Chapter Text
O mar tem um cheiro salino, a maresia… é meio inexplicável, característico.
É salgado, arenoso, toma tudo o que toca, e quando na pele de Jongin, é viciante. Pensar no moreno, que tinha finalmente um encontro com o homem que amava… O homem lindo, que tanto ama… Isso enche Chanyeol de vários sentimentos que ele não pode quantificar, mas certo que o maior deles é a satisfação.
Chanyeol estava ansioso, havia conseguido duas coisas muito importantes, dias atrás. A primeira foi chamar Johnny para sair, estava necessitado desse encontro a tempo demais, sentia que não podia mais perder nem um segundo, tinha uma vida para viver e ela só seria plena ao lado de Jonathan.
E em segundo lugar, mas não menos importante, havia Breno. Se permitir, sem culpas, sem o sentimento de que estava fazendo algo errado, ou até mesmo traindo Jongin, deixar com que ele lhe mostrasse a potência de todas as promessas feitas de maneira tátil, real, foi uma das melhores experiências que Carlos viveu.
Sua cabeça ainda pendia solta, sobre como lidar com essa situação, com toda essa situação. O fato de Jongin deixar claro que quer os dois, não impondo nunca sua vontade, mas evidenciando que ele seria o cara mais feliz do mundo se os tivesse. E isso, por si só, era umas das coisas que fazia a mente de Chanyeol dar voltas e mais voltas pois, ele podia mesmo se apaixonar?
Quer dizer, amar Jongin foi uma das melhores coisas que aconteceu em sua vida. Ter finalmente falado com ele, sentir o sabor adocicado da reciprocidade depois de tantos anos… Chanyeol pensa em quanto tempo foi perdido, consumido pela vergonha, mesmo ele sendo só um moleque. Carlos ama Jonathan a mais tempo do que pode lembrar e só com ele queria levar a vida assim que finalmente se mudasse para a cidadezinha litorânea mas, ao chegar, topou com um novo elemento. Um elemento baixinho, folgado, cafajeste e cuidador, um cara que conseguia ser amoroso com a mesma intensidade que era safado.
Não nega que, em sua mente treinada pelo usual, digamos assim, ao vê-los juntos, sentiu profundamente a perda do grande amor de sua vida; mas tudo virou de cabeça para baixo ao descobrir que de repente, as coisas não precisam ser assim, tão preto no branco.
Kyungsoo tinha interesse, aprovação e incentivo, e esse fato o amedrontou em um primeiro momento. Chegar quase oito anos depois e saber que, além de continuar sendo o cara pelo qual Jongin era apaixonado, o que tirou um piano que carregava todo esse tempo, de suas costas, ainda havia de brinde um segundo homem, que nem o conhecia, mas que também o esperava, que ansiava finalmente conhecê-lo, e isso por si só já era uma grande loucura na cabeça de Chanyeol. Se alguém lhe contasse, não acreditaria.
Para além de um encontro romântico, o que obviamente era, Carlos quer conversar sobre tudo, sobre coisas fáceis e coisas difíceis, quer resolver a vida de maneira definitiva com Jongin e principalmente, saber exatamente, da boca dele, qual caminho ele quer tomar. O que ele quer realmente fazer. O que Jonathan pretende, se é isso mesmo, ter dois namorados, publicamente.
Carlos seria um grande hipócrita se não assumisse que a ideia passou de estapafúrdia para um grande talvez, escrito em neon. Se pegar com Breno, muito gostoso, diga-se de passagem, finalmente ceder à tentação de provar aquele cara que dava descaradamente em cima dele em toda e qualquer oportunidade, fez as perspectivas se abrirem diante dos seus olhos. Ele poderia se apaixonar? Amar outra pessoa, enquanto amava Jongin?
Chanyeol ia enlouquecer.
— Véi, o que tu tanto resmunga? Parece uma velha, uma velha chata, porque vovó não é assim não… — Chanyeol ouviu o barulho crocante da mordida na maçã, topando com Mateus, que entrou na sala.
— Eu só tô nervoso, hoje é um dia importante! Inclusive já sabe… — respondeu Carlos, sem ao menos olhar em sua direção.
— Nem me apareça aqui essa noite! — revirou os olhos fazendo aspas, mastigando a maçã de maneira barulhenta, propositalmente — Eu nem vou, talvez eu… acho que vou sair… — Mateus respondeu incerto, recebendo uma vassoura nas mãos e arregalando os olhos — É o que?
— Varra. Você é quem mais vive trazendo areia pra dentro dessa casa por que não pára quieto, então pode varrer. E enquanto varre me conta tudo sobre Antônio Minseok, seu futuro marido. — completou risonho, escapando do cabo da vassoura que veio ao seu encontro.
— Ele é um louco! Eu não tenho nada pra falar sobre ele! — Jongdae respondeu na defensiva. Chanyeol olhou para o primo a quem considerava como seu irmão e fez um beiço magoado, daria a cartada final.
— Poxa, você sabe tudo da minha vida em primeira mão, eu te conto tudo, e você aí, me escondendo as coisas… acho que não há reciprocidade nessa relação… — suspirou falsamente e sorriu logo em seguida, ouvindo o suspiro exasperado do outro.
— Você é um chantagista emocional de merda, já te contaram?
— Algumas vezes. — Carlos respondeu irônico, atento na tarefa de tirar pó, ou melhor, a areia dos móveis.
— Pelo amor de Deus… eu não sei… é complicado, eu tô tão confuso, não sei por onde começar.
— Do começo, ou você acha que eu esqueci daquele primeiro encontro que você teve com ele? — Chanyeol relembrou quando ele chegou se desfazendo de raiva, ainda na pousada — Você chegou muito puto, a cara queimando e eu só queria saber quem foi que te tirou do sério daquele jeito, porque alguma coisa ele conseguiu de você ali… desembucha! — encorajou.
— Ele… — suspirou — ele nem fez nada tão assim!… Mas eu não sei, ele me tirou do eixo tão fácil. Carlos, você precisava ver aquele filho da puta falando que me achou delicioso e tipo, eu tinha acabado de conhecer ele? — ouviu a gargalhada gostosa de Chanyeol e acabou rindo junto — Não ri não, ele é sem noção!
— Dae, esse é exatamente o tipo de coisa que você falaria pra uma pessoa que tivesse interesse.
— Não é? — afirmou indignado — Esse turista do nada vem e me canta desse jeito como, como se fosse fácil assim, quem ele pensa que é? — afirmou bufando, enquanto varria de maneira mais forte que o necessário.
— Certo, certo… e quando você vai me contar o real motivo de toda essa revolta? — viu Mateus disfarçar arrastando o puff de um lado para outro — O que esse cara tem, que fez isso com você?
— Eu… não sei. — respondeu hesitante — Ele me olha de um jeito estranho, ele fala comigo de um jeito que eu, sei lá, me desconcerta… tipo, só saem atrocidades daquela boca, mas…
— Você curtiu ele — Chanyeol afirmou calculadamente displicente, enquanto passava a flanela nos móveis, queria tudo brilhando para mais tarde.
— Ele só parece realmente interessado em mim e… e eu não gosto de ninguém… — afirmou inseguro.
— Nunca gostou e eu não sei exatamente o porquê, e isso nem faz diferença na verdade, mas dele você gosta. E ele realmente parece interessado, se apresentou pra vó de uma maneira que eu queria muito ter visto, cara. — gargalhou alto pela lembrança da avó contando fervorosamente como o gatão disse que seria o futuro marido do primo.
Riu gostoso ao ouvir o resmungo mal-humorado de Mateus, não iria forçá-lo demais, sabia que, internamente, ele tinha muitas questões para lidar, muitas inseguranças para ajustar. Não que tivessem em algum momento conversado sobre determinadas coisas, mas Carlos sabia, Jongdae tinha alguns fantasmas a enfrentar.
A perda tão precoce e brutal pela qual Mateus passou, mesmo sendo preenchido por amor, ainda não havia sido superada e Carlos sabia que o irmão necessitava tempo para amadurecer certos sentimentos e ideias. Jamais apressaria o seu processo.
A fim de não aumentar a angústia do primo, e para não deixá-lo desconfortável e arredio, decidiu dar por terminada aquela conversa, ao menos por enquanto.
— Vem, me ajuda a fazer um jantar pro meu futuro namorado. — soltou enquanto caminhava para a cozinha.
— Futuro namorado é… — respondeu reticente, sabendo que o irmão estava propositalmente mudando de assunto, pois não iria o pressionar — E como que namora o namorado alheio? — cutucou, voltando ao seu modo provocativo habitual.
Chanyeol riu da pergunta do primo, mas não se constrangeu com o assunto pela primeira vez desde que considerou realmente, entrar nessa aventura.
— Se eu também namorar o namorado do meu futuro namorado, tá tudo em casa, certo?
— Eita que ele já tá confortável em comer e ser comido, eles crescem tão rápido… — afirmou afetado, secando uma lágrima inexistente.
— Eu não vou ser comido… — Chanyeol prolongou a vogal de maneira infantil.
— Tu que pensa, Breno vai até palitar o dente depois da refeição, sortudo — Jongdae terminou pensativo.
— Para de besteira e me ajuda! — Chanyeol afirmou ficando vermelho com a habitual indiscrição do primo.
— Larga a mão de ser tapado, pede um jantar bom, um vinho e pronto. Tu vai ficar perdendo tempo pra cozinhar uma gororoba ruim, vai perder o namorado antes mesmo de ele cair no conto do vigário.
— Expressão de velho. — Chanyeol provocou.
— Porém, real! Bora, a casa tá limpa, tu pede naquele restaurante da Riviera que tem umas lagostas do tamanho da minha cabeça…
— Nini prefere ostras… – respondeu pensativo.
— Então peça ostra, homem, vamo lá no Krill comprar duas garrafas de um vinho bom e uma sobremesa fácil pra vocês.
— Jongin é doido por sorvete…
— Pronto, compremos sorvete, mais fácil ainda, depois você usa o chantilly nele. — Jongdae gracejou empurrando-o porta a fora.
— Mateus! — Chanyeol respondeu esganiçado, indignado com a indiscrição do primo.
— Quando tu for buscar ele, pede antes de sair, é o tempo de vocês chegarem e não precisarem ficar esperando e nem a comida esfriar. — ensinou com toda a experiência da prática.
— Ele ia vir de moto… — Chanyeol respondeu pensativo.
— Você vai fazer o seu príncipe dourado vir sozinho de casa pra ter praticamente o primeiro encontro de vocês? É delivery, é?
— Não!
— Toma vergonha! Vai buscar teu boy na casa dele, é assim que se faz.
— Você é mesmo um canalha, né? — Chanyeol perguntou meio que afirmou, risonho — Sabe exatamente o que fazer pros outros se apaixonarem por você.
— Eu sou um cavalheiro, é diferente! Se sair comigo, seja quem for, vai ser tratado cheio de mimos. Se a relação vai vingar ou não são outros quinhentos… — Jogou a chave do carro em direção a Chanyeol — Dirige que eu não sou teu motorista.
— Por isso que você fica todo desconcertado com o tal Minseok então, ele que quer ser teu cavalheiro… — respondeu certeiro, vendo a hesitação nos olhos de Mateus — Se tem uma coisa que eu senti com Kyungsoo, é que é bom demais a gente também ser mimado, perder um pouco as rédeas da coisa…
Mateus ia responder, mas a afirmação veio de maneira tão aberta e franca da parte de Chanyeol, que ele não se sentiu no direito de redarguir qualquer objeção, até porque, Carlos tinha razão. Pensativo, permaneceu parado em frente a porta do passageiro.
— Entra, vamos comprar um vinho pro meu sereio.
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Chanyeol estava indeciso sobre como se vestir. O estilo do rapaz sempre fora esportivo, era um apaixonado por basquete e seu vestuário refletia isso. Fazia uma noite atípica para Bertioga, mesmo faltando uma semana para o Natal, sentia-se um friozinho agradável perto da costa.
Como morava próximo ao mar, o vento úmido e frio já era o suficiente para que vestisse seus tão amados moletons. Optou por um em off white, simples, por baixo do moletom uma camiseta lisa branca. Suas calças eram de agasalho preto e nos pés um Air Jordan branco e azul. Carlos parou de frente ao espelho e sentiu-se bonito, sem a obrigação estética de estar de uma maneira que não o fosse confortável. Alcançou a colônia que era sua querida, borrifou gentilmente de cada lado do pescoço, lembrando o quanto Jongin amava aquela fragrância, ele era capaz de ficar horas, pendurado em seu pescoço, somente apreciando a mistura de bergamota, âmbar e brisa do mar.
Kyungsoo também gosta, gruda em seu pescoço como um vampiro, e ele sentia-se lisonjeado por isso. Acqua di Parma para sempre teria seu dinheiro. Riu do pensamento aleatório, e saiu do quarto, pronto para pegar a chave do carro e ir buscar Jongin. Parou em frente a porta de seu irmão e deu três leves toques.
— Tá aí?
— Tô saindo…
Jongdae estava em uma mistura de acanhado com acuado quando abriu a porta, vestia uma calça verde folgada de alfaiataria, camiseta branca e uma camisa creme de botões, aberta em toda sua extensão. Uma adorável touca amarela que deixava suas orelhas graciosamente de fora e tênis brancos. Estava lindo, pronto pra sair e seu perfume exalava delicioso por todo o corredor. Chanyeol sorriu amável para ele, encorajando para que se abrisse às possibilidades da vida, assim como ele estava fazendo, e quis apertá-lo, ao ver a insegurança em seus olhos.
— Você tá lindo, Dae, tá parecendo um maconheiro soft. — escarneceu, queria relaxar seu primo.
— E por que você não vai a merda? — Jongdae respondeu emburrado — Vou trocar de roupa!
— Não, não! Tô brincando mas tô falando sério, você tá muito bonito. Esse tal de Minseok não tem chance alguma.
— Você acha? Não tô, sei lá, relaxado demais? — perguntou vistoriando a camisa aberta, que havia o deixado charmoso.
— Você tá lindo. Tá você, o real você. Aquele que só a gente conhece, sabe? O que é até interessante, porque quando você sai com suas vítimas, vai todo pomposo. Tô orgulhoso. — Chanyeol observou.
— Esse papo já tá estranho demais, eu só vou em um encontro, não vou casar, não. — Mateus mudou de assunto, caminhando pelo corredor e descendo as escadas — Eu vou dormir na pousada viu, pode ficar de boa aí. — afirmou enquanto pescava as chaves do carro.
— E a vó sabe disso? — Carlos perguntou risonho.
— Oxe, e faz diferença? — respondeu balançando as chaves de casa que continham a chave da pousada, pois afinal de contas, nem ele, nem Carlos nunca as devolveram e tão pouco sua avó desfez seu quarto. Era um lembrete de que sempre poderiam voltar — Bom, tô saindo, se cuida e usa camisinha.
Jongdae abriu a porta de casa e tomou um susto, deu um pulo pra trás e levou instintivamente a mão ao peito. Em posição de quem tocaria a campainha naquele exato momento estava Minseok, parado em pé, de frente a porta.
— Que susto homem de Deus, o que você tá fazendo aqui? — Mateus perguntou de olhos arregalados.
— Vim te buscar! Você não achou que eu deixaria de vir, achou? — Minseok perguntou sorrindo grande.
Minseok encarou o rapaz a sua frente e deu um suspiro audível, fazendo Mateus corar instantaneamente. Ele estava encantado com toda a beleza e vivacidade de Jongdae e foi levado a tocar a face corada, os dedos levemente gelados na pele quente do rapaz que ficava cada vez mais vermelho. Tomou seu tempo na apreciação muda do rosto bonito, acariciou as bochechas, segurou seu queixo com gentileza e afirmou em voz derretida:
— Você está tão lindo, Teus…
Mateus entrou em pânico, mas não era ruim, era só estranho e bom, pois ele simplesmente não sabia como reagir a Antônio Minseok. Seu carinho o derretia, e suas palavras derrubavam qualquer resistência que ele pudesse ter, qualquer muro que ele inconscientemente pudesse ter levantado.
— Antônio Minseok? — a voz grave se fez presente.
— Chanyeol? Carlos Chanyeol? É um prazer finalmente conhecer você! — segurou a mão de Carlos de maneira animada, em um cumprimento rápido — Finalmente conhecendo o famoso Carlos.
— Famoso? — Chanyeol olhou para Mateus, que sorriu sem graça.
— Sim, Teus fala muito de você, me parece ser uma pessoa querida demais por ele. — Minseok revelou.
— Meu Deus! Hoje é dia das conversas sem nexo, esse papo tá esquisito, eu não falo nada de ninguém, não, minha boca é um túmulo! Vamos logo, antes que eu me arrependa de ter topado esse encontro… — Mateus saiu empurrando Minseok em direção ao carro, o homem ria bem-humorado e Chanyeol pôde perceber que ele parecia muito feliz.
— Boa sorte com o Johnny! — Minseok gritou antes de entrar no carro e Jongdae escondeu o rosto, já sentado no banco do passageiro.
Carlos gargalhou alto, alcançou o celular e digitou no zap para o primo:
Fofoqueiro
Satisfeito, verificou as horas, eram 19:30.
– Acho que vou vomitar… – deixou escapar num muxoxo.
Havia combinado com Jongin às oito, estava ansioso e empolgado, queria muito que tudo desse certo entre eles e se tivesse sorte, sua noite acabaria bem, tendo o corpo esguio e pecaminoso de Jongin enroscado ao seu. Aproveitou que já estava com o celular em mãos e alcançou a conversa fixada, ia perguntar se ele já estava pronto, mas em um estalo, lembrou da reação do primo agora a pouco, sua face de contentamento, a qual ele não conseguiu disfarçar, com certeza fez a noite do tal Minseok, e era exatamente sobre isso, que Mateus falava.
Faria igual.
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Jonathan sentiu seu corpo tremer levemente. Estava ansioso, parado em frente ao grande espelho do seu quarto, revistando pela décima vez suas roupas, queria estar impecável para o primeiro encontro com o seu médico do postinho, depois de tantos anos.
O tempo estava agradável, o friozinho mínimo, deixando tudo mais confortável além daquele calor característico, opressivo, ao qual já estavam acostumados. Com a mudança de tempo, pode ousar um pouco mais, sua ideia era arrebatar Chanyeol, fazer com que ele nunca mais pensasse na possibilidade de ficar sem ele.
— Como se ele pudesse viver sem mim! — riu bem-humorado, enquanto penteava os cabelos recém cortados em um undercut que o havia deixado covardemente bonito, e ele sabia disso.
Jongin sumiu durante dois dias da vida de seus companheiros, sim ele os considerava assim, independente de qualquer um, seus dias só seriam perfeitos com os dois amores de sua vida ao seu lado. E tendo em vista que precisava arrebatar de vez seu médico do postinho, e assegurar que o seu tritão estivesse aceso sempre junto a ele e Chanyeol, Jonathan aprontou a sua maior vigarice.
Vamos lá, Jongin é um homem lindo e ele sabe disso. Mesmo que nunca tenha usado de sua beleza óbvia para conseguir o que quisesse, ele tinha plena consciência de que era um homem muito acima da média. Jonathan nunca jogou sujo ou de maneira covarde, sempre levou sua vida de forma tranquila, sua primeira e maior paixão foi o mar. Independentemente de como aparenta, ele nunca se importou com namoros, meninos, meninas, nada do tipo.
Jongin não era um ser sexual, seu único interesse sempre foi o mar, o que nele habitava, o que nele coexiste, e a ligação profunda que ele sente quando está lá, depois de onde quebra a onda, balançando-se ao sabor do vento em seu long, sentindo a leveza e a liberdade de estar na imensidão esmeralda. Quando criança, sua diversão era cavar a areia molhada ao máximo, colecionar os mais diversos animais marinhos aos quais tinha acesso e pesquisar sobre esses seres fantásticos que residiam no quintal de sua casa.
Desde sempre isso foi somente o que importou, até começar a perceber um rapaz, um garoto que passava horas a fio sentado na areia, o observando. Jongin já estava acostumado a ser observado, para ele não era uma novidade pessoas pararem ali e ficarem admirando sua arte. Mas aquele garoto era diferente… era como se ele parecesse encantado, e isso envaidecia e envergonhava Jongin.
Quando decidiu que se aproximaria dele, curioso para saber porque tanto o acompanhava, Jongin também queria comprovar uma teoria, a de que estava gostando de alguém, pela primeira vez. Aquele rapaz o observava de longe e ele era tão acanhado que, em diversas situações, não percebeu a presença de Jonathan ao seu redor, bem pertinho, ouvindo ele e o primo brigarem e tagarelar um com o outro. Ele se divertia, ouvindo os dois discutirem bobagens e principalmente, sentia vergonha quando o rapaz alto era provocado pelo primo, tudo por sua causa.
Até que Chanyeol descobrisse que aquele quiosque de onde ele adorava a batida de maracujá, era de sua mãe, ele se divertia escondido, ouvindo as ideias que ele tinha, as coisas das quais ele gostava, e o quanto aquele rapaz alto, de sorriso enorme e orelhas de abano era inteligente.
No fim, Jongin nunca teve a chance de dizer com todas as letras para Chanyeol que ele foi seu primeiro amor, que ele também sempre esteve apaixonado, na mesma frequência e intensidade. Quando finalmente ficaram juntos, os dois eram muito jovens, os temores, os amores, todos muito aflorados e agora, depois de oito anos, seria o tempo ideal para revelar tudo. Contaria hoje.
Mas como dito antes, Jonathan aprontou a sua maior vigarice. Ficou dois dias seguidos sem ver seus companheiros, pois tencionava fazer uma surpresa para os dois, queria mostrar que ele estava ali, que ele se importava e principalmente, os queria com intensidade e verdade. A repaginada para Jongin, significava a disponibilidade e a responsabilidade do que estava almejando, a transição do garoto para o homem.
Satisfeito com a camisa preta de seda que o dava um ar sofisticado e elegante, uma cor forte a qual ele não estava acostumado, porém, gostou do resultado, já que sua intenção era impactar, ele o faria. Perfumou-se como sempre delicadamente, desceu as escadas e deu de cara com a mãe, sentada em uma poltrona confortável, na frente da grande TV da sala.
— Onde você vai tão lindo, meu amor? — perguntou amorosa, levantando do móvel e sorrindo com os olhos, enquanto admirava, como ela não cansava de chamar, sua obra prima.
— Vou encontrar o Chanyeol, mamãe, estou bonito? — como o garoto sapeca que era, girou no próprio eixo de braços abertos.
— Não existe no mundo homem mais bonito do que você, filho! Mas então… vai encontrar com Chanyeol, é… — perguntou levemente aflita.
— Algum problema, mãe?
— Não sei se é uma boa ideia filho…
— Mamãe, eu amo Chanyeol.
— Eu sei, eu sei… eu também o adoro meu bem, mas… e Breno?
— Eu o amo com a mesma intensidade.
— Nini, filho, como pode ser assim, vocês três, isso não vai dar certo… você vai se magoar, meu amor.
— Eu vou fazer dar certo mãe, não se preocupa. Eu os amo e sei que eles me amam, os dois me amam.
— O povo vai falar Nini, aqui só tem caiçara preconceituoso, homofóbico e… — viu o olhar sério do filho e recuou o restante de sua fala.
— Mãe, eu não tô nem aí. Eles sempre foram maldosos comigo a minha vida toda, e a maioria deles queria sair comigo, a senhora sabe muito bem disso! Minha única preocupação agora é pegar minha moto e não chegar descabelado na casa de Chanyeol! — respondeu firme, deixando claro que não desistiria de ser feliz.
— Só uma última coisa — pediu enquanto acariciava o rosto perfeito de seu filho —, eu adoro Chanyeol. Eu realmente amo aquele menino, conheço toda a sua família, Joana é uma amiga íntima e nós já passamos por maus bocados juntas — viu a compreensão nos olhos do filho, afinal, dona Joana havia perdido a filha e o genro, enquanto sua mãe havia perdido seu pai, e elas se ampararam e se ajudaram, como melhores amigas que eram —, eu sempre vou estar aqui para apoiar qualquer decisão que você tome para sua vida, desde que não fira terceiros. Então, não seja egoísta nem mimado e, se você realmente os ama, deixe-os livres para embarcar nessa loucura com você ou não, caso não seja de suas vontades, estamos entendidos?
— Sim, senhora. Mãe eu sei, eu… — Jongin parou e tentou organizar os pensamentos de maneira a conseguir verbalizá-los — Não é um capricho, não é eu sendo só um filho da puta — tomou um tapa no braço — desculpa mãe — riu.
— Eu sei que você não é, filho.
— Eu os amo, minha vida seria perfeita se eu pudesse ter os dois homens que eu amo junto de mim, meu desejo é que eles fiquem comigo porque eles querem, não porque eu quero, e eu não sou um filho da puta mimado, entende? Eu só não posso escolher entre os dois. E se for para escolher entre um e outro, eu prefiro seguir só, como era antes.
— Eu sei, meu bem — a senhora suspirou com a agonia do filho.
— Eu tô indo tá, vou me atrasar.
— Se colocar o capacete, vai estragar o topete.
Sua mãe mal terminou a frase quando Jonathan ouviu a campainha tocar. Quem seria aquela hora? Justo no momento que estava de saída? Kyungsoo não era, ele jamais desrespeitaria a Jongin impondo sua vontade, e ele havia deixado claro que aquela noite seria dele e de Chanyeol.
Intrigado, caminhou até a porta da sala e a abriu, dando de cara com o rapaz enorme, de moletom grande e sorriso maior ainda. Jongin sentiu o peito encolher e expandir, naquele sentimento bom que vinha cada vez que estava na presença de Carlos Chanyeol.
Viu em seus olhos arregalados a luz da admiração, a boca bonita, carnuda aberta de espanto e sentiu-se lisonjeado.
— Você, nossa… eu — Chanyeol balbuciou, ele tinha os olhos arregalados, estava completamente enfeitiçado —, como pode você ser o homem mais lindo do mundo?
Não se refreando, absorto na beleza esmagadora de Jongin, Chanyeol entrou pela porta da sala, alcançou o corpo esguio e penteou os cabelos agora negros com os dedos da mão comprida, segurou a nuca rapada admirando o comprimento e a textura que eram novidade entre seus dedos e sorriu, ao iluminar diante de si, o sorriso mais bonito que ele já havia visto.
Levou o nariz à bochecha do rapaz que suspirou feliz e, delicadamente, aspirou o perfume fresco que emanava da pele bronzeada e arrepiada. Jongin inevitavelmente suspirou e derreteu em seus braços, e Chanyeol confidenciou em sua orelha:
— Preciso de você, preciso tanto de você. Eu amo você.
— Eu já disse meu amor… — Jongin respondeu doce — sou seu.
Jongin tremeu da cabeça aos pés quando teve a boca tomada em uma mistura de volúpia e cuidado, Chanyeol segurou firmemente a bunda malhada aproximando os corpos na intenção de aprofundar o beijo quando em um fio de sanidade, lembrou que estavam no meio da sala.
A sala da mãe de Jongin.
Aquela que queria como sogra.
Ao desgrudar os dedos e os lábios a contragosto, encostou a testa na dele e acalmou os ânimos ficando somente ali, sentindo a respiração um do outro. Ainda de olhos fechados, sorriu envergonhado e morto de medo de abri-los e dar de cara com a futura sogra.
— Agora que tua mãe vai me odiar mesmo — afirmou risonho.
— Como se ela odiasse você… — deu um leve tapinha em seu peito — capaz de ela ser a presidente do seu fã clube — riu gostoso, aquela risadinha fofa que Chanyeol sentiu falta de ouvir, por anos a fio.
A fim de não perder o sorriso de seu amado, que era equivalente ao nascer do sol, Carlos abriu os olhos e pôde ver os diminutos de Jonathan, que sorria com o corpo todo.
— Espero que ela continue assim — soprou feliz.
— Depende, você vai ser um descarado igual Breno, que toda vez que vê Johnny agarra ele como se quisesse levar a alma dele fora? — a mulher perguntou ao longe, novamente já sentada em sua poltrona, mal dando importância ao que acontecia em sua porta — Porque se for, coitado do meu filho viu…
Chanyeol sentiu as orelhas pegarem fogo pela vergonha, mas jamais deixaria de responder à mulher que conhecia praticamente desde a infância:
— Não se preocupa dona Eloisa, eu sou um cavalheiro, Kyungsoo é que é o safado aqui! — respondeu rápido, tirando o dele da reta.
Eloísa riu da audácia do rapaz, no fim, parecia que eles três estavam confortáveis nesse arranjo maluco no qual o filho os convenceu a entrar, bem, não era como se Jongin não conseguisse tudo que quisesse.
— Então já que é assim, que Deus abençoe e proteja vocês dois.
— Amém, mãe! Já estamos indo! Não tenho hora pra voltar! — Jongin gritou do portão de casa vendo a mulher acenar displicentemente, não era mais uma novidade, seu filho praticamente não vivia mais ali.
Carlos segurou na mão de Jonathan, acariciou entre os dedos sentindo a textura levemente calejada da mão dele, ergueu as duas unidas e beijou o dorso da de Jongin, que sorriu feliz por ser amado, assim, de maneira aberta. Chanyeol abriu a porta do carro para que ele se acomodasse, deu a volta no automóvel e entrou no banco do motorista.
Não resistindo a beleza de Jongin, como se fossem ligados por um ímã potente, Chanyeol se aproximou novamente de seu amado que riu, ao ter o rosto todo sapecado de selinhos carinhosos. Carlos sentiu quando teve seu pescoço exigido pelo outro, que absorveu e reteve todo o perfume delicioso que emanava da pele quente.
Novamente envolvidos na névoa de tesão que sempre perambulava entre eles, Jonathan mordeu o pescoço cheiroso sentindo o ofegar do peito que já tinha a respiração errática, Chanyeol já estava excitado e, se pudesse, o teria ali mesmo.
Entorpecido, Carlos agarrou o colarinho da camisa de cetim que o outro vestia e o trouxe mais ainda para perto de si, Jongin tencionou ao toque e sentiu a língua úmida e quente, que lambeu seu lábio inferior e chupou a carne farta e macia.
— Pelo amor de Deus, eu tava com medo de a gente não conseguir jantar, mas eu não sei nem se consigo chegar na sua casa — Jongin choramingou ao ter os lábios libertos da prisão de dentes de Chanyeol.
— Não, nós vamos fazer tudo certo, eu preciso que seja assim, que você entenda que eu quero uma vida com você. Quero conversar, te contar algumas coisas, fazer certo antes de finalmente ter você — suspirou apaixonado.
— Então vamos, vamos logo, são quase dez anos pelo amor de Deus, que foda mais demorada, Carlos! — respondeu emburrado, arrancando uma gargalhada do outro.
— Vamos que tem ostra pra você.
— Eu adoro ostra! — sorriu doce, enquanto arrumava a camisa dentro das calças, impressionante como os dois tinham o dom de bagunça-lo todo, com poucos toques.
— Eu sei, meu amor — Chanyeol respondeu feliz, dando partida no carro.
— Então vamos, porque eu estou morrendo de fome! — disse animado.
— Vamos. E Breno? Ele já te viu assim? Aliás, caralho, você tá muito lindo. — Chanyeol suspirou.
— Obrigado, mas você anda com a boca muito suja Carlos Chanyeol, tá parecendo até com o Kyungsoo — Jongin alfinetou, estava feliz por Chanyeol ter perguntado dele e por ter gostado de sua mudança.
— Mano, eu não tenho outro jeito de expressar o quanto você tá bonito, velho, caralho viu! Tudo isso é pra mim?
— Tudo isso é pros meus dois homens — Jongin sorriu.
— Breno gostou? — Chanyeol perguntou curioso.
— Ele ainda não me viu, tô escondido de vocês tem dois dias, lembra?
— Dele também? — Chanyeol riu gostoso enquanto manobrava o carro pela avenida Anchieta.
— Claro, ele é fofoqueiro, se eu vejo ele, ele ia correndo contar pra você, capaz até de tirar foto sem eu ver.
— Por isso que ontem ele tava choramingando sua ausência…
— Ele foi reclamar pra você? — Jongin gargalhou desacreditado.
— Sim, eu não consegui responder ele na hora porque estava em consulta, ele ficou choramingando lá no zap que nem eu, nem você dávamos atenção pra ele.
— Depois ele fala que eu que sou manhoso — Jonathan negou com a cabeça.
— Você é muito manhoso, eu adoro. Kyungsoo tá mais pra carente… Eu percebi que ele sente sua falta, e…
— E o quê? — perguntou com olhos brilhantes — Fala amor!
— Bem, ele anda me procurando bastante, de uns tempos pra cá… — respondeu envergonhado.
Um grande elefante branco que havia sentado no meio da mente de Chanyeol era a questão de como eles se relacionariam, os três. Desde que ele e Breno ficaram, Kyungsoo o tem buscado com frequência, manda mensagens diariamente e liga ao menos uma vez ao dia, como ele disse da última vez:
— Eu liguei, porque sim, só pra ouvir tua voz… Seria bobo dizer que tô sentindo saudade de você?
Carlos engoliu em seco, à lembrança daquela conversa. Queria entender, queria saber até onde ir, como funcionava, o que Jongin e Breno pretendiam dele. A conversa entre eles dois fluía naturalmente, e mesmo com as cantadas baratas que Breno não cansava de dedicar a si, ele tinha interesse real em seus gostos, perguntava sua opinião desde o assunto mais banal até o mais relevante e Chanyeol sentia-se mexido.
Breno era intenso e recíproco, e esse modo de ser vinha desencadeando sentimentos sorrateiros em Chanyeol que ainda não sabia como os nomear, e eles vinham crescendo de maneira exponencial. Carlos não tinha controle e não sabia mais se queria ou deveria tentar controlar. Ele entendia finalmente, porque Jongin simplesmente não pôde não ceder aos encantos do tritão charmoso. Ele também havia sido pego na rede daquele pescador.
Jonathan percebendo que o amado ficou quieto, mergulhado em pensamentos, respeitou o seu momento, sabia que Chanyeol precisava deglutir a situação, ele mesmo quando entendeu o que queria, precisou de tempo. Breno também teve o seu para pensar e ver o que valia a pena para ele e, a verdade, é que eles nunca sentaram e conversaram abertamente sobre isso, sobre a relação deles.
Agora que Chanyeol se envolveu com Kyungsoo, pois Jongin sabia que ele estava envolvido, agora sim, era o momento certo para sentar e conversar, colocar os pingos nos is, os três, e deixar os dois amores de sua vida decidirem seu próprio destino. De uma coisa, Jongin sabia, ele era incapaz de abrir mão de qualquer um deles, mas respeitaria a sua decisão, seja qual for.
Percebendo que o amado ficou mais tempo do que o habitual quieto, continuou:
— Eu fico feliz que vocês estejam se buscando, além de mim. Não quero ser um ímã no meio de vocês, quero que nós três estejamos mutuamente ligados, se assim vocês desejarem, é lógico.
— Você não se importa que ele me ligue, mande mensagens? — Chanyeol perguntou curioso.
— Amor, é sério. Eu quero vocês dois comigo, mas quero que vocês se tenham também. É evidente que eu não mando nisso, nos sentimentos de vocês ou algo do tipo, mas… você e Breno me completam e preenchem de uma maneira tão incrível, que eu tenho certeza que nós três somos peças do mesmo quebra-cabeça.
— O que você quer dizer?
— Você já está caidinho pelo Soo, eu sei. — riu ao ver as orelhas vermelhas — Kyungsoo é apaixonante, dedicado, intenso e poxa, você também é apaixonante, amoroso e cuidador e eu, eu não sei bem o que eu agrego nisso, às vezes eu acho que só tô aqui pra receber o amor de vocês, e…
— Wow wow wow, pode parar aí, o que tá rolando? — Carlos interrompeu receoso do caminho que aquela conversa teria.
Guardou o carro na garagem, desligou o motor e espalmou o rosto bonito com as duas mãos gigantes, o rosto maquiado e levemente avermelhado de Jongin, o seu sereio.
— Você é doce. Você é a criatura mais doce e amável do mundo, você é responsável, é o cérebro de nós três, o nosso coração… eu não sei se posso falar pelo Breno, mas eu não imagino mais a minha vida sem você, eu já fiquei tempo demais longe, tempo o suficiente até pra outra pessoa entrar na sua vida e…
— Carlos, não teve um dia sequer que eu não tenha te amado e sentido sua falta. Nenhum. Quando você foi, eu sofri, passei quatro anos só, fui pra outro estado pra conseguir me formar no que é meu sonho, estudei pra caralho, chorei bastante, mas eu não quero falar sobre isso porque sei que pra você deve ter sido um inferno também.
— Foram os piores oito anos da minha vida — Carlos riu sem humor.
— Eu sei, foi péssimo pra nós dois… Quando eu voltei do Rio eu tava quebrado… E foi quando conheci o Breno.
A moto buzinou alto do lado de fora do portão, anunciando que o jantar havia chegado. Chanyeol resmungou devido à interrupção, estava concentrado no que Jonathan dizia, no entanto, Jongin riu sem graça, estava ansioso e atropelando as coisas, teriam tempo para conversar.
— Vamos amor, minhas ostras chegaram.
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— É sério! Eu tava lá, de boa, fazendo minha corrida matinal quando, do nada, uma cobra passeando no meio da rua! Eu quase tive um AVC, Teus!
Mateus ria de engasgar, da cara de espanto que Minseok fazia nesse exato momento. Saíram para jantar, porém, nenhum dos dois queria um restaurante, era seu primeiro encontro e eles inconscientemente ansiavam por algo leve, um clima mais descontraído.
No fim, pararam em um barzinho de frente ao forte São João; samba ao vivo, uma porção generosa de provolone empanado e uma Original gelada faziam companhia aqueles dois que descobriam, em uma conversa animada, afinidades.
— Eu imagino a sua cara de mauricinho, toda assustada, quando viu a cobra — Mateus gargalhou alto, enquanto Antônio admirava sua beleza.
— Cara, eu sou da capital, criado no centro de São Paulo! Você tem noção de que os únicos bichos que eu já vi na vida eram pombos, baratas e ratos? — perguntou indignado, arrancando mais gargalhadas do outro.
— Eu tô ligado — ainda ria, enquanto secava os olhos cheios de lágrimas — Chanyeol só é acostumado porque viveu aqui praticamente desde que nasceu, mas todo amigo que trouxe era assim, fresco.
— Hey, hey, eu não sou fresco, ok! Eu só tenho uma certa limitação regional no que diz respeito a animais! — Minseok respondeu indignado.
Mateus estava risonho, bebeu do copo gelado enquanto observava o outro secar a mesinha com guardanapos brancos, riu mais, daquela característica que havia pescado sobre a personalidade de Antônio. Se ele fosse um maníaco por limpeza tava ferrado, Jongdae era o maior bagunceiro do mundo, e ele já imaginava as briguinhas bobas pela bagunça deixada por aí.
Ao se pegar imaginando cenas de um cotidiano que não existia, Jongdae sentiu um aperto no peito, aquele aperto característico que só sabe quem já sentiu.
A dor do medo, de perder alguém. Levemente agitado, a pergunta saiu-lhe pela boca antes mesmo que ele pudesse refrear:
— Você veio embora de vez?
— Vim pra ficar — Minseok afirmou enquanto servia o copo do outro.
— Porque você saiu de São Paulo pra vir pra esse fim de mundo? Veja bem, eu não odeio Bertioga, nasci e fui criado aqui, minha cidade é linda, um paraíso, tirando os noia — ouviu a risada de Minseok e não pôde perder o jeito fofo com qual ele ria —, mas eu não consigo entender porque alguém moveria uma vida bem sucedida para cá.
— Pareço bem-sucedido pra você? — perguntou risonho, estava feliz por ter conseguido que Jongdae conversasse consigo sem estar arredio.
— Claro, você exala isso, mas sem esforço, sabe? Acho tão atraente… — Jongdae deixou escapar e se calou, enfiou um empanado na boca a fim de disfarçar a gafe que cometeu.
Antônio Minseok sorriu largo, mostrando até as gengivas, porém não quis pontuar a vergonha do outro:
— Eu resolvi mudar de estilo de vida, porque eu quase morri — disse simplista.
— Quase morreu? — Jongdae aumentou uma oitava, com sua voz de megafone.
— Bom, se formos justos, eu morri, mas passo bem — sorriu, mas dessa vez sem arrancar um em resposta.
— O que aconteceu com você? — Mateus perguntou sério. A informação inesperada o pegou de surpresa, e ele se viu com o coração acelerado.
Minseok suspirou, não gostava de falar sobre aquele assunto, mas ele sabia que para conseguir ter algum espaço na vida de Mateus, além da provocação, ele precisava se abrir, para tê-lo, em contrapartida. Adquirindo coragem para começar o seu relato, bebeu um gole generoso da cerveja que trincava de gelada.
— Eu adoeci, do dia para a noite.
Jongdae percebeu a hesitação na voz dele, intuiu que aquela era uma situação que trazia sentimentos controversos no outro, pensando que seria um incômodo para ele contar o ocorrido, respondeu no automático:
— Se você não quiser, não precisa me contar nada não, viu? Eu imagino que pra você seja ruim e tal…
— Claro que eu vou te contar, eu só não, hnnnn… — olhou ao redor, levemente incomodado com o som alto do samba que cortava o ar e a cacofonia de pessoas ao redor — Você se importa de caminhar um pouco? — perguntou reticente.
Observador e safo como sempre foi, Mateus não o respondeu, simplesmente ergueu a mão e chamou o garçom que passava próximo.
— Capitão, você pode colocar esse restinho de porção em um saquinho de papel pra mim, pra viagem? Ah, traz mais duas latinhas de Original e a conta por gentileza.
Ditou para o rapaz que anotava com atenção suas diretrizes enquanto Minseok, apoiado com o queixo no próprio pulso, observava o cara por quem estava caidinho. Ele havia encontrado, nessas poucas interações que teve com Jongdae, certos traços de personalidade que simplesmente o encantaram.
Ele era um cara prático e empático; como um tomador nato de decisões, Jongdae chamava no peito a responsabilidade e agia de acordo com a necessidade, e isso era quase que um afrodisíaco para Antônio, que estava acostumado a fazer tudo só e por si só. A conta chegou acompanhada de um saquinho térmico e duas latinhas em uma sacolinha bonita, Minseok fez questão de pagar a primeira rodada, segundo as palavras dele, era um agradecimento.
Ao saírem do bar, caminharam silenciosos e tranquilos, mesmo que ao redor tudo que houvesse fosse excitação. Era dezembro, faltava somente uma semana para o natal e a cidade fervia de gente e de vida, as crianças corriam pela calçada, famílias e mais famílias disputavam espaço entre os moradores locais para aproveitar a noite levemente fria de sexta.
Mateus sorria para a brincadeira das crianças e cumprimentou um casal de idosos, quando sentiu o calor em sua mão esquerda. Olhou rápido para o lado e pode ver as orelhas vermelhas de Antônio, que mesmo envergonhado continuou o seu movimento, segurou a mão dele e entrelaçou os dedos, fazendo com que Mateus acompanhasse na hora o entrelaçar e a maneira como as mãos se encaixavam bem, como ficavam bonitas juntas.
A palma da mão macia, a pele hidratada, cheirosa, Antônio era tão bonito que Jongdae não conseguia desviar o olhar, até que foi correspondido pelos olhos com formato mais lindo que ele já havia visto.
Sorriu sem graça, tendo um outro sorriso acanhado em resposta, e mesmo com vergonha pelo primeiro contato repentino, mas desejado, seguiram os dois assim, de mãos dadas pela orla do centro da cidade.
Jongdae carregava a sacolinha contendo o saquinho térmico e as latinhas, andaram um pouco mais sentido bairro e chegaram próximos ao half, a pista de skate estava cheia de pessoas de todas as idades. Uns andavam de skate, outros jogavam basquete na quadra paralela e, em frente, já na areia, um grupo enorme, entre homens e mulheres, jogava vôlei de praia.
— Vamos um pouco mais pra frente, aqui essas horas é lotado — Mateus guiou o caminho, as praias de intervalo entre as praias movimentadas e conhecidas eram oásis de quietude e segurança.
Minseok suspirou, estava encantando com aquele pedaço de lugar que ele nunca havia dado tanta atenção, a palma quente em contato com a sua provavelmente era a culpada pela consciência corporal e visual ao qual estava exposto nesse momento.
Por mais que fosse seu desejo mais profundo, praticamente desde a primeira vez que o viu, nunca imaginou que realmente teria a oportunidade de estar assim, passeando de mãos dadas com Jongdae.
— Você tá me ouvindo? — Jongdae perguntou dando um leve puxão em suas mãos unidas, a fim de chamar a atenção do outro que estava perdido em pensamentos.
— Desculpa, eu me distrai! — Minseok afirmou sem graça.
— Tava aí com cara de bobo olhando pro nada e eu falando que nem um besta, tava pensando no quê? — perguntou de maneira inocente e levemente emburrada.
— Em você. — respondeu direto vendo seus pequenos olhos arregalarem — Tava pensando em quão bonito é esse lugar e que eu só percebi isso por causa de você.
— Como assim, por causa de mim? — Jongdae perguntou sem graça.
— Tudo sempre foi muito pragmático pra mim, Teus. Durante quase vinte anos da minha vida tive como meta somente trabalhar, me estabelecer como um dos melhores dentro de um ramo totalmente saturado, principalmente numa cidade tão grande como São Paulo — explicou enquanto indicava que ele se sentassem no banco da orla decorada —, eu trabalhei até me estafar e exaurir, sempre foi assim. Nunca tive tempo pra parar e admirar a arquitetura de um lugar, um quadro bonito, nem mesmo todas as pessoas que passaram pela minha vida, infelizmente.
— E onde eu entro nisso? — Mateus perguntou se remexendo no banco, se tornou repentinamente ansioso com o rumo da conversa. Mas uma ansiedade como ele nunca sentiu antes.
Jongdae já estava acostumado com a sensação de ansiedade. Desde a infância, quando perdeu seus pais, ele teve que lidar com crises e mais crises, todas elas amenizadas pela presença constante da avó, que o preenchia com atenção e amor. Os pesadelos foram seus companheiros durante muitos anos, e a criança, o jovem Jongdae, só dormia uma boa noite de sono quando um certo moleque mais novo e chato, que não parava de o cercar, cruzava a porta de madeira escura da pousada, uma mochila nas costas e possivelmente a falta de algum dente na boca, que sempre sorria gigante.
Só neste momento Mateus sentia-se feliz e seguro, no mais, na maior parte do tempo, ele era só, e o sentimento de angústia por perder quem ama o persegue até os dias de hoje.
Porém, com Antônio Minseok o sentimento era diferente. Ele não despertava angústia, a ansiedade que ele causa é como um gelado na boca do estômago. Jongdae sente as palmas das mãos suarem, de longe ele está se sentindo mal, na verdade, seu corpo todo reverbera uma felicidade estranha, uma sensação de pertencer, de toque, de conforto.
E ninguém nunca havia despertado isso nele, para Mateus, tudo soa a novidade e caos interior.
— Queria que fosse em mim — sem pensar direito, Antônio respondeu no automático, ganhando um içar de sobrancelha, deu de ombros na sequência —, eu não vou dizer que é brincadeira porque não é, mas teremos tempo antes desse assunto; enfim, você entra na posição de primeira pessoa que me faz repensar muitas coisas. Atitudes, ações, amores... Você me faz querer coisas das quais eu nunca tive interesse, entende?
— Você mal me conhece… — Jongdae respondeu de forma pouco confiante.
As investidas claras de Minseok, na percepção de Jongdae, tem dois níveis distintos, mas que causam estrago semelhante. Primeiro temos o cara safado que sempre que necessário, mesmo que não solicitado, pontua o quanto deseja Mateus. Isso sempre arranca dele suspiros agonizados, não por que não goste desse tipo de atenção nem do que ela desperta, sua preocupação é justamente tudo que ela desperta, todo o rebuliço interno que Mateus experimenta a cada obscenidade que Minseok diz.
O segundo nível Jongdae considera o mais difícil de lidar, o mais complexo. O cuidado, o querer bem; dar atenção, ouvir e se interessar por toda e qualquer mínima bobagem que ele diz, isso o desconcerta, e faz com que ele tenha o sentimento perigoso de querer se doar, a vontade de tentar.
Para ele é apavorante pensar que pode pular de cabeça nesse mix de sentimentos, e morrer da queda.
— Eu sei Teus, mas é meio louco porque eu só tava levando minha vida, e querendo ou não, você apareceu na minha frente e tava tão lindo, você é lindo, mas disso você sabe… — riu aberto ao ver o outro sem graça — Você é espirituoso e forte, focado, você é bom demais pra ser verdade e eu não consigo mais não pensar em como você vai ser o pai dos meus filhos — Minseok respondeu sério.
— Filhos? — Jongdae arregalou os olhos.
— Mas é claro! — respondeu animado, pegou a carteira do bolso e a abriu, retirando dela uma foto em tamanho exagerado de um gato bonito, todo cheio de pelos, que era pego no colo pelo dono que tirou a selfie — Tan, meu filho, seu futuro filho! Ele está ansioso para conhecer o papai!
Jongdae olhou para foto do gato enorme e bonito e riu, descrente da conversa de maluco que Minseok tinha, ele era doido, só pode.
— Você disse filhos, mas na foto só vejo um. — respondeu dando corda, enquanto tirava o conteúdo por um momento esquecido, de dentro da sacola térmica.
— Porque Tan precisa de um irmão! Por isso, quando a gente for morar junto, vamos adotar um filhote, pra sacudir a vida desse velhote aqui! — afirmou sério enquanto olhava a foto.
Mateus gargalhou com a loucura que ouviu, abriu a latinha de cerveja e serviu Minseok que ria junto.
— Você sabe que é o nosso primeiro encontro, né? Não tá muito emocionado não?
— Eu só tô prevendo o futuro, sabia não? — António riu do próprio comentário, o que ele estava fazendo por aquele homem na flor dos seus vinte e seis anos era loucura, sentia-se dez anos mais jovem — Minha psicóloga disse que eu tenho que mentalizar o que eu quero, me focar e buscar, que vai dar certo! — afirmou e quanto abria o saquinho da porção — Toma — deu um quadrado na boca de Jongdae.
— Mentalizar é… Que psicóloga é essa? É tipo aquelas do Instagram? — Mateus desdenhou.
Minseok gargalhou alto.
— Mais respeito com as psicólogas do Instagram! Você tem ideia do quanto é difícil manter aquela pose? Mais respeito pela classe de médicos influencers, por favor!
Mateus riu das bobagens de Antônio, mas se calou repentinamente quando lembrou do momento em que saíram do bar. Não queria perguntar novamente o que havia acontecido, jamais seria invasivo, ainda mais sobre um assunto tão importante, porém, ele ainda sentia aquela sensação na boca do estômago ao saber que Minseok quase havia morrido. E essa sensação só passaria quando ele soubesse exatamente o que aconteceu.
Ansioso, Jongdae enfiou três cubinhos ao mesmo tempo, dentro da boca, mastigando rápido, para impedir o ímpeto de ser indiscreto, o que soava até engraçado, pois ele nunca havia se preocupado com o fator indiscrição. Tirando Bárbara, Chanyeol, sua avó e avô, ele nunca se preocupou com isso, pois levava uma vida de desapegos e para as outras pessoas ao seu redor, ele facilmente perguntaria “Tá, mas e aí, cadê a fofoca?”
Ele riu sozinho dos pensamentos intrusivos e quando alcançou o saquinho para pegar mais um, Minseok roubou o último e sorriu, tornando o coração de Jongdae descompassado.
— As suas expressões são tão vívidas. Eu vejo cada pensamento expresso em seu rosto, aliás, eu já disse que você tá muito lindo hoje, especialmente bonito?
— Disse sim…
— É que eu esqueço das coisas às vezes, então, se eu reafirmar algo que já disse, eu possivelmente esqueci — Minseok deu uma risadinha famigerada e um gole na cerveja — E você vai ter que ter paciência comigo, porque minha memória é realmente ruim, sabe como é, sequelas. — riu sozinho.
— Não brinca com isso. — Mateus respondeu sério.
— Desculpe. — António riu envergonhado — Às vezes é só uma maneira que eu uso pra lidar com tudo que aconteceu comigo, porque no fim, eu parei do nada, e sigo até hoje sem uma resposta concreta.
— Como isso é possível, Min? Tipo, aaaah — Mateus arrancou a touca e bagunçou os cabelos de forma exasperada — O que aconteceu com você, fala logo, homem!
Minseok riu pela impaciência do outro, estava buscando uma forma de iniciar o assunto, e gostou que ele finalmente perguntou.
— Eu não sei, eu tava lá vivendo minha vida normal — fez aspas — e um belo dia eu fui parar no hospital. Fiquei cinquenta dias lá.
— Eu não sei o que pensar… — hesitante, Mateus perguntou — Você ficou com alguma sequela?
— Bem… Fisicamente algumas, nada que atrapalhe meu dia a dia agora, mas a perda de memória é uma das quais eu tenho que lidar. — sacudiu a latinha em frente ao rosto de Mateus, que permanecia sério e pensativo — Quer outra?
— Faz quanto tempo que isso aconteceu? — Jongdae perguntou.
— Final de março faz três anos.
Jongdae olhou nos olhos bonitos que Minseok tinha, podia ver toda a sinceridade que ele sempre transparecia, os olhos calorosos e com sentimentos explícitos, sentimentos que deixavam Mateus apavorado e esperançoso.
— Quero outra…
— Vamos lá buscar, querido.
Minseok se levantou e segurou em sua mão, ajudando que levantasse do banco, novamente, como um movimento natural, entrelaçaram os dedos e seguiram, caminhando lado a lado.
— Min…
— Hn.
— Você é doente, assim, digo, você tem alguma coisa? — Mateus perguntou, o coração batucando no peito.
— Eu tô saudável, Teus. Fiz todos os exames possíveis. Claro que existem debilidades físicas com as quais eu preciso lidar, mas quem não tem seus problemas, não é? — viu Jongdae concordar pensativo — De perto, ninguém é normal.
— Eu sofro de ansiedade — revelou Mateus, tendo como sempre, toda a atenção do mais velho —, mas ninguém imagina, olham pra mim e acham que tá tudo sempre ok, quando, na verdade, nem sempre é assim, e eu não sei nem porque tô te contando isso… — riu nervoso pela revelação que saltou da boca, sentindo a odiosa sensação de dormência, que antecede a crise.
— Você tá contando porque confia, nem que seja um pouco, em mim. Não se preocupe, no que depender de mim, você nunca mais passa por uma crise só. — Antônio Minseok respondeu firme.
— Não sei se isso é possível… — Mateus respondeu sentindo as mãos suarem, disfarçadamente, enquanto caminhava, as esfregou nas roupas, enquanto o formigamento não dava trégua.
Distraído em seu mundo de pré-crise, não percebeu a movimentação sorrateira do homem que só pensava em distrair a pessoa pela qual estava cada vez mais perdidamente apaixonado. Amorosamente, Minseok segurou a mão que havia soltado da sua, levou aos lábios e beijou os nós dos dedos bonitos, tendo a atenção de Jongdae presa em si.
Puxou gentilmente o corpo esguio em direção ao seu, não sentiu nenhuma resistência, então, segurou em sua cintura e pediu baixinho:
— Deixa eu beijar você?
Jongdae sentiu o corpo quente, o calor alheio que proporcionava mais do que excitação, o sentimento de proteção, bem querer, gritavam em seu peito. Buscou mentalmente alguma razão para negar o pedido sussurrado pela voz doce, mas francamente não encontrou nenhum, além do seu medo irracional de apego.
Decidido a, pela primeira vez, deixar que alguém entrasse em seu coração sem empecilhos, Mateus não o respondeu, simplesmente sorriu trêmulo, acariciou o rosto bonito de Antônio, e o beijou.
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Chanyeol estava encantado.
Jongin sorvia cada ostra fresca com deleite, seus olhos pequenos brilhavam enquanto ele mastigava o fruto do mar, sentindo o gosto salino tão apreciado em seu paladar.
— Você faz esse troço parecer tão gostoso… — Chanyeol comentou, enquanto pescava um camarão enorme em seu prato.
— Mas é delicioso Yeol, você que tem o paladar infantil — escarneceu o amado.
— Não tenho não — respondeu emburrado — ostra é esquisito Nini, esse negócio me dá até arrepio — se arrepiou todo, ilustrando seu asco.
— Tá aí falando de ostra e comendo o lixeiro do mar…
— É diferente — Chanyeol se defendeu.
— Se você acha… — Jonathan riu, preparando mais uma ostra com bastante limão.
— O que o Kyungsoo gosta? — Chanyeol perguntou distraído, quando Jongin abriu um sorriso enorme.
— Tudo. Soo ama todos os frutos que o mar dá, até os venenosos ele sabe preparar… — sorveu mais uma ostra — nunca sentiremos fome ao lado dele — riu pelo dito, vendo os olhos de Chanyeol arregalarem.
— Sobre isso… — Chanyeol pigarreou, sentindo a garganta seca de repente. Alcançou a taça contendo o espumante rosê, e deu um gole generoso — como vocês se conheceram?
Jongin suspirou à pergunta. Para ele nunca seria um desprazer falar sobre como conheceu nenhum dos dois homens pelos quais era apaixonado, ele só precisaria de tato para conversar, assim como teve dois anos atrás.
— Eu conheci Kyungsoo no inverno de 2021, quando voltei da faculdade de bio. — satisfeito, Jongin abandonou o prato e pegou a taça, dando um pequeno gole no líquido refrescante e delicadamente alcoólico — Eu não estava no meu melhor momento — confessou rindo tristemente —, meu pai tinha falecido a pouco tempo, eu estava sozinho no Rio de Janeiro estudando, longe de tudo que eu sempre conheci a vida toda, longe da minha mãe, dos meus amigos, longe de… — refreou a continuação de sua frase.
— Longe de mim… — Chanyeol terminou.
— Eu entendo o que você fez, por favor, não ache que eu tenho mágoa, me sinto abandonado ou qualquer coisa do tipo — justificou-se afobado, se detestaria caso Chanyeol se sentisse culpado por ter feito o que era melhor pra si.
— Eu sei que você não é assim, não se preocupa com isso… mas a verdade é que ter essa compreensão não diminui o fato de que você sentiu a minha ausência e apoio, assim como eu senti a sua.
— Sim… eu me vi perdido, sem você — Jonathan assumiu, sentindo os dedos macios e a mão grande e quente de Chanyeol envolvendo a sua, quase a escondendo, naquela sensação de proteção que ele sempre o proporcionava —, o engraçado disso que é a gente era novo demais, mas tudo pareceu sempre tão… certo…
— Eu amo você a vida toda Johnny — Chanyeol acariciou os cabelos que agora estavam pretos e curtos —, o sentimento por você sempre foi tão forte, que na minha cabeça, mesmo quando adolescente, não havia mais ninguém além de ti… — Chanyeol sorriu grande, sendo acompanhado pelo sorriso solar de Jonathan — você ter me dado uma chance, foi o melhor dos acontecimentos pra mim — riu sem graça.
— Eu não dei uma chance pra você, Chanyeol — Jongin fez questão de deixar claro —, eu também queria uma chance — sorriu ao ver os olhos arregalados —, você foi meu primeiro amor, Carlos. Não sei se você lembra, mas fui eu quem chegou em você — riu doce.
— Eu lembro sim, mas… — rememorou a cena do garoto de dezesseis anos que se intrometeu em sua discussão com o primo, o garoto que era uma divindade dourada, não evitou o suspiro — eu nunca liguei esse acontecimento a você gostar de mim, eu achei que foi só… curiosidade…
— Pra mim, só existia o mar, o surfe e você. Nada mais. — Jongin revelou, sentindo o aperto em sua mão.
— Eu amo você.
— Eu te amo Yeol, sempre te amei. Kyungsoo veio em um momento que eu estava triste e sozinho, carente. Ele respeitou meu tempo, na verdade eu fui bem arisco com ele — riu aquela risada gostosa, engasgada, sendo acompanhado por Chanyeol —, nos conhecemos em 2021 mas eu só aceitei ele no ano seguinte, no dia do meu aniversário.
Chanyeol sentiu uma ponta de ciúme, mas era estranho por que não era necessariamente ciúme de Kyungsoo, era mais um ciúme pelo tempo perdido.
— Te incomoda, Kyungsoo estar na minha vida? — Jongin perguntou vasculhando o rosto expressivo de Chanyeol.
— Essa é uma pergunta complicada. — Chanyeol riu, servindo mais vinho nas taças — No começo, quando eu descobri sobre vocês dois, foi horrível. — assumiu com os olhos baixos — Eu os vi, na praia, perto de onde a gente se conheceu, lá no quiosque da dona Eloisa. Eu confesso que, por mais que estivesse preparado, por mais que eu entendesse que a probabilidade de você ter alguém fosse alta, ter esse choque de realidade, ter essa verdade jogada na minha cara, me destroçou.
— Me desculpe por te magoar — Jongin se levantou e sentou no colo de Chanyeol, em sua perna esquerda, afundando o nariz em seu pescoço —, me perdoa por não ter conseguido te esperar sozinho, como eu sei que você esperou — pediu abafado, com os lábios grudados no pescoço do outro, enquanto tinha a cintura acariciada pela mão grande, como se ela o consolasse.
— Não peça perdão, não há o que perdoar. Que tipo de pessoa eu seria, se te exigisse uma fidelidade de oito anos, se nem ao menos namorados nós éramos? — Chanyeol perguntou, beijando o ombro escondido pela camisa preta.
— Eu já te amava, Chanyeol.
— Eu também te amava, mas nós éramos dois moleques, não há o que pedir perdão, não há o que perdoar… Eu tive pessoas durante esses oito anos Nini, não me apaixonei, ou amei ninguém, mas também, eu nunca topei com nenhum Breno na minha vida — riu com as bochechas vermelhas, infiltrando a mão por dentro da camisa, sentindo a pele arrepiar ao toque.
— Se tivesse topado, você resistiria? — Jongin perguntou astuto.
— Eu não sei… — Chanyeol riu sem graça — mesmo agora parece impossível resistir a ele, eu, sei lá, tô confuso…
— Você gosta dele…
— Nini, de verdade, eu não sei. Eu amei somente uma pessoa minha vida toda, eu não sei lidar com o que ele me causa, com os sentimentos controversos que ele desperta.
— Com o fogo… — Jonathan pontuou bem humorado.
—- É, então, é complicado… — Chanyeol riu sem graça — Eu preciso te perguntar uma coisa.
— Me pergunta o que você quiser amor… — Jongin respondeu fingindo amabilidade, mas se aconchegando no colo de Chanyeol, jogando a perna comprida por cima dele, se encaixando de frente, suspirando e vendo os lábios cheios sorrindo.
— O que você pretende? — Chanyeol perguntou grudando em seu pescoço, as mãos grandes abrindo os primeiros botões da camisa, revelando a pele dourada e firme, cheirosa… pecaminosa — O que você quer de mim?
— Quero ser seu, quero que você seja meu, quero ser de Kyungsoo, quero que você seja dele, quero que nós três nos pertençamos. — respondeu simples, tombando a cabeça para trás, sendo amparado pelas mãos fortes que seguravam com gentileza a nuca e os cabelos curtos, enquanto Jongin oferecia seu pescoço para ser beijado — Quero vocês dois, só pra mim… — terminou sôfrego.
— Você quer namorar nós dois, Jongin, publicamente?
— Eu quero casar com vocês dois, eu quero morar junto, eu quero passar o resto dos meus dias com você sendo o recheio da minha bolacha, eu não me importo com ninguém, somente com vocês dois. — respondeu certo do que dizia — Mas o mais importante, o que você quer? — Jonathan perguntou — Eu não quero te obrigar a nada, nem a você nem a Breno, não quero manipular vocês para que façam o que desejo só por que me amam — disse sério, olhando nos olhos dele —, eu querer que fiquemos juntos não os obriga a nada, e eu quero que isso fique claro para você, assim como ficou para Kyungsoo.
— Ele, quer dizer, Breno realmente quer isso… nós três? — Chanyeol quer confirmar, o traço de insegurança na voz.
— Ele quer, Yeol… você pôde sentir… mas, o que você quer?
— Eu… digamos que eu não acharia ruim de acordar com ele me apertando enquanto eu aperto você — Chanyeol ouviu a gargalhada gostosa de Johnny e não evitou rir também —, eu pedi paciência pra ele, e ele me deu o tempo que eu precisasse…
— Se prepara, porque ele vai pegar pesado — Jongin riu mais —, ele é bem territorialista, e você já faz parte do território dele.
— Ele tá querendo o que? Invadir essa terra que já tem dono? — Chanyeol riu da comparação.
— Ele já montou o acampamento dele aí e você nem percebeu… — Jongin disse astuto, vendo o rosto de Chanyeol avermelhar — mas sabe, nesse momento, eu só quero saber quando que você vai me levar pro quarto, Carlos Chanyeol?
— Não vai querer a sobremesa? — Chanyeol perguntou mordendo o maxilar anguloso de Jongin, provocando uma dor gostosa.
— Pegue o sorvete, leve para o quarto, eu levo o vinho, Carlos.
Entre sorrisos da tranquilidade da reciprocidade, Chanyeol não fez questão de bowls para a sobremesa, pegou o pote e duas colheres, vendo Jongin manobrar a garrafa de vinho e as duas taças. Amoroso, segurou a mão de seu sereio e o guiou escadas acima, ansioso com o desenrolar que a noite prometia.