Chapter Text
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Akaashi estava navegando por seu twitter, tentando entender como seu número de seguidores havia triplicado da noite para o dia. A mão de Kiyoomi em sua perna era uma constante enquanto esperavam a veterinária chamar. Shoyo estava brincando com um golden retriver e um husky que também esperavam para ser atendidos em uma consulta de rotina.
Foi nisso que Akaashi topou com um tuíte preocupante.
— Que estranho.
— O que foi? — perguntou Kiyoomi, abrindo os olhos e deitando a cabeça no ombro de Akaashi para olhar o celular, onde exibia a notícia do desaparecimento de um aluno. — Conhece ele?
— Não. Mas ele deu em cima de mim ontem.
Kiyoomi ficou quieto por um momento enquanto franzia as sobrancelhas.
— Ele deve ter enchido a cara e caído bêbado em um beco, logo aparece. Você não precisa se preocupar com isso.
— Deve ser isso mesmo.
Akaashi foi chamado e se levantou para ir buscar seus gatos, quase saltitando de felicidade em pensar que finalmente conheceria os filhotes. Kiyoomi e Shoyo vieram atrás dele.
— Como estão os meus filhos? — perguntou Akaashi depois de cumprimentar a doutora Sakura.
— Nasceram cinco filhotes saudáveis muito amados por sua mãe.
Akaashi ouviu com atenção enquanto Sakura explicava tudo que ele precisava saber para criar filhotes de gato recém-nascidos. Shoyo também fez algumas perguntas, o que deixou o coração de Akaashi quentinho. Finalmente, eles foram embora carregando três caixas de transporte.
— Eu não entendi, por que você deixou Dog e Nyan na clínica também? — perguntou Kiyoomi enquanto dirigia, sua mão permanentemente na perna de Akaashi. Shoyo havia escolhido ir atrás para brincar com os gatos.
— Porque eles se tornaram muito apegados a Duquesa. Da última vez que os deixei separados eles miaram a noite inteira.
— Quanto tempo até os filhotes poderem ser adotados?
— Acho que uns dois ou três meses, é o ideal.
— Poxa — Shoyo parecia murcho. — Isso é muito tempo. Não vou aguentar.
— Você pode ir visitar eles todos os dias, se quiser.
— Nah, eu quero eles lá em casa. — O coração de Akaashi quebrou um tiquinho.
— O que Shoyo está tentando fazer é chamar você para morar conosco — esclareceu Kiyoomi.
— Como?
— Ele é um homem de ações, não de palavras. Na verdade, ele já mandou uma equipe de reforma para telar nossa varanda e as janelas. Já comprou todos os tipos de brinquedos e pagou adiantado para entregarem o mais rápido possível.
— Espera, vocês querem que eu vá morar com vocês? Assim tão cedo?
— Eu não acho que é cedo — protestou Shoyo. — A gente já está cortejando você há uma semana. Já deveríamos estar casados a essa altura do campeonato.
Ele parecia estar falando tão sério que um riso escapou de Akaashi, uma risada que sacudiu seus ombros como nunca antes.
— Por que o riso? — perguntou Kiyoomi, um sorriso suave no canto de seus lábios.
— Porque vocês dois são incríveis. — Akaashi fechou os olhos por um segundo. Quando os abriu, havia tomado sua decisão. — Tudo bem. Eu vou morar com vocês.
— Sério?
— Mesmo?
— Sim. Somos almas gêmeas, não?
Akaashi não via motivos para esperar.
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— ELES SÃO O QUÊ? — berrou Bokuto depois de arrastar Akaashi para longe dos outros caras do time.
— São minhas almas gêmeas — Akaashi afastou a manga da blusa e mostrou seu pulso.
— Puta que pariu. Eu soube que eles tinham conseguido te levar para a cama, mas isso…
— Espera, como você soube que transamos?
— Ah, Shoyo postou uma foto de vocês três.
Akaashi puxou o celular e abriu o Instagram como se sua vida dependesse disso. Centenas de notificações novas o aguardavam, mas não deu a mínima e foi direto ao perfil de Shoyo.
Ali estava a foto. Nela, Shoyo sorria enquanto tinha Kiyoomi deitado em seu peito. Kiyoomi, por sua vez, estava abraçando Akaashi. Os dois morenos adormecidos.
Akaashi cobriu seu rosto com as mãos e grunhiu. Aquilo explicava porque todo mundo o estava encarando. Mesmo depois que se separou de seus namorados para ir à aula.
— Kaashi? — Bokuto chamando interrompeu seu surto. — Você está feliz?
Nem precisava de tempo para pensar na resposta. Akaashi abaixou suas mãos e sorriu.
— Sim, Bo. Eu tô completamente feliz.
Bokuto o envolveu em um abraço apertado, o levantou do chão e girou pela quadra enquanto cantava que seu melhor amigo tinha dois sugar daddys.
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Faziam meses de namoro agora.
Akaashi já morava com Shoyo e Kiyoomi, todos os seus oito gatos sendo como filhos. Sim, oito. Porque Shoyo não deixou os filhotes serem adotados por mais ninguém. E ninguém conseguia dizer não a ele quando os olhos de cachorrinho estavam sendo usados.
Sua formatura havia sido há uma semana. Atualmente havia conseguido um emprego estável como bibliotecário. Shoyo também se formara e estava abrindo sua floricultura. E naquela noite seria a exposição em que o trabalho final de Kiyoomi seria exposto.
Era o quadro que pintara de Akaashi.
Mas, antes disso, Akaashi precisava fazer algo.
Respirando fundo, Akaashi parou na frente do túmulo de sua mãe.
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— Talvez devêssemos ter ido com ele — murmurou Kiyoomi, mordendo a unha.
— Hmm.
Faziam minutos que Shoyo só respondia com isso, entretido com seu tablet. Essa foi a gota d'água para um Kiyoomi muito estressado.
— O que você está vendo nessa merda?
Shoyo lentamente levantou a cabeça e abriu um sorriso estranho.
— Você está "trabalhando"?
Era o trabalho de assassino.
— Não exatamente. Sabe, faz um tempo que eu estou rastreando os ex-namorados da mãe de Akaashi. E eu encontrei o último deles.
Kiyoomi sequer ficou surpreso. Bom, ficou feliz na verdade. E isso aliviou sua ansiedade de artista.
— Obrigado, amor — disse depois de se inclinar para um beijo.
— Huh?
Kiyoomi relaxou no banco do passageiro e esperou. Havia feito uma obra prima e hoje a revelaria ao mundo.
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Akaashi se agachou em frente ao túmulo sujo e cheio de ervas daninhas. Aparentemente ninguém veio limpá-lo desde o enterro. Seus braços, nús, sem faixas ou blusas, se apoiaram em seus joelhos.
— Oi mãe — cumprimentou. — Essa não é uma visita legal, sabe? Eu odeio estar aqui. Mas eu precisava.
Ponderou por um momento, e, finalmente, abriu seu coração.
— Você fez da minha vida um inferno. E eu te odeio. Mas apesar disso eu estou feliz agora. Claro, esse mérito é totalmente meu. E é isso que eu quero que você saiba. — Akaashi sorriu vitorioso. — Apesar de todos os seus esforços, eu encontrei minhas almas gêmeas. E, sim, são duas. E eles me amam. Não somos perfeitos. Nós brigamos. Mas não fugimos uns dos outros como você e o papai fizeram. Aprendemos com o exemplo.
Akaashi narrou como tudo aconteceu, sempre frisando como estava feliz.
— Se eu fosse um bom filho, como você sempre quis, provavelmente já teria te encontrado. Mas a verdade é que eu não sou o bom garoto. Eu vou a vadia. E, como uma boa vadia, eu desejo que você queime no inferno, mamãe. — Akaashi se levantou e cuspiu no túmulo. — Eu jamais vou te perdoar. Mas, a partir de hoje, vou esquecer de você. Aproveite a estadia.
Akaashi se afastou do túmulo sem olhar para trás, pela primeira vez em anos completamente em paz consigo mesmo.
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— Você não precisa ficar tão nervoso — garantiu Akaashi enquanto sentia a palma de Kiyoomi ficar cada vez mais úmida em sua mão.
— Quieto.
— ACHEI — gritou Shoyo, soltando a outra mão de Kiyoomi e indo em direção de uma multidão. Todos se dispersaram quando ele se aproximou. — CARALHO!
Akaashi também apertou o passo, porém Kiyoomi soltou suas mãos e tapou seus olhos.
— O que é isso?
— Eu quero que seja surpresa.
Sorrindo, Akaashi se deixou ser conduzido. Porém seu sorriso desapareceu quando fitou o quadro pendurado. Lágrimas se acumularam em seus olhos.
— Esse… esse sou eu?
— É como eu vejo você.
A pessoa do quadro parecia etérea, como um verdadeiro anjo. Akaashi se reconhecia no quadro, mas também não se reconhecia. Suas feições pareciam vindas diretamente do paraíso. Seu corpo era simplesmente majestoso.
Porém os detalhes mais bonitos eram o pulso, de onde um corte aberto vertia sangue, e do sangue que caía em rosas brancas.
Depois de um minuto inteiro, Akaashi conseguiu recuperar seus sentidos e agarrou Kiyoomi, beijando-o.
Transmitiu com aquele beijo tudo que não conseguia com suas palavras.
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Akaashi estava completamente aquecido quando acordou, apesar do lençol que havia escorregado até sua cintura, expondo suas costas ao sol que entrava pela janela. Em algum lugar do apartamento era possível ouvir os gatos brincando.
Com um bocejo, Akaashi ergueu para admirar a vista. Os três estavam deitados juntos, Shoyo no meio. Todos nús e cobertos de marcas. Kiyoomi e Shoyo ainda estavam em sono profundo.
Apreciando eles, Akaashi relembrou mais uma vez de como chegou até ali. Dito isto, começou a traçar com os dedos as sardas no peito de Shoyo.
Havia conseguido contar as pintinhas de Kiyoomi. Ele tinha quarenta e três no total de corpo inteiro. Porém as de Shoyo ainda eram uma luta.
Contou até trinta e duas antes de perder a conta. E quando aconteceu, simplesmente deitou no peito de Shoyo e voltou a dormir, sentindo um breve toque da mão de Kiyoomi em sua pele.
Teria o dia seguinte para tentar de novo. Agora, dormiria com as estrelas.
✷✷✷ Fim ✷✷✷