Cidade murada de Kowloon
Cidade murada de Kowloon era uma área densamente povoada, com cerca de 1.270.000 hab/km², degradada e sem governo, localizada em Kowloon, Hong Kong. Originalmente uma fortaleza militar chinesa, a cidade murada se tornou um enclave após os Novos Territórios terem sido arrendados para o Reino Unido em 1898. Sua população aumentou drasticamente após a ocupação de Hong Kong pelo Império do Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1987, a cidade murada tinha cerca de 33 mil residentes dentro de seu território de apenas 26 mil metros quadrados, sendo considerada a área de maior densidade demográfica de toda a história da Terra. [1][2] De 1950 até a década de 1970, foi controlada por tríades e tinha altos índices de prostituição, jogos de azar e uso de drogas.
Em janeiro de 1987, o governo de Hong Kong anunciou planos para demolir a cidade. Depois de um árduo processo de despejo, a demolição começou em março de 1993 e foi concluída em abril de 1994. O Parque da cidade murada de Kowloon foi inaugurado em dezembro de 1995 e ocupa a área da antiga cidade murada. Alguns artefatos históricos do local, incluindo construções yamen e restos de seu portão sul, foram preservados. Foi considerada a maior favela vertical da história.[3]
História
editarAs origens da cidadela remontam a meados do século XIX, tendo o complexo se originado de uma fortificação militar, construída sobre as ruínas de um antigo posto de observação na Península de Kowloon.
Após a cessão da Ilha de Hong Kong para os britânicos em 1842 (Tratado de Nanquim), as autoridades imperiais chinesas julgaram necessário estabelecer um posto de observação militar para dominar a península e verificar periodicamente a eventual expansão da influência inglesa na área.
Em 1898, celebrou-se uma Convenção que cedeu outras porções do território chinês de Hong Kong para os ingleses, por 99 anos adicionais. A Convenção excluiu a Cidadela de Kowloon (então com população de cerca de 700 pessoas), que permaneceu no domínio da China, podendo esta manter tropas na península, desde que não interferissem nas atividades inglesas.
A Coroa inglesa logo desconsiderou esta parte do acordo, atacando Kowloon em 1899, mas encontrando-a completamente deserta. Nada foi feito com a Cidadela e a questão de sua propriedade foi deixada em segundo plano.
Por volta de 1940, a Cidadela se converteu em uma vizinhança altamente populosa, toda concentrada dentro das suas muralhas. O enclave permaneceu como parte do território chinês a despeito das intensas mudanças políticas da China (queda da Dinastia Qing, estabelecimento da República e, finalmente, advento do Comunismo)
A cidadela permaneceu como uma curiosidade e uma atração turística para colonos e turistas ingleses, que podiam sentir, visitando suas vielas, como era a China dos tempos antigos.
Com a ocupação de Hong Kong em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o Império do Japão evacuou a cidadela e a demoliu quase completamente (incluindo suas muralhas), para obter materiais de construção para obras militares.
Depois da rendição japonesa, a cidadela resistiu a diversas investidas inglesas, até 1948, para que a desocupassem. Sem muralhas para protegê-la, Kowloon tornou-se um refúgio certo para bandidos, salteadores e viciados em ópio, pois a polícia de Hong Kong não tinha direito de entrar na Cidadela e a China continental recusava-se a cuidar da questão.
Com o estabelecimento definitivo do Comunismo chinês, em 1949, milhares de refugiados (predominantemente de Cantão) emigraram para Kowloon. A Coroa inglesa já estava farta e passou a adotar um posicionamento mais interventivo na Cidadela. Um assassinato no interior das muralhas, em 1959, acendeu uma pequena crise diplomática e as duas nações ficaram tentando imputar uma a outra a responsabilidade pelo território, então completamente dominado pelas Tríades anti-Manchúria (o sindicato do crime organizado de Hong Kong).
O domínio das Tríades Chinesas durou até meados dos anos 1970, quando no biênio 1973-1974, cerca de 3.000 investidas policiais ocorreram na Cidadela de Kowloon, enfraquecendo brutalmente o poder de tais organizações criminosas.
Demolição
editarCom o tempo, tanto o governo britânico quanto o chinês começaram a ver a cidade cada vez mais como um problema intolerável, apesar da baixa taxa de criminalidade relatada.[carece de fontes] A qualidade de vida da cidade, em particular na área de condições sanitárias, estava muito aquém da do resto de Hong Kong. A Declaração Conjunta Sino-Britânica, em 1984, lançou as bases para a demolição da cidade. A decisão mútua para derrubar a cidade murada foi anunciado em 14 de Janeiro de 1987.[1]
O governo gastou cerca de US$ 350 milhões em compensação para os cerca de 33.000 moradores e empresas em um plano elaborado por uma comissão especial de Autoridade de Habitação de Hong Kong.[4] Alguns moradores não ficaram satisfeitos com a compensação e foram despejados à força entre novembro de 1991 e julho de 1992.[5] [6] Após quatro meses de planejamento,[7] a demolição da cidade murada começou em 23 de março de 1993[8] e concluída em abril de 1994. As obras de construção do Parque da Cidade Murada de Kowloon começaram no mês seguinte.[9]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b Goddard, Charles. «The Clearance». In City of Darkness: Life in Kowloon Walled City. [S.l.: s.n.] pp. 208–11
- ↑ «Conheça a cidade que teve a maior densidade demográfica da terra». Catraca Livre. 24 de setembro de 2013. Consultado em 3 de agosto de 2021
- ↑ vivercidades.org.br Arquivado em 12 de dezembro de 2010, no Wayback Machine. Especial: KOWLOON - A MAIOR FAVELA VERTICAL DO MUNDOAcessado em 28/02/2012.
- ↑ Lau, Esme (10 de dezembro de 1987). «$2.7 billion package for residents of Walled City» (PDF). Hong Kong Standard. (pede subscrição (ajuda))
- ↑ «Families evicted from slum city». Toronto Star. 28 de novembro de 1991. p. A3. Consultado em 25 de novembro de 2009. (pede subscrição (ajuda))
- ↑ Jonathan, Braude (3 de julho de 1992). «Last squatters evicted in Kowloon». The Times. Consultado em 25 de novembro de 2009
- ↑ Kang-Chung, Ng (19 de março de 1993). «Work to start on slum area». South China Morning Post. p. 4. Consultado em 25 de novembro de 2009
- ↑ Vines, Stephen (24 de março de 1993). «Demolition begins on HK's Walled City». Business Times. p. 4. Consultado em 25 de novembro de 2009
- ↑ «Kowloon Walled City Park – History/Background». Leisure and Cultural Services Department. 21 de outubro de 2004. Consultado em 6 de novembro de 2013. Arquivado do original em 13 de janeiro de 2013