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Language:
Português brasileiro
Stats:
Published:
2023-03-21
Words:
1,130
Chapters:
1/1
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2
Kudos:
25
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1
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135

Sonolento

Summary:

Os problemas que Fernando tem para dormir foi o que o permitiu escutar Luciano falar algo importante que mudaria a relação amorosa dos dois.

Notes:

(See the end of the work for notes.)

Work Text:

Já era meia noite e sem previsão de sair do palco daquele bar. Para Fernando, a pior parte era ver algumas pessoas que claramente não estavam sob efeito de álcool, pelo menos não apenas.

Parou a música para beber água. Fazia 9 anos que estava limpo, mas precisava manter distância daquele ambiente caótico. Como se afastar de uma realidade que era sua? Logo ele, que quebrou tantas amizades para prezar a saúde de seu corpo e mente, ou continuaria dependente químico até hoje.

Não tinha como manter distância de seu trabalho ou morreria de fome.

O outro músico estava atrasado, se é que ele viria. Em tese, seu expediente tinha que acabar ali, mas não tinha problemas em continuar tocando até que amanhecesse. Fernando ainda sentia certa ansiedade por causa de sua luta interna e fazer alguma coisa era uma boa desculpa para que não se abalasse em meio às noites de sono mal dormidas.

Não era assim, costumava ser uma pessoa que dormia cedo e cuidava de si, se esforçava para voltar àqueles tempos, mas tentava ser gentil consigo mesmo: Tinha dias que não conseguia e não precisava se martirizar por isso, estava tudo bem. E aquele era um dos dias.

Um homem entrou no ambiente. Os braços musculosos, a pele preta e a cabeça raspada eram o que o caracterizavam de longe.

Luciano sentou na mesa e coçou a barba rala, estressado como todos os dias que ia lá.

Grandes artistas tinham musas que os inspiraram. Fernando tinha um homem. Luciano guardava na mala o uniforme militar que tinha acabado de tirar para entrar ali, estava saindo de seu trabalho.

Não era sempre que o músico via ele com roupas militares, sempre era com uma regata e calças folgadas, demorou para entender que, na verdade, o outro não era autorizado a macular o uniforme entrando em lugares como aquele.

Agradecia mentalmente por aquele homem fazer aquilo só para vê-lo cantar. Seria ingratidão não beber mais um gole de água apenas para oferecer a ele a sua melhor voz.

Luciano costumava pegar uma bebida das mais duvidosas que todos odiavam, menos ele. Tomava uma única unidade para dizer que consumiu algo além da música. Até uma da manhã, nenhum dos dois viu o tempo passar, Luciano quase dormia na cadeira ao som de um violão e uma voz suave cantando aquele tipo de MPB que só bares poderiam oferecer. Era daquela voz falando "Boa noite" no microfone que Luciano precisava para finalizar o dia.

Era rotineiro e, de tão rotineiro, já conversaram muitas vezes, Fernando flertava sutilmente e era adorável demais para recusar. Luciano olhou para o músico e foi observado de volta com um sorrisinho. O menor inclinou a cabeça para a cadeira vazia ao lado e Fê lançou um olhar fofo para o barista, que concordou.

Ele levantou, guardando o violão na capa. Quando sentou, riu um tanto sem graça e, no meio da troca de olhares intensa e apaixonada, reuniu coragem para dizer um baixo:

— Aquele convite ainda está de pé?

Lu moveu o ombro e o outro interpretou um "se quiser". A mão calejada tocou a outra por debaixo da mesa, escondido.

— É que… Meio que queria fazer algo que não posso em público…

O militar piscou, as sobrancelhas erguidas em surpresa.

— Estou um pouco cansado hoje.

— Dormimos — Fernando sorriu, apertou a mão alheia, com carinho.

E então, sair do bar e passar por aquelas ruas escuras não era uma atividade tão intimidante com outro homem ao seu lado. Fernando tentava convencer-se de que era um adulto e não fazia sentido envolver o seu dedinho no do outro, mas não resistia aos seus desejos bestas de filmes românticos.

Luciano não se importava, poderia ceder a todas as manias bobas do outro, só não esperou que ele fosse mesmo para sua casa. Ele não possuía muitas regalias ou luxos para se abrigar, não tinha receio de que o outro fosse odiar, mas bem que poderia ter organizado a casa naquele dia.

A porta fechada foi um alívio para ambos, só eles entenderiam o conforto de estarem em um lugar privado. De repente, Fê não sabia como agir, mas abraçou o outro acaloradamente. No bar eles apenas trocavam carícias escondido, já que não sabiam o quão bêbados eram os clientes.

O militar tinha receio do outro querer sexo e encontrou o conforto de um abraço, talvez ali tenha percebido que ele era o homem perfeito para si, ou muito antes. Ele ergueu o rosto alheio com o dedo indicador, acariciando levemente uma área clara de seu queixo com o polegar. Fernando se antecipou com um beijo, o mais baixo ainda tinha gosto de cerveja barata, mas não ligava. Era íntimo. Luciano só conseguiu afastar sua boca para beijar a mão bicolor.

— Eu vou tomar banho, a casa é sua.

Ele não sabia a proporção daquelas palavras na hora, nem tinha noção de que não demoraria muito para a casa ser realmente do outro.

O mais velho não conseguia parar de sorrir e sentou na cama tão fofinha em comparação com a sua. Demorou um pouco para se sentir confortável e se deitar ou abraçar um travesseiro, fechar os olhos e se imaginar dormindo.

Ainda sentia que não dormiria tão cedo e rapidamente expulsou esses pensamentos, teria que respeitar seu próprio processo. Nem percebeu quando o militar se aproximou, apenas sentiu o beijo em sua bochecha. E, quando pensou em abrir os olhos, escutou a voz:

— Você é o homem mais amável que já conheci — falou baixinho, se acomodou na cama tão cuidadosamente que a ficha do músico caiu, Luciano achava que ele tinha dormido.

E não seria nem louco de abrir os olhos se isso significasse parar de ouvir aquela confissão depois de tanto tempo que Luciano se privou. Jamais faria aquilo.

— Se eu tivesse conhecido você antes, talvez fosse tudo diferente agora — ele continuou, tão baixo que Fernando tinha que se esforçar para escutar por entre o farfalhar do tecido enquanto ele se acomodava na cama também — Não achei que eu fosse capaz de amar alguém.

Se fingindo de sonolento, o maior envolveu os braços nos músculos da cintura fria após o banho naquela madrugada, em um abraço gentil. Luciano suspirou. Um som aliviado.

Amar era forte demais. E "forte demais" era exatamente o que tinha em mente, mas não deixou de se sentir um palerma. Nunca diria aquilo de novo nem sob tortura, mas Fernando não precisava escutar duas vezes. Tão mole e apaixonado, o músico abraçou-o mais forte, feliz por ser correspondido diante do tempo em que passaram juntos entre uma conversa e outra no bar.

Não tinha certeza se o outro caiu no sono após falar aquilo, mas era perfeitamente confortável ficar imóvel nos braços daquele homem que se tornaria seu futuro marido.

Notes:

Kudos e comentários são apreciados!