Work Text:
Amy abriu a porta de casa com dificuldade, tentando equilibrar a mochila, meia dúzia de desenhos e uma garrafa de vinho que comprara por impulso.
Desde o corredor, pétalas de rosas marcavam o caminho que ela percorreu com certa hesitação.
– Lucy...?
O chamado não produziu resposta.
Largando suas coisas no sofá, Amy seguiu pela trilha de pétalas que, conforme já imaginava, levavam ao quarto do casal. Ao redor da cama dezenas de velas tremulavam lentamente.
– Amor? – chamou mais uma vez.
Lucy estava perto da janela, com os braços cruzados e um sorriso tímido.
– Você lembrou!
Amy a alcançou em poucos passos. Num instante, seus braços já estavam ao redor de Lucy.
– Feliz aniversário – disseram ao mesmo tempo, antes de um beijo lento e profundo.
Impedindo Amy de arrastá-la para a cama, Lucy informou:
– Espere! Deixe-me entregar seu presente.
– E ainda tem presente?
– É só uma bobagem... – Lucy mordeu os lábios, ficando tímida outra vez.
Com dificuldade, ela arrastou um enorme volume, coberto com papel, que havia ocultado com a cortina da janela.
– Isso é... – Amy estava surpresa. – Isso é imenso!
– Abre...
Rasgando o papel, Amy logo se livrou do invólucro, mas não conseguiu desfazer a expressão de espanto.
– O que achou? – Lucy passou o braço sobre os ombros da namorada.
Amy se viu dando dois passos para trás, cobrindo a boca com a mão espalmada.
– Fala alguma coisa, você está me deixando nervosa – cobrou Lucy.
– Eu não acredito...
– É lindo, não é? Você tinha razão, vai ficar perfeito na nossa parede.
– Lucy! Eu falei aquilo brincando! – Amy encarou a namorada, completamente chocada.
– Oh... – Lucy, subitamente séria, enfim entendeu a reação de Amy. – Ops...
Embora já sentada à beira da cama, Amy não conseguia tirar os olhos do quadro. A pintura a tinha fascinado desde a primeira vez, quando viu uma reprodução num livro da escola. Meses atrás, finalmente, fora com Lucy “conhecer” a original. A namorada, fofa como sempre, ficou segurando sua mão e sorrindo bobamente ante o deslumbre de Amy.
– Lucy, você não... – Amy abanou a cabeça. – Você não pode mais fazer essas coisas... Eu achei que tinha largado esse ramo...
Confusa, a outra respondeu:
– E eu larguei! Mas eu achei que você queria. Você ficou lá, encarando o quadro no museu, sem nem respirar por uns vinte minutos, e então me olhou tão séria e disse que ele ficaria lindo na nossa casa...
– Foi só um comentário! – Argumentou Amy.
– Quem faz um comentário como esse para uma namorada como eu?
Percebendo que Lucy tinha razão naquele ponto, Amy baixou a cabeça e esfregou o rosto com as mãos.
– Ei... – Lucy a abraçou. – Me desculpe, meu amor... Eu deveria ter pensado duas vezes sobre isso, e perceberia que você não havia falado sério.
– Não... Eu é que não deveria estar agindo desse jeito... Estou estragando nosso primeiro aniversário juntas.
Lucy sorriu. Num impulso, roubou um beijo de Amy.
– Eu vou devolver. Juro.
– Claro que você vai.
– Acabei me tornando tão boa nisso quanto no processo inverso – Lucy deu de ombros.
– E que não passe da semana que vem, ouviu bem?
Com a sobrancelha arqueada, Lucy tentou captar o que estava por trás da expressão decidida de Amy.
– Da semana que vem? – conferiu.
– Isso, Diamond. Da semana que vem! – decretou Amy, muito séria.
Lucy a encarou profundamente. Adorava aquela expressão resoluta na face da namorada. Lembrava a primeira vez que tinham se esbarrado. Mas Lucy a conhecia bem melhor, agora. Por isso, foi com extrema confiança que comentou, antes de caírem na cama aos beijos:
– Eu sabia que você iria amar...