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"Você não acha que sua mãe deve ter ficado preocupada de você ter saído para uma missão dessas sem avisar, Cereza?"
Jeanne diz enquanto ela e Cereza atravessam um pequeno bosque que era usado como atalho para chegar à cidade de Vigrid. As duas jovens voltavam de uma missão contra alguns anjos Afinidade. Apesar de ser mais de meia noite claramente se dava para ver o céu coberto por nuvens negras que faziam um barulho estrondoso a cada raio que caía nas redondezas. Com certeza uma tempestade viria.
"Não se preocupe, Jeanne. Tenho certeza que minha mãe vai entender se eu explicar com jeitinho. Além disso, o que de ruim ela poderia fazer comigo, ein? Puxar minha orelha?"
Cereza ri enquanto levanta uma sobrancelha, cutucando o braço de Jeanne com cotovelo. Ela fala de modo sarcástico, levando para o lado da comédia, como sempre fazia. Jeanne não parecia estar brincando, com certeza ver a bruxa mais poderosa do clã brava era a última coisa que ela queria para si.
"Ah, não sei, e que tal se ela invocasse Gomorrah para morder sua bunda e me devorar logo em depois por arrastar você comigo?"
Jeanne falava de maneira séria, tentando manter uma responsabilidade e seriedade na situação. Cereza, por outro lado, estava ocupada demais olhando o céu e sentindo as gotas da chuva caindo em seu rosto e escorrendo pelo seu queixo até pingar no chão. As gotas começam a cair com mais frequência, um clarão, seguido de um trovão que ecoa pelos céus.
"Eu acho melhor nos apressarmos Cereza, já é mais de meia noite e minha mãe não vai gostar de me ver essa hora em casa, muito menos encharcada pela chuva. Tenho certeza que Rosa pensará o mesmo!"
Ela verifica o céu e depois analisa o caminho que estavam seguindo. Se ela estivesse certa, até que elas chegassem em Vigrid demoraria mais de vinte minutos, e a chuva estava ficando forte o suficiente para ser motivo de preocupação para a garota de cabelos brancos.
"A propósito, Cereza, hoje é seu aniversário, não é?"
Jeanne olha para Cereza enquanto a morena estava admirando a paisagem ao redor. O olhar de Cereza se ilumina e ela olha para Jeanne como uma criança olharia para um urso de pelúcia gigante. Cereza concorda com a cabeça e sorri para Jeanne.
"Feliz aniversário, talvez eu arranje pra você aquelas armas."
Jeanne diz e coloca sua mão no ombro de Cereza, sorrindo para ela. — "Atenciosa como sempre, princesa." — Cereza ri ao ver Jeanne desviando o olhar e corando de vergonha.
***
Enquanto andavam, ainda exaustas pela missão bem sucedida, Jeanne e Cereza tomaram um bom banho de chuva em pouco minutos. Então, como a chuva não iria parar tão cedo, elas decidiram correr para poupar tempo. Assim que chegaram na entrada da cidade, as meninas se separaram, ambas pegando caminhos diferentes e seguindo rumo à suas respectivas casas.
A chuva continuava a cair mais violentamente, e os ventos continuavam a balançar as árvores de modo agressivo. As botas encharcadas de Cereza causavam um grande desconforto na jovem, ela podia jurar que não era só água o que estava entrando na bota. Fosse um filhote de cobra ou uma pedra, qualquer coisa que não fosse uma barata já seria motivo de comemoração para a jovem Cereza.
Cereza corria o mais rápido possível pelas ruas alagadas de Vigrid. A estrutura peculiar da cidade, e a rapidez que os ventos estavam avançando, tornavam mais difícil a chegada de uma bruxa adolescente sem experiência para lidar com tais condições em casa sem nenhum tipo de arranhão.
Assim que Cereza tão sofridamente chegou na varanda de sua casa, um alívio brevemente preencheu sua mente. Mas não durou, o vento frio da noite congelou seus membros encharcados da chuva e a trouxe de volta para a realidade, era hora de entrar em casa e enfrentar a ira de sua mãe.
Cereza tirou suas botas e esvaziou a água de dentro delas antes de calçá-las novamente. O único alívio em sua mente neste momento era que o que saiu de sua bota não foi uma barata. A garota respirou algumas vezes antes de finalmente tomar coragem para girar a maçaneta da porta, que para a sua infelicidade estava aberta.
Ela adentrou sua casa, fechando a porta atrás dela. Rapidamente o calor e o conforto do seu lar pareceram recebê-la de braços abertos. Ela deu seus primeiros passos molhados sobre chão de madeira, que emitia um rangido estridente a cada passo dado.Ao se aproximar da escada, a luz da sala se acende e Cereza congela em seu lugar. Neste momento, tudo que ela mais desejava era que sua casa fosse assombrada e aquele ser atrás dela fosse o diabo.
"Cereza?"
A menina vagarosamente olha para trás e vê Rosa parada na porta da cozinha, com os braços cruzados como quem esperava uma explicação. Sua expressão indicava indignação mas ao mesmo tempo preocupação.
"Mamãe, eu posso explicar!"
Cereza diz enquanto sinaliza com as mãos para que Rosa se acalmasse. Rosa se aproximou da filha e ficou a um metro de distância, olhando Cereza de cima a baixo, talvez tentando enxergar qualquer tipo de machucados ou ferimentos mais graves. Ela ainda estava com um semblante sério.
"Então vá em frente, explique-se."
"Eu e Jeanne saímos em uma missão que a Elder nos deu... E atrasamos um pouco para voltar para casa, não é nossa culpa que começou uma tempestade do nada!"
Cereza disse em tom de defesa, enquanto gaguejava e gesticulava. Rosa apenas olhou para ela. Sua vontade era apenas abraçá-la e dar graças à Sheba que sua filha estava bem, mas naquele momento ela teria que ser firme para disciplinar Cereza.
"Você tem noção de como eu me preocupei? Nem imagina o quanto eu fiquei agoniada pensando em como duas adolescentes estava por aí em uma missão perigosa que elas provavelmente nem têm a experiência necessária para executar! E além disso você volta para casa tarde da noite no meio de uma tempestade!"
Rosa andava de um lado para o outro, segurando as próprias mãos enquanto repreendia Cereza comuma voz trêmula, mas não se deixando vacilar nem por um momento. Cereza apenas permaneceu em silêncio, escutando tudo que a mãe tinha a dizer.
"Olhe só para você, suas roupas e seu corpo molhados; seu rosto coberto por arranhões! Você não tomou nenhum cuidado, minha filha? Você sabe que não é a pessoa mais amada desta cidade, e se alguém mau intencionado tivesse colocado as mãos em ti?"
Rosa segura os ombros de Cereza e a examina mais de perto, verificando cada machucado; cada sinal de anormalidades no corpo de Cereza.
"Está ferida? Lutar com anjos e voltar para casa durante tempestades de ventos... Você poderia ter tido sérios ferimentos, menina..."
Rosa acaricia o rosto molhado de Cereza, a menina segura as mãos da mãe, tentando dar a ela algum conforto. Ela sorri e tenta amenizar a tensão do momento.
"Mamãe, eu estou bem... Eu não tive nenhum ferimentos grave, não se preocupe. Esse arranhões são de alguns galhos que passaram despercebidos da minha visão e acabaram me acertando."
Ela sorri mas é retribuida com um expressão de mais preocupação. Rosa segura o rosto da filha e acaricia ele, uma expressão preocupada era notável no rosto da mulher mais alta.
"Você vai acabar pegando um resfriado se continuar neste estado... Venha comigo."
Rosa leva Cereza até o banheiro, lá ela faz a menina tomar um banho morno e vestir roupas secas. Após o banho, Ela vai para o quarto, e Rosa estava esperando por ela com uma toalha e um pente. A mãe começa a secar o cabelo dela sem falar absolutamente nada.
A menina estava corada de vergonha, ela obviamente gostava de ser cuidada pela mãe, mas Rosa não falava nada e apenas a olhava com lágrimas nos olhos e um olhar de desaprovação. Cereza olha para Rosa e finalmente toma coragem para falar algo.
"Mamãe... Eu sinto muito, não deveria ter saído sem avisar. Muito menos ter voltado tão tarde e ainda por cima em meio à uma tempestade... Não foi nada justo com você, sinto muito por ter preocupado você."
Cereza baixou o olhar novamente, ainda podia sentir o toque suave da mãe em seu cabelo. Cereza esperava que sua mãe continuasse com o discurso superprotetor, mas, quando ela menos esperava, Rosa se agachou ao seu nível e abraçou ela como nunca havia abraçado antes
Era como se Cereza tivesse acabado de voltar depois de anos fora, ela rapidamente retribuiu o abraço enquanto deixava escapar algumas lágrimas.
" Nunca mais faça algo desse tipo novamente! Eu juro que dá próxima vez ficará de castigo pelo resto da sua vida!"
O tom de Rosa era desesperado e aliviado ao mesmo tempo, feliz por ter a filha em seus braços e ao mesmo tempo querendo que isso nunca mais se repetisse. Infelizmente, para Cereza as coisas nunca seriam fáceis dentro do seu próprio clã, por ser considerada pária e uma bastarda, ela seria facilmente deixada para ser morta em alguma missão suicida contra o Laguna.
E Rosa sabia disso, ela sabia do preconceito que sua filha sofria e como isso afetara ela desde pequena, ela apenas não queria que sua preciosa filha fosse tratada como menos do que qualquer outra bruxa merecia.Cereza e Rosa ficaram ali, abraçadas uma a outra sem se desgrudarem nem por um momento.
Rosa se acalmou depois de um tempo, ela permaneceu ao lado da filha por algumas horas, dizendo coisas carinhosas e acariciando o cabelo de Cereza. E foi assim até que a chuva passou. Após a chuva, algo deu um estalo na mente de Rosa, fazendo a mulher se lembrar do dia em que elas estavam agora . Ela gentilmente segura o queixo de Cereza, fazendo a filha olhar para ela. Rosa sorriu antes de começar a falar.
"Ah, minha querida criança, eu quase me esqueci... Espere aqui por um momento!"
Rosa diz se levantando e saindo do quarto da filha, voltando logo depois com uma caixa em mãos. Rosa a entregou para Cereza e se sentou ao lado dela, abraçando-a mais uma vez.
"Feliz aniversário, minha filha."
Dentro da caixa havia duas coisas: Uma pelúcia de gato com quase quarenta e cinco centímetros; tinha botões nos olhos e era tão lindo quanto qualquer outra pelúcia que ela tivesse em seu quarto. E em segundo, algo um pouco mais valioso: Um Umbra Watch, assim como o que Rosa e Jeanne carregavam em suas vestes. Cereza pulou nos braços da mãe, abraçando ela e sorrindo como uma criança boba que acabara de ganhar chocolates de sua mãe.
"Eu amei, mamãe! Obrigada! Eu te amo muito!"
Rosa retribui o abraço da filha, sorrindo em satisfação por ter feito sua menina feliz. Ela então separa o abraço delas."
"E então, qual será o nome que darás para esta pelúcia, ein?"
Cereza pensou por algum tempo antes de finalmente responder com um sorriso largo e um brilho nos olhos.
"Cheshire, o nome dele será Cheshire."