A Roupa Nova do Rei
A Roupa Nova do Rei (em dinamarquês Kejserens nye Klæder; muitas outras traduções: A roupa nova do imperador, O fato novo do imperador, O fato novo do rei, As roupas novas do imperador, etc.) é um conto de fadas de autoria do dinamarquês Hans Christian Andersen, e foi inicialmente publicado em 1837.
HistóriaEditar
Um rei de um reino não, o rei de um açougue distante era muito vaidoso. Na verdade ele era um verdadeiro metrossexual com fortes tendências homossexuais. Seus objetos de desejo eram artigos de moda. Com calças e mangas bufantes, mantos arrastando pelo chão, plumas, glitter e purpurina. Quanto mais gay melhor. Seu maior prazer era desfilar pelo reino se achando a Gisele Bundchen. Os servos corriam todos os vilarejos avisando a data e a hora, colocavam cartazes, e todos os súditos eram obrigados a estar ali a postos para assistir à passagem da nova roupa real.
Era um grande admirador de famosos estilistas como Clodovil Hernandes e Clóvis Bornai. Seu palácio era constantemente visitado por estilistas, experientes ou estagiários, ativos, passivos e versáteis, todos buscando os vultosos pagamentos efetuados pelo rei quando este gostava de um trabalho.
Certo dia apareceu no palácio dois alfaites forasteiros, falando francês e dizendo serem de terras distantes, mais precisamente de Ubatuba e dizendo serem aprendizes do grande mestre Clô, conhecedores da vaidade do soberano e de sua preocupação com suas vestes prometeram ao Rei que criariam para ele a mais linda das roupas que jamais ele tivera ou sonhara ter. Um modelito haute couture, refinadérrimo, que sairia muito caro, caríssimo, pois necessitava aviamentos especiais.
Disseram também ao rei que esta roupa seria mágica, uma roupa que somente pessoas inteligentes conseguiriam ver[1]. O Rei ficou maravilhado pois era fato que sua corte era formado por idiotas, assim ele poderia facilmente identifica-los.
Encantado com tantas extravagâncias, o Rei lhes fez todas as vontades. Eles exigiram os melhores tecidos, couros e sedas, linhas de ouro e prata, miçangas de diamantes, esmeraldas, safiras, colchetes de platina. Exigiram também trabalhar na mais alta masmorra, pois tão importante serviço necessitava de silêncio e concentração. As melhores comidas e bebidas além de belas acompanhantes para ajudar no trabalho.
Com muito zelo, pompa, arrogância, ares de importância e convicção teavam do dia todo no tear, tanto o rei, como seus ministros, nobres puxa-sacos e demais serviçais. Para não se fazerem passar por idiotas, confirmavam que, sim, que os viam costurando a roupa do Rei, inclusive enaltecendo sua beleza e acabamento, chegavam a passar a mão e pegar a esmo dizendo como o material era de boa qualidade. Por todos os lados existiam papéis em branco que os alfaiates alegavam serem croquis, que também só os inteligentes conseguiam ver.
Até que chegou o grande dia, os alfaiates com suas ajudantes vestiram o Rei para a grande parada. O povo lotava as ruas ansioso. As bandeirolas, a expectativa, os cochichos: “Será que a roupa dele vai ser mais bonita do que aquela do Colcci?”, perguntavam-se alguns. Alguns até faziam bolão de apostas: “Joguei todas as minhas economias naquela veste do Calvin Klein, com manto clean. Pra mim vai desbancar a desse alfaiate estrangeiro”.
E estava o povão nesse mimimi, enquanto o costureiro provava, diante do espelho, a roupa no Rei, cercado dos usuais nobres puxa-sacos.
O Rei, inicialmente inseguro e intrigado diante daquela roupa invisível, que o estilista exibia com tantos salamaleques, misturando o idioma local com várias palavras afrancesadas, começou a ficar impressionado e, já que nada enxergava, julgando estar sofrendo ou de catarata ou de Alzheimer, pra não dar bandeira, exclamou: “Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!”.
Os aspones em volta fizeram coro, em francês, naturalmente.
Foi assim, cercado de suspiros de admiração, com o ego lá em cima, espetado mais alto do que o rubi no topo de sua coroa, que o Rei sai, nuzão, de cetro na mão, e foi desfilar sua banha, depois de consumir dois javalis no almoço, diante da multidão.
O povo até achou esquisito o rei pelado virar-se, pra lá e pra cá, como se segurasse um manto (o estilista ensinou-o a fazer assim), fazendo pivôs com sua capa aristocrática, pretensamente coberta de pedras preciosas.
Sim, porque os jornais locais já haviam descrito a roupa detalhadamente, até os croquis haviam sido divulgados em detalhes e todos sabiam como a roupa efetivamente era, ou seria.
Como não a enxergaram, todos daquele reinado temeram sofrer ou de catarata ou de Alzheimer e, para não dar bandeira, exclamaram: “Que marrrravilha!”. “Ah, esta bateu o do ano passado disparado”. “Nem um Versace faria melhor”. “Que Dior que nada, estilista bom é o estrangeiro”. Por fim: “Estou ferrado, perdi todas as minhas economias!!!”…
Até que um menino ranhento, sim, uma despretensiosa e desimportante criança, apontou para o Rei com os olhos bem abertos e gritou: “O Rei está nu!”.
E todos os olhos do Reino se abriram. E todos constataram que não tinham catarata, muito menos Alzheimer, e que estavam certos em seu julgamento inicial sobre o quão ridículo era aquele espetáculo de salamaleques falsos, pivôs pelados e manto fictício balançando pra lá e pra cá.
O Rei estava nu, nuzão, “nuzinho, pelado, nu com a mão no bolso”.
E o povo pôde ver com os próprios olhos e pensar com a própria cabeça e julgar com o próprio juízo. E riu e gargalhou e se fartou. E cantou e dançou, gozando o “grande mico” do Rei.
E naquela noite, naquele reino, houve uma festança inesquecível, com todos opinando, comentando o quão ridículo e lastimável era ter um Rei tão vaidoso a ponto de achar que podia dominar as mentes de um reino inteiro.
- ↑ Em outras versões anteriores somente as mulheres puras, ou homens héteros podim enxergar, mas hoje em dia isso perdeu o sentido.