Work Text:
Uma garota de cabelos verdes estava sentada na cama do quarto, observando as paredes frias do cômodo. Sua cabeça estava sob os braços, enquanto algumas lágrimas escorriam por suas bochechas quentes.
Era impressionante como tudo lembrava-a de Kugie: todos os participantes conversando entre si, qualquer um dos jogos; e, até mesmo, o balde em sua cabeleira. Memórias e pensamentos desse tipo apenas aumentavam quando estava sozinha, e esse era o caso.
Talvez pudesse ter salvo ela em algum momento. Talvez a culpa fosse sua.
O que Kanna Kizuchi mais queria era sobreviver para dar orgulho à sua irmã, mas ao mesmo tempo, culpava-se por tudo que acontecera anteriormente, e tinha vergonha por ainda estar agindo junto dos outros. Não fazia ideia do que diria para seus pais quando chegasse em casa sem a mais velha, mas ainda mantinha o pensamento de que poderia se desculpar com Kugie se encontrasse-a novamente.
Oh, e como ela fazia falta. Suas brincadeiras, o jeito que sempre conseguia acalmar a mais nova na pior das situações, a vontade que tinha da garota conseguir sair daquele lugar — ou pelo menos, era isso que ela pensava —; e principalmente, a garantia de que elas estariam juntas de novo.
Tudo aquilo era sua culpa, mesmo que tentasse esconder.
Seria completamente julgada por todas as suas ações, pagaria todas as suas dívidas; só assim iria conseguir ficar em paz com si própria, visto que a de cabelos castanhos aparecia constantemente em seus sonhos após aquele ato de calamidade, sempre dizendo coisas que a outra não era capaz de compreender. Normalmente, acordava no meio da noite chorando, suando frio e com a respiração ofegante; ao perceber que era somente um sonho — no caso, um pesadelo —, sentava na cama e olhava para a figura de Kugie, que sempre esperava pacientemente para conversar com a garota (como Kanna sempre viu-a como uma pessoa amorosa, a mais velha nunca estava lá para assustá-la, e sim para a acalmar).
Depois de todos levantarem, Kizuchi agia normalmente, em uma tentativa de não causar preocupação aos outros. De qualquer forma, ela estava tendo um grande avanço, e era bom vê-la sem carregar a culpa depois de dias isolada em cômodos escuros e gélidos. Além do fato deles estarem contribuindo para a melhora mental de Kanna — principalmente Sara, que passava boa parte do tempo dando atenção à mais nova.
Todavia, não importava quanto tempo passasse, sempre haveria o mesmo fim de noite: Kanna lacrimejando no quarto, com um sorriso triste no rosto, e sussurrava para si:
"Eu te amo muito, irmã. Eu só desejo lhe ver novamente."
Entretanto, mesmo que não parecesse, a pequena sabia que Kugie não a odiava; e então, ela descobriu que isso era tudo o que importava.