Dara (Mesopotâmia)

 Nota: Para outros significados, veja Dara (desambiguação).

Dara ou Daras (em grego: Δάρας) foi uma importante cidade-fortaleza bizantina no norte da Mesopotâmia, na fronteira com o Império Sassânida. Devido à sua importância estratégica, aparece proeminentemente nos conflitos romano-persas no século VI, com a famosa batalha de Dara ocorrendo diante de seus muros em 530. Hoje a vila turca de Oğuz, na província de Mardin, ocupa sua localização.

Dara
Arcadiópolis, Justiniana Nova
Δάρας
Dara (Mesopotâmia)
Ruínas de um edifício de Dara.

Ruínas de uma das cisternas.
Localização atual
Dara está localizado em: Turquia
Dara
Localização do sítio de Dara
Coordenadas 37° 10′ 40″ N, 40° 56′ 28″ L
País  Turquia
Província Mardin
Dados históricos
Fundação 506-507[1]
Abandono Após século VII
Cidade atual Oğuz

História

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Fundação por Anastácio

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Durante a guerra Anastácia em 502-506, os exércitos bizantinos saíram-se mal contra os exércitos sassânidas. De acordo com a crônica siríaca de Zacarias de Mitilene, os generais bizantinos culparam suas dificuldades com a falta de uma base fonte na área, ao contrário dos persas, que mantinham a grande cidade de Nísibis (que até sua cessão em 363 tinha servido para o mesmo objetivo para os romanos).[2]

Portanto, em 505, enquanto o Cavades I (r. 488-496; 498-531) estava distraído no Oriente, o imperador Anastácio I Dicoro (r. 491–518) decidiu reconstruir a vila de Dara, 18 quilômetros a oeste de Nísibis e apenas 5 quilômetros da fronteira com a Pérsia, para ser "um refúgio para o exército no qual podem descansar, e para a preparação de armas, e para guardar o país dos árabes das incursões dos persas e sarracenos". Pedreiros e trabalhadores de toda a Mesopotâmia foram reunidos e trabalharam com grande pressa. A nova cidade foi construída em três colinas, no alto da quais ficava a cidadela, e foi dotada de grandes armazéns, um banho público e cisternas d'água.[2] Levou o nome de Anastasiópolis (em grego: Ἀναστασιούπολις) e tornou-se a sede do duque da Mesopotâmia.[3][4]

Reconstrução por Justiniano

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De acordo com Procópio de Cesareia, a construção apressada dos muros originais resultou na baixa qualidade, e as condições climáticas severas da região exacerbaram o problema, ruindo algumas seções. Assim, o imperador Justiniano (r. 527–565) esteve compelido a realizar reparos extensivos na cidade, após o que renomeou-a como Justiniana Nova (em latim: Iustiniana Nova).[5] Os muros foram reconstruídos e o muro interno elevado um andar, dobrando sua altura para ca. 20 m. As torres foram fortalecidas e elevadas em três andares de altura, e um fossa foi cavada e cheia d'água.[6]

Os engenheiros de Justiniano também desviaram o próximo rio Cordes em direção à cidade, cavando um canal. O rio agora fluía através da cidade, garantindo amplo suprimento de água. Ao mesmo tempo, por meio de desviar seu fluxo para um canal subterrâneo que saiu 64 km ao norte, a guarnição foi capaz de negar água para um inimigo sitiante, fato que salvou a cidade em várias ocasiões.[7] Para evitar o perigo de inundações, que já uma vez destruiu grandes partes da cidade, uma elaborada barragem em arco foi construída para contê-la,[8] uma das mais antigas de seu tipo.[9][10][11][12][13] Além disso, quartéis foram construídos para a guarnição, e duas novas igrejas foram construídas, a "Grande Igreja", e uma dedicada a São Bartolomeu.[14]

História posterior

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A cidade foi depois sitiada e capturada pelos persas em 573-574,[15] mas foi devolvida para os bizantinos por Cosroes II (r. 590–628) após o tratado romano-persa em 590.[16][17][18] Foi tomada novamente por Cosroes II em 604-605 após um cerco de nove meses,[19][20] restaurada ao Império Bizantino por Heráclio (r. 610–641), até ser finalmente capturada em 639 pelos árabes.[1] Após a conquista muçulmana a cidade perdeu seu significado militar, declinou e foi eventualmente abandonada.

Referências

  1. a b Kazhdan 1991, p. 588.
  2. a b Zacarias de Mitilene século VI, p. VII.VI.
  3. Greatrex 2002, p. 96.
  4. Mass 2005, p. 488.
  5. Procópio de Cesareia, p. II.1.11-13.
  6. Procópio de Cesareia, p. II.1.14-21.
  7. Procópio de Cesareia, p. II.2.
  8. Procópio de Cesareia, p. II.3.16-21.
  9. Smith 1971, p. 54f.
  10. Schnitter 1987a, p. 13.
  11. Schnitter 1987b, p. 80.
  12. Hodge 1992, p. 92.
  13. Hodge 2000, p. 332, fn. 2.
  14. Procópio de Cesareia, p. II.3.26.
  15. Louth 2005, p. 113.
  16. Louth 2005, p. 115.
  17. Treadgold 1997, p. 231-232.
  18. Teofilacto Simocata século VII, p. I.3.11; I.15.1.
  19. Teófanes, o Confessor século IX, p. 292-293.
  20. Greatrex 2002, p. II.185-186.

Bibliografia

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  • Greatrex, Geoffrey; Lieu, Samuel N. C. (2002). The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars (Part II, 363–630 AD). Londres e Nova Iorque: Routledge. ISBN 0-415-14687-9 
  • Hodge, A. Trevor (1992). Roman Aqueducts & Water Supply. Londres: Duckworth. ISBN 0-7156-2194-7 
  • Hodge, A. Trevor (2000). «Reservoirs and Dams». In: Wikander, Örjan. Handbook of Ancient Water Technology, Technology and Change in History 2. Leiden: Brill. ISBN 90-04-11123-9 
  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8 
  • Louth, Andrew (2005). «The Eastern Empire in the Sixth Century». In: McKitterick, Rosamond; Fouracre, Paul; Reuter, Timothy; Luscombe, David Edward; Abulafia, David; Simon, Jonathan; Riley-Smith, Christopher; Allmand, C. T.; Jones, Michael. The New Cambridge Medieval History (I, c.500–c.700). Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-36291-1 
  • Schnitter, Niklaus (1987a). «Verzeichnis geschichtlicher Talsperren bis Ende des 17. Jahrhunderts». In: Garbrecht, Günther. Historische Talsperren. Estugarda: Verlag Konrad Wittwer. ISBN 3-87919-145-X 
  • Schnitter, Niklaus (1987b). «Die Entwicklungsgeschichte der Bogenstaumauer». In: Garbrecht, Günther. Historische Talsperren. Estugarda: Verlag Konrad Wittwer. ISBN 3-87919-145-X 
  • Smith, Norman (1971). A History of Dams. Londres: Peter Davies. ISBN 0-432-15090-0 
  • Treadgold, Warren (1997). A History of the Byzantine State and Society (em inglês). Stanford, Califórnia: Stanford University Press. ISBN 0-8047-2630-2