Iconoclastia

Período onde pessoas destruíram Ícones
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Iconoclastia ou Iconoclasmo (do grego εικών, transl. eikon, "ícone", imagem, e κλαστειν, transl. klastein, "quebrar", portanto "quebrador de imagem") é uma rejeição de imagens religiosas (pinturas, ícones, estátuas).

Página do Saltério Chludov criticando a iconoclastia. No fundo há uma representação da crucificação de Jesus no Gólgota. O artista compara os soldados romanos maltratando Jesus com os patriarcas iconoclastas João Gramático e o Antônio I de Constantinopla, destruindo o ícone de Cristo.

Foi também um movimento político-religioso contra a veneração de ícones e imagens religiosas no Império Bizantino que começou no início do século VIII e perdurou até ao século IX.[1] Os iconoclastas acreditavam que as imagens sacras seriam ídolos, e a veneração e o culto de ícones por consequência, idolatria.

Em oposição à iconoclastia existe a iconodulia ou iconofilia (do grego que significa "venerador de imagem"), ao qual defende o uso de imagens religiosas, "não por crer que lhes seja inerente alguma divindade ou poder que justifique tal culto, ou porque se deva pedir alguma coisa a essas imagens ou depositar confiança nelas como antigamente faziam os pagãos, que punham sua esperança nos ídolos [cf. Sl 135, 15-17], mas porque a honra prestada a elas se refere aos protótipos que representam, de modo que, por meio das imagens que beijamos e diante das quais nos descobrimos e prostramos, adoramos a Cristo e veneramos os santos cuja semelhança apresentam.[2]

Em 730, o imperador Leão III, o Isauro proibiu a veneração de ícones. O resultado foi a destruição de milhares de ícones pelos iconoclastas, bem como mosaicos, afrescos, estátuas de santos, pinturas, ornamentos nos altares de igrejas, livros com gravuras e inumeráveis obras de arte. O iconoclasmo foi oficialmente reconhecido pelo Concílio de Hieria de 754, apoiado pelo imperador Constantino V e os iconófilos severamente combatidos, especialmente os monges. O concílio não teve a participação da Igreja Ocidental e foi desaprovado pelos papas, provocando um novo cisma. Posteriormente a imperatriz Irene, viúva de Leão IV, o Cazar, em 787 convocou o Segundo Concílio de Niceia, que aprovou o dogma da veneração dos ícones, e recuperou a união com a Igreja Ocidental. Os imperadores que governaram após ela — Nicéforo I e Miguel I Rangabe — seguiram com a veneração. No entanto, a derrota de Miguel I na guerra contra os búlgaros em 813, levou ao trono Leão V, o Arménio, que renovou a iconoclastia.

Durante a regência da imperatriz Teodora, o patriarca de Constantinopla e iconoclasta João VII foi deposto, e em seu lugar erguido o defensor da veneração Metódio I. Sob a sua presidência em 843, ocorreu outro concílio, que aprovou e subscreveu todas as definições do Segundo Concílio de Niceia e novamente excomungou os iconoclastas. Ao mesmo tempo foi definido (em 11 de março, data da reunião do concílio em 843) a proclamação da memória eterna da ortodoxia e o anatematismo contra os hereges, ainda realizada na Igreja Ortodoxa atualmente como o "Domingo da Ortodoxia" (ou "Triunfo da Ortodoxia").

Antecedentes iconoclastas

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O símbolo do peixe (ICTYS), recorrente no início da iconografia cristã. O termo "peixe" em grego ἰχθύς (ichthýs) é o acrônimo de Ἰησοῦς Χριστὸς Θεοῦ Ὑιὸς Σωτήρ (Iēsõus Christòs Theõu Yiòs Sōtêr), Jesus Cristo Filho de Deus Salvador.[3]

Registros das comunidades cristãs primitivas, especialmente das catacumbas, indicam que estes representavam Jesus com imagens e iconografias, como um peixe, cenas bíblicas, e outros ícones representando santos e anjos.[4] Nos dois primeiros séculos há poucas esculturas e estátuas, uma vez que elas eram mais difíceis de confeccionar, e custavam mais caro. Mas a partir do século III surgem diversos exemplos de seu uso pelos fiéis.[4] Os cristãos também oravam pelos mortos e acreditavam na intercessão dos santos,[5][6] essas práticas eram conhecidas por alguns antigos grupos judeus, e especula-se que o cristianismo pode ter tomado a sua prática similar. Diversos Padres da Igreja atestam esta doutrina.[7] No século IV, as basílicas e os demais templos cristãos eram comumente decorados com ícones e mosaicos nas paredes. Nessa mesma época, Basílio, o Grande, bispo da Cesareia (atual Kayseri) referindo-se ao mártir Barlaam, incentiva os artistas a retratar a vida de um santo. São João Crisóstomo também escreveu sobre a distribuição de imagens de São Melécio de Antioquia e Teodoreto de Ciro, e relata que retratos de São Simeão eram vendidos em Roma.[8]

 
A mais antiga imagem conhecida de Maria com o menino Jesus Cristo.século II, Catacumbas de Santa Priscila, Roma

Apesar deste apoio a representação de pessoas santas e acontecimentos da história bíblica e eclesiástica, no mesmo período, surgem as primeiras objeções contra o uso de ícones. Por exemplo, Eusébio de Cesareia fala negativamente sobre o desejo da irmã do imperador ter um ícone de Cristo.[carece de fontes?] Epifânio ao ver na igreja um véu com a imagem de um homem, rasgou-o e o deu para cobrir o caixão de um mendigo.[carece de fontes?] Na Espanha, o Sínodo de Elvira (início do século IV) aprovou uma resolução contra as pinturas murais em igrejaː[8]

As pinturas nas igrejas e o que é retratado nas paredes não são, e não devem ser objeto de culto e adoração.

Até o início do século VI surgiram outras posições iconoclastas, devido à expansão do monofisismo. O líder monofisista Severo de Antioquia era contra os ícones de Cristo, da Virgem Maria, dos santos e até mesmo a imagem do Espírito Santo como uma pomba. Apesar da amplitude desse movimento, surgiram diversos santos e outras personalidades a favor da veneração de ícones, como Anastácio do Sinai, que escreveu em defesa dos ícones, e Simeão Estilita, o Moço queixou-se ao Imperador Justiniano II de ofender os "ícones do Filho de Deus e da Santíssima e Gloriosa Virgem".[8] Em algumas regiões, no final do século VI e início do século VII houve fortalecimento da iconoclastia, como em Marselha, em que o bispo Soren em 598 destruiu todos os ícones da igreja, o Papa Gregório Magno escreveu a ele sobre isso, elogiando o zelo para a luta contra a superstição, mas exigiu que os ícones fossem restaurados, uma vez que os fiéis eram pessoas comuns, em vez de livros, à congregação compreendia o verdadeiro caminho através dos ícones.[8]

O crescimento da iconoclastia surgiu especialmente em áreas do império que faziam fronteira com os territórios dos árabes do Islã (que eram hostis a imagens). Nesses locais o sincretismo também originou diversas outras heresias cristãs, tais como o montanismo e marcionismo. Uma vez que os seguidores do Islã consideravam ícones ilegais, os imperadores bizantinos, buscando uma convivência pacífica com os muçulmanos, fizeram concessões iconoclastas. Assim, o imperador Filípico antes de sua expulsão em 713, aprovou uma lei contra a veneração dos ícones.[8]

Causas da iconoclastia

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Pesquisadores[quem?] apontam as principais causas da iconoclastia em dois grupos:

  • Associação com o judaísmo e o Islã: Através da iconoclastia os imperadores bizantinos desejam destruir um dos principais obstáculos para a aproximação cristã com os judeus e muçulmanos, que possuem uma atitude negativa para com os ícones, assim facilitando a subordinação dos povos do império que professavam essas religiões.[9]
  • A luta contra a influência da igreja: Até o século VIII, a influência da Igreja no império cresceu substancialmente, havendo um aumento significativo na quantidade de propriedades da Igreja e dos mosteiros. Por esta razão, os imperadores iconoclastas desejavam desviar recursos humanos e dinheiro da igreja para o Estado. Uma vez que a influência econômica dos mosteiros provinha principalmente da confecção de imagens, foi proibida sua fabricação e veneração,[10] bem como muitas propriedades e mosteiros foram confiscados.[9]

Perseguição

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A destruição de ícones, mosaicos e afrescos

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Os iconoclastas em muitas regiões queimaram os ícones nas paredes dos templos, destruindo mosaicos e afrescos, bem como livros com temas cristãos. Um dos casos mais conhecidos de vandalismo foi a destruição da decoração da Igreja de Santa Maria de Blaquerna.[11] Uma obra da época sobre o assunto dizia: "… os ícones foram jogados — uns no pântano, outros — no mar, e outros — no fogo (…).".[12]

Perseguição e morte de iconófilos

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Pintura do século XIII que mostra a execução de monges.
Crônica de João Escilitzes, no manuscrito conhecido como "Escilitzes de Madrid".
Muitos chefes e soldados caluniaram o culto dos ícones, e comandaram várias execuções, e brutais torturas. Ele obrigou todos em seu reino a jurarem não cultuar ícones, e Constantino fez até o patriarca (…), subir ao púlpito, e (…) jurar que ele não acredita nos devotos dos santos ícones. Ele convenceu-o junto com outros monges, que [comemoravam] comendo carne e estando presente na mesa real com canções e danças.
 
Narração de incidente iconoclasta segundo a tradição popular Cronograma de Feofana (766 anos).

O assédio dos iconoclastas em primeiro lugar, afetou o monaquismo bizantino: Constantino V publicamente tomou partido da iconoclastia, assim seus partidários maltrataram e perseguiram monges: "… muitos monges morreram golpeados por chicotes e até por espadas, incontáveis ficaram cegos, em alguns foi jogado cera e óleo na barba, e foi colocado fogo nela e, assim, foi queimado o rosto e cabeça. Depois de muitas torturas outros foram mandados para o exílio".[8] Em uma das perseguições contra iconófilos, antes de sua execução, os monges foram forçados a comparar seus templos com o templo de Diocleciano.[13] Em 25 de agosto de 766, vários iconófilos foram publicamente ridicularizados e 19 dignitários foram punidos.[14] Várias das vítimas da perseguição mais tarde foram canonizadas (por exemplo, André de Creta e outros).

Ver também

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Referências

  1. Иконоборчество. http://slovari.yandex.ru/dict/bse/article/00029/11700.htm?text=иконоборчество. Большая Советская Энциклопедия. издательство = Советская энциклопедия. 1969 — 1978
  2. Denzinger, Henrici; Hünermann, Petrus, Enchiridion symbolorum, definitionum et declarationum de rebus fidei et morum (Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral), ISBN 978-85-15-03439-0. Verifique |isbn= (ajuda), versão portuguesa brasileira em 2007, Paulinas, pp. 460 (Denzinger-Hünermann [*1823); 
  3. «Análise dos símbolos religiosos». Compreender - Revista Cristã de Reflexão. Consultado em 18 de Outubro de 2008 [ligação inativa] 
  4. a b «Veneration of Images». Catholic Encyclopedia; New Advent. Consultado em 9 de novembro de 2010 
  5. Gerald O' Collins and Mario Farrugia, Catholicism: the story of Catholic Christianity (Oxford: Oxford University Press, 2003) p. 36; George Cross, "The Differentiation of the Roman and Greek Catholic Views of the Future Life", in The Biblical World (1912) p. 106; cf. Pastor I, iii. 7, also Ambrose, De Excessu fratris Satyri 80
  6. George Cross, "The Differentiation of the Roman and Greek Catholic Views of the Future Life", in The Biblical World (1912) p. 106
  7. Gerald O'Collins and Edward G. Farrugia, A Concise Dictionary of Theology (Edinburgh: T&T Clark, 2000) p. 27.
  8. a b c d e f Карташёв А. В. Вселенские соборы. Клин. 2004. pg. 574, 575, 576, 577, 601.
  9. a b Васильев А. А. Глава 5, раздел 4. Религиозные противоречия первого периода иконоборчества. История Византийской империи. 1. http://www.kulichki.com/~gumilev/VAA/vaa152.htm
  10. História Global Brasil e Geral. Volume único. Gilberto Cotrim. ISBN 978-85-02-05256-7
  11. Попова Ольга. Эпоха иконоборчества 730-843 гг. Византийские иконы VI—XV веков. http://nesusvet.narod.ru/ico/books/popova/popova2.htm
  12. Страдание святого преподобномученика Стефана Нового
  13. Карташёв А. В.,  
  14. Хронография Феофана, год 6257 / 757 (766)

Ligações externas

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