Chapter Text
Tão rápido quanto as flores do jardim nasciam e morriam com o pasdar das estações, as gerações de Kozuki vieram uma atrás da outra para cumprir seu dever com seu ancestral, garantindo que Yoshiro permaneceria onde estava, selado no jardim da residência que a muitos anos deixará de ser a principal.
A maioria deles, nesses momentos que vinham, não ousavam dirigir nenhuma palavra se quer a ele – o que ele não poderia ligar mais – e aqueles que tinham essa ousadia, eram sempre recompensados com alguma zombaria e no pior dos humores do fantasma, silêncio.
Não havia para que ele falar com eles.
Nenhum deles parecia interessante.
Nenhum deles parecia mais com Yuki, os genes de ambos tendo se perdido entre casamentos e mais casamentos a ponto de nenhuma das poucas crianças que Yoshiro viu circulando por aí com o símbolo do clã nas costas tinha o cabelo ruivo ou os olhos dourados deles.
O que era, sem dúvidas, uma pena para a mãe deles, que tanto falava sobre netos com essas características, que ela tanto amava.
Pelo menos ela havia morrido antes de ter tido essa decepção, já que os filhos de Yuki – se é que ele teve algum além do garoto que Yoshiro não lembrava o nome – herdaram todas as características da mãe, quem quer que ela fosse, e ele próprio nunca nutriu o desejo de ser pai, até mesmo o pensamento o dava ânsia.
De toda forma, ele ficava feliz com isso, ninguém herdando suas características e de Yuki, tornava isso algo unicamente dos dois.
Ele cantarolou com o pensamento.
Era melhor olhar todos os pontos em que os dois se igualaram do que os que os diferenciava.
Do que pensar em como em vida e morte, eles eram diferentes, afinal de contas, Yoshiro foi o único que se tornou um fantasma ressentido.
O único cujo os desejos e os arrependimentos mantiveram lá.
Yuki estava satisfeito.
Satisfeito e sem arrependimentos.
“Você vai furar sua mão assim." Uma voz infantil o tirou de seus devaneios.
Ele olhou para a rosa que segurava pelos espinhos e então para o dono da voz.
Um garoto de cabelos pretos e sobrancelhas que o faziam parecer que estava com raiva, embora houvesse um pequeno sorriso em seus lábios. Ele usava um haori branco com pequenos detalhes em dourado, o símbolo do clã Kozuki ostentado em suas mangas.
Um novo herdeiro então, Yoshiro supôs, torcendo o nariz em desgosto e soltando a rosa, que já havia começado a murchar com seu aborrecimento.
"Uau! Você fez ela murchar! Como você fez isso?"
O garoto disse, começando a caminhar jardim a dentro.
Instintivamente, o fantasma olhou ao redor, mas não havia nenhum sinal de quem quer que fosse os pais do menino ou dos seus instrutores. Ele havia mesmo vindo até o jardim sozinho e sem nenhuma arma ou talismã.
"Você não sabe quem eu sou?" Yoshiro perguntou.
O herdeiro Kozuki parou, já dentro do limite das correntes de Yoshiro e piscou os olhos, parecendo genuinamente confuso por alguns segundos antes de sorrir.
"Nah! Nem idéia, meu pai sempre diz que eu não posso vir aqui, então eu quis vir ver o porque disso. Quem é você?"
O fantasma não respondeu, o observando com curiosidade.
"Você não gosta de responder perguntas não é? Você não respondeu nenhuma das que eu fiz, mas eu respondi as que você fez, isso não é justo."
"A vida não é justa." Yoshiro retrucou, se levantando de onde estava sentado.
As correntes tilintaram mas o garoto não pareceu se importar.
"Eu sei disso, não sou burro, mas ela deveria ser. Quando eu virar Daimyo, eu vou fazer que seja! Vou deixar todo mundo em Kuri feliz e então em Wano!"
"Você é ambicioso." O mais velho disse, parando a alguns passos do garoto, sentindo toda a energia vital que ele emanava, o atraindo como uma mariposa ao fogo. "Ambição não combina com um Kozuki."
"Por que não? Não é uma ambição ruim, não quero fazer o mal."
"E quem é você para dizer o que é ruim ou não?"
O garoto, apesar de parecer ofendido anteriormente, fez uma pose estranha, sorrindo com - quase - todos os dentes.
"Eu sou Kozuki Oden! O futuro Daimyo de Kuri! Quem é você?"
"Kozuki Oden?" Yoshiro repetiu e então, se inclinou para frente, rindo, "Oden? Sério? E eu pensava que minha mãe ter nomeado meu irmão de Yuki só porque nascemos no inverno era idiotice, agora Oden?"
O garoto, Oden, ficou vermelho, inflando as bochechas.
"Meu nome não é engraçado!"
"Ah, com toda certeza é. Oden. O Daimyo, Oden." Ele bufou uma risada, "Ninguém nunca vai te levar a sério, garoto."
"Mas isso é bom, não é? Já que eu quero que todos riam!"
"Não sei quem são seus instrutores, mas eles são péssimos, não estão te ensinando nada direito."
"Ei! Você pode falar mal de mim o quanto quiser, mas não fale dos meus professores! Eles são excelentes!"
Yoshiro soltou uma risada de zombaria e se virou, voltando para seu banco.
"Eu estou falando sério, eles são! Quem você é para não dizer que eles não são? Você já teve professores por acaso?"
"Tive e aparentemente, eles me ensinaram mais do que os seus te ensinaram."
"Prove!"
"Bem." O fantasma pensou um pouco, se sentando majestosamente no banco, "Meus instrutores me ensinaram a não entrar desarmado no covil de um fantasma ressentido."
"Os meus-"
"ODEN!"
A luta rapidamente deixou o garoto, que ficou tão pálido quanto Yoshiro, olhando ao redor como um animal em perigo. Quando pareceu ver quem o chamava, recuou alguns passos, abrindo e fechando a boca antes de finalmente falar algo.
"Eu volto!"
Ele disse rapidamente e então saiu correndo.
Uma tensão que Yoshiro não sabia ter em seus ombros o deixou assim que o cheiro de Oden se misturou aos das flores, ele bufou uma risada.
"Não, ele não volta."
O fantasma disse para si mesmo.
Ele esperava que não.
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Oden voltou.
Não rápido como ele fez parecer que seria em sua despedida, algumas estações tinham se passado e Yoshiro já estava acostumado de novo a falar apenas com as flores ou com as vozes de sua cabeça, que fizeram menção de voltar após algum período em que nenhum pequeno fantasma apareceu no jardim, o que fez com que ele ficasse realmente surpreso quando o garoto reapareceu, desculpas atrás de desculpas escorrendo de sua boca.
O fantasma apenas bufou e fingiu que não estava escutando,, continuando a arrancar ervas da ninha do seu canteiro de petúnias.
Sua falta de atenção não desencorajou o jovem Kozuki que começou a falar sobre o que tinha feito nesse tempo.
Algo sobre piratas, o pai dele, biblioteca e outras coisas que não lhe parecia mais atrativo do que ampliar o canteiro.
"Yoshiro é seu nome, não é?"
Oden perguntou, de repente.
"Perguntei a papai sobre você, ele disse que não sabia muito além de que você fez algo horrível, tanto em vida quanto em morte e que se você for solto vai dizimar toda Kuri." Ele acrescentou, "Isso é verdade?"
"Se eu dizer que sim, você vai finalmente me deixar em paz?"
"Sim, não, bem, você realmente gostaria disso? Você está bastante sozinho aqui, não é ruim?"
Yoshiro bateu com a pá em um tijolo, olhando lentamente para Oden e soltando uma risadinha, limpando as mãos, embora não houvesse terra realmente nelas.
"Você é engraçado." O fantasma fala, se levantando e caminhando lentamente em direção a Oden, a corrente tilintando, "Você foi até seu pai perguntar de mim e então vem me perguntar se é verdade. Se eu dissesse que não, que eu sou uma excelente pessoa que foi punida injustamente, acusado de algo que não fiz, você acreditaria em mim? Você me soltaria?"
Oden não recuou, seu olhar nem mesmo se abalou com as provocações.
"Você disse que a vida não era justa. Os crimes que você cometeu, foi por causa disso?"
Yoshiro o olhou e então riu, a corrente tilintando quando ele chegou no limite dela.
"Não, minha vida era muito justa, na verdade, tirando é claro o problema de herdeiro e tudo mais. Tudo que eu fiz, foi porque eu quis. Eu sou uma péssima pessoa, Oden, sem chances de redenção."
Oden não disse nada por algum tempo, fechando os olhos e respirando fundo, apesar das mãos dele estarem tremendo. Talvez ele tenha atingido um ponto sensível. Yoshiro não podia se importar menos. Ele olhou o garoto por alguns segundos a mais, esperando algo e então fazendo um som de zombaria quando não encontrou o que procurava, se virando para voltar para suas flores.
"Não é verdade."
"O que?"
"Você não é "sem chances de redenção", você pode mudar, se quiser."
"E se eu não quiser?"
"Então... Então eu não sei. Você vai ficar aqui. Até se arrepender, mudar."
"Não tem uma palavra que eu odeie mais do que essa. Mudança. Que coisinha repugnante, como você."
O Kozuki o olhou e então suspirou, balançando a cabeça e seguindo para fora. Dessa vez, ele não falou que voltaria e Yoshiro não disse para que ele não voltasse.
Mas ele sabia que se havia algo que Oden faria, era voltar.