Chapter Text
Era intrigante.
Era hipnotizante.
A maneira como a caneta rastejava pelo papel do seu bloco de notas era cativante, até sedutora, eu ouso adicionar. Ele tinha esse efeito. Acredito que era pelo mistério que rodeava sua pessoa. Ou talvez ele realmente tivesse um charme.
Naquela universidade, as aulas de Filosofia nunca tinham sido tão frequentadas até a chegada de Lysandre. Com seu modo de vestir distinto e sua abordagem profunda e poética, ele conseguia captar a atenção de todos os alunos. No entanto, era a jovem Lynn quem mais se destacava entre seus pupilos. Sempre sentada na terceira fila, encostada à parede, os olhos fixos nele, absorvia cada palavra como se fosse uma revelação.
Havia algo de magnético em Lysandre, uma presença que transcendia a simples aparência. Seu carisma era evidente, mas era o enigma que ele representava que mais atraía Lynn. Cada aula era uma viagem ao desconhecido, um convite para explorar as profundezas do pensamento humano, e Lynn, com sua dedicação e curiosidade, estava mais do que disposta a embarcar nessa jornada.
Lysandre, por sua vez, não podia deixar de notar a jovem aluna. A sua concentração e o modo como ela registrava cada conceito com uma precisão quase artística eram algo que ele valorizava imensamente. Lynn não era apenas uma estudante; era uma interlocutora silenciosa, uma mente ávida que ele sentia prazer em desafiar e guiar pelos diferentes labirintos não só da filosofia, mas da vida.
Enquanto Lysandre explicava algo extremamente filosófico, um rapaz de altura média e cabelos azuis entrou porta adentro do pequeno auditório. Com os olhos, ele percorreu a sala e, em seguida, caminhou apressadamente para perto de Lynn. Lysandre sabia que ele não era seu aluno. Era o Alexy, o melhor amigo de Lynn, que vez ou outra aparecia em sua aula, tirando o foco da jovem de si para algo menos importante, considerava ele.
A presença inesperada de Alexy fez Lysandre perder, por um breve momento, o fio do seu raciocínio. Recuperou-se rapidamente, mas não pôde evitar uma ligeira sombra de desagrado ao ver a atenção de Lynn se desviar para o recém-chegado. Os olhos dela brilhavam com um misto de surpresa e alegria enquanto Alexy sussurrava algo em seu ouvido. Lynn sorriu, e por um instante, o magnetismo entre professor e aluna foi quebrado.
Lysandre continuou a falar, a voz firme. Engrossou-a um pouco mais quando viu Lynn começar a recolher suas coisas e a virar-se para trás para sussurrar algo para outra aluna, fazendo a mesma assentir com um “tudo bem” ou “eu posso”.
Viu lynn caminhar para fora da sala, tendo não demonstrar que ficou chateado com a ação. Ela nunca ia embora. Era sempre a ultima.
Talvez por isso, esperou que decem exatamente 19:30, para adentrar o café perto da universadidade.
“Lynn? Por aqui a estas horas?”
A jovem ergueu a cabeça ao ouvir a voz familiar. Sentada à mesa de canto do café, ela parecia estar imersa em um mundo de pensamentos, com um caderno aberto à sua frente e uma xícara de café quase intocada. A surpresa em seus olhos rapidamente deu lugar a um sorriso tímido ao reconhecer Lysandre.
“Boa tarde, professor,” Lynn respondeu, ajustando a postura e lançando um convite silencioso para Lysandre se juntar a ela.
Lysandre aceitou a sugestão implícita, puxando uma cadeira e sentando-se à sua frente. “Vi que saiu da minha aula mais cedo,” ele comentou calmamente, embora Lynn percebesse que ele não costumava ser tão direto. “Aconteceu alguma coisa?”
Ela suspirou “Alexy precisava de ajuda com algo,” explicou, um leve sorriso de desculpa em seus lábios. “Não pude deixar lo na mão.”
Lysandre assentiu, um brilho curioso nos olhos. “Entendo. A vida tem um jeito peculiar de nos chamar para fora do roteiro de vez em quando.”
“Sim, e às vezes é difícil ignorar esses chamados,” Lynn respondeu, seus olhos revelando uma preocupação passageira. “Mas, felizmente, tudo está bem por agora.”
“Fico feliz em saber,” disse Lysandre, observando-a atentamente. “E aproveito para perguntar: o que a trouxe a este recanto tranquilo? Não é um lugar que eu esperaria encontrar uma de minhas alunas mais dedicadas.” Era mentira. Ele sabia perfeitamente que ela vinha aqui todos os dias. Ela também sabia disso. Pois já era rotineiro o ver de vez em quanto neste mesmo café.
Lynn sorriu “Estava a refletir sobre hoje, por isso o caderno” Ela abanou o caderno, azul com corações roxos.
“Ah, a serenidade deste café deve ser propícia para tais reflexões,” Lysandre comentou, seu tom suave e levemente sarcástico. “Diga-me, no entanto, o que exatamente ocupava sua mente antes de eu interromper o seu momento?”
Lynn corou levemente, mas não hesitou em responder. “São apenas algumas anotações pessoais. Reflexões sobre as aulas, pensamentos aleatórios... nada muito importante.”
“Para ti, pode parecer trivial, mas a forma como organiza seus pensamentos pode ser reveladora,” Lysandre disse, um sorriso intrigante nos lábios. “Posso ver?”
Ela hesitou por um momento, mas finalmente deslizou o caderno pela mesa, entregando-o a Lysandre. Ele abriu na página onde Lynn estava a escrever e começou a ler. Algumas poucas frases, anotações de aulas, desenhos, muitos desenhos de coisas morbidas principalmente. Poemas.
“Interessante,” Lysandre comentou, folheando as páginas com cuidado. “Há uma melancolia poética em seus desenhos e poemas. Você tem um talento para capturar a escuridão de maneira tão... delicada.”
Lynn observou-o, esperando alguma crítica velada, mas a expressão de Lysandre era genuína. “Às vezes, desenhar e escrever são minhas maneiras de processar o mundo,” ela explicou, um pouco mais à vontade.
“E faz isso muito bem,” Lysandre afirmou, fechando o caderno e devolvendo-o a ela. “Se precisar de orientação, estarei sempre à disposição. Adoraria ver até onde podemos pode levar esses pensamentos.” Ele diz com um sorriso vitorioso.
O sino da porta do café tocou novamente, e Alexy entrou, procurando por Lynn. Seus olhos encontraram os dela e ele se aproximou rapidamente, trazendo um ar de urgência.
“Lynn, precisamos conversar,” Alexy disse, olhando para Lysandre com um ligeiro aceno de cabeça. “É sobre o que discutimos mais cedo.”
Lysandre se levantou, entendendo que seu tempo com Lynn estava chegando ao fim. “Vou deixar vocês conversarem,” ele disse, sorrindo para ambos. “Lynn, a vejo na aula de amanhã, espero” Levanto-se e deu o lugar ao jovem de cabelos azuis.
Ela sorriu, agradecida. “Obrigada, professor. Eu nunca perderia uma aula sua.”
Com um último aceno, Lysandre se afastou, deixando Lynn e Alexy discutirem o que quer que fosse tão urgente. Enquanto caminhava de volta para a universidade, não pôde deixar de pensar no potencial de Lynn e na curiosidade crescente que sentia por aquela jovem tão especial.