Chapter Text
06 de junho de 1994,
Hogwarts.
Eleanor permaneceu, paralisada, onde estava, enquanto Hermione gritava, para chamar a atenção de Sirius e Harry. Lupin tinha sua varinha apontada para Pettigrew, mas seu rosto estava virado em direção à lua, e seu corpo começava a tremer da cabeça aos pés, como se convulsionasse.
Mesmo de longe, Eleanor conseguiu ver seu rosto sendo tomado por veias escuras, sua boca se abriu e ele começou a produzir um som estranho: quase que um rosnado. Em um impulso, começou a andar até ele, mas Sirius a puxou para trás, correndo até Lupin no lugar dela.
– ELE TOMOU A POÇÃO HOJE? – Sirius berrou, e Eleanor pensou por alguns segundos, com dificuldades de pensar direito. Mas, então, a realização a atingiu.
– ...não! DROGA! Ele esqueceu... – Respondeu, levando a própria mão até a boca, assustada.
– Remus, meu velho amigo! – Sirius gritou, o envolvendo com os braços, como se fizesse um apoio, para que o corpo dele não caísse no chão. – RESISTA!
Lupin começou a gritar de dor, mas Eleanor não reconheceu a voz dele; tinha ficado mais grossa, como um animal. Harry puxou Eleanor, pela manga do casaco que usava, fazendo com que ela, quase caindo para trás, se juntasse aos outros três, que estavam abraçados um ao outro, assustados. Afobado, ele a devolveu sua varinha, e ela mal lembrava de que não estava mais com ela.
– VOCÊ SABE O HOMEM QUE REALMENTE É! É NESTE CORAÇÃO QUE VOCÊ HABITA! – Sirius batia no peito de Lupin com força, tentando o atingir, no meio daquilo tudo. – ESTE CORPO É SEU, SÓ SEU!
Lupin, se contorcendo, largou a varinha no chão aos gritos. Pettigrew, se aproveitando da distração, deu um sorriso malicioso e se abaixou para pegar a varinha, e ninguém pareceu notar além de Eleanor.
Ela se soltou de Harry, Hermione e Ron e apontou a varinha na direção de Pettigrew, ignorando os gritos de Lupin. Não queria admitir que sentia medo de enfrentá-lo; mesmo sabendo que ele era um covarde que não iria fazer nada contra ela, mas ainda assim… aquele era o homem que, realmente, havia matado 12 trouxas. Era dele quem ela deveria ter medo, todo aquele tempo, e não Sirius.
– EXPELLIARMUS! – Ela conjurou, fazendo com que a varinha, que Peter mal tinha acabado de pegar, voasse para longe dele.
Peter virou a cabeça lentamente na direção dela, com um olhar diferente: parecia se sentir vitorioso. Com um sorriso prepotente tomando conta de seu rosto, ele acenou para os quatro lentamente.
O que eles viram no momento seguinte foi inexplicável: Peter lentamente se transformou num rato. Ver o rosto dele, lentamente, se transformando em uma cabeça pequena, enquanto ele desaparecia para dentro de suas roupas, foi uma visão tão bizarra, que Eleanor sentiu seu rosto se contorcendo involuntariamente.
Ao ver o rato correndo para longe, Harry começou a correr atrás dele, mas Eleanor e Hermione conseguiram o segurar, uma de cada lado.
– HARRY, NÃO! – Hermione gritou, vendo que ele ia correr diretamente na direção de Lupin, que ainda gritava, sendo segurado por Sirius.
– REMUS! REMUS!! – Sirius gritou, e eles perceberam que era tarde; a transformação já havia começado.
Os gritos de Lupin cessaram, sendo substituídos por um rosnado medonho. A cabeça de Lupin começou a se alongar, assim como seu corpo. Seus ombros se curvaram, e eles conseguiam ver pêlos brotando em seu rosto e suas mãos, que se fechavam, enquanto viravam patas, com garras afiadas.
Eleanor sentia lágrimas descendo pelo seu rosto, mas nem percebeu que havia começado a chorar. Era como se ela, mais uma vez, estivesse descobrindo que ele era um lobisomem. Todas as sensações que sentiu no dia que o viu jogado no chão, cheio de cortes e sangue escorrendo, pareciam ter voltado. Exceto que, desta vez, em dobro.
Escutou-se o som das roupas de Lupin se rasgando, e ele parecia ter dobrado de tamanho, ficando ainda mais alto do que Sirius.
– CORRAM! – Sirius gritava, usando toda sua força para contê-lo. – CORRAM! EU O SEGURO!
As roupas de Lupin caíram ao chão, e não era mais possível reconhecê-lo. Qualquer resquício de que aquela criatura poderia, ainda, ser o professor que Eleanor passava as suas tardes, agora, tinha sumido. A criatura tinha se tornado tão forte que arremessou Sirius para longe, dando um rugido final.
Hermione tentou puxar Eleanor para trás, mas ela resistiu. Ficou, paralisada, à frente dos outros três, que estavam abraçados, quando o lobo se encolheu no chão e começou a reproduzir um som que lembrava um choro.
– Eleanor! – Hermione sussurrou, ainda a puxando pela manga do casaco.
– Espera! – Eleanor a interrompeu, sacudindo a mão, sem tirar os olhos de Lupin.
Como se uma luz se acendesse dentro dela, ela deu um passo à frente. Se lembrou de quando conheceu Bicuço e dos ensinamentos de Hagrid… talvez, pudesse ser útil, já que não tinha a mínima idéia de como lidar com um lobisomem.
Primeiro, espere que a criatura faça o primeiro movimento… ela se lembrou, e olhou nos olhos do lobo, observando qualquer movimento. Então, ele colocou suas patas dianteiras no gramado. Ela deu outro passo à frente, lentamente.
Segundo, faça uma reverência. Essa parte, ela decidiu improvisar. Ao invés de se curvar diante dele, apenas balançou a cabeça lentamente, quase como se tentasse o tranquilizar, e colocou seu melhor sorriso no rosto.
– Professor... – Sussurrou, dando um passo de cada vez. – Sou eu. Eu, Eleanor… você me reconhece? Eu cuidei de você, lembra? O ano todo… me diga que lembra…
– Péssima idéia, péssima idéia... – Ron choramingava, atrás dela.
– Professor? – Repetiu, e a criatura encontrou o olhar dela. Os olhos azuis de Lupin não estavam mais ali; agora, a olhando de volta, era um par de olhos amarelos, quase cintilantes.
Terceiro, espere que ela retribua a reverência. Ela relembrou, por último, e estendeu a mão, como se o permitindo farejar.
O lobo permaneceu parado por alguns segundos, a analisando. Então, aproximou o focinho dela, o mexendo, enquanto a cheirava. Eleanor suspirou, aliviada, e deu mais dois passos apressados, para chegar perto dele.
Quando chegou perto o suficiente para sentir a quentura da respiração dele, se assustou quando, de repente, ele ficou de pé, nas duas patas traseiras, ficando mais de 1 metro mais alto que ela, e uivou. Estava tão perto, que seus ouvidos doeram, com o som que ele reproduziu.
Em seguida, em um movimento tão rápido, que ela mal pôde antecipar, o lobo a arremessou para longe, a golpeando com sua pata dianteira. Só pôde escutar o grito de Hermione antes de bater com a cabeça em uma das pedras, bem atrás deles, e não escutar mais nada.
Harry, Ron e Hermione precisaram se abaixar quando ela foi arremessada, senão, ela cairia bem em cima deles. Quando se levantaram, viram que o lobo avançava na direção deles, com um olhar ameaçador, e sanguinário, nos olhos.
Eleanor levantou a cabeça lentamente, com muito esforço, e podia sentir seu sangue escorrer, quente, começando do topo da testa, pelo resto do rosto. Não conseguia enxergar direito; parecia que tudo tinha ficado embaçado e mais escuro, mas, procurou, dentro de si, todas as forças que tinha, para se levantar.
Enquanto tentava se segurar na pedra para se manter em pé, escutou a voz de Snape. Olhou na direção dele e viu um vulto, preto e embaçado, avançando em cima de Harry, de costas para o lobo.
– Aqui está você... Potter… – Snape rosnou, segurando Harry pelo colarinho da blusa, soando furioso.
A garota muito mal conseguia entender o que ele dizia; era como se todos os seus sentidos tivessem se embaralhado dentro de sua cabeça. Ela não sabia se realmente escutava o que Snape dizia, ou se, na verdade, apenas havia presumido que aquilo era o que ele tinha dito, quando o viu sacudindo Harry. Tudo estava tão confuso, e seus olhos começavam á pesar… mas, ela precisava ficar acordada… precisava.
O lobo rosnou, atrás de Snape, fazendo com que ele se virasse, assustado. Em um reflexo, ele se colocou na frente dos quatro, formando um escudo com seu corpo. Sem se sentir intimidado, o lobo ergueu suas garras e as raspou no braço de Snape, com tanta força, que o Professor caiu para o lado, levando Hermione junto consigo, já que caiu em cima dela.
A criatura ameaçou golpear novamente, mas, antes que conseguisse, uma figura escura voou na jugular dela; Sirius havia se transformado também.
Eleanor começou a recuperar sua visão, mas sua cabeça ainda doía e não parecia que iria parar de sangrar tão cedo; ela olhou na direção dos rugidos e latidos, vendo que o lobo e o cão estavam em uma luta feroz, onde nenhum deles parecia estar na vantagem; o lobo era maior, mas o cão conseguia morder os pontos certos para prejudicá-lo.
Sirius parecia ter conseguido o que queria: afastar Lupin dos quatro, que, agora, eram cinco. Se pendurou no pescoço do lobo, que tombou para trás, e pulou para longe, antes que caísse em cima dele. Voltou correndo para onde estava, se colocando à frente de Harry, Eleanor, Hermione, Ron e Snape, mostrando os dentes para Lupin.
Snape já tinha conseguido se levantar novamente, e se colocou como um escudo na frente deles novamente, enquanto Harry ajudava Eleanor a levantar do chão, com cuidado, para que ela não perdesse o equilíbrio novamente.
Os dois atracaram-se mais uma vez. As garras se golpeavam, e era possível escutar sons de arranhões, rosnados e grunhidos. Perdendo o controle da briga, começaram a ir em direção aos outros, enquanto Snape os empurrava para trás, sem tirar os olhos das duas criaturas à sua frente.
O lobo arremessou Sirius para alguns metros de distância e voltou a andar na direção deles, seu olhar ainda mais irritado do que antes. Eleanor sentiu suas pernas tremerem e temeu que fosse cair novamente, mas Sirius veio, em uma velocidade impressionante, e afundou as presas no braço do lobisomem, o puxando para longe deles.
Tentando o arremessar para longe de novo, o lobo não tirava o olhar deles, mas Sirius pegou no ponto certo, o fazendo rosnar e se virar na direção dele. Percebendo que chamou sua atenção, correu para longe, com o lobisomem na sua cola.
– SIRIUS! – Harry gritou e soltou o braço de Ron, saindo correndo, atrás deles. Eleanor conseguiu segurar Ron antes que ele caísse, já que Hermione o soltou também e correu atrás de Harry; não teve tanto sucesso assim, pois os dois quase caíram, mas ela se manteve de pé, com muito esforço.
– POTTER, VOLTE AQUI! – Snape gritou, segurando Hermione pelo braço, antes que ela o seguisse.
Harry parou alguns metros à frente, assistindo enquanto o lobo jogava Sirius contra uma enorme pedra, e o mordia de forma quase fatal. O sangue jorrava, e era possível ver, mesmo de longe, o dano que Sirius estava sofrendo.
O garoto, num impulso, se abaixou e pegou uma pedra no chão, a jogando contra o lobisomem. A criatura se virou na direção dele, dando o rugido mais feroz que eles já escutaram até aquele momento, e avançou na direção dele. Antes que pudesse o golpear, todos escutaram um uivado vindo da distância.
– Auuuuuuuuuu! – Ecoou.
O lobisomem parou e olhou na direção de onde o uivado vinha, confuso.
– Auuuuuuuuuuuu! – Repetiu, e ele saiu correndo, atrás de seja lá o que fosse. Certamente, não era um lobisomem… parecia muito fino, e desafinado.
Todos respiraram aliviados, mas Harry permaneceu parado: Sirius se transformou de volta à forma humana, e cambaleou para longe, gemendo de dor. O menino correu atrás dele, e ambos sumiram de vista. Snape saiu da posição de defesa e sua expressão voltou à arrogância costumeira.
– Vamos voltar para a escola, e comunicar tudo que aconteceu à Dumbledore. – Ele ordenou, aplicando pressão em seu corte discretamente.
– Professor, seu braço... – Eleanor apontou para o corte, e ele a lançou um olhar ameaçador, a calando.
– Se preocupe com este corte na sua cabeça, Sparks. – A interrompeu, ríspido, e se virou em direção à escola, andando na frente, com sua capa se enfunando atrás dele.
– Professor! – Hermione o chamou, fazendo-o se virar, impaciente. – Como vamos levar o Ron de volta pra escola?
– Carregando ele, é claro. – Ele respondeu, e voltou a andar.
– Pode conjurar aquele feitiço que o Dumbledore usou com Harry no jogo de Quadribol da Grifinória contra a Lufa-lufa?
– Que feitiço? – Arqueou uma sobrancelha, entediado.
– Um que conjurou uma maca flutuante, pra levá-lo pra ala hospitalar...
Snape a olhou com uma expressão séria em seu rosto.
– Não. – Respondeu, sereno, dando as costas para elas, bruscamente, e continuou andando, as deixando para trás.
– Mas… professor! – Hermione fez careta, indignada.
– Esqueça, Hermione. Vamos levar ele pra escola nós mesmas. – Eleanor escondeu a tontura que sentia, enquanto ajeitava o braço direito de Ron, em seu ombro.
– Você bateu a cabeça! – Hermione exclamou. – Não pode ficar se esforçando assim, vai acabar desmaiando também! E eu não posso carregar vocês dois sozinha!
– Eu não vou desmaiar. – Engoliu em seco. – Vamos logo, pegue o outro braço dele.
– Pensando bem, acho que consigo andar. – Ron ficou vermelho, tentando se desvencilhar delas.
– Certeza? Sua perna está muito ruim! – Hermione o lançou um olhar preocupado.
– Absoluta, olha só... – Ficou de pé, sozinho, mas, ao dar um passo à frente, cambaleou e quase caiu, com as duas correndo para segurá-lo. – AI!
– Que droga, Ron! – Eleanor resmungou, colocando o braço dele em volta do ombro dela novamente. – Pare de forçar a perna! Só… tenta equilibrar o próprio peso, pra ajudar a gente, tá bem?
Ele assentiu com a cabeça e eles começaram a, lentamente, mancar até a escola. Era um longo caminho, mesmo que você andasse numa velocidade normal, e, mais longo ainda, se andasse na velocidade deles.
Depois de 40 minutos andando, com pausas para respirar, trocar de lado, e para que Ron pudesse sentir menos dor, ao forçar a única perna boa, eles conseguiram chegar até a escola.
Dumbledore e Professora McGonagall estavam na porta da escola, os esperando, e o diretor conjurou o feitiço da maca para Ron, para que eles pudessem subir as escadas rapidamente.
– Sparks, a sua cabeça... – McGonagall olhou, com agonia, para o corte profundo na testa de Eleanor; o sangue seco espalhado por toda a lateral direita de seu rosto.
– Estou bem… – Balançou a cabeça, fingindo descaso.
– Madame Pomfrey vai saber cuidar disso, sim? – Ela forçou um sorriso, passando a mão pelo braço dela, e elas voltaram a subir as escadas, enquanto Dumbledore ia na frente, guiando a maca flutuante de Ron, com sua varinha e, Hermione, ao lado dele.
Chegando na ala hospitalar, no sexto andar, viram que Snape estava tendo seu corte medicado por Madame Pomfrey. Ele os olhou, de soslaio, mas fingiu não ter feito isso.
Madame Pomfrey, ao ver o estado de Eleanor, soltou um suspiro espantado. Deixou Snape, que já estava bem, sentado em uma das camas e deu passos apressados até ela.
– O que houve com você, Merlin?! – Ela tinha os olhos arregalados.
Eleanor engoliu em seco. Não queria falar que Lupin havia feito aquilo. Não era culpa dele, afinal…
– Lupin. – Snape resmungou, de onde estava, e todos se viraram pra ele. – Ele ajudou Black a entrar no castelo e levou os quatro até a Casa dos Gritos com ele. Sabe-se lá o que iria fazer com eles.
– Black é inocente! – Hermione o defendeu. – Diretor, precisa acreditar em nós! Lupin não estava o ajudando...
– Estava! – Snape sibilou, a interrompendo. – E foi ele quem fez isso com a Sparks. Uma aluna inocente... a sua própria assistente!
– Ele não tem controle sobre o que faz quando se transforma! – Eleanor defendeu Lupin, sentindo sua vista pesar. – Ele não pôde evitar o que fez comigo, mas você pôde!
– O que quer dizer com isso? – Se levantou da maca e andou em direção à ela, com o cenho franzido e o queixo erguido, como se a desafiasse.
– Você nos deixou sozinhas naquela floresta! Encarregadas de carregar o Ron de volta pra escola, sem nos dar a mínima ajuda! Com um lobisomem descontrolado á solta! – Eleanor exclamou, andando até ele com as pernas cambaleando, apontando o dedo indicador para o professor. – Como ousa querer culpar Lupin, de fazer algo que ele não pôde evitar, quando você fez pior, por livre e espontânea vontade?!
– Com quem acha que está falando? – Ele rosnou, sua voz em um tom baixo, enquanto contorcia o rosto para ela.
– Com um grande… – Ela tentou falar, mas sentiu seu corpo pesar, e sua cabeça, de repente, ficou mais leve.
– Termine a frase. – Snape ordenou.
– Você é um... – Foi tudo que ela conseguiu dizer antes de sua visão escurecer, e ela deixar seu corpo cair no chão.
O badalar da meia-noite fez Eleanor despertar, mesmo que não totalmente, mas ela, agora, podia escutar o que acontecia à sua volta, por mais que não entendesse de imediato; como se seu cérebro estivesse, aos poucos, voltando a funcionar. Suas pálpebras pesavam demais para que ela pudesse abri-las, e, francamente, ela não queria fazer isso… parecia ser tanto esforço… só queria continuar ali, deitada, de olhos fechados. Ficou alguns minutos, talvez horas, só escutando tudo que acontecia, na ala hospitalar.
– O que está fazendo? – Ela reconheceu a voz de Madame Pomfrey, muito distante.
– Eu queria ver como a Spa... er… a Eleanor... está. – Ela não reconheceu essa voz de imediato, por mais que achasse que pertencia a algum menino.
– Ela não precisa que você a incomode agora. Está muito cansada e muito machucada! – Madame Pomfrey contrariou. – Nem acordada está, aliás.
– Eu não vou… incomodá-la! – O menino parecia ofendido. – Vai ser rápido.
– ...vou te dar 10 minutos. E, se eu perceber que a está incomodando, vou garantir que tome uma suspensão. Estamos entendidos?
Ele não respondeu, e Eleanor apenas escutou o som da cortina à sua frente se abrindo. O menino entrou, e respirou fundo, ao vê-la. Ela ainda não tinha reconhecido a voz, e não tinha forças de abrir os olhos. Se sentiu sendo observada, e, então, escutou alguém se sentando, ao lado da cama.
Passaram-se 5 minutos, e ela sentiu sua garganta coçar. Começou a tossir, o que fez o seu machucado começar a doer, a fazendo tossir, ainda mais, e choramingar, tentando levar a mão até a testa.
– Hã... Madame Pomfrey?! – O menino chamou, com a voz trêmula, mas ninguém respondeu. – Que droga, Eleanor... o que eu faço?
– Água... – Ela sussurrou, tateando à sua volta, procurando pela mesa, já que seus olhos ainda não tinham se aberto por completo; sua visão estava embaçada.
– Água… aqui. – Escutou o som de um copo sendo enchido. – Você consegue… beber sozinha?
Estendeu a mão, mas quase derrubou o copo no chão quando o segurou.
– Só… fica parada. – Respirou fundo, levando o copo até a boca dela, virando lentamente. – Tente não… engasgar até a morte, por favor… – Resmungou.
Quando a coceira em sua garganta aliviou, ela empurrou levemente a mão da pessoa para longe. Respirou fundo e tentou abrir os olhos de novo, dessa vez ela conseguia ver, claramente, o ambiente à sua volta.
A ala hospitalar estava vazia, conseguiu ver Ron, com a perna engessada, Hermione e Harry, adormecidos, em camas distantes da dela, e estava tudo escuro; iluminado apenas por algumas velas distribuídas ao redor da sala. Ao seu lado, achou ter enlouquecido, mas, lá estava ele: Draco Malfoy.
– O que...? – Ela franziu ligeiramente a testa, mas parou, pois seu corte doeu.
– Está bem acabada. – Estava com os braços cruzados, e encostado na cadeira, enquanto a encarava. – Tive que vir, pra ter certeza de que você não morreu. Mas, te vendo assim, tenho minhas suspeitas…
– Como soube... que eu estava aqui? – A voz dela estava falha.
– Professor Snape. – Respondeu, calmamente. – Ele me deixou plantado na sala dele, um tempão, e, então, chegou, todo machucado, dizendo que precisava usar a comunicação de Pó de Flú na sala dele.
Ela continuou em silêncio.
– Falou com a Sprout que você tinha se machucado, e que estava desmaiada, na enfermaria, então, eu quis vir. – Finalizou, dando de ombros.
– Pra rir da minha cara?
– Claro que não, que tipo de monstro acha que eu sou? – Resmungou, parecendo genuinamente ofendido. – Só queria saber se você estava be... se estava viva.
– Para a sua infelicidade, estou viva.
– Felicidade, na verdade. – Suspirou, e ela o encarou, confusa,, fazendo com que ele ficasse 2 tons mais avermelhado. – Afinal, se você morresse... com quem eu ia brigar todo dia? – Disfarçou.
– Com o resto da escola, talvez?
Ele deu uma risada baixa.
– Pode ser, mas eu me divirto mais quando é com você. – Sorriu de lado, e ela o olhou, diretamente, pela primeira vez. Reparou que o nariz dele estava com um hematoma enorme.
– Quem te socou? – Ela fez careta.
– Ninguém! – Desviou o olhar, fazendo careta. – Eu… bati na maçaneta.
Sabia que ele estava mentindo. Mas, não teve tempo de falar nada, pois Madame Pomfrey se juntou a eles, trazendo uma xícara em suas mãos.
– Sr. Malfoy, acho que seus 10 minutos já acabaram, não é?… – O olhou, repreensiva. – Eleanor, como se sente?
– Cansada. – Eleanor respirou fundo. – E minha cabeça... dói… tanto.
– Você sofreu uma concussão feia. – Lhe lançou um sorriso acolhedor. – Não pude fazer muito com magia…. vai ter que esperar um tempo pra cicatrizar sozinho, e, só então, vou poder usar o resto dos feitiços. Por enquanto, apenas tente dormir, e não se preocupe.
– Não sei se vou conseguir dormir de novo… mal consigo pensar, sem sentir como se minha cabeça fosse explodir. – Fechou os olhos por um segundo, tentando se esquecer da dor.
– Quer que eu coloque uma poção de dormir no seu chá? – Pomfrey perguntou, e ela assentiu, lentamente. – Eu volto em alguns minutos, então. Quando eu voltar, você vai, Sr. Malfoy. Ouviu?
– Sim... – Cruzou os braços, balançando a cabeça, desviando o olhar para o chão.
Permaneceu sentado, ao lado dela, mas não falou mais nada. A olhava de alguns em alguns segundos, mas ela não parecia reparar, pois estava ocupada demais tentando achar uma posição confortável para, pelo menos, tentar ficar relaxada.
– Dá pra parar de se mexer? Você vai acabar se machucando mais... – Resmungou, a repreendendo.
– Não posso ficar igual uma estátua, aqui, deitada!
– Mas não precisa ficar se mexendo igual uma criança de 6 anos! – Contorceu o nariz, incomodado.
– Não enche, Malfoy. – Ela bufou, resistindo à vontade de o mostrar o dedo do meio, mas, parou de se mexer. O garoto também ficou em silêncio, balançando os pés, impaciente.
Madame Pomfrey voltou em alguns minutos, com o chá de Eleanor.
– Beba rápido para não sentir o gosto, querida. – Aconselhou, e Eleanor obedeceu, mesmo que não tivesse ajudado muito; tinha o gosto de todos os piores remédios que ela já teve o desprazer de tomar, misturados. – Não vai levar menos do que 10 minutos para surtir efeito… Sr. Malfoy, vamos. Ela precisa descansar.
– Ok. – Ele se levantou. – Melhoras, Eleanor.
– Espera... ele pode... ficar até eu dormir? – Murmurou, com a voz falhando.
Madame Pomfrey fez careta e inclinou a cabeça na direção de Eleanor, como se achasse não a ter escutado direito. Quer dizer, só podia estar enlouquecendo, se achou que ouviria Eleanor Sparks dizer isso, algum dia…
– ...eu não quero ficar sozinha. – Ela explicou, sentindo seu rosto esquentar, quando viu Draco conter um sorriso.
– Certo... – Madame Pomfrey ergueu as sobrancelhas. Realmente, só poderia ter enlouquecido. – Volto daqui a 10 minutos, então.
Ele se sentou novamente, sem olhar para ela, que já parecia envergonhada o suficiente. Apenas olhou em volta, em silêncio.
– Eu menti. – Ele quebrou o silêncio.
– O quê?
– Não bati o rosto na maçaneta. – Apontou para o hematoma em seu nariz.
– Eu imaginei… – Soltou ar pelo nariz, já que era o mais próximo que poderia chegar de dar risada, sem sentir o seu machucado piorar.
– Foi a Granger. – Contorceu o rosto, com raiva, bufando. – Me deu um soco bem no nariz, aquela descontrolada… acho que aprendeu com você. – Cruzou os braços.
– Você bem que merece, às vezes. – Se ajeitou na cama, sentindo os olhos pesarem.
– Não mereço não! – Se defendeu. – Você me deu um tapa, só por eu estar passando no corredor, na mesma hora que você!
– Você tentou me dar um susto, Malfoy... – Apontou.
Draco ficou sem argumentos, gaguejando.
– Isso não vem ao caso... – Fez careta, dando de ombros. – Já foram dois tapas seus, e um soco da outra… qual é a próxima?
– Quem sabe mais um soco... pra igualar... – Eleanor brincou, sorrindo de lado, fechando os olhos.
– Ah, cale a boca. – Ele riu pelo nariz, e eles ficaram em silêncio, por mais alguns minutos.
Ele não a olhou durante esse tempo, mas podia ouvir a respiração dela, aos poucos, se normalizando.
– O que aconteceu com sua cabeça, aliás? – Ele indagou, e ela não respondeu. – Eu sei que você é meio lesada, mas… não acho que tenha batido a cabeça em alguma parede por aí. – Brincou, mas recebeu silêncio em troca.
Se encostou na cadeira, ainda sem a olhar. Estalou o pescoço para se distrair, então continuou falando.
– Snape estava com raiva de algo que você fez. – Comentou. – Disse que você colocou o dedo na cara dele, e desafiou a autoridade dele, queria que Dumbledore te desse uma suspensão, mas, não deu em nada, pelo que eu sei.
Silêncio. Então, Madame Pomfrey voltou, o olhando com uma careta confusa em seu rosto.
– Estava falando com quem?
– Com a Elean... – Se virou para a garota e viu que ela tinha caído no sono. – Não acredito nisso.
– Eu disse que o efeito seria rápido... – Madame Pomfrey relembrou, erguendo as sobrancelhas.
– Ela me deixou falando sozinho! – Ele contorceu o rosto, olhando para uma Eleanor adormecida. Percebeu que o braço dela estava fora do cobertor, e se aproximou dela, puxando ele para cobrí-la, por inteiro. – Não sabe nem se cobrir direito... – Resmungou, enquanto balançava a cabeça, em desaprovação.
– Ela não fez por mal… provavelmente, nem reparou que dormiu. Essa poção é muito forte. – Explicou. – Provavelmente, nem vai se lembrar de que você esteve aqui, quando acordar.
– O quê? – Ele fez careta. – Por que não?
– Bom, ela teve uma concussão… isso já causa um grande efeito colateral, e essa poção vai colaborar com a perda de memória a curto prazo. – Ela gesticulava com as mãos enquanto explicava. – Posso falar que você esteve aqui, quando ela acordar…
Ele a olhou, enquanto ela respirava fundo, adormecida. Naquele momento, entendeu o que era que estava sentindo, o ano inteiro, e percebeu o que aquilo significava. Respirou fundo e balançou a cabeça, derrotado. Era um caso perdido, de qualquer forma… se ela se lembrasse, as coisas ficariam complicadas… esse era um peso que ele estava disposto a carregar, sozinho.
– Não, não fale. – Engoliu em seco. – Isso é bom, não? Podemos voltar a nos odiar, como se nada tivesse acontecido. – Colocou um sorrisinho no rosto.
– Sr. Malfoy...
– Boa noite, Madame Pomfrey. – Fez uma rápida reverência, e saiu da ala hospitalar, cabisbaixo.
Eleanor acordou, no dia seguinte, sem lembrança alguma de como chegou até a ala hospitalar. A última coisa que se lembrava, era de estar carregando Ron até a escola, com Hermione, e encontrar McGonagall, que pareceu muito preocupada ao vê-la.
Cedric, Hannah e Susan foram a visitar, logo depois do almoço; os três, parecendo que seus corações haviam pulado para fora de seus peitos.
– El! Você está bem?! – Susan correu até a cama dela, pálida.
– Que bom que vocês vieram… achei que fosse morrer sem ver vocês de novo. – Eleanor brincou, sorrindo de lado.
– Não fala isso... – Susan fez bico e começou a chorar. – A Professora Sprout estava tão desesperada quando nos falou, de madrugada… queríamos vir na hora, prometo!
– Não precisa chorar... eu estava brincando, estou bem, agora. – Ela pegou na mão dela, a tranquilizando.
– Você está bem mesmo? Não sente nada de diferente? – Cedric encarava a cabeça enfaixada de Eleanor.
– Minha cabeça dói, mas é só isso. – Deu de ombros.
– Ele te mordeu? – Hannah perguntou, e Eleanor arregalou os olhos.
– O quê?! – Levantou a voz, balançando a cabeça, freneticamente.
– Lupin, ele te mordeu? – Hannah continuava séria. – Você não sabia? Ele é um lobisomem!
O coração de Eleanor parou. Como que chegou até eles? Será que alguém o viu?
– Não se preocupe, El… ele já vai embora da escola. – Susan sorriu, aliviada. – Só fico feliz que ele não te machucou!
– Como assim, vai embora?!
– Ele se demitiu hoje, mais cedo. Snape contou, para todos da Sonserina, que ele era um lobisomem, no café da manhã, e a notícia se espalhou rápido. – Hannah contou, calma.
– ELE SE DEMITIU? – Eleanor gritou, e ameaçou se levantar da cama, mas sua cabeça pesou e ela caiu pra trás. – Cedric… me ajuda a levantar…
– Você tem que ficar deitada! – Cedric negou com a cabeça. – Além do mais, aonde você vai?!
– Falar com Lupin, é claro! Ele não pode ir embora! – Resmungou. – Me ajude agora, é sério! Ele não teve culpa disso…
– Você não vai! – Cedric cruzou os braços, franzindo o cenho. – Madame Pomfrey mandou você ficar de repouso, e é exatamente isso que você vai fazer!
Eleanor encarou aquilo como um desafio, e se levantou, sozinha, mesmo que muito lentamente, da cama. Já de pé, ficou de frente com Cedric, precisando olhar para cima para falar com ele, já que ele era mais velho, e bem mais alto, mas aquilo não a assustava.
– Quem é que vai me impedir de ir? – Ela indagou, o desafiando. – Hannah, você vai me impedir? – Olhou para a amiga, com uma sobrancelha arqueada.
– Eu não… você é meio doida. – Hannah fez careta, dando de ombros.
– Susan?
– Não mesmo. – Respondeu, cruzando os braços e encolhendo os ombros.
– E você, Cedric? – Ergueu o queixo, voltando a olhar para ele.
Cedric não respondeu, apenas cerrou os olhos, pensando em uma resposta para a pergunta dela. Conhecia a amiga, e sabia que ela não desistiria da ideia tão cedo, mas, ao mesmo tempo… sentia que não deveria deixá-la ir.
Em um suspiro derrotado, ele deixou cair os ombros e revirou os olhos.
– Eu vou fechar os olhos e contar até 10... se você sumir nesses 10 segundos, eu não te vi sair. Logo, não tenho responsabilidade. – Ele virou de costas, e começou a contar.
Eleanor andou o mais rápido que pôde até a saída, com a ajuda de Hannah e Susan.
– 3, 4... – Cedric contava.
– 1, 4, 2! – Hannah contava fora de ordem, para o atrapalhar. – Nós vamos para Hogsmeade, El... não quer ir conosco?
– Acho que ir para Hogsmeade, escondida, já é pedir para Madame Pomfrey me matar…
– Entendi, tudo bem... 17, 43, 81!
– Perdi a conta... 1, 2... – Ele recomeçou, fazendo Hannah rir baixinho, enquanto Eleanor conseguia sair da ala hospitalar, sem chamar a atenção de Madame Pomfrey.
Chegou na sala de Lupin, que estava com a porta aberta. O professor guardava todos os seus pertences, e a sala já estava, praticamente, vazia, enquanto ele estava curvado sobre sua mesa, lendo algo.
– Achei que tinha te ouvido chegar, Eleanor. – Ele a cumprimentou, ainda de cabeça baixa.
– Professor, seu rosto... – Ela deixou escapar, em choque, com o estado dele. Era como ela nunca havia visto antes, mesmo com a cabeça baixa.
– Já estou acostumado, não se preocupe... e você, como se sen..? – Ergueu a cabeça para olhá-la, e ficou sério.
Foi possível ver o exato segundo em que Lupin reparou nos machucados de Eleanor, e percebeu o que havia feito; sua expressão se contraiu na hora, dando lugar a uma expressão agoniada e entristecida.
– Eu... sinto muito. – Engoliu em seco, balançando a cabeça, em negação. – Sabia que seria perigoso pra você, continuar convivendo comigo, e mesmo assim, permiti que continuasse, e agora...
– Pare. – Eleanor o interrompeu. – Pare de se culpar, agora mesmo! Eu não te culpo por nada, e você também não deveria…
– Aprecio a bondade, mas você não está vendo o que eu vejo. – Tinha os olhos marejados. – Sabia que essas cicatrizes vão ficar no seu rosto? Cicatrizes feitas por lobisomens ficam para sempre… eu te marquei para sempre, Eleanor.
– Eu não me importo com cicatrizes. – Eleanor deu de ombros. – Além do mais, não vim falar sobre ontem.
– Sobre o que quer falar, então?
– Você não pode se demitir! Não pode!
– Temo que já esteja feito. – Respirou fundo. – Sinto muito.
– Fale com Dumbledore, então! Tenho certeza que ele pode dar um jeito nisso!
– Não quero que Dumbledore tome mais nenhum risco por minha causa. – Negou com a cabeça. – E não quero mais arriscar nenhuma vida. Nem a sua, nem a de Harry, Hermione, e Ron. Ninguém mais se machuca. Não por minha causa.
– NÃO FOI culpa sua! – Eleanor levantou a voz, frustrada, o máximo que pôde. – Fui EU que me aproximei de você naquela hora, achei que você pudesse me escutar e... que fosse te trazer de volta… só por isso, eu fui atacada! Você não teve culpa!
Ele ficou em silêncio.
– Eu te escutei. – Sussurrou. – Por alguns segundos... eu escutei. Por isso, ele uivou antes de atacar…
– Não entendo...
– Eu estava lutando contra ele, para voltar. Para… tomar controle. O uivo foi uma forma de me empurrar para longe. Se tivesse tomado a Poção de Acônito, talvez conseguisse… – Confessou. – Eu sabia que iria acabar te machucando, e não pude fazer nada.
Ela pegou um livro, em cima da escrivaninha, e bateu com ele no braço de Lupin, com força.
– Não fale mais isso! E pare de se culpar, de uma vez por todas… – Fez careta. – Me recuso a deixar que se demita, por minha causa!
– Não é só isso. – Balançou a cabeça. – Ninguém quer um lobisomem dando aula para os seus filhos… amanhã mesmo, vão chegar as corujas dos pais, exigindo que Dumbledore me demita. Só estou o poupando ele do trabalho.
– Meus pais não se importariam!
– Não pode dizer o mesmo dos outros…
– Mas… você me disse… que não consegue arrumar empregos. – Ela engoliu o choro. – Como vai sobreviver, sem esse emprego?!
– Eu dou meu jeito, não se preocupe comigo. – Ele desviou o olhar. – Fiz isso por anos, não é?
– Você é o melhor professor que essa escola já teve… precisa continuar aqui!
– E tenho certeza de que virão outros, ainda melhores. – Sorriu. – Ainda lhe restam 4 anos de estudos, Eleanor. Vem muita coisa pela frente, e o seu futuro... é brilhante.
– Mas...
– Sabia que eu sempre quis ter dois filhos? Um menino, e uma menina. Achei que fosse ter uma chance de ter algo parecido com isso, há alguns anos atrás, mas… – Ele confessou, mas não finalizou a frase, engolindo em seco. – Acho que, no final das contas, consegui isso com você, não é? – Sorriu fraco.
Eleanor sentiu uma lágrima escapar de seus olhos, sem querer. Antes que ela pudesse secar o rosto, ele notou.
– Ah, não chore… – Lupin suspirou. – Eu não vou embora pra sempre. Você ainda pode me enviar uma carta, quando quiser… eu nunca vou esquecer do que fez por mim, Eleanor.
Ela apenas fungou, desviando o olhar para a janela.
– Você é uma menina de 13 anos, que veio de uma família trouxa, e descobriu um mundo totalmente novo. Então, quando finalmente se acostumou com a idéia de que é uma bruxa… descobriu que seu professor é um lobisomem. – Relembrou. – Você tinha todos os motivos para sentir medo, e fugir, mas você, com apenas 13 anos, se prontificou a limpar os machucados de um lobisomem, sem usar qualquer tipo de magia, e, então, se prontificou a ficar do lado dele, e ajudar.
– Qualquer um teria feito isso…
– Se pelo menos metade do Mundo Bruxo fosse como você, Eleanor Sparks, ele seria um lugar bem melhor para todos nós. – Sorriu. – Você representa a casa da Lufa-lufa muito bem. Tenho certeza que Helga Hufflepuff ficaria muito orgulhosa.
Eleanor se emocionou e começou a chorar de vez. Talvez, o peso do fardo que ela guardou, desde o início do ano, estivesse, finalmente, pesando o suficiente, para que ela precisasse extravasar, ou, talvez, fosse o efeito dos remédios, mexendo com sua cabeça, mas, de uma coisa, ela tinha certeza; não queria que ele fosse embora.
Lupin, mesmo não gostando de vê-la chorar, entendeu o motivo, na mesma hora. Decidiu, então, pela primeira vez, abraçá-la. Sendo professor, mesmo que só por mais alguns minutos, deveria manter uma postura profissional… mas, no fundo, tinha a impressão de que os dois precisavam daquele abraço.
Se sentia tão sozinho, desde 1981. Todos os seus amigos, mortos, presos, ou fugindo do passado, mas, não ele. Ele ficou lá… sozinho. Passou tantos anos lidando com todas as suas emoções, sem ter alguém por perto… sem nem mesmo achar que pudesse ter uma família, um dia, e então, quando menos esperava, encontrou uma menina, que era tão parecida com ele, que parecia que era sua própria filha. Como se o destino estivesse pregando uma peça particularmente única; como se segurasse um espelho, bem diante dele.
Talvez, tivesse sido a bondade que ela demonstrou ter no Expresso Hogwarts, quando recusou que ele pagasse os chocolates que ele mesmo pediu que ela comprasse. Ou talvez, tivesse sido o senso de justiça que demonstrou, quando levou detenção, por ter se defendido de uma acusação falsa. Ou então, a paixão que os dois compartilhavam por Defesa Contra as Artes das Trevas, que o fazia achar que ela daria uma ótima professora, assim como ele.
Ou talvez, fosse o fato de que ela tinha a mesma idade de Harry, que era filho dos seus melhores amigos. Se pegou lembrando de quando Harry nasceu, e como ele pensava em como seria, se ele tivesse um bebê, igual James e Lily tinham. Se teria os seus traços, ou, talvez, sua personalidade... mas, desistiu da ideia quando pensou que, talvez, a criança herdasse a sua licantropia, e tivesse que lidar com tudo que ele lidou. E seria culpa dele. Nunca teria coragem de fazer isso com outra pessoa.
Não sabia exatamente o que havia feito com que ele enxergasse Eleanor como o mais próximo da filha que ele sempre sonhou em ter, mas, sabia que se sentia grato por ela o ter feito se sentir menos sozinho, mesmo que tivesse sido por apenas um ano.
A soltou, depois de alguns segundos, enquanto ela secava o próprio rosto, e fungava. A lançando um último sorriso, voltou a guardar suas coisas, enquanto ela ficou parada, em silêncio, o assistindo.
Harry apareceu na porta, e lançou um olhar, primeiramente assustado, e, então, preocupado, para Eleanor. Ela sorriu fraco para ele, e então, pigarreou, chamando a atenção de Lupin. Quando o professor virou a cabeça em sua direção, ela apontou para a porta.
– Ah! Olá, Harry. – Lupin sorriu para ele, com o rosto inchado devido ao cansaço e aos machucados.
Harry não respondeu, apenas o olhou, preocupado também.
– Já estive pior, acredite… – Ele o tranquilizou, e voltou a organizar suas coisas.
– Vou… deixar vocês conversarem, em particular. – Eleanor se retirou da sala, fechando a porta atrás de si.
Se apoiou no corrimão da escada, pensativa. Não sabia o que viria pela frente; muito mal imaginava que teria passado por tudo isso, no seu terceiro ano, em Hogwarts. Todos os acontecimentos a faziam pensar que o Mundo Bruxo era um universo enorme, que ela não havia chegado nem perto de conhecer por inteiro.
Não sabia sobre os lobisomens… o que mais será que eles escondiam? Quais outras criaturas ela conheceria nos próximos anos?
Mal percebeu que o tempo passou, enquanto pensava sobre isso, até que Lupin abriu a porta da sala, indicando que a conversa com Harry tinha acabado. Ele carregava suas malas e parou em frente à Eleanor, respirando fundo.
– E você... se cuide. Tudo bem? – Sorriu para ela. – Me mande uma coruja, caso precise de qualquer coisa.
– Vou mandar. – Sorriu de volta, sentindo os olhos marejarem novamente.
Ele acenou com a cabeça e virou de costas, descendo as escadas e andando até a saída da sala de aula, sem olhar para trás. Harry saiu da sala de Lupin, também, e parou ao lado de Eleanor, enquanto os dois o observavam ir embora.
Quando ele saiu de vista, os dois ficaram alguns minutos em silêncio, olhando o caminho por onde ele tinha ido, ambos pensativos. Eleanor, então, se virou para Harry, vendo que ele segurava o Mapa do Maroto, em suas mãos.
– Legal! Ele te deu o mapa? – Sorriu, se sentindo estranhamente feliz por ele.
– Deu... – Assentiu, sem graça. – Dói muito? – Apontou para a cabeça dela.
– Dói, mas... vou ficar bem. Eu sempre fico. – Respondeu, imitando o que ele disse, depois do jogo de quadribol. – Eu deveria voltar para a ala hospitalar, antes que Madame Pomfrey me mate. Te vejo por aí, Harry. – Acenou com a cabeça para ele, e saiu da sala também, o deixando para trás, encarando o Mapa do Maroto em suas mãos.
Ela entendeu o por quê de Lupin deixar que Harry recuperasse o Mapa. Lupin admitiu que fez o mapa com seus amigos, e que ele era Aluado. Durante a conversa com Sirius na Casa dos Gritos, o chamou de Almofadinhas… Pettigrew era um rato, então... Rabicho. Se lembrou de quando ele disse que Harry era igual ao pai, e da foto que ele mostrou do casamento dos Potter, e tudo ficou claro: James era o último Maroto. James era Pontas.
Se sentia feliz por Harry poder ter algo que pertenceu ao seu pai, sabendo de alguns detalhes sobre como ele e sua mãe morreram, e achou muito gentil da parte de Lupin o deixar ficar com ele, ao invés de simplesmente entregar para Filch ou até mesmo destruí-lo. Por mais que duvidasse que ele teria coragem de fazer isso, agora que sabia que ele tinha sido um dos criadores.
Com a maioria dos alunos em Hogsmeade, foi fácil voltar para a ala hospitalar sem ser vista. Madame Pomfrey parecia furiosa quando a viu, mas, quando a menina explicou o motivo de ter fugido, ela pareceu ter ficado emotiva, mesmo que não tenha admitido.
Ninguém em Hogwarts sabia a verdade do que acontecera, na noite em que Bicuço e Sirius desapareceram, e Eleanor, na verdade, ficou muito surpresa ao saber que Bicuço havia escapado. Ficou sabendo por Hagrid, e imaginou que Harry tivesse tido algo a ver com aquilo, mesmo que não tenha falado nada, no momento. Embora o tempo estivesse perfeito, e a atmosfera estivesse tão animada, Eleanor nunca ficou tão desanimada com o final de um ano letivo.
Com certeza, não era a única aluna que sentia falta de Lupin. Todos os alunos que tinham aula com ele lamentaram a demissão do professor.
Os resultados das provas e exames foram divulgados, no último dia do ano letivo. Eleanor e todos os seus amigos haviam passado em todas as matérias. Inclusive, Cedric passou com nota máxima em suas N.E.W.Ts, e ele pareceu muito orgulhoso de si mesmo, ao anunciar isso.
A Grifinória, em grande parte, graças ao seu desempenho na conquista da Taça de Quadribol, ganhou o Campeonato das Casas, pelo terceiro ano consecutivo. Isto significou que a festa de encerramento se realizou, em meio a decorações vermelhas e douradas, e que, na comemoração geral, a mesa da Grifinória foi a mais barulhenta do Salão.
No dia seguinte, no Expresso Hogwarts, de volta para casa, Eleanor dividiu a cabine apenas com Susan, Hannah e Cedric. Ernie e Justin decidiram sentar com outro grupo de lufanos.
Hannah e Susan cochilavam, encostadas uma na outra, no assento de frente pro de Eleanor e Cedric, que conversavam sobre seus planos para as férias.
– Ah, inclusive! – Cedric exclamou, como se lembrasse de algo que queria falar fazia muito tempo. – Tem planos pro dia 25 de agosto?
– Hã? – Eleanor fez careta pra ele.
– Responda! – Sorriu, achando graça.
– Eu acho que não? Não sei! – Deu de ombros. – Não sei nem se tenho planos pra amanhã…
– Bom, se tiver algum plano… desfaça! Pois, você vai pra Copa Mundial de Quadribol, comigo. – Ele fez uma dancinha animada com a cabeça.
– Vou… pra onde?
– Ah, eu nunca te falei sobre isso… a Copa Mundial de Quadribol é... – Mexeu as mãos, procurando palavras para explicar.
– Uma copa mundial de quadribol? – Arqueou uma sobrancelha, sarcástica.
– Isso! O que acha? Meu pai conseguiu as entradas pelo trabalho dele, e tem uma a mais, e eu sei que você gosta de quadribol...
Ela sorriu ao imaginar como deveria ser assistir a uma partida mundial de quadribol. Se gostava de ver as partidas de Hogwarts, poderia apenas imaginar como seria a de um time profissional.
– Querer, eu quero... mas, preciso da permissão dos meus pais. Vou falar com eles, quando a data estiver mais próxima, e te mando uma carta.
– Tudo bem! – Sorriu, animado. – Você vai adorar, de verdade…
Eleanor suspirou, se sentindo mais feliz do que se sentia, há uma semana. Talvez, deixar Hogwarts para trás por alguns meses fosse o melhor, já que naquele momento, tudo que a escola fazia era trazer alguns sentimentos tristes à tona.
Mas, quanto mais se distanciava da escola, mais se sentia animada para o próximo ano letivo. Tinha o pressentimento de que a Copa Mundial de Quadribol não era a única coisa que ela deveria esperar, do seu 4º ano em Hogwarts, pois se tem algo que ela aprendeu, desde que chegou ao Mundo Bruxo, em 1991, foi:
Sempre espere o inesperado.