KGB
Comitê de Segurança do Estado da URSS | |
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Комитет Государственной Безопасности СССР | |
Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti SSSR | |
Lealdade ao Partido - Lealdade à Pátria | |
Organização | |
Natureza jurídica | Serviço de Inteligência |
Dependência | União das Repúblicas Socialistas Soviéticas |
Chefia | Ivan Serov (1954-1958) Alexander Shelepin (1958-1961) Vladimir Semichastny (1961-1967) Yuri Andropov (1967-1982) Vitaly Fedorchuk (1982-1982) Viktor Tchebrikov (1982-1988) Vladimir Kryuchkov (1988-1991) Vadim Bakatin (1991-1991) |
Número de funcionários | Confidencial |
Orçamento anual | Confidencial |
Localização | |
Sede | Moscou, União Soviética |
Histórico | |
Criação | 13 de Março de 1954 |
Extinção | 3 de Dezembro de 1991 |
Sucessores | FSB SVR |
O Comitê de Segurança do Estado da URSS (KGB) (em russo: Комитет Государственной Безопасности СССР, transl. Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti SSSR), foi a principal organização de serviços secretos da União Soviética que desempenhou as suas funções entre 13 de março de 1954 e 6 de novembro de 1991. [1] Após a dissolução da União Soviética, o serviço de inteligência foi desmembrado em dois: o Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (FSB), na segurança interna, e o Serviço de Inteligência Estrangeiro (SVR), no plano externo.[2]
O domínio de atuação do KGB, durante a Guerra Fria, era uma combinação de operações secretas no estrangeiro unificadas às funções de uma polícia federal. A União Soviética teve, desde sempre, uma polícia política muito poderosa, que esteve sempre presente em todas as etapas da sua evolução social, independentemente de qual fosse o regime instituído. Em algumas épocas, a atuação era mais intensa no interior da sociedade; em outros momentos, o serviço secreto priorizava a recolha de informação e operações nos países estrangeiros, o que provocou diversas mudanças nestas instituições. [3]
O KGB surgiu com o final da Segunda Guerra Mundial, no período da Guerra Fria, com o colapso do então serviço secreto NKVD, apesar de suas origens remontarem a antes da Revolução de 1917, quando Félix Dzerjinsky fundou o grupo paramilitar denominado Tcheka — a instituição que seria a matriz de todos os serviços secretos da URSS. [4]
O KGB era uma polícia secreta e política que não tinha equivalente no mundo, porque se situava num nível completamente diferente dos outros serviços secretos, pois constituía igualmente um ministério. Dispunha de trezentos mil membros, blindados, caças e barcos, sendo uma organização militar totalmente independente das Forças Armadas. [1]
A organização compreendia 5 direções-gerais. A primeira direcção, a mais importante, incluía a subdirecção dos ilegais (agentes que viviam no estrangeiro sob uma falsa identidade), a subdirecção científica e técnica, um serviço de contraespionagem, serviço de acção e um serviço dos negócios sujos (assassinatos, atentados, sequestros, bombas). A segunda e terceira direcções-gerais eram encarregadas da informação, vigilância e da segurança interna, a quarta dos guardas da fronteira e a quinta, das escolas, que são muitas e variadas. [5]
A agência era, também, um serviço militar regido pelas leis e regulamentos do exército, da mesma forma que o Exército Soviético ou as Tropas Internas do Ministério de Assuntos Internos da Rússia. Embora a maioria dos arquivos da KGB permaneçam confidenciais, duas fontes documentais online estão disponíveis.[6] [7]
Suas principais funções eram inteligência estrangeira, contra-inteligência, atividades operativas-investigativas, guarda da fronteira estatal da URSS, guarda da liderança do Comitê Central do Partido Comunista e do Governo Soviético, organização e segurança de comunicações governamentais, bem como combater nacionalistas, dissidentes, atividades religiosas e anti-soviéticas. [8]
Em 3 de dezembro de 1991, a KGB foi oficialmente dissolvida.[9] Mais tarde, foi sucedido na Rússia pelo Serviço de Inteligência Estrangeiro (SVR) e pelo que mais tarde se tornaria o Serviço de Segurança Federal (FSB). Após a Guerra da Ossétia do Sul de 1991–1992 , a autoproclamada República da Ossétia do Sul estabeleceu a sua própria KGB, mantendo o nome não reformado. Além disso, a Bielorrússia estabeleceu o seu sucessor do KGB da República Socialista Soviética da Bielo-Rússia em 1991, o KGB da Bielorrússia, mantendo o nome e o símbolo da União Soviética.[10]
História
[editar | editar código-fonte]Com o fortalecimento dos bolcheviques nos anos que antecediam a Revolução de 1917, houve a necessidade de criar uma organização que pudesse defender os interesses do governo revolucionário contra os monarquistas. Assim, ocorreu a criação da Tcheka, que investigava monarquistas e aumentou o domínio do exército rebelde (ver: Movimento Branco).
Com a vitória dos bolcheviques na revolução e a consolidação da URSS, este grupo então se vinculou ao estado, sob a sigla OGPU, e pretendia defender a revolução através do fuzilamento de políticos inimigos e desafetos do regime, como Leon Trótski.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, surge o NKVD — um serviço secreto que tinha como centro de suas operações os territórios além das fronteiras, e que atuava por meio de sabotagens e execuções.
Em 1954, com a reestruturação do país após a guerra e o início da Guerra Fria, nasce finalmente o KGB, criado como uma força a se opor aos movimentos ocidentais, que com toda a força procuravam expandir as influências norte-americanas aos países que se libertaram do fascismo, e ao mesmo tempo combater guerrilhas de trotyskistas.
Na década de 1980, a liberalização da glasnost da sociedade soviética levou o presidente da KGB, Vladimir Kryuchkov (1988-91), a liderar a tentativa de golpe de estado soviético de agosto de 1991 de depor o presidente Mikhail Gorbachev. O golpe de Estado frustrado pôs fim ao KGB em 6 de novembro de 1991. Os principais sucessores do KGB são o FSB (Serviço de Segurança Federal da Federação Russa) e o SVR (Serviço de Inteligência Estrangeira).
Diretorias[8]
[editar | editar código-fonte]Diretoria | Operações |
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(1ª) Operações Estrangeiras | Responsável pelas operações estrangeiras. |
(2ª) Contra-inteligência | Contra-inteligência e controle político de cidadãos e estrangeiros da União Soviética. |
(3ª) Forças Armadas | Responsável pela contra-informação militar e a fiscalização política das Forças Armadas. |
(4ª) Segurança do Transporte | Responsável pela segurança do transporte. |
(5ª) Diretoria Z | Combate à dissidência política, artística e religiosa, responsável pela censura. |
(6ª) Contra-Inteligência Econômica | Responsável pela segurança industrial, e contra-inteligência econômica. |
(7ª) Fiscalização | Responsável por fiscalizar os cidadãos e os processos de cidadania. |
(8ª) Monitoramento | Responsável pelo monitoramento, comunicação, pesquisa e desenvolvimento nacionais e estrangeiros. |
(9ª) Guarda | Responsável pela segurança dos membros do Presidium e suas famílias, e pela operação da linha VIP do metrô de Moscou, que liga o Kremlin aos quartéis do FSB e ao Aeroporto Internacional Vnukovo. Mais tarde, se tornaria o FPS, sob a gestão de Boris Iéltsin. |
(15ª) Manutenção | Responsável pela guarda de propriedade governamental, como zonas, edifícios restritos e instalações perigosas. |
(16ª) Interceptação | Responsável pela interceptação de informações nos meios de comunicação, controle dos telefones e telégrafos. |
Fronteiriça | Responsáveis pela guarda da fronteira da União Soviética, contavam com os mais variados recursos — terrestres, aéreos e marítimos, além de mais de 245 mil agentes disponíveis. |
Tecnológica | Responsáveis pela pesquisa e desenvolvimentos de tecnologias usadas em operações de espionagem, desde o aprimoramento de armamentos ao desenvolvimento de substâncias químicas mortíferas ou não. [8] |
Seções Independentes
[editar | editar código-fonte]O KGB também possuía seções independentes:
- Departamento pessoais do KGB;
- Secretariado do KGB;
- Equipe de funcionários de suporte laboratorial do KGB;
- Departamento de finanças do KGB;
- Arquivo do KGB;
- Departamento de administração do KGB;
- Comitê do PCUS. [11]
Números da KGB
[editar | editar código-fonte]Das memórias de um ex-KGB, Presidente Vladimir Bakatin que em 1991 o número de agentes da KGB eram cerca de 480 000 pessoas, entre elas:
- 220 000 pessoas - soldados de tropas de fronteira da KGB;
- 50 000 pessoas - as tropas de comunicações do governo;
- 3 divisões de tropas aerotransportadas e uma brigada de infantaria separada (janeiro 1991) - 23 767;
- SPN unidades KGB - cerca de mil pessoas.
Como apontado em Bakatin, 180 000 funcionários foram oficiais da KGB , 90 000 funcionários trabalharam na República da KGB. Pessoal operacional contados em cerca de 80 000 pessoas.
Emissário do aparelho KGB consistia de cerca de 260 000 policiais disfarçados, e todos os registros de vários negócios operacionais foram de 10 008 pessoas. O aparelho consistia de agentes de ambos os cidadãos soviéticos e estrangeiros (a partir do relatório "Sobre a atividade da KGB da URSS" em 1968).
Operações Especiais
[editar | editar código-fonte]O KGB atuava junto a diversos grupos de operações especiais representantes do Spetsnaz, existentes na URSS e Rússia, através do OMSDON, entre eles se destacava o Grupo Alpha, uma unidade especial Antiterror, que teve muita importância no combate aos extremistas islâmicos, durante a intervenção no Afeganistão, em 1979, e durante os conflitos na Chechênia, nos anos 1990, e que continuam atuando contra rebeldes chechenos.
O Vympel também atuava junto ao KGB, sendo uma organização especializada em infiltração e sabotagem, atuava principalmente no Oriente Médio e Ásia, durante as décadas de 1970 e 1980.
A Guarda do Kremlin, apesar de fazer parte da 9ª Diretoria, era praticamente uma organização independente, responsável pela escolta do Presidium, tanto que após a dissolução da URSS, o serviço se transformou no FPS — uma organização desvinculada do serviço secreto, de fato.
Diretores do KGB[18]
[editar | editar código-fonte]- 1954-1958: Ivan Serov;
- 1958-1961: Alexander Shelepin;
- 1961-1967: Vladimir Semichastny;
- 1967-1982: Iuri Andropov;
- 1982-1988: Viktor Chebrikov;
- 1988-1991: Vladimir Kryuchkov;
- 1991-1991: Leonid Shebarshin;
- 1991-1991: Vadim Bakatin;
Cooperação de outros serviços de inteligência
[editar | editar código-fonte]A KGB contava com o auxílio de serviços de inteligência dos países na esfera de influência do bloco comunista.
Segundo o dissidente e desertor Ion Mihai Pacepa, a Securitate (da Romênia) sob orientação soviética, esteve encarregada de diversas operações no oriente médio.[19]
Em conjunto com a StB [20] (serviço secreto da Tchecoslováquia), a inteligência soviética teve sucesso em infiltrar seus agentes de influência na América latina (ver: Ladislav Bittman). Países como Argentina, Brasil, Chile, México, Uruguai e outros foram alvo de ações objetivando a consolidação da influência político-ideológica soviética para fins de subversão com uso intensivo de desinformação e manipulação da mídia.[21] O arquivo da StB, atualmente sob a guarda do Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários [22] e, posto em domínio público pelo governo da República Tcheca, comprova a ação conjunta da KGB/StB na América latina.[23] Segundo O Arquivo Mitrokhin, em 1974 a KGB chegou a ter 14 agentes em Portugal, baseados em Lisboa.[24] E, na década de 1980, o Brasil era considerado um dos quatro "alvos prioritários" da KGB no continente americano.[25]
Políticos da Lituânia manifestaram o temor de que lituanos ligados a KGB, no período em que o país foi uma república soviética, ainda estejam associados aos atuais serviços de inteligência russos.[16] O governo da Lituânia divulgou uma lista [26][27] com os nomes de 238 cidadãos do país que colaboraram com a KGB durante a Guerra Fria.[28]
Sucessões e Remanescentes
[editar | editar código-fonte]Ver também
[editar | editar código-fonte]- Central Intelligence Agency
- FSB
- SVR
- Espionagem na Guerra Fria
- Máfia Piramida
- KGB Bielorrusso
- NKVD
- OMSDON
- Operação INFEKTION
- Spetsnaz
- Tcheka
- Yuri Bezmenov
Referências
- ↑ a b «KGB | Origins, Functions, Significance, Meaning, & Facts | Britannica». www.britannica.com (em inglês). 25 de setembro de 2023. Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ [1] - O FSB é agora mais poderoso que o KGB, Público, (português europeu) consultado em 14 de Abril 2018|
- ↑ «KGB - Soviet Security, Intelligence, Espionage | Britannica». www.britannica.com (em inglês). Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ «Feliks Edmundovich Dzerzhinsky | Founder of Cheka, Soviet security chief | Britannica». www.britannica.com (em inglês). 17 de setembro de 2023. Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ Lierens, Ethan (23 de julho de 2022). «KGB: History, Structure and Operations». Grey Dynamics (em inglês). Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ «The KGB File of Andrei Sakharov--List of Documents». web.archive.org. 21 de maio de 2007. Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ «V.Bukovsky, Soviet Archive». web.archive.org. 25 de abril de 2011. Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ a b c «KGB Functions and Internal Organization - Russia / Soviet Intelligence Agencies». irp.fas.org. Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ «Закон СССР от 03.12.1991 N 124-н о реорганизации органов государственной». pravo.levonevsky.org. Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ «Home». www.cacianalyst.org. Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ Soldatov, Andrei; Borogan, Irina (2010). «Russia's New Nobility: The Rise of the Security Services in Putin's Kremlin». Foreign Affairs (5): 80–96. ISSN 0015-7120. Consultado em 29 de setembro de 2023
- ↑ Esparza, Pablo (8 de abril de 2017). «Como espanhola criou rede de espiões para os soviéticos na América do Sul». BBC. Consultado em 6 de agosto de 2019
- ↑ Ruspred - ЛЮДИ ИЗ ЧИСТОЙ СТАЛИ ("Pessoas de puro aço"). Vladimir Antonov, Fevereiro de 2003, (em russo) Acessado em 25/06/2016.
- ↑ X-Libri (em russo) Acessado em 25/06/2016.
- ↑ The Mitrokhin Archive: The KGB in Europe and the West. Autores: Christopher Andrew & Vasili Mitrokhin. Penguin UK, (especificar página(s) 2015, (em inglês) ISBN 9780141966465 Adicionado em 25/06/2016.
- ↑ a b Vox Europ - O KGB ainda mexe! Acessado em 18/08/2014.
- ↑ Inside the KGB - Entrevista de Oleg Kalugin para a CNN (27 de Junho de 2007) arquivada no Wayback Machine, (em inglês) Acessado em 09/06/2019.
- ↑ DIOGO, José-Manuel (2015). As Grandes Agências Secretas: Os segredos, os êxitos e os fracassos dos serviços secretos que marcaram a História. São Paulo: Via Leitura. p. 122
- ↑ Da Rússia, com terror (From Russia, with terror). Entrevista do dissidente Ion Mihai Pacepa concedida a Jamie Glazov em 1 de Março de 2004.
Link 1: New Concepts (em inglês) Acessado em 09/06/2019.
Link 2: Front Page Magazine Arquivado em 5 de junho de 2014, no Wayback Machine. (em inglês)
Link 3: Fatos em Foco Brasil Arquivado em 5 de junho de 2014, no Wayback Machine. (em português) Acessado em 18/08/2014. - ↑ StB, (em tcheco): Státní bezpečnost, (em eslovaco): Štátna bezpečnosť ("Segurança Estatal"). Adicionado em 18/08/2014.
- ↑ The KGB and Soviet Disinformation: An Insider's View. Ladislav Bittman, Pergamon-Brassey's International Defense Pub., 1985. ISBN 9780080315720 (em inglês) Adicionado em 18/08/2014.
- ↑ Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários da República Tcheca Link 1 Arquivado em 15 de setembro de 2014, no Wayback Machine. (em tcheco) e Link 2 (em inglês) Acessado em 18/08/2014.
- ↑ Arquivo dos Serviços de Segurança Link 1 Arquivado em 27 de janeiro de 2015, no Wayback Machine. (em tcheco) e Link 2 (em inglês). Acessado em 18/08/2014.
- ↑ Expresso - KGB tinha 14 espiões em Lisboa. Miguel Cadete, 12 de Março de 2016. Acessado em 16/09/2017.
- ↑ Zero Hora - Jornalista português comenta ligação de Josué Guimarães com a KGB soviética. Entrevista de Paulo Anunciação concedida a Alexandre Lucchese, 21 de Julho de 2016. Acessado em 16/09/2017.
- ↑ História Viva Arquivado em 19 de agosto de 2014, no Wayback Machine. - Uma lista de agentes da KGB. Acessado em 18/08/2014.
- ↑ História Viva. «Uma lista de agentes da KGB». Consultado em 14 de julho de 2017
- ↑ KGB Veikla (em lituano) Acessado em 18/08/2014.