às vezes representados usando o que parece serem capas de pele de ovelhas sobre as suas túnicas, e com botas altas com cordões, equipamento necessário para o trabalho pastoril nos planaltos, onde os invernos traziam neves e frio intenso. A evidência arqueológica mostra que os medos possuíam hábeis trabalhadores em bronze e ouro.[26]

O rico material arqueológico de Tepe Nus-i Jã, Godin Tepe e outros locais antigos, bem como relevos assírios, demonstram que na primeira metade do primeiro milênio a.C. existiram assentamentos do tipo urbano em várias regiões da Média, que eram centros de produção de artesanato e de uma economia agrícola e pecuária sedentária. Dos distritos medos, os assírios receberam tributo a cavalos, gado, ovelhas, camelos bactrianos, lápis-lazúli, bronze, ouro, prata e outros metais, além de tecidos de linho e lã.[1] Partes da Média eram ricas e produtivas, mas também havia muitas terras áridas. Nas regiões favorecidas da Média, como o Zagros e o Azerbaijão, o solo é quase todo cultivável e capaz de produzir uma excelente safra de grãos.[38] Ao sul do Cáspio há uma estreita faixa de solo fértil, onde a terra é coberta por uma densa floresta[26] que proporciona uma madeira de excelente qualidade.[38] A economia das aldeias se baseava em culturas como cevada, farro, pão de trigo, ervilhas, lentilhas e uvas. As montanhas generosamente arborizadas proporcionavam uma extensa gama de caça, mas a criação de animais continuava nobre; a amostra de ossos domésticos em Nus-i Jã inclui nove espécies, sendo as mais comuns ovelhas, cabras, porcos e gado. Há também indícios, inteiramente de acordo com a reputação milenar das pastagens da Média, de que a criação de cavalos acima mencionada desempenhava um papel significativo na economia local.[20]

Hilary Gopnik vê o Estado medo como uma "força econômica dominante" no controle das rotas comerciais do norte do Zagros nos séculos VII e VI a.C.[22] Sendo o povo mais poderoso no planalto iraniano na primeira metade do século VI a.C., os medos podem ter exigido tributo de povos como os persas, armênios, partas, drangianos e arianos.[56][40] A importância do tráfego da Média está principalmente relacionada ao controle de grande parte da rota leste-oeste que era conhecida na Idade Média como Rota da Seda. Essa rota ligava os mundos oriental e ocidental, e conectava a Média à Babilônia, Assíria, Armênia e ao Mediterrâneo no oeste, e à Pártia, Ária, Báctria, Sogdiana e China no leste. Outra estrada importante conectava Ecbátana com as capitais da Pérsia, Persépolis e Pasárgada. Além de controlar o comércio leste-oeste, a Média também era rica em produtos agrícolas. Os vales dos Zagros são férteis, e a Média era bem conhecida por suas plantas, ovelhas e cabras. O país poderia alimentar uma grande população e ostentava muitas aldeias e algumas cidades como Rages e Gabas.[8]

Os textos assírios mencionam cidades medas ricas, mas os saques registrados consistiam principalmente em armas, gado, jumentos, cavalos, camelos e ocasionalmente lápis-lazúli, obtido por meio do comércio medo mais a leste. Na época de sua unificação ou pouco depois, parece que os medos adquiriram meios para se abastecerem com riquezas mais substanciais. Isso é inferido por um trecho da "Crônica Babilônica" do século VI a.C., que menciona que o rei Ciro II levou prata, o ouro, bens, propriedades de Ecbátana como despojo para Ansã.[7]

Historicidade

editar
 
Mapa do Império Medo como é geralmente concebido durante o período de sua extensão máxima, mas na realidade muito hipotético

Até o final do século XX, os estudiosos geralmente concordavam que o colapso do Império Assírio foi seguido pela ascensão de um império medo. Dizia-se que o Império Medo se assemelhava ao posterior Império Aquemênida e governava uma vasta porção do antigo Oriente Próximo por meio século, até seu último rei, Astíages, ser derrubado por seu próprio vassalo, Ciro, o Grande.[2] Em 1988, 1994 e 1995, a historiadora Heleen Sancisi-Weerdenburg questionou a existência de um Império Medo como uma entidade política possuidora de estruturas comparáveis às dos Impérios Neoassírio, Neobabilônico ou Aquemênida. Ela lançou dúvidas sobre a validade geral de nossa fonte mais importante, ou seja, Medikos Logos de Heródoto, e apontou para lacunas nas fontes não-clássicas, principalmente para a primeira metade do século VI a.C.[47][69] Sancisi-Weerdenburg também destacou que praticamente apenas fontes clássicas gregas foram usadas pela historiografia moderna para construir a história meda, e que as fontes do antigo Oriente Próximo foram quase completamente ignoradas.[70] Ela argumentou que não há evidências diretas ou indiretas substanciais, não provenientes de Heródoto, que sustentem a existência de um Império Medo, e que tal império é uma construção grega a partir de poucos dados disponíveis via Babilônia.[48] Em 2001, foi realizado um simpósio internacional em Pádua, Itália, focado no problema do Império Medo. Não foi alcançado um consenso sobre a existência de um Império Medo, mas foi geralmente acordado que não há prova conclusiva para sua existência. A discussão persiste até o presente.[70][69][71]

Em torno de 650 a.C., as informações sobre as províncias assírias nos Zagros foram consideravelmente reduzidas, e as fontes assírias não mencionam mais os medos. Quando os medos reaparecem nos registros contemporâneos em 615 a.C., eles estão atacando a Assíria. Não há indicação de como Ciaxares trouxe uma força meda unificada para um uso tão eficaz e devastador. Atualmente existem dois pontos de vista acadêmicos contrastantes: a perspectiva tradicional vê Ciaxares como o rei de um Estado medo unificado que confrontou a Assíria como uma potência igual, enquanto a visão alternativa considera os medos como uma força militar que contribuiu para a queda da Assíria, mas carecia de coesão política.[22] A ausência de evidências assírias relevantes após 650 a.C. não descarta a existência de uma autoridade meda mais ampla centrada em Ecbátana. Algumas teorias sugerem que as demandas tributárias e a exploração comercial ao longo da Grande Estrada de Coração podem ter contribuído para o acúmulo de riqueza pelos chefes medos, levando um indivíduo ambicioso a buscar autoridade mais ampla. Alternativamente, conflitos entre chefes medos levaram à intervenção assíria convidada em 676 a.C. e o juramento de fidelidade em 672 a.C. As preocupações assírias com ameaças potenciais dos medos, citas e cimérios durante esse período podem ter criado uma oportunidade para o surgimento de um líder dominante. O ataque à Assíria de 615 a 610 a.C. provavelmente desempenhou um papel crucial na consolidação da autoridade desse líder.[48] David Stronach afirma que não há motivos suficientes para postular a existência de um reino medo robusto, independente e unificado em qualquer data antes de 615 a.C. No entanto, ele discorda de estender essa avaliação negativa para o período de 615 até meados do século VI.[24] Para o período de 615 a 550 a.C. as fontes babilônicas contêm duas informações importantes que estão de acordo com o relato de Heródoto: em 615-610 a.C., os medos, unidos sob a liderança de Ciaxares, destruíram as capitais assírias; em 550 a.C., o exército medo, sob a liderança de Astíages, desertou para rei persa Ciro, o que foi seguido pela conquista de Ecbátana. Assim, o início e o fim de um reino medo independente parece está presente, embora a natureza de tal reino não é necessariamente igual à descrita por Heródoto como um verdadeiro império prenunciando o Império Aquemênida.[9] É provável que um reino medo unificado tenha exercido controle sobre uma parte significativa do norte do Irã, pelo menos na primeira metade do século VI a.C. No entanto, alguns estudiosos também levantaram dúvidas sobre a existência de um reino medo unificado e de curta duração.[2] O historiador Mario Liverani propôs que não houve transição de senhores da cidade para governantes regionais ou reis, mas sim uma breve unificação sob um rei medo principal, especificamente para confrontar uma Assíria enfraquecida na década de 610 a.C., seguida por um rápido retorno ao status quo anterior.[17][9] Esta visão, no entanto, não é amplamente apoiada.[24][2]

Enquanto alguns estudiosos ainda consideram a Média um poderoso e estruturado império que teria influenciado o Império Aquemênida,[72] a existência de tal império ainda carece de evidências arqueológicas concretas.[73] Outros estudiosos consideram o Império Medo uma ficção criada por Heródoto para preencher uma lacuna entre o Império Assírio e o Império Persa em sua visão de uma sequência de impérios orientais.[72][47][9] Karen Radner conclui que, sem Heródoto e a tradição grega, é "altamente duvidoso" que os pesquisadores modernos postulariam a existência de um Império Medo. Heleen Sancisi-Weerdenburg expressou esse ponto de vista ao dizer que "o Império Medo existe para nós porque Heródoto diz que existiu".[27] Uma visão alternativa à noção de um império medo propõe uma frouxa confederação de tribos capazes de causar efeitos devastadores, como a conquista da Assíria, mas sem as estruturas, mecanismos e burocracias de controle imperial centralizado.[10][16] Essa confederação operaria por meio de alianças e dependências frouxas, impulsionadas por metas e ambições momentaneamente sobrepostas. Se alguma autoridade organizada e estável existisse, provavelmente estaria centrada na região central de Zagros, entre o Lago Urmia e Elão. A hipótese é sustentável e plausível, mas permanece uma probabilidade, uma vez que a evidência textual não é conclusiva.[73] Embora a evidência arqueológica apoie muitos dos julgamentos baseados em fontes textuais, pelo menos para o período até aproximadamente 650, ainda há incerteza suficiente para o período após 650 a.C. A reconsideração dos medos como uma confederação ou coalizão, em vez de um império "tradicional", se alinha com as evidências limitadas, mas tal reconsideração não necessariamente desvaloriza sua importância na história do Oriente Próximo.[16]

Segundo Matt Waters, a evidência existente mostra um rei medo exercendo influência ou autoridade diretamente ou indiretamente sobre muitos povos por meio de um sistema de governo hierárquico e informal, sem a existência de um "Império Medo" formal, ou seja, uma estrutura centralizada e burocrática.[17] Nos anos 590 a.C., Jeremias menciona 'os reis dos medos' (51:11) e 'os reis dos medos, seus vice-reis (pechah), todos os seus governadores (sagan) e todas as terras (eretz) de seus domínios (memshalah)' (51:27-28). A pluralidade de "reis" é impressionante (embora a Septuaginta use o singular “rei”); se o fato de que Jeremias (25:25) também lista "todos os reis de Elão e da Média" entre as nações condenadas mostra que o plural e o singular são simplesmente retoricamente intercambiáveis ​​é discutível. A possível explicação pode ser encontrada nas referências de Nabonido aos "Ummān-manda, seu país e os reis que marcham ao lado deles". Nabonido está apontando para uma ameaça unitária, composta por componentes que incluem uma pluralidade de reis. A fórmula de Jeremias pode ser uma maneira alternativa de expressar isso, especialmente porque o profeta hebreu não está preocupado com as complexidades da situação. As descrições de Nabonido e Jeremias são consistentes com a descrição do domínio medo por Heródoto em 1.134:[48]

Extensão territorial

editar
 
Território original dos medos antes de sua expansão

A extensão geográfica da Média é objeto de debate.[24] As fronteiras da Média mudaram gradualmente ao longo do tempo, resultando em uma extensão geográfica cujo detalhes precisos permanecem desconhecidos. O território original da Média, como era conhecido pelos assírios durante o período do último terço do século IX a.C. até o início do século VII a.C., era delimitado ao norte por Gizilbunda, localizada nas montanhas de Qaflankuh, ao norte da planície de Hamadã. A oeste e noroeste, a Média não se estendia além da planície de Hamadã e era delimitada pelas montanhas Zagros, exceto no sudoeste, onde a Média ocupava o vale de Zagros e sua fronteira se estendia até a cordilheira de Garrin, que a separava do reino de Elipi, localizado ao sul de Quermanxá. Ao sul, fazia fronteira com a região elamita de Simaški, que corresponde à atual província de Lorestão. A leste e sudeste, a Média parece ter sido delimitada pelo deserto de Cavir. Patusarra e o Monte Bicni provavelmente foram os territórios mais remotos da Média que os assírios penetraram durante sua maior expansão na segunda metade do século VIII a.C. e nas primeiras décadas do século VII a.C. Normalmente, os estudiosos identificam Bicni com o Monte Damavand, localizado a nordeste de Teerã. Outros estudiosos, no entanto, o identificam com o Monte Alvande, imediatamente a oeste de Hamadã. Se essa identificação estiver correta, significa que os assírios nunca cruzaram esta montanha e que todo o território medo que eles conquistaram ou conheciam ficava a oeste de Hamadã.[1] A evidência arqueológica disponível é limitada, mas o sítio mais a leste com cerâmica potencialmente meda é Tepe Ozbaki, situado a 75 km a oeste de Teerã; portanto, é provável que no leste a Média tenha se estendido pelo menos até lá.[24]

No século VI e depois, grande parte do norte do Irã e alguns territórios vizinhos foram atribuídos à Média. Isso foi o resultado das conquistas medas da segunda metade do século VII.[44] É comumente assumido que após a queda da Assíria no final do século VII a.C., os medos assumiram controle sobre uma vasta área estendendo das proximidades de Teerã, no leste, até o rio Hális, no oeste. Assim, o "Império Medo" teria governado sobre o Irã, a Armênia, o leste da Anatólia e o norte da Mesopotâmia, enquanto os babilônios controlaram o sul da Mesopotâmia e o Levante. No entanto, há dúvidas sobre essa assumida enorme expansão territorial.[47]

Expansão meda

editar

De acordo com Heródoto, Fraortes expandiu o reino redo conquistando a Pérsia, que nesse momento provavelmente era um Estado relativamente pequeno ao sul da Média.[24] O evento é descrito como parte de uma ampla onda de conquistas, onde Fraortes e seus sucessores subjulgaram vários principados ao longo da cordilheira de Zagros.[21] No entanto, a ideia de que a Pérsia teria sido um "vassalo" da Média baseia-se apenas em fontes clássicas posteriores e é considerada bastante improvável por alguns estudiosos.[9][47] Aparentemente, os medos não compartilhavam uma fronteira direta com o território neoelamita. No período neoassírio, a principal entidade ao norte de Elão era o reino de Elipi, mas seu poder parece ter declinado, e por volta de 660 a.C. o reino desapareceu dos registros históricos. É possível que, talvez após a queda da Assíria, os medos e elamitas tenham preenchido o vácuo deixado por Elipi. Com base em fontes bíblicas, Zawadzki sugeriu que Elão caiu sob o domínio dos medos pois Elão teria sido enfraquecido após as campanhas assírias na década de 640 a.C. Dandamayev chegou a uma conclusão semelhante, mas com a aceitação de uma dominação babilônica antes. Interpretações de passagens de Jeremias (Jer. 49:34-38) e Ezequiel (Eze. 32:24-25), que sugerem que Elão foi subjugado, são difíceis e não são destinadas como declarações históricas precisas. Uma vez que as evidências textuais e arqueológicas do Irã não indicam uma dominação meda do Cuzistão e tanto as fontes bíblicas quanto babilônicas não mencionam explicitamente a supremacia da Média sobre Elão, a ideia enfrenta muito ceticismo.[62]

O reino medo provavelmente anexou Manai ao seu território após a derrota dos assírios em uma batalha em 616 a.C.[74] O envolvimento dos medos com a Assíria de 615 a 610 é marcada por três, talvez quatro, campanhas, cada uma concluída com o saque de uma cidade importante. A partida dos medos após cada conquista sugere uma falta de interesse no controle político sobre o coração do antigo Império Assírio. Julian Reade sugere que as províncias assírias dentro do Zagros, como Mazamua, e talvez as regiões de Tušhan e Šupria no Tigre superior, eram as únicas mais adequadas para a expansão meda devido à sua familiaridade com o território medo. No entanto, às vezes é sugerido que os medos assumiram o controle do coração assírio, conforme afirmado por fontes gregas posteriores. Heródoto (1, 106), escrevendo por volta de 450 a.C., relata que Ciaxares conquistou toda a Assíria; o que quer que tenha sido entendido por Assíria nesse contexto. Ctésias, por volta de 400 a.C., menciona o reassentamento de Nínive sob o domínio medo. Xenofonte, que viajou pelo país em 401 a.C., considera a Assíria metropolitana como parte da Média. Ele chegou a dizer que Ninrude e Nínive eram antigas cidades medas conquistadas pelos Persas. A relevância dessas informações para a situação no século VI a.C. é duvidosa. A Crônica Babilônica registra que em 547 a.C., o rei persa Ciro passou por Arbela (atual Erbil) a caminho de atacar um reino cujo nome está danificado, mas que frequentemente se supõe que tenha sido a Lídia.[43] Foi argumentado que a travessia do Tigre a jusante de Arbela é uma evidência de que esta região em direção ao Zabe Inferior estava sob controle dos persas, indicando um controle medo anterior da região, enquanto o território ao sul deste rio era babilônico. No entanto, é possível que a Crônica apenas mencione a rota tomada por Ciro porque ele estava passando por território babilônico, com ou sem permissão.[69][43] A identificação de Xenofonte da margem leste do Tigre ao norte de Bagdá como 'Média' e a menção de Heródoto à região baixa de Matiene (5. 52. 5) permanecem questionáveis em termos de controle histórico medo a oeste do Zagros. A principal evidência da presença meda nas planícies da Mesopotâmia após 610 a.C. gira em torno de Harã. As inscrições de Nabonido indicam que a cidade estava vulnerável a incursões dos medos na década de 550 a.C., embora isso possa ter ocorrido em outros períodos também.[48] Os medos são descritos por Nabonido como responsáveis pela destruição do Ehulhul em Harã e como um impedimento ao seu desejado trabalho de reconstrução lá. Isso sugere que os medos controlavam o templo e, portanto, Harã. No entanto, a Crônica Babilônica registra a conquista de Harã em 610 a.C. e implica controle babilônico na cidade. Alguns estudiosos favorecem a versão da crônica, enfatizando os elementos propagandísticos das inscrições de Nabonido.[22][47] Em 550 a.C., Ciro conquistou Gutium, o que sugere que havia uma região no Zagros Ocidental que não estava sob controle medo nesse período, embora a localização exata de Gutium permaneça desconhecida. O papel de Ugbaru de Gutium como apoiador de Ciro pode decorrer de Gutium ter rejeitado recentemente a autoridade meda.[48]

 
De certa forma, a extensão do suposto Império Medo foi inferida a partir da extensão territorial do posterior Império Aquemênida.[9]

Segundo Heródoto, o controle medo no oeste se estendeu até o rio Hális, onde eles teriam compartilhado uma fronteira com os lídios. Ao contrário do problema de quem detinha o controle político sobre Harã, não há fontes contemporâneas que atestem uma presença meda se estendendo até o rio Hális.[47] O historiador Robert Rollinger reconhece uma guerra lido-meda. No entanto, ele questiona a fronteira do Hális, apontando para descrição errônea do curso do rio dada por Heródoto e a ausência de detalhes históricos na sua narrativa explicando como o Hális se tornou a fronteira entre os domínios lídios e medos.[47] Ele admite que os medos podem ter estado na Anatólia por um breve período de tempo e até mesmo concluído um tratado com os lídios, mas desconsidera que houve controle medo permanente na Anatólia oriental e central no século VI a.C.[73] O fim do reino de Urartu permanece obscuro devido à ausência de fontes escritas após os anos quarenta do século VII a.C. No entanto, parece haver um consenso de que o reino foi destruído pelos medos visto que a fronteira no Hális é aceita por muitos estudiosos.[47] A destruição de Urartu por forças externas tem sido convencionalmente datada por volta de 590 a.C., com base em referências na Bíblia Hebraica e nas crônicas babilônicas. S. Kroll, no entanto, observou que os textos relevantes podem se referir a uma região geográfica em vez de um Estado político, e ele sugere que o Estado urartiano se desintegrou por volta de 640 a.C. após uma invasão cita.[75] Sem nenhuma estrutura regional para resistir a incursões militares, os babilônios invadiram Urartu em 608-607 a.C., e talvez em 609 a.C., e mais tarde os medos devem ter afirmado sua autoridade sobre a região.[48] A Crônica de Nabonido relata uma campanha de Ciro, o Grande, em 547 a.C. para uma terra cujo nome está danificado no texto e apenas o primeiro caractere ainda é reconhecível. Embora seja debatido, a interpretação predominante o identifica como Lídia, lendo o caractere danificado como Lu-. No entanto, Joachim Oelsner identificou o sinal como Ú, o primeiro sinal de Urartu. É provável que Ciro, após conquistar a Média em 550 a.C., tenha passado vários anos estabelecendo seu poder sobre regiões que antes estavam sob controle medo como Urartu.[76] No entanto, considerando a visão da fragilidade do poder medo em sua ala ocidental e as dúvidas sobre a existência de um Império Medo, Rollinger conclui que Urartu provavelmente sobreviveu apenas para ser conquistado por Ciro. Mas pode ter havido um período de supremacia ou suserania meda, já que a inscrição de Beistum trata as revoltas no primeiro ano do reinado de Dario nessa região como parte das revoltas na Média, dividindo a 'Média' em pelo menos três partes: Média propriamente dita, Sagárcia e Urartu (Armênia).[69]

Heródoto e Ctésias sugerem que a autoridade meda se estendeu para o leste além dos Zagros, mas a extensão exata do domínio dos medos a leste permanece incerta. Ao ler a inscrição de Beistum de Dario para reconstruir uma Média que, sob Astíages, abrangia Média, Armênia e Sagárcia, parece razoável, mas a inscrição diferencia regiões orientais que muitos postulariam como tendo estado sob autoridade meda com base em fontes clássicas.[16] Pártia e Hircânia, por exemplo, são tratadas como entidades separadas.[48] Muitas áreas orientais que aparecem como partes do Império Aquemênida na inscrição de Beistum encontram pouca ou nenhuma menção nas fontes relevantes para a história política dos cinquenta anos anteriores, por exemplo, Ária, Drangiana e Aracósia, entre outras. Permanece desconhecido como e quando essas áreas foram incorporadas ao Império Persa.[16] Uma lista aquemênida inicial coloca a Média na décima posição, seguida por Armênia, Capadócia e províncias iranianas orientais (Pártia, Drangiana, Ária, etc.). A inclusão da Armênia e Capadócia em uma seção que começa com Média e depois se estende para o leste pode ser interpretada como uma indicação da antiga extensão territorial dos medos.[48] Segundo Ctésias, a vitória de Ciro sobre Astíages levou à submissão dos hircânios, partas, citas e bactrianos ao rei persa.[16] Segundo Heródoto, quando Ciro conquistou a Média, ele se deparou a leste com a missão de conquistar os masságetas, um povo nômade da Ásia Central, e Báctria (no atual Tajiquistão e norte do Afeganistão). Isso sugere que as regiões situadas mais a oeste, Hircânia, Pártia, Ária, Drangiana, já deviam pertencer aos medos. O fato de que durante as revoltas de 522 a.C. a Hircânia e a Pártia apoiaram o rebelde medo Fraortes também pode apontar para um controle anterior dos medos nessas regiões.[53]

De acordo com uma estimativa, a área do Império Medo pode ter abrangido um território de pouco mais de 2.800.000 km² tornando-o um dos maiores impérios da história,[77] mas é possível que nunca tenha ultrapassado o tamanho do Império Neoassírio, que em seu auge cobria 1.400.000 km².[78] Uma reavaliação recente das evidências históricas, tanto arqueológicas quanto textuais, levou estudiosos modernos a questionar noções anteriores sobre a extensão territorial dos medos. Assim, alguns estudiosos começaram a retirar da composição do “Império Medo” muitas de suas supostas “províncias” e “reinos dependentes”, como a Pérsia, Elão, Assíria, norte da Síria, Armênia, Capadócia, Drangiana, Pártia e Ária.[22] Assim, a influência e extensão territorial do Estado medo começou a se limitar ao território adjacente à de Ecbátana.[72][79]

Legado

editar

A formação do reino medo é um dos momentos decisivos da história iraniana. Foi o prenúncio da ascensão ariana ao poder dinástico, que continuou daí em diante, moldando a vida cultural e política no planalto iraniano e em outros territórios ocupados pelos iranianos.[80] Os povos iranianos se uniram pela primeira vez, criando um contrapeso político as principais potências do oeste, Lídia e Babilônia. A vitória persa sob a Média constituiu um passo em direção à glória para Ciro II, que então seguiu uma série de vitórias e funda o Império Aquemênida, o maior e mais poderoso Estado iraniano da história.[8] Segundo as fontes clássicas a vitória persa sobre os medos em 550 a.C. teria concedido ao rei Ciro um império já estabelecido, estendendo-se do rio Hális até a Ásia Central. Assim, o Império Aquemênida foi estabelecido com base em uma herança direta do Império Medo.[9] Alguns historiadores, ao analisarem o vocabulário administrativo e palaciano aquemênida, sugerem que os empréstimos linguísticos medos eram particularmente frequentes na titulatura real e na burocracia. Além disso, é hipotetizado que os medos transmitiram indiretamente tradições assírio-babilônicas e urartianas aos persas. A inferência é que Ciro assimilou as tradições medas, dada a supremacia política anterior da Média.[21]

Recentemente, vários estudiosos tem enfatizado, em vez disso, o papel crucial desempenhado pelos impérios desenvolvidos do Oriente Próximo, especialmente Elão e Babilônia, na articulação do Império Aquemênida.[46][22][62][21] A noção de que o Império Medo serviu como um canal para a transmissão das tradições assírias para o Império Aquemênida, impactando vários aspectos da arte, arquitetura e administração, tem sido questionada devido à "natureza nebulosa da entidade política meda". Enquanto a arte e a arquitetura apresentam evidências menos problemáticas para essa cadeia de transmissão proposta, o aspecto da administração e governo é onde as contribuições medas são mais questionáveis. A suposta transmissão de influências assírias para os aquemênidas via o Império Medo inclui elementos como o serviço postal assírio, a estrada real, deportações em massa, títulos reais, o sistema assírio de governo provincial e um sistema feudal de posse de terras. No entanto, o sistema governamental e administrativo neobabilônico parece ter sido muito semelhante ao sistema neoassírio, tornando-o um elo plausível para a influência das tradições assírias nos aquemênidas. Mas traços culturais assírios también podem ter chegado aos persas através do noroeste do Irã mesmo sem a existência de um Império Medo.[81]

Devido à sua localização, os persas eram muito suscetíveis à influência elamita. A permanência da influência elamita em todos os aspectos da vida social e política sugere que a organização do Reino de Ciro e de seus sucessores deve mais ao legado elamita, que pode ser identificado precisamente, do que aos empréstimos medos, que são muito difíceis de isolar.[21][9] No entanto, a importância significativa do Estado medo, e seu domínio através do Irã, centralizado ou não, como precursora da Pérsia aquemênida, não pode ser subestimada.[10] O papel da Média no Império Aquemênida é bastante peculiar. Não há uma conclusão definitiva, mas é possível que questões relacionadas a ideologias religiosas e sociais tenham sido a causa dessa peculiaridade.[9] Os gregos tendiam a confundir medos e persas, e o termo "medo" era frequentemente usado para se referir ao "persa". É a terminologia com a qual os gregos da Anatólia reagiram aos sucessores de Ciro II, mais tarde assumida por outros gregos, e é recorrente no conceito de medismo. É provável que esse fenômeno reside no caráter medo do território no qual o rei lídio Creso tentou conquistar e de sua desculpa para fazer isso, talvez reforçada por memórias do caráter temeroso dos medos com quem seu antecessor conseguira fazer um acordo.[48] Além dos gregos, os judeus, egípcios e outros povos do mundo antigo também chamavam os persas de “medos” e consideravam o domínio persa uma continuação do dos medos.[1]

 
Uma Bíblia escrita à mão em latim, em exibição na Abadia de Malmesbury, Wiltshire, Inglaterra

Os textos bíblicos consideram a Média como uma potência significativa. Os livros de Isaías e Jeremias retratam os medos como um inimigo potencial e viciosamente destrutivo da Babilônia.[48] O livro de Daniel menciona a visão das quatro bestas, que representam as antigas monarquias do Antigo Oriente que governaram a cidade de Babilônia:

  1. O leão com asas de águia: Império Neobabilônico;
  2. O urso: Império Medo;
  3. O leopardo de quatro cabeças com asas: Império Aquemênida;
  4. A besta de dez chifres com dentes de ferro: Império Macedônio de Alexandre, o Grande;

Há pouca dúvida sobre essa interpretação, mas o problema da interpretação é precisamente o Império Medo, que nunca conquistou a Babilônia e só é citado como um império importante mundial em textos gregos. O livro de Daniel menciona um governante chamado Dario, o Medo, que teria conquistado a Babilônia, mas essa figura é desconhecida em outras fontes históricas. É muito provável que o autor de Daniel, que escreveu por volta de 165 a.C., tenha sido influenciado pela visão grega da história e por isso tenha dado a Média uma importância exagerada.[59]

Na teoria da sucessão de impérios, a Média está após a Assíria e antes da Pérsia, ou seja, num período de entre 612 e 550 a.C. Na historiografia grega, esse esquema incluía o Império Assírio, Império Medo, Império Aquemênida e, mais tarde, o Império Selêucida foi incluído nele. Após a vitória de Pompeu sobre os selêucidas em 63 a.C., os historiadores romanos completaram o conceito dos quatro impérios, incluindo o Império Romano como o quinto e último. Os gregos consideravam o Estado medo como um império universal, cujo modelo correspondia ao aquemênida e, em geral, ao modelo oriental de Estado. Na tradição hebraica, o Império Babilônico ocupa o lugar do Império Assírio. Mas nem as tradições greco-romanas nem as hebraicas privaram a Média de seu papel proeminente na história. Somente na literatura judaica e cristã tardia que o segundo Estado foi identificado como Império Medo-Persa, o que, privou os medos de um papel independente na história mundial.[72]

Notas e referências

Notas

  1. As datas que o historiador grego Heródoto atribui aos quatro reis medos (Déjoces, Fraortes, Ciaxares e Astíages) somam 150 anos, colocando o início da dinastia meda em 700 a.C. No entanto, Heródoto também afirma que os medos governaram a Ásia por 128 anos. Assim, o início desses 128 anos teria sido em 678 a.C., que, segundo a cronologia proposta por George Rawlinson, é o ano em que o reinado de Fraortes começa. Fraortes teria derrubado o domínio assírio e, como afirma Heródoto, subjugado os persas e outros povos. Quanto a Déjoces, caso tenha existido, provavelmente foi apenas um chefe dos medos, que começou a consolidar a unidade das tribos medas.[1]
  2. A palavra "medo" (sentimento) é escrita da mesma forma que a palavra "medo" (referindo-se à Média ou ao seu habitante). No entanto, essas duas palavras têm pronúncias diferentes. "Medo" (sentimento) tem sua origem no latim "metu-" e é pronunciado como /mê-du/. Por outro lado, "medo" (referindo-se à Média) vem do latim "medu-" e é pronunciado como /mé-du/.[4]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x Dandamayev & Medvedskaya 2006.
  2. a b c d e f Rollinger 2021, p. 213-214.
  3. a b Curtis, Vesta Sarkhosh; Stewart, Sarah (8 de janeiro de 2010). Birth of the Persian Empire (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing 
  4. «Pronúncia de medo - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa». ciberduvidas.iscte-iul.pt. Consultado em 17 de setembro de 2020 
  5. a b Dandamaev 1989.
  6. Rollinger 2021, p. 338-344.
  7. a b Muscarella, Oscar White (1 de janeiro de 2013). Median Art and Medizing Scholarship (em inglês). [S.l.]: Brill 
  8. a b c d e f g «Medes». Livius.org. Consultado em 15 de junho de 2020 
  9. a b c d e f g h i j k l m n o p q Liverani, Mario (2003). «The Rise and Fall of Media» (PDF). In: Lanfranchi, Giovanni B.; Roaf, Michael; Rollinger, Robert. Continuity of Empire (?) Assyria, Media, Persia. Padua: S.a.r.g.o.n. Editrice e Libreria. pp. 1–12. ISBN 978-9-990-93968-2 
  10. a b c d e f g Matthews, Roger; Nashli, Hassan Fazeli (30 de junho de 2022). The Archaeology of Iran from the Palaeolithic to the Achaemenid Empire (em inglês). [S.l.]: Taylor & Francis 
  11. Prods Oktor Skjærvø, “IRAN vi. IRANIAN LANGUAGES AND SCRIPTS (1) Earliest Evidence,” Encyclopaedia Iranica, XIII/4, pp. 345-348, available online at http://www.iranicaonline.org/articles/iran-vi1-earliest-evidence
  12. a b c «Ctesias of Cnidus». Livius.org. Consultado em 18 de julho de 2021 
  13. a b «Ctesias | Greek physician and historian». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 30 de junho de 2020 
  14. Waters, Matt (24 de janeiro de 2017). Ctesias’ Persica in Its Near Eastern Context (em inglês). [S.l.]: University of Wisconsin Pres 
  15. Rollinger, Robert; Wiesehöfer, Josef; Schottky, Martin (1 de dezembro de 2011). «VII. Iranian Empires and their vassal states». Brill. Brill’s New Pauly Supplements I - Volume 1 : Chronologies of the Ancient World - Names, Dates and Dynasties (em inglês). Consultado em 6 de fevereiro de 2024 
  16. a b c d e f Waters, Matt. «Cyrus and the Medes». Consultado em 9 de janeiro de 2024 
  17. a b c d Waters, Matt. «Notes on the Medes and Their 'Empire' from Jer. 25.25 to Hdt. 1.134». Consultado em 9 de janeiro de 2024 
  18. a b Nijssen, Daan. «The Median Dark Age». Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  19. «ART IN IRAN ii. Median Art and Architecture». Encyclopaedia Iranica (em inglês). Consultado em 8 de outubro de 2022 
  20. a b «ARCHEOLOGY ii. Median and Achaemenid – Encyclopaedia Iranica». iranicaonline.org. Consultado em 30 de julho de 2020 
  21. a b c d e f Briant, Pierre (1 de janeiro de 2002). From Cyrus to Alexander: A History of the Persian Empire (em inglês). [S.l.]: Eisenbrauns 
  22. a b c d e f Waters, Matthew (2005). Lanfranchi, Giovanni B.; Roaf, Michael; Rollinger, Robert, eds. «Media and Its Discontents». Journal of the American Oriental Society. 125 (4). pp. 517–533. ISSN 0003-0279. JSTOR 20064424 
  23. a b Zaghamee, Reza (25 de setembro de 2015). Discovering Cyrus: The Persian Conqueror Astride the Ancient World (em inglês). [S.l.]: Mage Publishers 
  24. a b c d e f g h i Gopnik, Hilary (22 de janeiro de 2021). «The Median Confederacy». Academia.edu (em inglês): 39–62. ISBN 978-90-04-46064-5. Consultado em 19 de dezembro de 2023 
  25. «Tepe Nush-e Jan». Livius.org. Consultado em 29 de novembro de 2021 
  26. a b c d "Medos, Média". Estudo Perspicaz das Escrituras. 2. Escritura-Mísia. Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (1998).
  27. a b c d e f g h (em inglês) K. Radner, « An Assyrian View of the Medes », em Lanfranchi, Roaf y Rollinger (ed.), 2003, p. 37-64
  28. a b c «DEIOCES – Encyclopaedia Iranica». iranicaonline.org. Consultado em 9 de agosto de 2020 
  29. (em inglês) A. Panaino, « Herodotus I, 96-101 : Deioces' conquest of power and the foundation of sacred royalty », em Lanfranchi, Roaf y Rollinger (ed.), 2003, p. 327-338
  30. a b c d e f g «Historic Personalities of Iran: Median Empire». Iranchamber.com. Consultado em 5 de junho de 2020 
  31. «Ancient Iran». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 7 de agosto de 2020 
  32. a b c d e Radner, Karen; Moeller, Nadine; Potts, Daniel T. (14 de abril de 2023). The Oxford History of the Ancient Near East: Volume IV: the Age of Assyria (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  33. «AŠŠURBANIPAL – Encyclopaedia Iranica». iranicaonline.org. Consultado em 7 de novembro de 2020 
  34. Brown, 1990, p. 621-622
  35. Diakonoff 1985, p. 109.
  36. (Young 1988, pp. 19-21)
  37. "Media (ancient region, Iran)" Encyclopædia Britannica. Pesquisa em 28/04/17
  38. a b c d e f g h i j k l m n Rawlinson 2007.
  39. Heródoto, Histórias, Livro I, Clio, 102 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
  40. a b c d e f g «Cyaxares». Livius.org. Consultado em 8 de junho de 2020 
  41. «IRAN vi. IRANIAN LANGUAGES AND SCRIPTS (1) Ear – Encyclopaedia Iranica». iranicaonline.org. Consultado em 5 de agosto de 2020 
  42. «Assyria». World History Encyclopedia (em inglês). Consultado em 23 de setembro de 2021 
  43. a b c d e f g h Reade, Julian E. «2003. Why did the Medes invade Assyria?». Consultado em 12 de janeiro de 2024 
  44. a b M. Dandamaiev e È. Grantovski, “ASSYRIA i. The Kingdom of Assyria and its Relations with Iran,” Encyclopaedia Iranica, II/8, pp. 806-815, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/assyria-i (acessado em 02 de Setembro de 2021).
  45. Curtis, John; Collon, Dominique (1989). Excavations at Qasrij Cliff and Khirbet Qasrij (em inglês). [S.l.]: British Museum Publications 
  46. a b c Kuhrt, Amélie (15 de abril de 2013). The Persian Empire: A Corpus of Sources from the Achaemenid Period (em inglês). [S.l.]: Routledge 
  47. a b c d e f g h i (em inglês) R. Rollinger, « The Western Expansion of the Median “Empire”: A Re-Examination », em Lanfranchi, Roaf y Rollinger (ed.), 2003, p. 289-320
  48. a b c d e f g h i j k l Tuplin, Christopher. «Medes in Media, Mesopotamia and Anatolia: empire, hegemony, devolved domination or illusion?». Ancient West & East 3 (2004) [published 2005], 223-251 (em inglês). Consultado em 18 de outubro de 2020 
  49. «Cappadocia». Livius.org. Consultado em 11 de novembro de 2020 
  50. a b «IRAN v. PEOPLES OF IRAN (2) Pre-Islamic». Encyclopaedia Iranica (em inglês). Consultado em 7 de outubro de 2021 
  51. «Drangiana». Livius.org. Consultado em 3 de dezembro de 2020 
  52. «Arians». Livius.org. Consultado em 3 de dezembro de 2020 
  53. a b c Diakonoff 1985, p. 125-127.
  54. a b c «Astyages». Livius.org. Consultado em 5 de junho de 2020 
  55. a b Jacobs, Bruno; Rollinger, Robert (31 de agosto de 2021). A Companion to the Achaemenid Persian Empire, 2 Volume Set (em inglês). [S.l.]: John Wiley & Sons 
  56. a b «Cyrus the Great». Livius.org. Consultado em 28 de dezembro de 2020 
  57. «Amytis median and persian female name». iranicaonline.org. Consultado em 7 de abril de 2021 
  58. «Phraortes». Livius.org. Consultado em 9 de agosto de 2020 
  59. a b «Medes (2)». Livius.org. Consultado em 2 de junho de 2020 
  60. Frye, Richard Nelson (1984). The History of Ancient Iran (em inglês). [S.l.]: C.H.Beck 
  61. «Ancient Persian Government». World History Encyclopedia (em inglês). Consultado em 26 de outubro de 2021 
  62. a b c (em inglês) W. Henkelman, « Persians, Medes and Elamites, Acculturation in the Neo-Elamite Period », em Lanfranchi, Roaf y Rollinger(ed.), 2003, p. 181-231
  63. «BC 788 - 550 BC - Empire Median». globalsecurity.org. Consultado em 30 de julho de 2020 
  64. Brosius, Maria (29 de outubro de 2020). A History of Ancient Persia: The Achaemenid Empire (em inglês). [S.l.]: John Wiley & Sons 
  65. «COURTS AND COURTIERS I. In the Median and Achaemenid periods». Encyclopaedia Iranica (em inglês). Consultado em 7 de outubro de 2021 
  66. Heródoto, Histórias, Livro I, Clio, 99-100 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
  67. a b Shahbazi, A. Sh. «ARMY i. Pre-Islamic Iran». Encyclopaedia Iranica (em inglês). pp. 489–499. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  68. A. Sh. Shahbazi, “ASB i. In Pre-Islamic Iran,” Enciclopédia Iranica, 2/7, pp. 724-730, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/asb-pre-islamic-iran (acessado em 05 de Novembro 2021).
  69. a b c d Rollinger, Robert. «R. Rollinger, The Median "Empire", the End of Urartu and Cyrus' the Great Campaign in 547 BC (Nabonidus Chronicle II 16). In: Ancient West & East 7, 2009, 49-63». Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  70. a b Rollinger 2021, p. 337–338.
  71. Rollinger, Robert; Degen, Julian; Gehler, Michael (4 de junho de 2020). Short-term Empires in World History (em inglês). [S.l.]: Springer Nature 
  72. a b c d Гумбатов, Гахраман. «Тюрки Передней Азии в эпоху Мидийской империи». Consultado em 8 de janeiro de 2023 
  73. a b c Rollinger 2021, p. 344-345.
  74. Hassanzadeh, Yousef (25 de janeiro de 2023). «An Archaeological View to the Mannaean Kingdom». Asia Anteriore Antica. Journal of Ancient Near Eastern Cultures: 13–46. ISSN 2611-8912. doi:10.36253/asiana-1746. Consultado em 21 de janeiro de 2024 
  75. Steele, Laura. «Urartu and the Medikos Logos of Herodotus». Consultado em 28 de janeiro de 2024 
  76. «The End of Lydia: 547? - Livius». Livius.org. Consultado em 19 de janeiro de 2024 
  77. Turchin, Peter; Adams, Jonathan M.; Hall, Thomas D. (dezembro de 2006). «East-West Orientation of Historical Empires» (PDF). Journal of World-Systems Research (em inglês). 12 (2). pp. 219–229. ISSN 1076-156X. doi:10.5195/jwsr.2006.369. Consultado em 7 de julho de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 7 de julho de 2020 
  78. Taagepera, Rein (1979). «Size and Duration of Empires: Growth-Decline Curves, 600 B.C. to 600 A.D.». Social Science History (3/4): 115–138. ISSN 0145-5532. doi:10.2307/1170959. Consultado em 11 de outubro de 2020 
  79. Lanfranchi 2003, p. 397-406.
  80. Ehsan Yarshater, “IRAN ii. IRANIAN HISTORY (1) Pre-Islamic Times,” Encyclopædia Iranica, XIII/2, pp. 212-224 and XIII/3, p. 225, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/iran-ii1-pre-islamic-times (acessado em 25 de Outubro de 2021).
  81. Jursa, Michael (1 de janeiro de 2004). «Observations on the Problem of the Median 'Empire'on the Basis of Babylonian Sources». Lanfranchi, Roaf, and Rollinger. Consultado em 19 de janeiro de 2024 

Bibliografia

editar
  • Dandamayev, M.; Medvedskaya, I. (2006). «Media». Iranicaonline.org 
  • Boyce, Mary; Grenet, Frantz (1991), Zoroastrianism under Macedonian and Roman rule, ISBN 978-90-04-09271-6, BRILL 
  • Bryce, Trevor (2009). The Routledge Handbook of the Peoples and Places of Ancient Western Asia. From the Early Bronze Age to the Fall of the Persian Empire (em inglês). [S.l.]: Taylor & Francis. ISBN 0415394856 
  • Tavernier, Jan (2007), Iranica in the Achaemenid Period (ca. 550-330 B.C.): Linguistic Study of Old Iranian Proper Names and Loanwords, Attested in Non-Iranian Texts, ISBN 978-90-429-1833-7, Peeters Publishers 
  • Dandamaev, M. A.; Lukonin, V. G.; Kohl, Philip L.; Dadson, D. J. (2004), The Culture and Social Institutions of Ancient Iran, ISBN 978-0-521-61191-6, Cambridge, England: Cambridge University Press 
  • Stuart C., Brown (1990). «Medien (Media)». Reallexicon der Assyriologie und Vorderasiatischen Archäologie (em alemão). 7. Berlim: De Gruyter. pp. 619–623. BRO 
  • Diakonoff, I. M. (1985), «Media», in: Gershevitch, Ilya, The Cambridge History of Iran, ISBN 978-0-521-20091-2, 2, Cambridge, England: Cambridge University Press, pp. 36–148 
  • Citação:
  • Citação:
  • Van De Mieroop, Marc (2015), A History of the Ancient Near East, ca. 3000-323 BC, Wiley Blackwell 
  • Young, T. Cuyler (1997), «Medes», in: Meyers, Eric M., The Oxford encyclopedia of archaeology in the Near East, ISBN 978-0-19-511217-7, 3, Oxford University Press, pp. 448–450 
  • Stronach, David (1982), «Archeology ii. Median and Achaemenid», in: Yarshater, E., Encyclopædia Iranica, ISBN 978-0-933273-67-2, 2, Routledge & Kegan Paul, pp. 288–96 
  • Lanfranchi, Giovanni B.; Roaf, Michael; Rollinger, Robert (2003). Continuity of Empire (?) Assyria, Media, Persia (em inglês). Padoue: S.a.r.g.o.n. Editrice e Libreria. CON 
  • Windfuhr, Gernot L. (1991), «Central dialects», in: Yarshater, E., Encyclopædia Iranica, ISBN 978-0-939214-79-2, pp. 242–51 
  • B. Kienast, « The So-Called ‘Median Empire’ », dans Bulletin of the Canadian Society for Mesopotamian Studies 34, 1999, p. 59-67.