Controvérsia do materialismo
A controvérsia do materialismo foi uma controvérsia filosófica que ocorreu na Alemanha durante a segunda metade do século XIX, acerca da relação entre as ciências naturais e o materialismo, mais precisamente o possível viés intrinsicamente materialista das ciências. Seus efeitos no contexto filosófico alemão, os alinhamentos que produziu e os problemas que trouxe à tona, terminaram por moldar profundamente a filosofia alemã, constituindo-se um dos eventos filosóficos mais relevantes de sua história, ainda que pouco reconhecido desde então. [1] O materialismo reivindicado nesse período era uma modalidade de mecanicismo, fundamentado no imaginário científico, e tendendo ao ateísmo, enquanto que o outro lado da controvérsia mobilizava temáticas de caráter religioso,[1] moral e vitalista. Em boa medida, repetia elementos da controvérsia do panteismo que impactou a filosofia alemã do século XVIII.[2]
A contenda sinalizou a formação de uma materialismo científico animado pelo marcante crescimento das ciências da vida desde o início do século, especialmente os desenvolvimentos teóricos que contestavam as explicações vitalistas dos fenômenos orgânicos, que faziam apelo a uma espécie de poder vital, Lebenskraft, irredutível ao mecanicismo do mundo material. Adicionalmente, a recepção do darwinismo na alemanha na década de 1860 impulsionou ainda mais a obsolescência da teleologia e do organicismo até então prevalente no pensamento filosófico germânico.[3]
A origem da disputa pode ser localizada na conferência de Rudolph Wagner realizada em setembro de 1854, no Instituto de Fisiologia de Göttingen, intitulada Menschenschöpfung und Seelensubstanz ("A criação humana e a substância da alma"), cujo foco era a questão da origem humana e a morte,[4] e o estado da contribuição científica em explicar esses mistérios. O desenrolar da controvérsia pode ser organizado em duas fases - um debate prevalentemente filosófico entre materialistas e idealistas, de 1854 e até 1863; e, a partir de então, uma discussão acerca da teoria darwinista da seleção natural. Uma conferência famosa proferida por Ernst Haeckel, sobre o darwinismo, marca a transição entre ambas as fases.[3]
Referências
- ↑ a b Beiser 2014, pp. 53.
- ↑ Beiser 2014, pp. 54.
- ↑ a b Beiser 2014, pp. 55.
- ↑ Beiser 2014, pp. 56.
Bibliografia
editar- Beiser (2014), After Hegel: German philosophy, 1840-1900, ISBN 978-0-691-17371-9 (publicado em 2016), Wikidata Q122584748
- Bloch, Olivier (1990). Il materialismo [O materialismo] (em inglês). [S.l.]: Marzorati. ISBN 8828000902
- Pecere, Paolo (2023). «Materialism, Lebenskraft and the limits of science: metaphysical vitalism in post-Kantian scenarios». Notes Rec