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Broken Mirror

Chapter 2: Easy-Uneasy

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A cidade começava a dar seus primeiros sinais de vida naquela manhã agradável de segunda-feira. Já era possível ouvir os pássaros cantando, os carros buzinando, idosos gritando nas ruas e as primeiras crianças, ainda sonolentas, indo para a escola com suas mães ou pais.

Ainda era possível sentir o cheiro externos entrando pela janelinha do apartamento de Jaemin. Café, grama molhada, perfume, desodorante, cremes e mais. Tudo isso podia ser sentido no pequeno local.

Mark era o único que estava acordado naquele momento. Ele sabia que Jaemin precisaria daquele momento a mais de sono - seu maior medo era que ele sabia que Jaemin podia ficar uma semana sem dormir por causa dos seus pensamentos incessantes.

Jaemin já havia acordado, mas não abrira seus olhos. Fingia estar adormecido fazendo seus movimentos "usuais". Mexia-se de um lado para o outro. Ele não sabia como Mark conseguia dormir ao seu lado, era quase certo que ele tenha acordado, pelo menos, umas 5 vezes durante a madrugada.

Pesadelos atormentavam a mente de Jaemin periodicamente. Não ocorriam todo dia, mas, quando ocorriam, Jaemin sentia seu corpo indo de um lado para o outro como se estivesse acordado – ele poderia até estar, mas não tinha certeza disso.

Os cheiros externos se misturaram com o cheiro do café que Mark passava na cafeteira. Era um cheiro forte, um que só era possível sentir quando Mark estava lá, em sua residência. Todo mundo o cheiro do café de Jaemin era diferente, assim como o gosto.

Forte de mais, fraco de mais, sem açúcar, com muita açúcar. Definitivamente Na não sabia fazer café.

Da cozinha, Mark percebeu que Jaemin já estava acordado. Faltava 1 hora para o ônibus que ia para a faculdade passar, ele podia dormir mais um pouco.

— Ainda falta muito tempo pro ônibus passar, Jaemin. Pode dormir mais. – Disse despejando o café na xícara branca especialmente deixada na casa para seu uso.

— Você sabe que quando eu acordo nada me faz dormir de novo – disse preguiçoso levantando seu corpo do colchão – e outra: eu preciso tomar banho – coçou os olhos para tirar os resquícios de sujeira do local – e você mais ainda. 'Tá sem tomar banho desde sábado, seu nojento.

Mark fazia uma cara incrédula.

— Nojento? – Colocou a xícara sobre a bancada da cozinha e começou a se aproximar de Jaemin – Eu sou nojento? Você não tomou banho desde sábado também, meu querido.

— Se orienta, garoto. Claro que eu tomei, eu hein.

— De manhã, até eu. O sujo falando do sujo.

— Sujo é você, se liga. Eu sou mal lavado, okay?

— Meu cu, Jaemin. Esse cheiro de suor vindo de você aí, podre. Dá pra sentir da aqui – Mark tampou o nariz para entrar mais ainda no personagem.

— Esse cheiro é seu? – Falou indignado — Vem cá, oh, cheira meu suvaco.

— Vai se foder, menino, que nojo. – Mark ia se afastar, mas acabou sendo puxado por Jaemin que o fez cheirar seu suvaco.

— Okay, okay. Eu admito, eu tô fedendo. E seu suvaco é bonito, Jaemin.

— Verdade, né. Depilação a laser, amou? – Disse mostrando o suvaco perfeitamente depilado.

— Vai tomar banho.

— Vai você primeiro. Eu tenho que fazer uma coisa antes e não quero que você veja.

— Bater punheta? – Mark olhou desacreditado.

— Não, isso eu faço no banho. É um exercício de autoestima. Minha psicóloga falou pra eu fazer.

— Saquei, pode deixar que eu vou demorar muito pra você ter privacidade.

— Vai demorar é o caralho, a gente tem 40 minutos pra isso tudo. Pode agilizar.

Lá estava ele, novamente, em frente ao espelho. Nu, mas não tentaria fazer nada, já sabia que não daria em nada muito diferente de dois dias atrás. Geralmente, Na pensaria em alguma fala de Seulgi, alguma frase ou ditado que pudesse fazer sentido no contexto em que estava agora, mas nada lhe aparecia à mente.

Jaemin tinha pela noção do que Mark estava tentando fazer há poucos minutos consigo. Mark sabia de tudo, novamente.

Ele não podia dizer que estava se sentindo estável naquela situação, até por que Jaemin não estava. Era, no mínimo, estressante ter que voltar àquele ambiente tão rápido. Desde que fora espalhado um rumor com seu nome, nada foi como antes. Não havia origem, não havia nome e, principalmente, não havia verdade em nada daquilo. Era nojento, fazia mal a qualquer um ter seu nome envolvido neste tipo de rumor.

Jaemin não sabia se aguentaria mais um ano, mas se esforçaria ao máximo. Com a amizade de Mark e as consultas com Seulgi, tudo poderia ser contornado com o mínimo de dano possível. Era isso que ele pensava, era nisso que queria acreditar – era nisso que ele precisava acreditar.

Entretanto, havia uma coisa que Jaemin achava que podia ser positiva: Lee Jeno. Assim como em todos os momentos em que tinha que retornar às aulas, Jeno era o maior incentivo para isso. A inveja que sentia por sua vida perfeita – "perfeita" –, dava-lhe forças, gás e vontade de comparecer às aulas.

Jaemin saiu de sua mente quando ouviu a porta do banheiro sendo aberta por Mark que saía com uma blusa branca lisa, uma calça jeans rasgada e uma toalha secando os fios ainda úmidos.

— Mark! – Ouviu o Na lhe chamando e só murmurou um "uhm" confirmando que sua atenção já estava nele – Você me acha nojento?

— Do nada, Jaemin? – Colocou a toalha em cima da cama de Jaemin e chegou perto do menino que já havia recolocado suas roupas – Claro que eu não te acho nojento. O que te faz pensar isso?

— Tudo me faz pensar isso. Eu sou stalker, um invejoso, uma pessoa que se masturba pensando em outra. — Virou-se e encanrou Mark — Como eu não sou nojento?

— Você já causou um mal direto pra essa pessoa, Jaemin? – Ele negou – Tá aí sua resposta. Você não é nojento, essas coisas são normais, até certo ponto. Você não cruzou a linha do aceitável, então tá tudo bem. Só se mantenha atrás dessa linha que tudo vai ficar, okay? – Mark abraçou o Na que estava com os olhos molhados de lágrimas que insistiam em não cair – Agora, vai tomar banho que a gente vai se atrasar.

— Sim, senhor.

[...]

O caminho até a universidade estava sendo tranquilo. Jaemin não havia demorado muito no banho e os dois foram capazes de pegar o ônibus na hora certa.

Uma quantidade considerável de pessoas do campus moravam no mesmo bairro que Jaemin, era até por isso que o ônibus estava cheio e eles em pé segurando nos seguradores do automóvel.

Estava quente dentro daquela lata de sardinha ambulante, pelo menos para Jaemin. Sua respiração estava começando a ficar desregulada e seu coração começava a acelerar. Ele estava percebendo os olhares tortos que estava recebendo, era nojento.

Mark, percebendo o que estava acontecendo, como um bom amigo, encarou as pessoas que encaravam seu amigo, as fazendo desviar os olhares para qualquer outro lugar que não fosse em sua direção.

Lee podia ver que os olhos de Na estavam marejados e ele suava como se estivesse encarando o Sol diretamente do espaço. Jaemin não podia continuar naquela situação, ninguém fazia o mínimo para entendê-lo, e ele não se dava ao trabalho de explicar àqueles que não faziam questão de ouvir.

— Tá tudo bem? – Mark sussurou para Jaemin.

— Não, mas estamos quase chegando. Eu vou aguentar.

"Por quanto tempo você vai aguentar, Jaemin?" Mark pensava. Todas as vezes que ouvia esta frase saindo de sua boca. Mark não aguentava mais aquilo, mas a vida não era dele, a sua situação não importava ali. O que podia fazer era o que sempre fazia: estar ali para confortá-lo.

— Por que você 'tá usando essas roupas, Jaemin? Tá muito calor pra isso. – Sussurou novamente para não chamar a atenção de ouvido fofoqueiros atentos.

— É a única forma de me sentir seguro. É minha armadura.

— Tá mais pra uma carapaça, sinceramente.

— Mas, pelo menos, eu tô bonito, não é? — olhou para Mark.

— Sempre, Nana. Você sempre tá bonito. — Mark o encarou de volta.

— Você não fosse hétero, eu juro que acharia que você está flertando comigo.

— Eu não ficaria com você se eu gostasse de homem, te conheço bem demais.

Jaemin fez uma expressão fingindo estar indignado, mas sua face só fez ambos rirem e chamarem a atenção de todos ali no ônibus, principalmente dos ouvidos fofoqueiros de plantão.

Finalmente o ônibus chegou no ponto e a maioria das pessoas ali desceram. O sol estava realmente quente agora e as roupas apertadas de couro de Jaemin começavam a causar um desconforto. "Na sala tem ar-condicionado, eu aguento. Minha meta é não desmaiar" Pensava consigo mesmo.

Na e Lee andavam lado a lado até o ponto do jardim que iriam se separar. Infelizmente seus cursos eram completamente distintos, e o prédio de ambos eram longe um do outro. Porém, antes dos garotos se separarem, eles o viram.

Lá estava o tão falado, o perfeito, o único e magnânimo Lee Jeno. Por onde andava, Jeno chama a atenção para si. Estava, com sempre, sorrindo ao lado de seu fiel amigo Huang Renjun, que também era um poço de sociabilidade. Eram o par perfeito? Era possível se dizer que sim, eles eram. Principalmente naquilo que ninguém sabia.

Como de praxe, Jeno vestia suas roupas claras. Uma camisa lilás clara lisa, uma bermuda, que aparentava ser jeans, branca e um all star também branco. Passava na lei Maria da moda, na opinião de Jaemin que só usava roupas pretas e apertadas desde que entrou na faculdade.

Jeno com certeza estava confortável naquelas vestimentas. Elas eram soltas e o vento podia entrar em qualquer lugar ali, o que significava que era fresca.

— Eu quero usar roupas assim! – Jaemin deixou escapar seu pensamento.

— SÉRIO? – Mark ficou surpreso. – Amanhã mesmo vamos comprar roupa pra você.

— Será que vai ficar bom? Não quero que as pessoas vejam as marcas nos meus braços.

— Podemos comprar de manga comprida. Elas vão ser soltinha, não vai dar tanto calor. Bem, não tanto quanto isso que você tá usando.

— Combinado, então. Agora, tchau. Vamos nos atrasar. – Jaemin se despediu.

— Tenha uma boa aula, Nana.

— Você também, Mark.

Ambos se dirigiram às suas respectivas direções para ter suas aulas. Porém, os dois outros haviam percebido os olhares que receberam de Na e Lee.

— Era ele? – Renjun perguntou ao outro Lee.

— Era.

— Você ainda vai fazer aquilo? – Encarou o maior.

— Ficamos as férias todas planejando, não vou dar pra trás. Pode ficar tranquilo. Bora pra aula, não posso me atrasar no primeiro dia.

— A máscara de perfeitinho não pode cair, né? – Renjun provocou.

— Nunca.

Jaemin sentou-se na em seu local preferido: no mais difícil das pessoas perceberem-no. Na última cadeira no canto inferior esquerdo da sala. Caso este não estivesse disponível, ele mudava para o direito. Mas, naquele dia, o seu favorito estava vago, e a sala estava cheia.

Tão cheia que Na nem percebeu quando Jeno sentou-se ao seu lado. Só percebendo quando colocou seu notebook na mesinha e vendo a face do outro refletindo na tela.

Imediatamente sua face queimou e ele agradeceu por estar com a mochila em cima de seu colo, pois a roupa apertada ia evidenciar a coisa estranha que estava acontecendo ali. Jaemin nem mesmo se atraveu olhar para o lado durante toda a aula. Tremia mais que um Pincher com raiva.

”Eu não acredito que ele tá sentado do meu lado" gritava internamente. "Eu tenho que manter a cara mais normal possível, senão ele vai perceber"

Jaemin estava muito ocupado pensando, tão ocupado que nem ouviu seu nome sendo chamado por uma voz que era não a da professora. "A voz dela não é grossa assim." pensou.

"Não, espera aí"

— Jaemin? – Na ouviu vindo do seu lado, era Jeno.

"Puta que pariu, é o Jeno. Lee Jeno me chamando. Vou me fazer de sonso"

— Jaemin? – Sentiu o outro cutucando-o e acabou por encará-lo.

— O-oi? – Encarou Jeno nos olhos.

— Eu sei que é muito aleatório, mas eu preciso te perguntar: Você aceita namorar comigo?