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Familiar Estranheza

Summary:

Stiles aceitou a mordida de Peter, e com isso esperava se transformar em um lobisomem. Os aspectos lupinos nunca vieram, entretanto, somente estranhos fenômenos acontecendo ao seu redor.

Notes:

Dia 4/7 da Steter Week!

Essa é a primeira história do dia, e o prompt de hoje é: Reacendendo Uma Chama Antiga.

ATENÇÃO! Essa história tem uma continuação, que é a segunda história de amanhã (Familiar Ligação), mas pode ser lida sozinha.

(See the end of the work for more notes.)

Work Text:

"Não desperdice seu tempo comigo, você já é 
A voz dentro da minha cabeça” 

I Miss You – Blink-182  

 

 

Stiles segura o pulso sangrento contra o peito ao se escorar no Jeep. Cerrando os dentes diante da dor, ele encara Peter indo embora da garagem em busca de sua vingança enquanto ele é deixado para se curar ou morrer sozinho.  

Sua visão está um pouco turva ao passo que suas pernas perdem a força. Ele escorrega até estar sentado no chão sujo e se permite um momento para avaliar o dano em sua pele.  

A marca da mordida de Peter arde como ferro em brasa, mas o que conforta Stiles são os indícios de que o sangramento está estancando sozinho. Peter havia dito que ela o transformaria ou o mataria, e não tendo mais espaço para arrependimentos, lhe restava esperar que o transformasse.  

Se perguntado mais tarde, Stiles não saberia precisar o que o havia convencido a aceitar a proposta do lobo, mas não é como se alguém fosse perguntar, uma vez que ele nada disse a ninguém.  

Depois de se recompor o suficiente para se levantar do chão, as coisas ficaram confusas ao ponto de ele sequer lembrar de como chegou em casa, ou como conseguiu consertar as chaves do Jeep o suficiente para ele estar estacionado em frente de sua casa agora. Mas abrindo os olhos para a manhã, os acontecimentos da véspera passavam por sua mente sob um véu, como um sonho febril unido aos tentáculos da realidade. Ele estava vivo, e fora uma pequena mancha de sangue em seu lençol, nada poderia evidenciar o presente que Peter o havia dado.  

Animado com a nova perspectiva sobrenatural, Stiles pulou da cama com pressa, encaminhando-se ao banheiro, onde parou em frente ao espelho. Nada parecia diferente, ele meditou, sua pele ainda tinha tantas pintas e marcas quanto ontem. Seus músculos eram tão franzinos quanto sempre foram. Seus dentes, comuns e alinhados, eram humanos como qualquer outro. Nem mesmo seus olhos delatavam qualquer brilho além do refletido pela luz clara da lâmpada. Ele ainda se parecia com ele mesmo.  

Tentou lembrar então de Scott, de como quando ele foi mordido os sintomas não tardaram em aparecer, principalmente considerando o fato de que ele não tinha ideia do que estava acontecendo na época.  

Talvez organismos diferentes trabalhem de maneiras diferentes, Stiles pensou, então deu de ombros e foi tomar um banho antes de trocar os lençóis a fim de evitar que seu pai visse o sangue.  

À medida em que os dias passavam Stiles se tornava mais e mais apreensivo. Nada estava mudando. Nem dentes, nem olhos, nem força ou unhas. Ele não perdia o controle quando estava com raiva, não ouvia coisas que não devia nem cheirava como um cão farejador. Nada aconteceu.  

Não até ele começar a notar que coisas estranhas aconteciam ao seu redor. Não estranhas em seu corpo ou temperamento, mas estranhas no ambiente, como lâmpadas piscando quando ele se sentia irritado, folhas de papel que serpenteavam no ar ao menor sinal de frustração, a chave do Jeep voando direto para sua mão em um dia especialmente preguiçoso, fechaduras abrindo e trancando-se de acordo com sua necessidade, e um dia memorável quando fugia de valentões na escola, onde desejou fortemente não ser visto, somente para seus importunadores passarem direto por ele como se não houvesse nada lá.  

Não ter se tornado um lobisomem ainda o preocupava demais, apesar de tudo. Stiles queria ter a força, a resistência e a cura de um lobisomem, queria brilhar como uma estrela no time de lacrosse, não se esconder pelos cantos e ter de repor lâmpadas queimadas toda semana. Mas além da internet e livros emprestados da biblioteca, ele não tinha muitos recursos para descobrir o que deu errado. Peter parecia absolutamente sincero quando lhe ofereceu a mordida, se é que já vira o homem ser honesto uma vez na vida, então talvez o erro não estivesse no ato em si, mas no portador .  

Talvez ele fosse patético demais até para se transformar em um predador de ponta, Stiles pensou com desânimo, irritando-se quando as luzes começaram a piscar novamente.  

Pensou em ir até Derek com suas dúvidas, mas logo descartou a ideia ao ver sua complicada relação com seus novos betas. Scott também não era uma opção, pois odiava Peter acima de qualquer coisa, e não entenderia os motivos de Stiles ter aceitado de bom grado a mordida. Deaton era igualmente uma ideia ruim, uma vez que não conseguia confiar no homem esquivo. E tendo Peter sido morto naquela noite, não lhe sobrava ninguém para recorrer, ninguém para pedir ajuda.  

Então em silêncio ele aprendeu a lidar com a falta de poderes lupinos e o excesso de estranheza que lhe rodeava. Stiles percebeu que muito estava diretamente ligado às suas emoções mais fortes, e em busca de alternativas começou a meditar e treinar a extensão do que poderia afetar, aos poucos gerenciando seja o que for que despertou em si depois da mordida.  

Algum tempo depois ele tinha tudo sob controle. As lâmpadas não queimavam, nem mesmo piscavam, folhas e cortinas não voavam e ele aprendeu a mover os objetos sob sua vontade e a evitar isso caso não quisesse, portanto Stiles sabia que havia alguma coisa de muito errada quando no aniversário de Lydia as coisas estranhas voltaram a acontecer de uma só vez e com força, e desesperado ele fugiu da festa, grato ao completo estado ébrio em que todos pareciam se encontrar, ocupados demais com suas mentes enevoadas para notar os fenômenos rodeando Stiles Stilinski.  

Com o coração batendo rápido e as mãos tremendo, Stiles correu até seu carro e dirigiu para casa, assustando-se com cada poste na beira da estrada que falhava sua luz, o limpador de para-brisa do Jeep que se recusava a se desligar e o rádio que pulava estações mesmo que Stiles sequer tenha tocado nele naquela noite.  

Ele não precisou das chaves para entrar em casa, pois a porta destrancou sozinha, e quando a lâmpada de seu quarto perdeu a vida ele pouco se importou, somente se deitou na cama e lutou para controlar a respiração e seus sentidos, acalmando sua mente e corpo.  

O dia seguinte o saudou com a notícia de que Peter havia levantado dos mortos com a ajuda de Lydia e Derek, e a realização disso fez algo em seu interior se agitar desconfortavelmente. Stiles se encontrava apreensivo, preocupado com o pensamento de o que significaria para ele ter Peter vivo novamente. Com o homem por perto, não haveria possibilidade de Stiles manter o segredo que compartilhavam, pois o alfa viria atrás de seu beta voluntário, um beta que não teria nada além do fracasso de uma mordida para apresentar. Que não teria desculpas ou motivos plausíveis para dar ao melhor amigo. Que não teria como fingir que seja o que for que lhe deu poderes paranormais nada lupinos despertou quando Peter o mordeu.  

Naquele dia, a cabeça de Stiles rodava com pensamentos e mais pensamentos, o nervosismo pintando seu cheiro de modo que recebeu mais de um olhar preocupado de seus colegas lobisomens. O horário de saída da escola foi uma bendição muito bem-vinda, e Stiles dirigiu para casa com destreza, estranhando o fato de que quanto mais próximo ficava de seu destino, mais nervoso ele se sentia.  

Seria incorreto afirmar que o garoto ficou surpreso ao encontrar ninguém menos do que Peter Hale sentado em sua cadeira no quarto, preguiçosamente folheando suas anotações da escola enquanto o aguardava chegar. Isso, entretanto, não anulava o sentimento ocre dentro de seu peito, a estranha emoção nervosa permeada de um alívio que jamais sentira antes, como se só então ele estivesse completo.  

― Então, você agora é um zumbi? ― Stiles perguntou nervosamente, largando sua mochila sobre a cama como se encontrar um lobisomem ressuscitado em seu quarto fosse uma ocorrência comum. ― Ou é mais como, sei lá, Jesus? Corpo e alma e essas coisas?  

Fechando o caderno com um baque ruidoso, Peter se levantou e sorriu, caminhando lentamente em direção à Stiles, parando ao alcance de um braço antes de analisá-lo de cima a baixo.  

― Estou tão vivo quanto poderia estar ― respondeu o lobo, inclinando a cabeça. ― Pensei em passar para ver como estava meu beta favorito, mas alguma coisa não está certa, não é?  

Acanhado, Stiles moveu o peso de uma perna para outra, desviando o olhar e recuando um passo para trás, subitamente ainda mais nervoso com a proximidade e a atual necessidade de ser honesto com mais alguém além de si próprio sobre sua condição.  

― Você não cheira a lobo ― Peter ronronou, chegando mais perto, e Stiles percebeu com um clique de surpresa que não tinha mais para onde fugir, pois suas costas encontravam finalmente a madeira da porta fechada. ― Mas eu ainda sinto uma ligação com você, mais sólida e intrincada do que qualquer laço de matilha. Me diga, meu menino, o que você se tornou?  

― E-eu não sei ― Stiles gaguejou, afastando o rosto para o lado oposto de Peter, sem querer dando ao lobo um melhor acesso ao seu pescoço. ― Mas eu não estou morto, então, yey, bônus para o Stiles.  

― Eu soube que havia algum potencial em você desde a primeira vez que o vi ― o Hale meditou, passando uma unha em garra levemente sobre o rosto de Stiles, uma carícia mal sentida, cócegas fantasmas que faziam sua pele arrepiar, seja pelo gesto íntimo ou pelo que poderia ser uma ameaça velada. ― Mas imaginei que você seria um lobo como jamais visto. Talvez uma belíssima raposa. Mas você não cheira a qualquer tipo de licantropo que eu já tenha conhecido.  

Fugindo do alcance de Peter, Stiles se esgueirou e correu até o outro lado do quarto, esbarrando em sua mesa de cabeceira no caminho, e ao derrubar o abajur Stiles se viu estendendo sua magia praticada para evitar que o objeto se quebrasse no chão. Tal ato, é claro, jamais passaria despercebido por qualquer pessoa, uma vez que ele retrocedeu de seu meio caminho até o chão de volta para a segurança da mesa sem um único toque de Stiles.  

― Agora, isso é realmente interessante ― Peter meditou, processando o que acabou de ver. ― Suponho que a habilidade mágica tenha começado depois que eu lhe dei a mordida?  

― Sim ― Stiles assentiu, escorando-se contra a janela, ouvindo as persianas farfalharem contra suas costas. ― Nada de presas, garras, força ou super cura, que era o que eu esperava. Tudo o que eu recebi foi a Jean Grey dos X-Man. Me sinto enganado, aliás.  

― Não há como prever o resultado da mordida, querido ― Peter explicou, voltando a se aproximar com passos medidos, como os de um predador preparando-se para atacar. ― Ele apenas desperta o potencial que há dentro da pessoa. Alguns não tem potencial algum para despertar, então sucumbem ao excesso do sobrenatural e morrem. Outros despertam para o lobo, desabrochando como betas comuns. E uma pequena minoria transforma-se no que seu potencial tem a oferecer, como raposas, coiotes e afins.  

Nisso Peter mais uma vez se encontrava ao alcance de Stiles, desta vez apoiando a mão direita na parede ao lado do garoto, impedindo que ele pudesse fugir de novo. A outra, por sua vez, alcançou o braço direito de Stiles, levantando-o lentamente, sem perder o contato visual com o garoto, que apenas se deixou levar, hipnotizado pelo olhar penetrante daquele que já foi seu alfa. Virando a pele que deveria conter uma cicatriz de seus dentes, Peter inclinou a cabeça a fim de passar seu nariz pela superfície lisa e frágil, inspirando o cheiro mudado, que agora, tão de perto, inebriava seus sentidos, e a proximidade nunca lhe pareceu tão certa. Ele fechou os olhos por um momento, processando o que sentia, processando o estremecimento do próprio Stiles, seu coração acelerando e a pele arrepiando sob seu toque.  

― Mas você, doce menino ― ronronou. ― Você é muito mais. Eu posso sentir no seu cheiro. Sinto o poder que corre em suas veias junto ao seu sangue. Sinto na ligação que compartilhamos mesmo depois da minha morte, mesmo que eu não seja mais um alfa e mesmo que você nunca tenha sido um beta.  

Abrindo finalmente os olhos, revelando seu brilho azul elétrico para o menino trêmulo a sua frente, Peter sorriu com prazer, seus instintos inundados por tudo o que Stiles havia se tornado. Tudo o que ele fez de Stiles. Tudo o que poderiam ser. Juntos .  

― Eu posso sentir você aqui ― forçando a mão que ainda segurava, Peter a espalmou sobre o próprio peito, sentindo a faísca de magia que respondia ao seu lobo, e a julgar pelo modo que Stiles arregalou os olhos e prendeu a respiração, ele sentiu também. ― Você pode me sentir?  

Colocando a mão livre sobre o peito de Stiles, Peter sentiu algo dentro de si se encaixar, como se o vazio, a falta que sentia de seu beta em potencial desde que o deixara sangrando naquele fatídico dia na garagem finalmente tivesse se acomodado, sido preenchido como sequer sabia que precisava.  

Stiles piscou e seus dedos se contraíram, atônito ele olhou para onde sua palma encontrava o peito alheio, e pela primeira vez sentiu sua recém-descoberta magia assentar, se acalmar e fluir em seu corpo como se sempre tivesse estado lá. Ele sentiu então uma perturbação bem-vinda em seu peito, como um fio sólido e dourado vibrando com emoções estranhas, que não eram dele. Por fim as reconheceu como sendo de Peter, contentamento e animação sendo transmitidos pela ligação sobrenatural que agora compartilhavam.  

― Como isso é possível? ― Stiles se pegou sussurrando, se para si mesmo ou para Peter, nem ele saberia dizer. ― Era para eu ser um lobisomem. E você nem sequer seria meu alfa agora, você morreu.  

― Eu sou aquele que acendeu sua faísca ― Peter ronronou, pedância colorindo seu sorriso predatório. ― E sua magia reconhece meu lobo, está ligada a ele. Eu a senti me puxar, me atrair desde o momento em que abri meus olhos para o mundo outra vez.  

A declaração trouxe para Stiles a explicação que procurou na véspera, o motivo pelo qual sua magia estava tão fora de controle, tão selvagem como nunca antes. Ela estava em busca de Peter, seu criador, seu despertar.  

Subindo a mão que repousava no peito de Stiles, Peter a conduziu com leveza e carinho pelo caminho acima, acariciando o pescoço até parar no rosto corado do menino, embalando-o enquanto olhava fundo nos olhos castanhos maravilhados.  

― Estamos ligados, querido ― sussurrou, segurando o contato visual. ― Sua magia encontrou estabilidade no meu lobo, e eu recebi com isso minha âncora. Você não precisa de qualquer alfa que eu não possa oferecer, e tampouco eu preciso agora. Somos você e eu contra o mundo, amor.  

Stiles estremeceu, fechando os olhos e se permitindo sentir Peter, apenas sentir tudo o que o lobo tivesse a oferecer. E em troca deixou que ele experimentasse o que quisesse de si.   

Peter se aproximou ainda mais, e tocando sua testa contra a de Stiles eles se deixaram sentir, respirar como um.  

Talvez não fosse a melhor das ideias do garoto, permitir que Peter tivesse o que queria, porém tampouco foi quando se deixou ser mordido tanto tempo atrás. Mas uma vez que o potencial, tudo aquilo que poderiam ser juntos, se fez presente em seu interior, Stiles sabia que era tarde demais para arrependimentos.  

E ele não se arrependia de nada.  

Notes:

Essa one shot faz parte do evento Steter Week do tumblr (mas pode ser lida sozinha, é claro), e como é o aniversário de dez anos serão duas histórias por dia até sábado dia 3 de agosto.

Lembrando que ela terá uma continuação, que será a segunda história de amanhã, dia 01 de agosto, de novo “Familiar Ligação”, mas ambas podem ser lidas sozinhas.

A lista completa de prompts do evento vocês podem encontrar no tumblr: https://steterweek.tumblr.com/

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