Chapter Text
A sala de aula encontrava-se em completo silêncio, nenhum dos alunos se atrevia a interromper a aula de Luzu, o professor de Defesa contra as artes das trevas era bastante inflexível quanto a interrupções.
Mas se enganava quem pensava que os alunos deixavam de gostar dele por causa disso. Luzu, graças a falta de interrupções, conseguia dar o conteúdo rapidamente e sempre deixava os alunos livres durante os minutos que sobraram da aula.
Fora da sala o professor estava bastante presente na rotina dos alunos, sempre conversando com os que encontrava pelos corredores e comparecendo em todos os jogos de quadribol.
Roier, sentado em uma das cadeiras mais afastadas, tinha seus pensamentos tomados por algo que definitivamente não era o conteúdo o qual ele supostamente deveria estar aprendendo.
Mas no momento tudo que envolvia um certo sonserino parecia muito mais atrativo.
Nem ao menos notou quando a aula acabou, só voltou a realidade quando Rivers lhe deu um tapa na nuca após tentativas frustradas de chamar sua atenção.
— Ei, idiota! Tá no mundo da lua? — Rivers gritou, com a sua paciência de sempre — Nós temos treino hoje e só podemos começar quando você chegar, então trate de tirar a bunda daí.
— Eres ridícula, sabías?— Roier murmurou, recolhendo suas coisas e se levantando.
Infelizmente ele não poderia se dar ao luxo de ficar o dia todo apenas sonhando. Bufou ao guardar seus pertences no armário e se dirigir para o centro de treinamento.
Ele adorava quadribol, mas ter que lidar com um bando de jovens que não pareciam saber ficar quietos definitivamente não estava entre as suas atividades preferidas. Mas ele era o capitão, e com isso vinham as responsabilidades.
Ao chegar lá, Rivers e Fit já o esperavam, ambos devidamente uniformizados. Eles conversavam entre si antes de notarem a presença de Roier.
— Finalmente! Achei que eu ia ter que assumir o posto de capitão de tanto que você demorou, tava fazendo o que? — Fit brincou, trocando um high five com Roier, que o olhou debochado.
— Ele estava pensando no namoradinho dele, não é óbvio? — Rivers provocou o amigo, sorrindo abertamente com a careta de insatisfação que se formou no rosto do capitão.
— Es curioso, sigues bromeando sobre Cellbo y yo pero no dejas que nadie hable de ti y…
— EI! — Rivers foi rápida em tapar a boca de Roier, as bochechas alvas tomando um tom rosado — É completamente diferente, ok?!
— Rivers tá gostando de alguém? — Fit perguntou confuso.
— Sí.
— Não!
Roier e Rivers falaram ao mesmo tempo, a de cabelos loiros desferindo inúmeros tapas no braço tatuado de Roier, que apenas riu.
— Seu idiota, cala essa boca! — bufando enfurecida Rivers virou o rosto — Nunca mais conto nada pra você!
— Ei! E porque eu não sei disso? — foi a vez de Fit exclamar, um tanto indignado por ter sido deixado de lado.
— Porque não tem nada pra você saber.
Roier riu enquanto observava seus amigos discutirem entre si, satisfeito por ter tirado o foco do assunto de si.
Caminhando para o armário pegou um apito, se dirigiu para o centro do campo e o utilizou para chamar a atenção dos seus colegas de time, que se agruparam ao seu redor.
— Bueno, para el entrenamiento de hoy pensé en algo diferente — o capitão começou — Ganamos el último partido contra Sonserina, pero fue cuestión de suerte, si Rivers no hubiera desequilibrado a Etoiles probablemente nos hubiéramos quedado más tiempo jugando y los jugadores de Sonserina tienen una resistencia física envidiable, algo que muchos aquí no tienen.
Roier falava com uma seriedade um tanto incomum, era nítido o quão a sério ele levava o seu posto como capitão.
— Necesitamos mejorar esto — continuou — No tiene sentido dominar las técnicas de juego si la mitad del equipo no tiene la resistencia para aguantar un juego más largo. Así que hoy vamos a hacer unos ejercicios diferentes, ahora quince vueltas al campo, vamos!
Alguns jogadores murmuraram em descontentamento, mas Roier não deu a mínima.
O treinamento seguiu com mais alguns exercícios até que Roier avistou uma figura loira trajada com o uniforme esverdeado da Sonserina. O Grifinório abriu um sorriso e não pensou duas vezes antes de ir na direção dele.
— Ei, Rivers! Hazte cargo del entrenamiento por mí durante unos minutos — Roier jogou o apito na direção de Rivers, que o pegou e sorriu maldosamente antes de começar a gritar algumas ordens.
O garoto caminhou até Cellbit com um sorriso enorme no rosto, ajustando o rabo de cavalo que prendia seu cabelo.
— Oye, gatinho! No esperaba verte aquí.
— Ah, eu estava passando por aqui e decidi te ver — as bochechas de Cellbit tinham um leve tom rosado — e você não precisava ter saído do treino pra vir me ver sabe… eu posso esperar.
— Eres mas importante — Roier falou rapidamente, quase o interrompendo — Acabas de venir a verme o quieres decirme algo?
Roier sentiu um pouco de ansiedade inundar sua mente, e se Cellbit estivesse ali para cancelar o “encontro” que eles tinham? Ele não faria isso, faria?
— Ah, eu… queria te entregar isso — Cellbit tirou um pacote de doces do bolso, que curiosamente eram os favoritos do amigo — Philza me deu uns desses de manhã e como são os seus favoritos eu pensei que você iria gostar.
Roier sorriu novamente, sentindo-se aliviado. Pegou o pacote de doces e olhou para o Sonserino à sua frente, que estava especialmente adorável hoje.
— Muchas gracias, gatinho! Eres el mejor, sabías?
Roier passou os braços ao redor da cintura de Cellbit e o puxou para um abraço, e o loiro não pareceu se importar com o fato de que ele estava um pouco suado e retribuiu o abraço.
— Por nada — ele balbuciou um tanto envergonhado.
—Mientras estás aquí, está todo bien para hoy más tarde? — ele se afastou um pouco sem sair do abraço, olhando para os olhos azuis do sonserino.
— Claro, só preciso terminar umas poções — Cellbit pode jurar que viu um pouco de alívio pincelar a expressão de Roier ao falar aquilo — Te mando um bilhete quando terminar.
— Te veré más tarde entonces, gatinho.
Roier se soltou do abraço pois precisava continuar com o treinamento, mas se pudesse passaria o resto do dia ali com Cellbit.
— Até mais tarde, guapito — o sonserino sorriu levemente e se virou, caminhando para fora da área de treinamento com a mesma expressão boba que adornava a face do capitão.
Roier voltou para onde seus companheiros de equipe estavam ainda sorrindo, colocando o pacote de doces em seu bolso.
— E depois fala que ele não é seu namorado — Rivers murmura levemente.
Roier dá uma risada sarcástica e pega o apito de volta da mão da amiga.
— Vamos, sin perder el ritmo!— ele grita para os jogadores correndo, antes de se virar para Rivers — Y puedes unirte a ellos, vamos!
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Na sala comunal da Grifinória, Roier estava sentado em um dos sofás com seus amigos quando o bilhete mágico de Cellbit se materializou à sua frente.
Se levantou rapidamente e se dirigiu ao seu quarto, onde pegou algumas coisas e saiu, avisando aos amigos que iria se encontrar com Cellbit.
Andou animadamente pelos corredores de Hogwarts até chegar perto da comunal da Sonserina, onde o loiro já o esperava. Com um sorriso radiante, Roier caminhou até ele.
— Vamos? — ofereceu a mão para Cellbit, que prontamente aceitou, entrelaçando seus dedos com os dele.
Eles caminharam até chegarem no escritório de Philza, que cumprimentou os garotos. Roier guiou Cellbit até a lareira, pegando um pouco de pó de Flu.
— Vamos viajar pela Rede de Flu? Você pediu permissão pra isso? — Cellbit perguntou desconfiado.
— Claro, ayer ya hablé con Phil — o grifinório o tranquilizou, puxando-o para perto antes de usar o pó de Flu para os transportar.
Em poucos segundos os dois bruxos estavam no Beco Diagonal, naquele horário muitas das lojas já estavam abertas.
Sem querer perder tempo, Roier puxou Cellbit gentilmente pela mão, o guiando pelas pessoas e lojas até chegar na Sorveteria Florean Fortescue.
— Sorvete? Me parece uma ótima ideia — Cellbit riu, era a cara de Roier o levar para um lugar assim.
— Helado siempre es una gran idea. — cantarolou, claramente animado.
Eles adentraram a pequena e aconchegante sorveteria.
Era um ambiente tranquilo, isolado da maior parte do tumulto das outras lojas. Cellbit agradeceu por isso pois muitas das vezes ele não gostava de ir ao Beco Diagonal justamente pela quantidade exorbitante de pessoas ali e pelo barulho que resultava dessa lotação.
Roier sabia dos incômodos do amigo, portanto escolheu a sorveteria justamente por isso, o conforto dele era a sua prioridade e sempre seria.
Desde o dia em que se conheceram, Roier sentiu um carinho especial por Cellbit. Carinho esse que apenas aumentava conforme o tempo passava, quanto mais se aproximava de Cellbit, mais ele queria o proteger de tudo e todos.
Se Roier pudesse ele tiraria toda dor que assombra a vida de Cellbit, mas enquanto ele ainda não consegue fazer isso, fazer aqueles olhos azuis se iluminarem de felicidade com um sorvete bastava.
— Otra vez helado de fresa? — Roier riu levemente, era engraçado como Cellbit sempre pegava o mesmo sabor todas as vezes.
— Claro, morango é delicioso! — justificou, saboreando o doce gelado.
Cellbit adorava sorvete de morango, o motivo? Além do gosto suave e pouco enjoativo, também tinha o fato de que os morangos são vermelhos.
Ele começou a gostar da cor vermelha pois quando ainda morava com seus pais uma senhora muito gentil que morava ao lado cultivava lindos morangos em sua horta.
Sempre que seus pais o batiam ou o castigavam ele se esgueirava para a casa da velha mulher, que o acolhia e oferecia alguma delícia feita com os morangos suculentos que ela plantava.
Depois que foi expulso de sua família ele nunca mais voltou a ver aquela senhora, mas o amor pela fruta avermelhada continuava presente.
Vermelho também era a cor de Roier, não só porque era a cor da Grifinória, mas porque ele parecia ter sido feito para usar vermelho. Nenhum outro aluno da Grifinória ficava tão bem de vermelho quanto ele, e com isso Cellbit passou a gostar ainda mais de vermelho.
Após terminarem de tomar o sorvete, os garotos seguiram pelas demais lojas, se divertindo com alguns produtos um tanto bizarros que encontravam, mal vendo quando a tarde se aproximava ao seu fim.
Roier então levou Cellbit para um lugar um tanto afastado das lojas, onde possuía uma espécie de parque com árvores e espaços verdes. Eles se sentaram ali, aproveitando a leve brisa de fim de tarde.
Cellbit não se lembra em que momento eles se aproximaram tanto a ponto dele poder descansar sua cabeça sobre os ombros de Roier, apenas que era extremamente confortável estar alí com ele, mesmo que em silêncio apenas observando a paisagem ao redor.
— El cumpleaños de mi abuelo es la próxima semana y tendrá una fiesta, así que probablemente me perderé un par de días de clases — Roier começou enquanto acariciava levemente os cabelos do outro — ....Te gustaría venir conmigo?
— Eu? Ir na festa do seu avô? — o moreno assentiu com um sorriso — olha eu adoraria… mas é um evento da família, não?
— Tu también eres parte de mi familia — Roier falou com tanta convicção que Cellbit sentiu seu coração acelerar — Y ya hablé con mi abuelo y me dijo que está bien que te vayas.
— Bom, se está tudo bem então eu vou sim — Cellbit sorriu, genuinamente feliz de Roier o querer por perto em momentos íntimos da família assim — só preciso pedir autorização para o Philza.
— Ya le pregunté y aceptó porque según él necesitas salir más de tu habitación.
Cellbit riu levemente.
— Você já estava planejando isso?
— Definitivamente.
Eles riram e aproveitaram o resto de tarde, antes de voltarem para escola, onde Roier acompanhou Cellbit até a porta da comunal da Sonserina.
— Bom, acho que nos despedimos aqui.
— Si, buenas noches gatinho! — antes que Cellbit pudesse responder, Roier lhe deu um pequeno beijo de despedida na bochecha, perigosamente perto de sua boca, que o fez arregalar os olhos — Sueña conmigo, si?
E assim Roier saiu, deixando Cellbit com uma expressão surpresa e corada. Mas logo um sorriso bobo surgiu nos lábios do bruxo loiro.
— Esse idiota ainda vai me matar do coração. — Cellbit suspirou alegremente e se dirigiu para o seu quarto.
Tinha muitas coisas para atualizar em seu diário.