Chapter Text
Assim que a ligação para Gwilym se encerrou, ele se apressou para sair de casa. Louisa só teve a chance de fazer perguntas sobre a pressa do marido quando ele parou para beijar a testa dela e de Edith.
-Onde você vai? O que aconteceu? - a sra. Lee exigiu explicações.
-Me ligaram pra refazer um teste, me pediram pra ser discreto, eu não sei porque, mas sabe, eu preciso ir ver o que é isso - Gwilym soou desesperado, ansioso.
-Claro, te entendo, vai logo, me liga depois - Louisa o compreendeu - boa sorte.
-Obrigado, eu amo vocês - ele disse antes de fechar a porta.
Louisa não teve tempo de falar uma resposta, apenas sorriu. Ela decidiu não se preocupar tanto, era compreensível Gwilym estar ansioso, já que estava com tantas preocupações na cabeça. Só lhe restava torcer para que ele voltasse com boas notícias.
Eventualmente, o ator voltou para casa, parecia tranquilo e leve, sem mais nenhuma das aflições que estava sentindo antes. Diante disso, Louisa ficou curiosa para saber o motivo da melhora do estado de seu marido.
-Gwil... - a sra. Lee o chamou, o observando cuidar de Edith enquanto ela preparava o jantar.
Gwilym fez uma careta de apreensão, sua esposa podia chamá-lo pelo apelido quando estava brava ou irritada, ela sempre fazia questão de chamá-lo pelo nome inteiro, ressaltando o quanto o amava pela sua identidade, mas agora, ele começou a pensar em como lidar com a suspeita dela.
-Oi, Lou - ele se levantou e deu seu sorriso mais conciliador.
-Eu queria saber como é que foi lá, parece que deu tudo certo, afinal - ela tentou instigá-lo.
-Sim, foi o que aconteceu - ele falou, disposto a encerrar o assunto, tentando pensar em outra coisa para conversar - e você e a Di? Se divertiram juntas?
-Ah sim, eu acho que essa mocinha já gosta de Doctor Who, mesmo antes de aprender a falar ou andar, o que é incrível - Louisa riu ao se lembrar - ela tava bem atenta enquanto eu estava assistindo, mas por um lado, já era de se esperar, porque todos nós gostamos da série.
-Pois é - Gwilym ficou meio nervoso de repente, respirando fundo - é uma coisa tão antiga, mas que mesmo assim, tanta gente gosta, digo, pessoas de diferentes gerações. Quando a série estreou, por exemplo...
-O que tem o começo da série? - aquele assunto estava começando a intrigar Louisa de novo.
-Eu achei que a minha historiadora preferida poderia me contar mais sobre isso, você é a especialista no assunto - ele deu outro sorriso apertado.
-Bom, foi um pouco difícil quando a série estreou, sabe? Coincidiu com a morte do presidente Kennedy e ninguém prestou muita atenção em Doctor Who até a semana seguinte - ela contou.
-Tá vendo? Tinha esquecido disso - Gwilym comentou - A série é sobre História também e foi um pouco influenciada pela História, aliás, quando é que a História começou afinal?
-Vou te dar um desconto porque você disse que não era tão bom assim em História na escola - a sra. Lee riu, beijando a bochecha do marido.
Ela se concentrou mais em terminar o jantar e eles comeram juntos, mas a vontade dele de aprender não tinha passado como a sua fome já tinha acabado.
-Então, Lou - ele a chamou depois de arrumarem a cozinha - não respondeu minha pergunta, de quando foi que a História começou.
-Acho que essa pergunta é mais filosófica do que qualquer coisa, mas os historiadores tem sua própria resposta pra isso - Louisa estava gostando da conversa - seria quando a escrita surgiu, ela é o ponto de partida do que consideramos História.
-Então os homens da caverna não são oficialmente históricos? - Gwilym surgiu com a dúvida.
-Pré-históricos, já que eles não tinham uma língua escrita - Louisa o corrigiu, tocando o rosto dele.
-E depois, a humanidade evoluiu - ele acrescentou e esperou que a esposa contasse mais.
-Em certos termos sim, grandes evoluções, os mesopotâmios com seus belos jardins, egípcios com sua matemática e seu processo perfeito de mumificação, gregos com a filosofia e democracia, romanos com as estratégias militares, e é claro - Louisa fez uma pausa ao perceber que estava muito empolgada - eles mandaram no mundo até as invasões bárbaras e depois, com um pouco mais de tempo e mudanças, deram origem aos países europeus.
-São realmente muitos fatos pra se compreender, não sei como consegue saber tudo isso e não esquecer - ele sorriu, impressionado.
-Fica fácil quando se gosta do que está estudando - ela riu em resposta - quer que eu continue?
-Por favor, está ótimo - ele pediu e por um momento ela notou que ele estava falando sério.
-Tá bem, tudo que eu falei é Idade Antiga, depois começa a tenebrosa Idade das Trevas, ou Idade Média, em que as pessoas viviam menos tempo e muito doentes, foi quando aconteceu a famosa Peste Negra - ela apontou - depois com as grandes navegações e descobertas do Novo Mundo, a Idade Moderna, com o Renascimento de Da Vinci e Michelangelo, depois Idade Contemporânea, que perdura até hoje. Alguma dúvida?
-Acho que não - Gwilym riu do tom de professora dela, ele realmente estava parecendo um aluno exemplar.
-Mas por que eu te dei essa aula de graça? - Lou questionou - sério, eu estava gostando de explicar, mas sei que pode ser bem irritante ficar me ouvindo falar sem parar.
-O que? Não, eu ficaria horas e horas só te ouvindo - Gwilym foi parte sincero e parte charmoso.
-Não me vem com essa, Gwilym Lee! - ela riu, custando a acreditar nisso, mas ela sabia que o marido tinha boas intenções.
-Tudo bem, então, podemos ficar em silêncio, enquanto vemos mais Doctor Who, se ainda não enjoou - Gwilym sugeriu.
-Tá brincando? Nunca! - o convite empolgou a sra. Lee.
Ela se levantou e Gwilym a seguiu até a sala, eles deixaram Edith brincando no tapete como sempre, bem perto das suas vistas. Ele aproveitou que tinha sugerido o que assistir para escolher que temporada assistiram. Ele acabou optando por suas favoritas, com a origem do décimo primeiro Doutor, como Amy e Rory se juntaram às suas aventuras. Dessa vez, Gwilym prestou muito mais atenção nos companions do que todas as outras que tinha assistido.
Nos dias seguintes, continuou vendo outras temporadas, desde 1963 a 1987, de 2005 a 2019. Louisa achou que ninguém mais poderia amar Doctor Who tanto quanto seu marido, mas até aí tudo bem, ela sabia que nem um alienígena viajante do tempo tomaria o lugar dela e de Edith no coração dele.
Com a família reunida na sala em frente à TV, num momento tranquilo e calmo, muitas coisas se passavam na cabeça de Louisa e Gwilym.
Desde que havia o conhecido, tão hesitante e arredia no começo, não imaginava que poderiam chegar onde estavam agora, casados e com uma filhinha. O medo tentou impedir que Louisa realizasse seus sonhos mais profundos, mas ela o enfrentou, cedeu ao mais lindo dos sentimentos, e tinha alcançado tudo que ele poderia lhe oferecer. E tudo tinha acontecido de um jeito natural, como se tivesse que acontecer, como se tivesse sido escrito.
Gwilym não seria capaz de imaginar que iria se apaixonar pela filha de Brian May, a moça que gentilmente veio fazer uma visita em seu trabalho e ele logo estendeu sua amizade a ela. Não pôde impedir que essa amizade se tornasse amor, por mais que tentasse pensar em outra solução. A única forma de resolverem a situação toda que parecia tão complicada era ficarem juntos.
Não adiantaria se afastarem, pois estarem juntos, estarem bem ali onde estavam, com a pequena Edith sendo o símbolo vivo do seu amor, era o que tinha que acontecer, era inevitável.