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Sand estava abismado, ainda segurando seu guarda-chuva de forma trouxa enquanto recebia rachadas de chuva em seu rosto, não haviam mais lágrimas em seu rosto que pudessem sair. Ele apenas parava, como se o tempo parasse enquanto todos estavam ali se lamentando, o jovem percebeu que nenhum dos seus amigos não estavam lá e isso deu um nó em sua garganta. Talvez aquele grupo de destruídos apenas passou como um vulcão e se esvaiu calmamente, sem se importar com o que acontecerá ou com as pessoas que foram afetadas. Areia Pobre. Pobre vida.
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Algumas semanas atrás tudo parecia nascer com fervor, os sentimentos estavam aflorados e todos se encontravam extasiados sobre as situações que aconteceram. Top havia traído Mew com Boston, Nick pegou a gravação do momento e Sand mais Ray utilizaram para dar um fim nessa situação, um clima de ódio se instaurou entre todos e no fim percebeu-se quem foram os mais feridos nesse processo. Nick por perder o seu amigo de benefícios e Sand, ao qual ajudou Ray em seu plano e acabou perdendo a pessoal no qual estava se apaixonando.
Sand se sentia angustiado a cada segundo, descontando toda sua raiva enquanto rasgava os papéis de parede em um ato de impulsividade e fúria, perder alguém que amava de forma tão rápida o fez sentir inútil e fraco, parar sua vida enquanto o outro se divertia com Mew o fez ficar louco. Contudo o cantor não tinha tempo para enlouquecer, sua mente também se ocupava em pensar no que seu amigo estava passando, ele não entendia direito o que se passava na cabeça de Nick mas tinha a noção dele não está bem.
Nick errou e Sand reconhece isso, mas as palavras tão duras de Boston cortaram seu coração, seu amigo nunca se apaixonou tão intensamente por alguém ao ponto de mudar a si mesmo para agradar outra pessoa, isso significava que ser tratado como monstro ou aberração pelo seu erro criou uma espiral de autodestruição. Nick prometeu que ficaria bem, mas ele apenas falou da boca para fora no intuito de deixar Sand feliz.
Nas noites Sand consegue ouvir fracamente um choro de desistência, um choro engasgado na garganta de alguém que não está se sentindo bem e que mentira para os outros, era de cortar o coração.
Mesmo com toda essa situação a vida infelizmente não para e com isso os dias foram passando cada vez mais deprimida, Sand tentará esquecer a ideia de ver Mew e Ray juntos enquanto confortava Nick com filmes bobos e algumas jogatinas no videogame. Entretanto isso tudo parou após a festa de hallowen, quando Nick tentou falar com Boston e se sentiu ainda pior do que começou, ou quando Sand foi beijado a força por Ray e sentiu que sua vida não valesse de nada sobre o rico e problemático. O pior de tudo que Sand realmente tentou, tentou ajudar Ray a esconder as drogas, tentou mentir para salvar Ray da polícia e tentou acima de tudo esconder seus sentimentos quanto ao garoto. Tudo falho de forma fracassada.
Sendo assim, Sand não teve outra opção até voltar com Nick para casa, se lamentando do que poderia ter feito de certo enquanto observava o rosto escurecido e sombrio do melhor amigo. Sand perceberá tarde, mas Nick finalmente atingiu seu ápice, sua beira e por fim a sua ruína.
Nick perdeu o estágio, perdeu o emprego que tinha com os pais e agora se comprometia em saídas noturnas misteriosas e moradas no quarto. Boston não foi o grande culpado dessa sua decadência, o grande culpado foi ele mesmo por acreditar que salvaria a sua própria consciência e vida estando ao lado da pessoa que amava, sem perceber que era tão dependente desse amor que quando ele acabou se viu caindo eternamente sobre o abismo. Nick estava no abismo, mas nem Sand sabia como o tirar dali.
- Time segunda opção? — Sand falou pela porta, tentando escutar alguma chama na voz de Nick.
- Time segunda opção... — Nick respondeu, tão fraco e doente quanto.
Talvez Sand apenas precisasse saber o que se passava na vida do seu melhor amigo, ele tentaria buscar algum ânimo ou mudança de pensamentos quando foca-se em ajudar e entender o que Nick estava passando. Por isso na noite ele se encaminhou perseguindo o amigo na surdina, até se encontrar em um bar meio afastado dos outros. Não demorou nem uma hora e lá estava Nick, sentado sobre uma mesa completamente alcoolizado e com o olhar fundo e sem brilho, ele observava o chão cabisbaixo enquanto um outro homem misterioso tomava o corpo dele para si. Parecia errado, Nick não estava nem em condições de falar quem dirá tentar beijar outra pessoa, parecia forçado ou talvez fosse uma faísca que Nick queria ascender para seguir com a vida.
Sand correu atravessando o salão e puxou o amigo dali, espantando o outro rapaz que logo fugiu. As lágrimas cercavam os olhos do maior enquanto observava a decadência em pessoa, Nick apenas respirava fundo sem poder sentir mais nada, seu corpo parou no tempo e sua alma parecia tão fraca quanto uma folha de papel.
Sand queria vomitar, Sand queria berrar e se enfurecer aos quatro ventos com o rumo miserável que seu melhor amigo havia tomado, Nick não se tornou um Ray ou um Boston ele havia se tornado pior do que isso, uma mistura doentia que nem sentia a consequência dos seus atos ou a consequência exagerada da sexualização e dos assédios.
Apenas um abraço foi o certo a se fazer, mesmo que as palavras vagas e doentes do seu amigo o deixassem ainda pior:
- Sand... Eu estou bonito? Alguém vai me querer assim? — Ele falou enquanto a garrafa de cerveja caia da mão.
- Vamos para casa Nick.
- Eu acho que posso conseguir algo aqui, talvez alguém possa gostar de mim se eu estiver mais apresentável. Eu não quero ir embora...
- Quantos caras já ficaram com você aqui? — Sand perguntou.
- Uns sete, oito? Eu não sei, apenas quero continuar a isso, talvez eu consiga me sentir melhor estando aqui, mesmo que minha cabeça esteja latejando de tanta dor. Eu não quero parar...
- Mas você precisa parar, você perdeu tudo Nick, olha para você isso não está certo e eu me culpo para caralho de não ter impedido isso antes. Desculpa Nick, mas eu não posso deixar você cruzar um abismo que não vai conseguir, não tente ser igual a Boston e muito mesmo Ray, eles podem está felizes agora enquanto apenas eu e você saímos feridos dessa situação. Só não tente ser igual a eles.
- Sand eu sou o pior dos monstros, eu acabei comigo mesmo por causa de uma pessoa que eu sabia que nunca queria algo a mais comigo, eu não mereço perdão pelo que fiz em relação a Top e Boston, eu não mereço perdão por ter estragado toda a relação com o Mew e agora eu só quero descontar essa frustração em mim mesmo... Deixe que eu me destrua por completo, deixe-me fazer com que todos envolta não se sintam culpados pela minha destruição. Eu sou impuro agora.
Não era certo fazer isso, mas Sand não teve escolha a não ser puxar Nick forcedamente para longe daquele local, mesmo que ele sobera dos retornos que o amigo daria para esse mesmo buraco. Sand passou a noite inteira fazendo as contas de como ajudar Nick, colocando na balança a sua própria saúde para saber se o amigo se sentiria bem.
Sand ama Nick pois eles sempre foram melhores amigos que estavam um do lado do outro, mas agora que Sand se sente sozinho e Nick está se afundando em uma velocidade assustadora, parece que essa amizade está prestes a acabar.
- Não existe mais time segunda opção, só você pode continuar isso... — Nick falou enquanto sua cabeça se apoiava nos joelhos de Sand, seu olhar se tornou calmo e um sorriso gentil brotou em seu rosto. Aquele maldito sorriso gentil.
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E então aconteceu, na noite anterior Sand estava no terraço do prédio enquanto bebia e observava as estrelas com um sorriso calmo, Nick subiu até ele com uma garrafa de cerveja em mãos e um rosto tranquilo. Ambos começaram a conversar sobre as estrelas e os brilhos estrelados que elas emanavam mesmo a milhões de anos de distância.
Nick estava mais feliz que o habitual, sorrindo e soltando suas típicas piadas o que fez Sand se sentir confortável com a mudança do amigo, abrindo um sorriso mais largo a cada palhaçada que era feita.
- Areia... Eu posso te beijar? — Parecia um desejo genuíno e simples, mesmo que nele havia uma carga poderosa de desejo.
- Pode.
E então eles se beijaram, Nick sentiu um arrepio por toda a espinha enquanto Sand apenas se sentiu normal quanto a beijar o seu melhor amigo, ele apenas queria saber quais foram os reais sentimentos de Nick pois após o beijo o menor olhou espantado com algumas lágrimas brotando e brilhando em seus olhos apagados. Talvez Nick tenha se lembrado de Boston ou talvez tenha percebido que se apaixonou por Sand e via aquilo como um problema.
- Você não mereceu Ray e nem aquele ex idiota seu, todos foram levados por pessoas tão próximas mas isso ainda não foi culpa sua. Sand eu te amo tanto. — Nick sorriu, deixando Sand angustiado sobre os próprios problemas que tentou esquecer.
- Eu também te amo Nick, mas você precisa consertar tudo o que fez. Precisamos seguir enfrente nisso juntos certo?
- Certo! — Ele sorriu mais forte.
Nick se levantou e começou a caminhar pelo terraço sentindo os ventos baterem ainda mais fortes em seu rosto, essa sensação era calma e tranquila, o fazia esquecer dos problemas e do abismo que um dia sofrerá ou perceberá antes. Ele olhou para a parte debaixo nas ruas e sorriu contando os carros passarem um por um, Nick parecia uma criança animada correndo e brincando levando Sand a um respiro fundo e controlado.
- Eu amo meu melhor amigo! Eu amo o Sand idiota!! — Gritou com todos os pulmões.
- E eu amo meu melhor amigo! Eu amo o Nick idiota!! — Sand gritou dando uma resposta aos ventos.
Até que aconteceu. Na tarde seguinte Sand havia voltado do trabalho um pouco mais cansado que o habitual, talvez fossem as bebidas da noite passada e por isso achou que tomar alguns remédios de vez ajudaria ele a se manter melhor, a situação ficou um pouco fora do controle quando ele se sentiu ainda mais sonolento com aquilo. Talvez os efeitos de remédio para dor de cabeça sejam mais forte do que ele esperava, mas ele seguiu em frente e voltou para casa com sua motocicleta. Ele queria enviar uma mensagem para Nick pedindo que ele escolhesse o que comer para o jantar, mas pegar o celular no meio do trânsito e ainda mais um pouco cansado parecia a pior decisão possível. Sand esperou até que chegasse no apartamento para fazer isso, mas se deparou estranhamente com uma movimentação de pessoas.
Sand estacionou a motocicleta e subiu as escadas sendo observado com espanto, havia algo em seu rosto? Ele passou a manga da jaqueta sobre o rosto para tirar qualquer bagunça, mas perceberá que não havia nada. A multidão aumentou quando ele já estava em casa, naquele exato momento o coração de Sand errou as batidas, enquanto o tempo parava e o mundo se distorcia. O olhar de espanto das pessoas, a chegada inesperada dos bombeiros e por fim o sangue correndo por todo o tapete alaranjado da sala. Sand desmoronou quando percebeu que se tratava do seu melhor amigo, Nick não aguentou sair do abismo que o cercava após tantas mudanças desesperadas e a única escolha foi sua passagem.
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Agora Sand estava sozinho, observando a lápide de um corpo enterrado. Ele não conseguia mais chorar pois descarregou tudo isso ao longo de todos os tempos lembrando do corpo estirado de Nick no chão, o destino foi cruel com Sand e ainda mais cruel com Nick que não merece chegar a esse ápice da dor. Sand quase não teve forças para cumprir os pais do garoto, ele se sentiu tão fraco e derrotado que apenas esperou que todos fossem embora para se despedir. Aquilo não se tratava mais de Boston, não se tratava mais de Ray, Mew e nem Top, se tratava de Sand e a sua dor de perder a pessoa que mais se importou com ele nessa vida. Talvez as palavras de Nick fossem verdadeiras, ele talvez tivesse amado Sand até seus últimos segundo de vida.
Mas agora que tudo acabou ele sentiu uma pontada no coração que o fez decidir todo o resto de sua vida, Sand viveria e continuaria apenas para deixar Nick feliz aonde quer que esteja. Antes de sair Sand deixou uma carta sobre a lápide, para que Nick lesse quando estivesse se sentindo sozinho.
Sand se virou e foi embora.
"Time segunda opção."