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Pela lente do amor ( adaptação) Gretson

Chapter 5: Grávida

Notes:

Esses últimos dias foi um pouco difícil. E eu ainda estou triste pela notícia do cancelamento.

(See the end of the chapter for more notes.)

Chapter Text

- No dia 1 de dezembro, Carson e Maybelle estavam no EL Escorial fazendo uma sessão fotográfica com várias modelos para a Guess. Em princípio, o que parecia que seria fácil de fazer se tornava a cada instante algo mais tortuoso e difícil de suportar. Naquela manhã Carson não estava muito bem, e parecia que as modelos não queria cooperar.

- Por favor, Emma, mude essa expressão, mulher, e dê um sorriso inocente - estimulou Carson de câmera na mão.

A modelo bufou e gritou:

- Estou com frio!

- E eu também! - pulou Maybelle. - Ou acha que minha mãe me pariu em um iglu? Portanto, sorria, olhe para câmera e pare de reclamar de uma vez por todas!

Carson sorriu e, aproximando-se dela, sussurrou:

- Sua mãe a pariu em um iglu?

Ambas riram.

- Sei lá, menina... Tinha que dizer alguma coisa - soltou Maybelle. Alegre. - Ande, dê um descanso a elas e vamos tomar um café. Quem sabe assim elas acordam um pouco.

- Boa ideia! - assentiu Carson, e olhando para as modelos, disse: - Cinco minutos para tomar um café e se aquecer, e depois continuamos.

Enquanto as seis modelos davam um jeito de correr até os carros para se proteger do frio, montadas em uns saltos impossível, Carson e Maybelle foram até uma pérgula; se sentaram, e, de uma garrafa térmica, serviram-se de café.

- Viu o novo número da revista do Raul?

- Sim - assentiu Carson, pegando a revista. - As fotos de espectros são de arrepiar.

Maybelle se aproximou da amiga para folhear a revista.

- Não sei se conseguiria trabalhar em uma revista assim - comentou. - Do jeito que eu sou cagona, ficaria o dia todo angustiada pensando que um fantasma de meu passado apareceria no meio da noite para me degolar.

Carson esboçou um sorriso e deixou a revista em cima da mesinha.

- Como você é boba! A propósito, Raul está organizando uma exposição pelo sexto aniversário da revista. Disse que será ano que vem, e você sabe, não podemos falhar com ele.

- Tudo bem, não falharemos. Mas esses amigos Freaks e sinistro que você tem me deixam meio nervosa.

Dois minutos depois, com as mãos e copos mais quentes, Maybelle olhou para sua amiga, e ao vê-la de cenho franzido, perguntou:

- Que foi?

Carson pôs a mão na cabeça.

- Acho que estou pegando uma gripe daquelas.

- Ah, que booooom! Pegou a mesma gripe da Esmeralda? - Carson gemeu. - A coitada ficou péssima, vomitando e tudo.

- Ai! Não diga isso!

- Sim, querida, tenho que dizer. A gripe este ano veio forte.

Ela não queria pegar essa gripe; olhou para sua amiga e disse:

- O pior de tudo não é pegar a gripe; é levar para Londres. Se aparecer doente em casa, vou dar motivo para minha mãe falar durante todos os dias que eu passar lá. Haja paciência!

Maybelle sorriu.

- Ela já vai ter o que falar por causa da sua irmã. Eu daria tudo para ver a cara da sua mãe quando ela lhe contar que vai casar outra vez.

- Afe! Cala-se! - Resmungou Carson, pegando sua bolsa para tomar um anti-inflamatório. - Eu daria tudo para não ouvir seus uivos de agônicos.

Porque lhe digo uma coisa: essa notícia vai matar minha mãe.

- É que essa sua irmã, viu? Casar de novo!

- Pois é... Parece que ela gosta de viver sempre no centro da polêmica - assentiu Carson, colocando o comprimido na boca.

- E seu pai? O que ele diz?

Carson, com sorriso, pensou que se havia alguém paciente no mundo, esse alguém era seu pai.

- Vai reclama, mas assim que Megan der suas piscadinhas e disser " Papai, você é o melhor", vai apoiá-la. Ele é um doce!

- Bendito Michael! - brincou Maybelle.

De repente, Carson pegou sua amiga pelo braço, e curvando-se para frente, vomitou. Maybelle, assustada, levantou-se e rapidamente apoiou-lhe a testa, como fazia sua mãe quando ela era pequena. Quando acabou e se endireitou. Carson estava pálida.

- Carson.... Carson... acho que você pegou a gripe da Esmeralda.

- Água. Dê-me água.

Sem tempo a perde, Maybelle pegou uma garrafa, encheu um copinho e o entregou a Carson.

- Beba devagar, para não fazer mal.

Seguindo as instruções de sua amiga, ela bebeu aos golinhos, e depois deixou o copo em cima da mesa.

- Você está bem?

- Não, mas tenho que ficar. Acho que a gripe e este frio não são bons aliados. - E, levantando-se, acrescentou:

- Vamos acabar com a sessão antes que eu piore e não possa nem apertar o disparador da câmera.

De imediato Maybelle reuniu as modelos, apertou o Play para tocar Coldplay e a sessão foi retomada. A partir desse momento, tudo começou a melhorar. As modelos, ao ver o estado em que Carson se encontrava, de repente cooperaram, e o que não havia conseguido em quatro horas, conseguiram em duas.

Aquela noite, quando chegaram em casa, estavam congeladas. Carson tomou outro anti-inflamatório e começou a se sentir melhor. Depois de tomar um banho, quando já estava de pijama jogada no sofá, tocou o telefone e Carson atendeu.

- Olá, amiga Carson! Tahani está?

Esticando-se o sofá ao ouvir aquela voz, a jovem sorriu.

- Olá, amiga Greta! Não, e não sei onde está. Ligou no celular dela?

Maybelle se alvoroçou e começou a fazer gesto para que atacasse, enquanto Carson negava com a cabeça.

- Liguei, mas ela não atende.

- Bem, moça, sinto muito. Mas se quiser conversar, estou aqui. Sou toda sua!

Maybelle levantou o polegar. Bela insinuação!

- Cuidado com o que diz, minha linda - debochou Greta com a voz rouca -, porque posso levar ao pé da letra essa " toda sua", e depois você não vai poder dar para trás.

Ao ouvir aquilo, o telefone caiu das mãos de Carson, mas rapidamente ela o pegou. Como podia ser tão desajeitada? De repente, toda a segurança que teve segundos antes desapareceu.

- Ainda está aí? - perguntou Greta.

- Sim... sim... estou aqui.

Greta, que havia notado a mudança na voz da Carson, sorriu.

- Ei, linda, não se assuste. Falei brincando.

- Eu sei... eu sei... - murmurou Carson, acalorada.

Nesse momento ouviu-se a porta da rua, e um segundo depois apareceu Tahani.

- Greta, Tahani acabou de chegar; vou passar para ela.

A modelo ficou alegre ao ouvir aquele nome e arrebatou o telefone de Carson.

- Olá, capitã! Estava justamente pensando em você.

E já não puderam escutar mais, pois ela foi para o quarto e fechou a porta.

- Evidentemente, você não sabe lidar com uma fera como Greta - disse Maybelle olhando para amiga. - Ela a devora! Assim que fez a mínima insinuação, você se caga toda! Como acha que assim vai poder levá-la para cama?

Carson soltou uma gargalhada e se levantou.

- Antes que você comece com suas perversões mais horrendas, vou para cama. Minha cabeça vai explodir. Boa noite, Mayyyyyyy.

- Fuja... fuja... que quando você não quer falar de alguma coisa, faz isso muito bem.

Depois de fechar a porta do quarto, Carson se olhou no espelho e fechou os olhos, horrorizada.

- Que desastre!

Deitou na cama e apagou a luz. Precisava descansar ou sua cabeça ia explodir.

De madrugada, acordou sobressaltada. Estava suando e se sentindo péssima. Depois de procurar os chinelos no escuro, meio adormecida, vestiu o roupão e foi para sala. Tudo estava em silêncio. Todos dormiam. Com os olhos quase colados, abriu a geladeira e pegou leite.

Em seguida, pegou um copo, encheu-o e o colocou no micro-ondas. Quando acabou de tomar o leite, pôs o copo na lava-louça e voltou a seu quarto.

Mas, antes de chegar, desviou e foi no banheiro. Sentou-se no vaso, e instantes depois viu que o papel higiênico havia acabado. Como um autômato, levantou-se do vaso, abriu o armarinho e pegou o rolo, mas ao fechar as portas, seus olhos quase colados viram algo que a deixou paralisada. De novo abriu a portinha do armário e pestanejou durante dois segundos.

- Ai, meu Deus! Ai, meu Deeeeeeeeeeeus!

Jogando o rolo longe, foi abrir a porta do banheiro para sair, mas a calça do pijama arriada fez que caísse de novo, batendo a bunda no vaso sanitário, e teve o azar de, com a queda, derrubar o pote onde ficavam as diversas escovas de dente e dois vidros de perfume. O estrondo do vidro batendo no chão foi apocalíptico, e antes que pudesse se levantar, Maybelle, com a cabelo todo revirado, entrou assustada.

- Que aconteceu?

Mas Carson, atônita, não respondeu, e levantando a calcinha e depois a calça do pijama, correu para seu quarto. Maybelle foi atrás dela. O que estava acontecendo? Ao entra no quarto, Carson foi até o calendário que tinha na parede, e depois de pousar o dedo sobre uma data e olhar outra, gritou:

- Caralhoooooooo!

Maybelle, atônita, ao ver Carson pôr a mão na cabeça e começar a soltar um horrível ladainha de palavrões em inglês e espanhol, um pior que o outro, pegou-a pelo braço e a sentou na cama.

- Tudo bem... chega! Que diabos está acontecendo?

Pálida como cera e respirando com dificuldade, Carson olhou para Maybelle.

- Não sei, mas vista-se e vamos encontrar uma farmácia aberta.

Às quatro e meia da manhã, as duas amigas, depois de voltarem da busca e apreensão de uma farmácia aberta, estavam sentadas no banheiro com uma expressão indescritível.

- Já passou o tempo - disse Maybelle, - Veja o resultado.

- Não... não consigo.

- Quer que eu olhe?

- Não!

Maybelle assentiu, e passados mais dois minutos, insistiu:

- Carson, se você estiver grávida, vai estar agora, daqui a cinco minutos e daqui a seis horas. Ou você olha, ou olho eu.

Sentindo palpitações, a jovem estendeu a mão e pegou o teste de gravidez, e antes de olhar, sussurrou, lembrando-se de sua mãe:

- Acho que vou ter um infarto.

- Eu é que vou ter um infarto se você continuar dizendo bobagens. Olhe esse maldito teste de uma vez por todas.

Carson virou o aparelhinho comprido que tinha nas mãos. Ao ver os dois risquinhos, assustada, e mesmo tendo lido o papelzinho vinte vezes perguntou:

- O que significa?

Maybelle, ao ver o que Carson lhe mostrava, mordeu o lábio.

- Que você está grávida, querida.

Jogando longe como se queimasse suas mãos, Carson exclamou:

- Não pode ser! Impossível! Deve estar errado. Dê aqui outro.

No terceiro teste positivo, Carson começou a chorar, e sua amiga abraçou. Ficaram um bom tempo sentada no chão frio do banheiro, até que Maybelle disse:

- Muito bem, Car... como diria nossa Encarna, sempre resolvemos todos os problemas que apareceram, e este também vamos resolver. - Carson, abalada, assentiu. - Primeiro de tudo, acalma-se e respire para não ficar roxa, ok?

- Tudo bem.

Depois de limpar com uma toalha molhada as trilhas de lágrimas que manchavam o rosto de Carson, Maybelle deu-lhe um beijo doce na bochecha e prosseguiu:

- Segundo, vamos levantar do chão, que está gelado, está bem?

Ambas se levantaram.

- E terceiro, vamos para a sala. Vou fazer um chá de tília, porque precisamos.

Dez minutos depois, no silêncio da sala, Carson estava sentada imersa em seus pensamentos quando sua amiga lhe deu uma xícara.

- Beba, vai lhe fazer bem.

A jovem atendeu. Quando deixou a xícara em cima da mesa, seus olhos estavam inchados de tanto chorar.

- O que vou fazer?

- Não sei, Car. Acho que é a primeira vez que só você pode decidir o que fazer. - E perguntou: - Você sabe quem é o pai?

Carson assentiu. Só havia um candidato.

- Só pode ser o irlandês que conhecemos na noite em que fomos ao Garamond. Fazia três meses que eu não transava com ninguém, e uma noite que me liberei, pronto! Grávida! Mas... mas, não entendo. Nós usamos preservativo.

- Essas coisas às vezes acontecem. O método falha... Você tem como localizar o irlandês ?

- May... só sei que se chama Murphy. Eu o conheci essa noite e não sei mais nada dele. - E, levando as mãos à cabeça, murmurou:

- Meu Deus, estou grávida de um sujeito que nem sei quem é! O que posso dizer? Como vou explicar isso a meus pais?

- Ei, relaxa - disse Maybelle ao ver a cara de desespero dela.

- Mas, May o que vou dizer a essa criança no dia em que me perguntar pelo pai? Como vou explicar que foi uma transa de uma noite e nada mais? Ai, meu Deus! Agora todos vão pensar que sou uma desmiolada, uma maluca, uma idiota! Uma...

- Ei, puxe o freio, Madalena, que está embalando! Interrompeu Maybelle. - Primeiro, essas coisas acontecem e o mundo está cheio de pessoas maravilhosas procedentes de uma transa de uma noite só. Meu sobrinho Carlos é um deles, e é o filho mais lindo, estudioso e responsável que minha irmã tem. - Carson sorriu e Maybelle prosseguiu:

- Segundo, você tem trinta anos, e acho que seus pais têm que respeitá-la, faça o que fizer. E terceiro e muito importante: você pretender ter a criança?

- Não sei. Você sabe que eu... eu... sou a favor de que as pessoas façam o que quiserem com seu corpo, mas agora que eu sei que dentro de mim há um bebê...

- Uma ameba... Isso nem chega a ser um feto.

- É uma vida, May. Dentro de mim pulsa uma vida, e eu... eu não sei se vou ser capaz de... de... de...

- De quê?

- Disso.

- Diga a palavra.

Durante alguns segundos Carson hesitou, mas ao ver os olhos fixo de sua amiga, murmurou:

- Não sei se vou ser capaz de abortar.

Maybelle assentiu e secou uma lágrima que havia assomado em seus olhos.

- Carson, quando precisei, você me apoiou, e aqui estou para apoiar cem por cento seja qual for sua decisão. Então, Maybelle amoleceu e começou a chorar. Anos atrás, ela havia passado pelo mesmo e, no fim, havia tomado uma decisão drástica.

Naquele momento não podia ter um bebê, e embora houvesse lhe doído na alma, havia abortado. Era uma assunto que elas não abordavam.

Evitavam-no. Mas, nessa noite, inevitavelmente, veio à tona.

- Tome, beba isto - disse Carson, dando o chá a sua amiga. - Vai lhe fazer bem.

Com um sorriso triste, Maybelle pegou a xícara, e depois de dar um gole, assoou o nariz.

- Nossa, estamos um caco, as duas! - Comentou Maybelle, e a outra sorriu. - Decida o que decidir, estou com você. E se no fim decidir ter o bebê, conte comigo para tudo. Absolutamente para tudo. - E acrescentou:

- Bem, sinto dizer, mas desta vez você mata sua mãe.

Com essa última afirmação, Carson fechou os olhos, mas ao ouvir sua amiga rindo, foi incapaz de se conter e se juntou a ela.

- Nem lhe conto o que minha mãe pode dizer se eu decidir ter o bebê - comentou Carson quando ambas se acalmaram.

- Que desonra! Sua filha solteira grávida e a criança sem pai. Isso vai levá-la diretamente ao túmulo. E meu pai, não sei, não sei como vai reagir a uma notícia assim.

- Você tem tempo para pensar - afirmou Maybelle, sorrindo com aflição.

- Eu sei... e é o que vou fazer.

Em silêncio, ambas mergulharam em suas dores particulares. Carson olhou para sua amiga, e ao ver a tristeza em seus olhos, propôs:

- O que acha, princesa, de dormir comigo em minha cama?

- Promete não mexer comigo? - debochou a outra.

- Vou tentar - disse Carson rindo.

Maybelle se levantou e ajudou a se erguer, e enquanto caminhavam para o quarto, sussurrou:

- Então, acho uma ideia excepcional. Você sabe que eu só tenho olhos para minha bombeira gostosa.

>

O Natal chegou e Carson foi para Londres. Maybelle, com dor no coração, pois gostava muito daquela mulher engraçada, deixou Jo em Madri e foi para EUA. Inicialmente havia pensado em ficar com ela, já que Jo também tinha família no EUA e passaria as festa sozinha ou com as amigas. Mas, por fim, decidiu ir, mas pelas reclamações de sua mãe, que achava inadmissível ela não estar no Natal.

Quando Carson chegou ao aeroporto londrino, um homem uniformizado a cumprimentou e levou até um carro luxuoso, onde colocou sua mala.

Depois, conduziu até a casa de seus pais.

Depois de beijar seus pais, Carson subiu a seu quarto. Estava exatamente igual quando ela havia partido. Adorava voltar e encontrá-lo sempre idêntico. Tomou um banho, pôs um vestido para o jantar e, ao descer, encontrou sua irmã, que se jogou com uma louca em seus braços.

- Nana, como você está linda!

- Obrigada, Pato.. você também está muito linda. Adorei seu cabelo! - E o reconhecer o vestido da irmã, sussurrou: - E esse vestido da nova coleção Armani ficou lindo em você.

Megan sorriu e tocou alegremente o cabelo.

- Antes de voltar à Espanha você vai comigo ao cabeleiro de minha amiga Rachel, e ela vai deixar seu cabelo maravilhoso. E quanto ao vestido - baixou a voz -, Tom me deu de presente. Ele é muito liiiiiindo!

Carson assentiu, e sua irmã, levando-a para um canto da sala enorme, murmurou: - Ai, Nana, estou preocupada! Há alguns dias que mamãe está abatida. Segundo papai, é porque o Natal a cada ano deixa mais triste. E para piorar tudo eu tenho que lhe contar do meu casamento.

Minha mãe do céu! Ainda bem que do meu assunto não vão saber, pensou Carson.

Durante aqueles dias havia pensado no que fazer, e, no fim, chegou à conclusão de que não havia lugar para um filho em sua vida. Ela era uma profissional independente que viajava muito, e um bebê só atrapalharia. Por isso, com toda a dor do mundo, havia marcado para 22 de janeiro, em Madri, um horário em uma clínica clandestina de aborto. Era o melhor, ela tinha certeza.

Curtiu muito os dias que passou em Londres com sua família. Sair com sua irmã e seus amigos à noite era exaustivo, mas ela gostava. Uma daquelas noites encontrou Charles, seu ex. Por sorte, ele não a viu, e Carson respirou aliviada quando viu ele ia embora com uma garota, todo meloso.

Passou várias tardes com seus pais diante da lareira jogando Monopoly, um ritual que desde menina havia unido eles, e agora, evidentemente, ela não ira decepcioná-los.

Na noite de réveillon, enquanto as duas irmãs jantavam com seus pais na bela sala inglesa, Michael curtia o momento. Ter suas duas lindas filhas sentadas a sua mesa era algo que o deixava muito feliz e que em poucas ocasiões podia fazer. O fato de sua filha Carson estar tão longe dele era um espinho cravado em seu coração. Encantado, saboreava o jantar enquanto via as três mulheres de sua vida rindo e conversando.

Depois de celebrar a entrada do novo ano, os quatro, emocionados, abraçaram-se. Então, Clara sugeriu que fosse para sala de TV para beber alguma coisa fresca antes que as garotas saíssem com os amigos. Elas aceitaram com prazer.

- Você está magra, Carson Michelle. Está comendo bem na Espanha?

- Sim, mamãe. Como de tudo, mas você sabe, tenho que manter a linha!

Nesse momento, uma propaganda na televisão atraiu atenção de todos, e Clara, tirando um lenço do punho da blusa, falou.

- Quando vocês era pequenas havia uma propaganda igualzinha. Lembro como Carson ficou contente no ano o Papai Noel lhe trouxe a Nancy enfermeira e a cozinhazinha que até saía água da torneira! Lembra Mike?

- Sim, querida. Como poderia esquecer! - assentiu ele, orgulhoso.

- Ah, que lembranças! E vejo que propaganda mais doce! - falou Clara, emocionada.

- Ora, mamãe, não vai chorar por uma propaganda, não é? - Perguntou Carson, contendo o que aquela propaganda boba cheia de crianças sorridentes provocava nela.

- Não, não estou chorando por isso. Choro porque tenho duas filhas saudáveis e bonitas, e nenhuma delas me deu netinhos para eu mimar e poder comprar brinquedos no Natal. Todas as minhas amigas têm netinhos, e eu... eu estou sozinha! E sem esperanças de ter um bebê em minhas mãos.

Ah, que a terra me engula!, pensou Carson.

- Mamãe! - exclamou Megan olhando para ela.

- Clara, querida - disse Michael, tomando a mão de sua mulher. - Os filhos são uma bênção de Deus, e chegam quando têm que chegar.

- Mas eu quero ter netos - insistiu a mulher.

- E vai ter, mamãe - assentiu Carson com o coração apertado.

- Quando? - insistiu a mulher.

- Algum dia, mamãe... algum dia - sussurrou Carson.

- Só se for do Espírito Santo - brincou Megan. Mas ao ver como sua irmã a olhava, esclareceu: - É que eu não pretendo deixar que um bebê estrague este corpo que malho na academia há anos. E você, não me parece feita para a coisa. Ora, não vejo você ou muito menos eu como mães.

- Vocês só me dão desgosto! - Gritou Clara, desconsolada. - Uma é Lady Escândalo, e, a outra, a Lady rebelde.

- Pelo menos somos ladies - ironizou Megan de novo, ganhando um olhar seco de seu pai.

- Mamãe, não exagere - protestou Carson.

- Para que tive filhas? Para que me deixassem abandonada.

- Mamãe!

- Vocês nunca me dão uma alegria.

- Tudo bem... começou a tragédia - debochou Carson, nervosa, olhando para seu pai.

- Só desgostos! Vocês adoram me ver mal e deprimida...

- Mamãe... mamãe, você vai passar mal - sussurrou Megan, mas a outra continuou.

- Eu me arrependo de não ter tido um filho homem. Com certeza ele teria nos dados mais alegria que vocês, e provavelmente já teríamos um netinho correndo por esta sala.

- Clara - censurou seu marido -, não diga bobagens. As meninas são...

- As meninas? Que meninas? A Lady Escândalo e Lady rebelde já são duas mulheres que poderia entender que estou ficando velha e que só quero o mesmo que todas as mulheres de minha idade: netos!

- Mamãe!

- Quero ter uma velhice tranquila e netinhos para beijar antes de morrer. Crianças pequenas para eu ensinar cançõezinhas infantis, para fotografar mo último dia da escola com orgulho. Mas não, são duas egoístas que só pensam nelas e que nunca...

- Estou grávida! - gritou Carson.

Ai, meu Deus, que foi que eu disse!, pensou assim que soltou aquilo pela boca. Todos a olharam, e um silêncio sepulcral tomou a sala, até que se ouviu um som oco.

- Pela amor de Deus, Clara! - grunhiu Michael, correndo para ela.

- Mamãe! gritaram as jovens ao ver a mãe caída no tapete.

- Traga os sais da segunda gaveta - indicou Michael a sua filha mais velha.

Rapidamente, Carson abriu a gaveta que seu pai lhe indicou e lhe entregou um potinho. Ele o abriu, e colocando debaixo do nariz da esposa, conseguiu que ela reagisse.

- Ah, Mike, acho que estou sonhando! Ouvi Carson dizer que estava grávida - articulou a mulher.

- Não, Clara, você não está sonhando - respondeu o marido.

Com cuidado, sentaram em uma poltrona, e enquanto o homem se preocupava com estado de sua mulher, Megan olhou para sua irmã e gritou:

- Muito bonito, Nana! Que notícia! E disse que não tinha nada de importante para contar!

- É que eu não ia contar - balbuciou.

- Perfeito! E agora, como vou lhes dizer que vou me casar com Tom Billman em maio?

Clara, horrorizada, levantou-se como um míssil e gritou, enquanto Michael tocava a cabeça.

- Santo Deus! Você pretende se casar com o jogador de polo?

- Sim, mamãe. Com Tom.

- Mas você está louca, minha filha?

- Não, mamãe.

- Mas... mas, esse homem é promíscou que...

- Mamãe, estou loucamente apaixonada por Tom. Sou adulta e vou me casar com ele. Assunto encerrado.

Histérica, a mulher dramatizava, enquanto seu marido suspirava. As três juntas eram um bomba-relógio, e ele passava por isso desde sempre.

- Vocês estão dispostas a me matar de desgosto?

- Não, mamãe - respondeu Megan enquanto Carson continuava em estado do choque pelo que havia revelado.

- Clara, sente-se antes que desmaie de novo - advertiu Michael.

- Mas, Mike, você ouviu o que essas duas inconsciente disseram?

- Sim, Clara, eu ouvi.

Mas a mulher, não satisfeita, agitou-se e gritou como uma possessa:

- Uma grávida sabe lá Deus de quem, e outra quer se casar com Tom Billman. Que escândalo! Que vergonha! Estaremos na boca de Londres inteira.

Michael, pesaroso, olhou para suas filhas, e dando meia-volta, foi direto para o bar. Depois de se servir uma bela dose de uísque, bebeu de um gole só e se sentou.

- Meninas, sentem-se. Temos que conversar muito seriamente - ordenou.

Carson, ainda surpresa com a bomba que havia soltado, sentou-se ao lado do pai, enquanto sua irmã e sua mãe continuavam discutindo. Por que havia falado do bebê? Estava louca? Mas, ao olhar para TV e ver as propagandas de Natal, com crianças, brinquedos e presentes, soube. Não queria abortar.

- Querida - disse de repente seu pai, tirando-a de seus pensamentos -, você está bem?

- Sim, papai - afirmou Carson sem muita convicção, segurando-lhe a mão e sorrindo.

- Michael! - gritou Clara. - Chame o doutor Witman. Acho que vou ter um infarto a qualquer momento.

O homem, apôs revirar os olhos, levantou-se, sentou a sua mulher em uma poltrona e, entregando-lhe seu copo, disse sem lhe dar muita bola:

- Clara, beba o uísque e esqueça o médico. Temos uma reunião familiar. E você, Megan, sente-se.

- Eu... Nós marcamos com Tom e...

- Ligue para ele e diga que hoje vocês têm que ficar coma família.

- Mas, papai...

O homem cravou como poucas vezes o olhar em sua filha, e mantendo a decisão, repetiu:

- Sente-se, e não me irrite.

Pela primeira vez em muitos anos, Megan se sentou sem reclamar enquanto Carson, surpresa com o tom de seu pai e o silêncio da mãe, observava.

Depois de alguns segundos em silêncio, Michael olhou para as três mulheres de sua vida e advertiu:

- Vamos conversar os quatro como pessoas civilizadas, portanto, Clara, proíbo soluços, cenas desesperadas e todas essas coisas que você bem sabe, ou senão, saia da sala antes que eu comece falar com minhas filhas, entendeu?

- Sim, Michael - assentiu a mulher, espantada.

A seguir, ele olhou para as filhas, e dirigindo-se a Carson, surpresa e pálida, perguntou:

- De quanto tempo está?

- Pouquinho, papai.

Michael assentiu e perguntou de novo:

- E o pai?

Carson gelou, por um instante quis lhe contar a verdade. O pai era um irlandês de quem não sabia nada. Mas dizer a eles que aquilo era o resultado do que vulgarmente se chama de uma noite de loucura pareceu-lhe forte demais. Por isso, com um sorriso inocente, afastou o cabelo do rosto e falou:

- Na verdade é.... é.... é a outra mãe.

- Uma mulher - gritou Clara. E Megan ficou de boquiaberta.

- Clara! - falou Michael e respirando fundo e um pouco confuso perguntou -, minha filha, uma mulher? mas como?

- Ela é intersexual, papai. E ela está... está tão feliz quanto eu.

- Pela amor de Deus - gritou Clara novamente, mas Michael cravou os olhos na sua esposa. E ela se calou com o olhar do marido.

- Eu vou ser tia? - falou Megan surpresa com a notícia.

- Sim, Pato. Parece que sim - respondeu Carson sorrindo com timidez.

- E quem é a outra mãe do meu futuro neto? - Quis saber Clara.

Carson olhou para ela e viu a mão que segurava o lenço subir perigosamente para a boca. Ela ia chorar a qualquer momento já que o seu futuro neto, não tinha um pai que era um conde ou um príncipe e sim uma mulher, mas já não havia como voltar atrás. Com rapidez, decidiu inventar uma bela história de amor que o tempo cuidaria de fazer desaparecer.

- Ela... é uma mulher encantadora - E tocando a orelha, disse: - O nome... nome dela é Greta, e ela é bombeira em Madri.

- Ora, minha irmãzinha é esperta. Uma bombeira! - Sussurrou Megan, piscando para ela.

- Uma bombeira - gritou Clara desesperada.

- Clara! - Censurou Michael.

- Mas Michael, ela merece coisa melhor. É uma moça bem-nascida. Tem estudo, e é...

Sem deixar que terminasse, Carson olhou para sua mãe e asseverou:

- Mamãe, Greta é uma pessoa excepcional, que me ama como sou, não por quem sou. Ela cuida de mim, me mima, está preocupada comigo o tempo todo, e isso me fez feliz. Por acaso não quer que eu seja feliz? Ou prefere que eu tenha a meu lado uma pessoa que nem me olhe, mas que se case comigo por ser filha de Michael Waldorf? Você pode até querer isso, mamãe, mas eu não.

- Mas, filha, escute...

- Não, mamãe. Eu quero alguém que de manhã me beije quando acorda de mau humor, alguém que me faça sorrir, e, especialmente, alguém que, com o passar dos anos - disse olhando para seu pai -, continue me amando, mesmo que eu me torne uma mulher intransigente. Eu busco isso em alguém, e Greta é assim - mentiu. - Ela está tão emocionada com o bebê quanto eu. Não importa se ela é intersexual ou não, não foi planejado, mas chegou em um momento de nossa vida em que não podemos ignorá-lo e nos livrar-mos. Você não queria netinho? Pois aqui está - afirmou tocando sua barriga lisa. - Ou só porque é filho de uma mulher que é intersexual e ela é uma simples bombeira será menos bonito e você vai amá-lo menos?

- Não, querida... isso não - murmurou a mulher. - Meus netos serão meus netos sejam de quem forem, e vou amá-los loucamente.

Emocionado com aquelas palavras, Michael tomou a mão da filha e a apertou.

- Adorarei conhecer a mulher que faz minha filha tão feliz. E garanto que serei um avô orgulhoso desse pequenino que está a caminho.

- Obrigada, papai.

Depois de se fundir em um abraço com seu pai, Carson ouviu a mãe tossir e se voltou para olhar para ela.

- Querida, desculpe... É claro que quero vê-la feliz. Vou ser avó!

- É o que parece, mamãe - sorriu Carson.

Clara soltou o lenço, abraçou a filha e a encheu de beijos, fazendo seu marido rir.

- Amanhã mesmo vamos à loja de bebês de minha amiga Caroline e...

- Não, mamãe - recusou Carson, decidida. - Não vamos a lugar nenhum porque não quero que ninguém saiba de minha gravidez ainda. Se a imprensa souber não vão me deixar em paz, e minha vida na Espanha é tranquila e sossegada. Vamos dar tempo ao tempo, e depois todos saberão.

Michael segurou a mão de sua mulher e esta assentiu, enquanto Megan, em frente aos três, soluçava como uma boba.

- Que foi? - perguntou Carson.

Sua irmã, com os olhos inchados e assoando o nariz no lenço que sua mãe lhe deu, olhou para ela.

- Ai, Nana! Faz tempo que não vejo um momento tão lindo entre vocês, e... e... e isso me fez chorar. Vou ser tia de um lindo bebê! Eu amo vocês, e vou amá-lo, e isso me faz muito feliz, porque tenho família maravilhosa.

Michael sorriu. Levantando-se, fez Megan levantar-se também, e antes de abraçá-la com amor, afirmou, para horror de sua mulher:

- Procure o vestido de noiva mais bonito, porque em maio vamos celebrar seu casamento com esse tal de Tom e conheceremos a outra mãe de seu sobrinho e meu neto.

Ao ouvir isso, Carson sentiu um calafrio. O que havia feito? Por que havia contado todas aquelas mentiras? Havia se metido em uma bela enrascada.

Notes:

Muito obrigada para quem leu até aqui. E podem me julgar mas eu acho engraçado os ataques da Clara 😂 e o que será que vai acontecer quando a Greta descobrir que vai ser mamãe?

Notes:

Fancfic Gretson é uma adaptação, um universo totalmente diferente de aloto.