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"König?"
A voz de Horangi chamou de forma tranquila e König atendeu ao chamado, erguendo curiosamente os olhos do livro em suas mãos. Ele se distraiu um pouco com as mãos do coreano, embaralhando habilidosamente um deque de cartas que ele sempre tinha no bolso como objeto de distração, antes de voltar a olhar para o rosto de Horangi.
" Ja , Horangi?"
Os óculos de Horangi haviam sido dispensados de sua função, uma vez que estavam apenas os dois juntos no quarto de König, então o austríaco conseguiu ver a maneira como os olhos escuros do coreano se enrugaram adoravelmente nos cantos, indicando que ele sorriu debaixo da máscara que escondia sua boca. König gostava de ver aquilo acontecer – de alguma forma, aquilo lhe deixava muito tranquilo e seguro. Ele observou os olhos escuros se desviarem das cartas em suas mãos antes de se moverem para fazer contato visual com seus olhos claros.
Ou algo perto disso, afinal, Horangi nunca olhava diretamente em seus olhos porque sabia que König ficava um pouquinho ansioso com contatos visuais diretos. Aquele tipo de cuidado fazia König se apaixonar um pouquinho mais pelo outro.
"Eu quero fazer uma coisa."
König franziu as sobrancelhas por baixo de seu escudo de pano, um pouco confuso, e inclinou a cabeça um pouquinho para o lado, instintivamente.
"Que tipo de coisa, Stubentiger? "
Horangi parou de embaralhar distraidamente as cartas, arrumando-as em uma pilha sob suas palmas. Ele moveu os olhos por todo o tecido que cobria o rosto de König, como se pudesse ver através do pano preto e manchado, e manteve um curto contato visual com os olhos do austríaco antes de se focar num ponto perto dos olhos – como sempre.
"Eu quero beijar você."
A maneira natural com que aquilo saiu de seus lábios foi mais chocante do que a frase em si que havia saído de sua boca. König arregalou os olhos, estupefato, e sentiu suas bochechas ficarem cada vez mais quentes, assim como sua nuca e a ponta de suas orelhas. Quer dizer… não é como se eles nunca tivessem compartilhado gestos e palavras de afeto antes. Eles estavam naquele relacionamento de mais do que apenas amigos , mas não exatamente amantes ou qualquer termo rotulado há meses – e, ainda assim, seu coração acelerou .
"Wha- Was?? Du- Du hast gesagt- Du willst was?? " ele gaguejou, olhos arregalados para o coreano.
Por outro lado, Horangi apenas deu risada, parecendo muito divertido.
"Ei, inglês, 바보 " brincou ele, esticando o braço para dar um peteleco na testa escondida de König. “Não posso entender alemão, lembra?”
Mas Horangi não precisava de uma tradução para entender o que foi aquilo que König balbuciou em um alemão envergonhado e surpreso. Ele sabia.
"Desculpe. Não se preocupe, você não precisa fazer nada, se não quiser. Eu só, uhm, queria que você soubesse." Horangi disse, inabalável, sem perder o sorriso que alcançava seus olhos. König piscou algumas vezes, ainda sem palavras, antes de balançar a cabeça levemente para focar seu cérebro.
“T-Tudo bem, é só que, uuh… Por quê? ” ele questionou, a voz baixa, quase um sussurro inseguro. Horangi franziu levemente as sobrancelhas e inclinou a cabeça para o lado, imitando König um pouco antes.
“Hmm? O que você quer dizer com “por quê?”, König?” ele riu e balançou a cabeça antes de arquear uma sobrancelha para o outro. “O quê? Eu preciso de um motivo pra beijar o cara que eu gosto?”
O austríaco baixou os olhos, sorrindo debaixo da máscara, seus dedos acariciando lenta e distraidamente o livro em suas mãos.
“ Nein. Acho que não.”
Horangi cantarolou em concordância, mas não disse mais nada. König ergueu os olhos para olhar para o coreano novamente, um pouco desapontado ao vê-lo focado novamente em embaralhar as cartas em sua mão, embora ele agora parecesse entediado. König mordeu o lábio, um pouco hesitante, e tentou voltar à leitura, mas acabou não dando muito certo quando seus olhos queriam estar em Horangi, observando seus movimentos lentos e seus olhos baixos até que ele parou de brincar de embaralhar as cartas.
“Acho que eu deveria ir agora. Já deve ser tarde.” disse, virando o rosto para König. O austríaco fechou o livro em suas mãos, sem esquecer de marcar a página que havia parado, e colocou-o na mesinha de cabeceira ao seu lado.
Olhando de volta para Horangi, ele observou o coreano se arrastar para fora da cama e se levantar preguiçosamente, esticando os braços e a coluna no processo. Horangi virou-se para ele e sorriu com os olhos novamente.
“Você podia ficar”, König viu-se dizendo e ele não se arrependeu de fazer a oferta. “Eu não me incomodaria de dormir com você.”
“Oh, eu sei que não, gomdori. ” o coreano disse divertido, batendo as cartas amontoadas em uma pilha contra a palma, deixando-as alinhadas. “Por mais que eu adore a ideia, vou precisar levantar cedo amanhã e não quero ter que acordar você. Mas tenha certeza de que eu vou lembrar desse convite em um outro momento.” ele riu, piscando o olho para o austríaco, que deu uma risadinha em resposta.
“Claro, stubentiger ”, König disse, observando Horangi guardar o deque de cartas no bolso e se abaixar para amarrar os cadarços de suas botas. Ele se aproximou um pouco mais da beira da cama e, quando notou que Horangi estava quase finalizando o laço da bota, ele suspirou. “Horangi?”
“Sim?” ele olhou-lhe do chão e König sorriu levemente, brincando com os próprios dedos.
“Você pode me beijar, se quiser.”
Os olhos escuros piscaram surpresos duas vezes antes de brilharem. König adorou. König adorou a risada que Horangi deu. König adorou ver um rubor suave alcançando as orelhas de Horangi. O coreano ergueu-se e se aproximou, fazendo König levantar um pouco a cabeça para olhar o outro nos olhos enrugadinhos nos cantos, tão fofo .
Horangi gentilmente apoiou as mãos em seus ombros e esfregou os polegares numa carícia. “Feche os olhos, König.”, ele disse e König obedeceu, porque ele confiava em Horangi.
Seu coração acelerou quando a mão direita de Horangi deixou seu ombro, segurando-se para não espiar o rosto alheio que provavelmente estava descoberto agora. A outra mão de Horangi deixou seu ombro e ele respirou fundo quando sentiu o ar tocando seu rosto quando sua “máscara” foi erguida até a altura do nariz, mais pelo contato direto com o ar do que por algum rastro de ansiedade – não seria a primeira vez que aquele gesto acontecia e Horangi nunca lhe deixava nervoso com isso. Ele sorriu quando sentiu os dedos de Horangi acariciando suavemente as poucas cicatrizes que ele tinha no rosto, ouvindo quando ele sorriu e fazendo seu peito apertar com afeto.
Ele ficou confuso quando Horangi continuou a erguer o pano até quase tirá-lo completamente da cabeça de König, expondo seu rosto até sua testa. Os dedos gentis de Horangi afastaram algumas mechas de seu cabelo de sua testa e quando König pensou em questionar, ele sentiu os lábios de Horangi pressionando carinhosamente contra sua pele agora exposta e um pouquinho suada. A pressão durou por segundos, ou talvez minutos, quem sabe horas – o suficiente para deixar König fora do ar até que ele sentiu o pano caindo sobre seu rosto novamente.
Seus olhos imediatamente procuraram e encontraram um Horangi que tinha a boca escondida pela máscara novamente e um sorriso nos olhos. König sentiu seu peito se aquecer junto das bochechas com todo o afeto que ele conseguia ver dentro dos olhos de Horangi. Ele estava tão apaixonado por Horangi.
E Horangi parecia tão apaixonado por ele.
“Boa noite, gomdori ”, Horangi disse, aproximando-se novamente apenas para bater suavemente sua testa na de König. O austríaco deu um risinho bobo.
“Boa noite, stubentiger. ”
König ficou observando Horangi sair de seu quarto sentindo-se bobo. Ele manteve o sentimento até quando se deitou para dormir, tocando sua testa e sorrindo apaixonado para o teto. Não foi exatamente isso que ele pensou quando Horangi disse que queria beijá-lo, mas ele amou de qualquer maneira.