Afonsinho

futebolista brasileiro
(Redirecionado de Afonso Celso Garcia Reis)

Afonso Celso Garcia Reis, mais conhecido como Afonsinho (Marília, 3 de setembro de 1947), é um médico e ex-futebolista brasileiro.[1]

Afonsinho
Informações pessoais
Nome completo Afonso Celso Garcia Reis
Data de nasc. 3 de setembro de 1947 (77 anos)
Local de nasc. Marília, São Paulo, Brasil
Nacionalidade brasileiro
Informações profissionais
Posição meia-armador
Clubes profissionais
Anos Clubes Jogos (golos)
1963–1966
1966–1970
1970
1971
1972
1973–1974
1975
1981
XV de Jaú
Botafogo
Olaria
Vasco da Gama
Santos
Flamengo
América-MG
Fluminense
Times/clubes que treinou

Um dos poucos jogadores que defenderam os 4 grandes clubes do Rio de Janeiro,[2] ele jogava como meia-armador. Foi revelado pelo XV de Jaú em 1962. Em 1965, foi transferido para o Botafogo, clube pelo qual foi campeão várias vezes, chegando inclusive a ser o capitão da equipe campeã do Campeonato Brasileiro (Taça Brasil), em 1968. Em julho de 1970, em razão de divergências com a diretoria do Botafogo, foi emprestado ao Olaria, na época comandado pelo técnico Jair da Rosa Pinto.[3] No mesmo ano, volta para o Botafogo. Ao voltar, ficou oito meses "encostado" no Botafogo, com o contrato suspenso. A diretoria alvinegra decidira impedi-lo de treinar enquanto não retirasse a barba e os cabelos compridos que passara a usar depois de voltar do empréstimo ao Olaria.[4] Afonsinho resolveu, então, deixar o clube e pediu a liberação de seu "passe", mas os cartolas do Botafogo negaram, e o jogador recorreu ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

"Por trás de tudo isso", conta o ex-jogador, "havia a tentativa de se impor uma medida de força também no esporte. A partir daí, juntamente com o meu pai, um ex-ferroviário que se formara em Direito, partimos para garantir o meu direito de trabalhar. Posteriormente, com a ajuda de outro advogado, Rui Piva, e o Rafael de Almeida Magalhães, conseguimos o passe livre no Superior Tribunal de Justiça Desportiva, mas só depois de muita luta".[5]

A estratégia dos advogados do jogador foi simplesmente "utilizar um princípio de direito comum na Justiça Desportiva", relembra o advogado Rui Carvalho Piva, patrono de Afonsinho.[6]

Afonsinho tornou-se o primeiro atleta do Brasil a ganhar o direito ao passe livre na justiça, em março de 1971. Esse direito só seria instituído exatamente 27 anos depois, pela Lei n° 9615, de março de 1998.[7]

A luta pelo passe livre

editar

Também atuou pelo Vasco da Gama, Santos, Flamengo, América-MG, Madureira e Fluminense.

Enquanto jogava futebol, estudava medicina. Participava do movimento estudantil, era politizado, combativo e ficou famoso por ser um dos primeiros jogadores de futebol a se rebelar contra a situação do atleta na época em que atuava, considerado um "escravo dos dirigentes e empresários", por não ser dono do próprio passe (vínculo negociável que liga o atleta profissional à agremiação que o contrata). Portanto, reivindicava o passe livre para os atletas, sendo um pioneiro na conquista desse direito.

Por sua atividade política dentro e fora do mundo do futebol, em pleno governo Médici, Afonsinho foi monitorado pelos órgãos de segurança do governo.[8] "Eu poderia ter sido preso”, diz Afonsinho, lembrando que chegou a ser chamado a entrar para a luta armada em fins da década de 1960. Afinal, entre a guerrilha e o futebol – mais precisamente o Botafogo - escolheu o segundo. "Se eu tivesse juízo, me internava num mosteiro para passar o resto da vida agradecendo", brinca.[9]

Afonsinho encerrou sua carreira no futebol em 1981, aos 34 anos, no Fluminense.[4]

Formou-se em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da UERJ e trabalhou no Instituto Pinel durante cerca de trinta anos, até se aposentar. No Pinel, utilizou o esporte como complemento do tratamento psiquiátrico. Apesar de aposentado, continua a trabalhar como médico do Programa Saúde da Família, na ilha de Paquetá, onde mora e ainda joga futebol, no time que fundou, com amigos, em 1975 - o Trem da Alegria, que já teve, como jogadores, craques como Garrincha e Nilton Santos, e outros, não tão craques, como Paulinho da Viola, Raimundo Fagner e Moraes Moreira.[3][10] O time se reúne três ou quatro vezes por ano para uma pelada, no pequeno estádio do Municipal Futebol Clube.[11]

Organizou, com alguns amigos, também ex-jogadores, uma escolinha de futebol para crianças carentes, no Rio.

Recentemente, após a morte do ex-jogador e também médico Sócrates, ídolo do Corinthians, Afonsinho substituiu-o como colunista na revista Carta Capital.[8]

Afonsinho na cultura brasileira

editar

Passe livre, o filme

editar

Em 1974, foi realizado Passe livre (documentário),[12] um filme de longa-metragem dirigido por Oswaldo Caldeira, baseado na vida de Afonsinho, que, por usar cabelos compridos e cultivar uma longa barba ruiva, foi proibido de jogar futebol (e mesmo de treinar) no Botafogo, embora seu nível técnico fosse considerado bom o suficiente para integrar a seleção brasileira. Os dirigentes do Botafogo nem mesmo aceitavam negociar o passe do jogador, apesar do interesse de outros grandes clubes, como o São Paulo. Diante da proibição de trabalhar, Afonsinho iniciou uma batalha jurídica e política, acabando por obter, em 1971, em plena ditadura militar, a propriedade de seu próprio passe, ou seja, conseguiu o passe livre, tornando-se o primeiro jogador de futebol "alforriado" do Brasil.[5] A partir deste incidente, o filme examina as relações de trabalho no futebol brasileiro, com a participação de vários jogadores, técnicos e comentaristas de renome, como João Saldanha, Jairzinho, Amarildo e outros.

Um filme sobre Afonsinho e seus companheiros de equipe no Botafogo, Paulo Cézar Caju e Nei Conceição foi lançado em 2016 pelo cineasta Lucio Branco, e prioriza o depoimento em primeira pessoa de cada um dos protagonistas. O título do filme, Barba, Cabelo e Bigode, é uma referência à marca de rebeldia consciente visível nos longos cabelos (e no caso de Afonsinho, longas barbas também) que usavam à época, desafiando as regras disciplinares impostas pelos clubes sob a tutela da ditadura militar.[13]

Títulos

editar
Botafogo

Referências

  1. «Paixão pelo futebol e pela Medicina». VREMESP. Consultado em 5 de setembro de 2022 
  2. torcedores.com/ Veja quem são os 17 jogadores que defenderam os 4 grandes clubes dos Rio de Janeiro
  3. a b Afonsinho, craque do passado, analisa o futebol do presente. Por Pedro Motta Gueiros. O Globo, 2 de maio de 2014.
  4. a b Prezado amigo Afonsinho. Por Eugênio Moreira. Estado de Minas, 16 de maio de 2013.
  5. a b Prezado amigo Afonsinho, por Plínio Sgarbi.
  6. SOUZA, Kleber Mazziero de. Prezado amigo Afonsinho. Método Editora, 1998, p. 197, apud MARTORELLI, Rinaldo José. Restrição de liberdade contratual na relação de trabalho do atleta profissional de futebol Arquivado em 5 de maio de 2014, no Wayback Machine.. Osasco: Centro Universitário Fieo, 2009, p.82.
  7. Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências.
  8. a b Ícone da esquerda na ditadura, Afonsinho diz ver gestão Marin comprometida, por Bruno Freitas. UOL, 16 de abril de 2013.
  9. Afonsinho: "fui chamado para a luta armada". Arquivado em 5 de maio de 2014, no Wayback Machine. Band.com.br, 2 de abril de 2014.
  10. Afonsinho mostra categoria em pelada no campo do Campos Arquivado em 5 de maio de 2014, no Wayback Machine.. Jornal Ururau, 28 de outubro de 2013.
  11. O dia em que vi Afonsinho e Nei Conceição em campo Arquivado em 5 de maio de 2014, no Wayback Machine.. Por Paulo Marcelo Sampaio. Arquiba Botafogo, 20 de agosto de 2012.
  12. Afonsinho, ex-Botafogo: "Falta democracia no esporte e no futebol". Entrevista por Ciro Barros, 13 de julho de 2012.
  13. Cineasta lança campanha por filme sobre rebeldes. Por Romulo Tesi. Band.com.br, 7 de abril de 2014.